Gravuras rupestres ficam debaixo de água

09-06-2001
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Gravuras Rupestres Ficam Debaixo de Água

Por CARLOS DIAS

Quarta-feira, 2 de Maio de 2001

Os arqueólogos têm oito meses para fazer o levantamento das gravuras rupestres descobertas no rio Guadiana.

Os fortes caudais registados este ano no rio Guadiana terão contribuído para a visibilidade das figuras rupestres descobertas a montante da barragem de Alqueva, admite o arqueólogo António Carlos Silva, coordenador dos trabalhos de salvamento de sítios e monumentos na Bacia do Guadiana.

As águas "devem ter lavado as placas de xisto, libertando-as de areia e lama e tornando assim visíveis as imagens" presume o arqueólogo, adiantando que "ficou mais surpreendido" com a descoberta das figuras rupestres em território espanhol, idênticas às que foram encontradas agora na margem direita do Guadiana, no troço que atravessa o concelho do Alandroal.

Carlos Silva diz que o achado "com bastante interesse científico, vem enriquecer a interpretação da arte rupestre" no nosso país. Leitura semelhante faz António Martinho Baptista, director do Centro Nacional de Arte Rupestre, que anteontem à tarde se deslocou ao local onde foram encontradas as imagens. Datou-as no período entre o pós-glaciar e o alocénio, "alguns milhares de anos posteriores às de Foz Coa" e iguais às 40 mil gravuras que se encontram submersas na albufeira do Fratel, no rio Tejo. Este especialista salienta que "deve ser feito o levantamento imediato" dos três núcleos descobertos, mas está "contra" retirar a arte rupestre do seu contexto, defendendo a moldagem dos painéis, para colocar réplicas à observação do grande público. António Baptista, recorda que há cerca de uma dezena de anos encontrou figuras semelhantes no Pulo do Lobo, admitindo que haja mais exemplares em todo o Vale do Guadiana e afluentes.

A descoberta dos curiosos

Após a divulgação da descoberta, dezenas de curiosos têm-se deslocado ao local onde se encontram os núcleos de arte rupestre e acabam por descobrir mais figuras. Luís Ramalho, alentejano residente em Lisboa, veio até ao local onde palmilhou quilómetros ao longo da margem direita do Guadiana e observou "novos painéis com círculos, conjuntos de círculos e animais" pertencentes a testemunhos de arte rupestre recente.

A profusão de figuras vem confirmar que a área a pesquisar deve ir muito além dos 10 quilómetros iniciais, detectados durante a primeira fase das investigações. O arqueólogo Manuel Calado que acompanhou António Martinho Baptista na sua deslocação ao Vale do Guadiana, defende que os trabalhos de prospecção devem prosseguir imediatamente. Os investigadores dispõem apenas de oito meses para fazer o decalque e o registo científico das gravuras, reconhecendo no entanto, que muitos vestígios se vão perder. "Mas é óbvio que não fico satisfeito com as imagens submersas", observa o arqueólogo que tem assumido uma posição crítica em relação aos critérios seguidos pela Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas de Alqueva (EDIA), acusando-a de ter neglicenciado aquela área, depois de terem sido detectadas gravuras rupestres na localidade espanhola de Cheles, na margem esquerda do rio Guadiana.

EDIA garante financiar prospecção de gravuras rupestres

A Empresa de Desenvolvimento de Infraestruturas de Alqueva (EDIA) afirma que só no dia 26 de Abril teve conhecimento, através do Instituto Português de Arqueologia, da existência de gravuras rupestres junto à margem direita do Guadiana, entre Taliscas e Espinhaço de Cão. Apesar de terem sido investidos quase um milhão de contos no levantamento e operação de salvamento dos sítios arqueológicos, localizados na área alienada ao futuro regolfo da barragem de Alqueva, a EDIA garante que "promoverá todos os trabalhos" que sejam determinados pelo Instituto Português de Arqueologia ou pelo Centro Nacional de Arte Rupestre. Assim ficou marcada para a próxima semana uma missão de reconhecimento, que terá a participação de técnicos e responsáveis da empresa.

Gravuras Rupestres Ficam Debaixo de Água

Por CARLOS DIAS

Quarta-feira, 2 de Maio de 2001

Os arqueólogos têm oito meses para fazer o levantamento das gravuras rupestres descobertas no rio Guadiana.

Os fortes caudais registados este ano no rio Guadiana terão contribuído para a visibilidade das figuras rupestres descobertas a montante da barragem de Alqueva, admite o arqueólogo António Carlos Silva, coordenador dos trabalhos de salvamento de sítios e monumentos na Bacia do Guadiana.

As águas "devem ter lavado as placas de xisto, libertando-as de areia e lama e tornando assim visíveis as imagens" presume o arqueólogo, adiantando que "ficou mais surpreendido" com a descoberta das figuras rupestres em território espanhol, idênticas às que foram encontradas agora na margem direita do Guadiana, no troço que atravessa o concelho do Alandroal.

Carlos Silva diz que o achado "com bastante interesse científico, vem enriquecer a interpretação da arte rupestre" no nosso país. Leitura semelhante faz António Martinho Baptista, director do Centro Nacional de Arte Rupestre, que anteontem à tarde se deslocou ao local onde foram encontradas as imagens. Datou-as no período entre o pós-glaciar e o alocénio, "alguns milhares de anos posteriores às de Foz Coa" e iguais às 40 mil gravuras que se encontram submersas na albufeira do Fratel, no rio Tejo. Este especialista salienta que "deve ser feito o levantamento imediato" dos três núcleos descobertos, mas está "contra" retirar a arte rupestre do seu contexto, defendendo a moldagem dos painéis, para colocar réplicas à observação do grande público. António Baptista, recorda que há cerca de uma dezena de anos encontrou figuras semelhantes no Pulo do Lobo, admitindo que haja mais exemplares em todo o Vale do Guadiana e afluentes.

A descoberta dos curiosos

Após a divulgação da descoberta, dezenas de curiosos têm-se deslocado ao local onde se encontram os núcleos de arte rupestre e acabam por descobrir mais figuras. Luís Ramalho, alentejano residente em Lisboa, veio até ao local onde palmilhou quilómetros ao longo da margem direita do Guadiana e observou "novos painéis com círculos, conjuntos de círculos e animais" pertencentes a testemunhos de arte rupestre recente.

A profusão de figuras vem confirmar que a área a pesquisar deve ir muito além dos 10 quilómetros iniciais, detectados durante a primeira fase das investigações. O arqueólogo Manuel Calado que acompanhou António Martinho Baptista na sua deslocação ao Vale do Guadiana, defende que os trabalhos de prospecção devem prosseguir imediatamente. Os investigadores dispõem apenas de oito meses para fazer o decalque e o registo científico das gravuras, reconhecendo no entanto, que muitos vestígios se vão perder. "Mas é óbvio que não fico satisfeito com as imagens submersas", observa o arqueólogo que tem assumido uma posição crítica em relação aos critérios seguidos pela Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas de Alqueva (EDIA), acusando-a de ter neglicenciado aquela área, depois de terem sido detectadas gravuras rupestres na localidade espanhola de Cheles, na margem esquerda do rio Guadiana.

EDIA garante financiar prospecção de gravuras rupestres

A Empresa de Desenvolvimento de Infraestruturas de Alqueva (EDIA) afirma que só no dia 26 de Abril teve conhecimento, através do Instituto Português de Arqueologia, da existência de gravuras rupestres junto à margem direita do Guadiana, entre Taliscas e Espinhaço de Cão. Apesar de terem sido investidos quase um milhão de contos no levantamento e operação de salvamento dos sítios arqueológicos, localizados na área alienada ao futuro regolfo da barragem de Alqueva, a EDIA garante que "promoverá todos os trabalhos" que sejam determinados pelo Instituto Português de Arqueologia ou pelo Centro Nacional de Arte Rupestre. Assim ficou marcada para a próxima semana uma missão de reconhecimento, que terá a participação de técnicos e responsáveis da empresa.

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