Descobertas no Sabor Gravuras Rupestres com Mais de 20 Mil Anos
Por PEDRO GARCIAS
Terça-feira, 26 de Junho de 2001
Achado considerado "fenomenal"
Os três novos sítios de arte rupestre descobertos levantam a hipótese de o Côa ter sido o centro de um império artístico no Paleolítico Superior
A delegação de Macedo de Cavaleiros do Instituto Português de Arqueologia (IPA) descobriu recentemente, no vale do Sabor, três novos sítios de gravuras rupestres que deverão ter mais de 20 mil anos. António Martinho Baptista, o presidente do Centro Nacional de Arte Rupestre (Cnart), não tem dúvidas: trata-se de um achado "fenomenal". "Depois do Côa, esta é, sem dúvida, a descoberta mais importante no domínio da arte rupestre em Portugal. São gravuras muito antigas e de grande qualidade", assegura aquele especialista em arte rupestre.
Os três sítios, separados entre si por vários quilómetros, localizam-se no concelho de Bragança, já em pleno Alto Sabor, numa zona não afectada pela albufeira da barragem que está projectada para o Baixo Sabor. O sítio localizado mais a norte, conhecido por Sampaio, é composto por duas rochas. Numa delas, é visível um grande auroque (boi selvagem), quase completo; a outra conserva os traços de um auroque com duas cabeças.
O sítio mais espectacular fica na freguesia de Grijó de Parada. Trata-se de uma única rocha com cinco cavalos, um dos quais de grandes dimensões. "Uma coisa notável!", exulta Martinho Baptista. O terceiro achado diz respeito a uma rocha já identificada pelo abade de Baçal, situada próximo da aldeia de Paradinha Nova, e que é conhecida por "fraga escrevida". Nas suas notas, o abade de Baçal não fazia qualquer referência à existência de gravuras rupestres, mas os arqueólogos do IPA descobriram naquela rocha um auroque semelhante aos gravados nas fragas do Côa.
Pelo seu estilo e temática, as gravuras descobertas no Sabor "pertencem ao mesmo período da fase antiga do Côa, ao chamado período Gravetense [mais de 20 mil anos]", diz Martinho Baptista. Aliás, as semelhanças são notórias. Esta particularidade reforça a importância do achado, já que poderá ajudar "a sistematizar a arte do Côa". Por outro lado, a descoberta, acrescenta o presidente do Cnart, vem "demonstrar que o território artístico do Paleolítico Superior no nosso país se amplia e vai muito mais além do que nós pensávamos".
No vale do Sabor já era conhecida uma rocha com uma gravura paleolítica (um auroque), situada na Ribeira da Sardinha, na área de influência da projectada barragem da EDP, pelo que se elevam a quatro os sítios identificados naquele vale. Mas os recentes achados indiciam haver mais rochas gravadas nas margens do Sabor.
As recentes descobertas - que deverão ser divulgadas hoje na página da Internet do IPA - vêm renovar o olhar existente sobre a arte do Côa e reforçar a importância do conjunto de gravuras já classificadas como Património Mundial. "Como os quatro sítios do Sabor são isolados e no Côa há uma maior concentração de gravuras, é possível que o vale do Côa tenha sido o sítio da agregação principal, o tal santuário, como lhe chamava Nélson Rebanda [o arqueólogo que descobriu as primeiras gravuras em Foz Côa]", teoriza António Martinho Baptista. Os núcleos do Sabor poderiam funcionar como "marcadores de território, ou marcadores étnicos".
Pela quantidade e pela qualidade estética das gravuras, Martinho Baptista coloca a hipótese de o Côa ter sido "uma verdadeira escola artística, o eixo fundamental de um império artístico, nomeadamente do período Gravetense". O arqueólogo realça o facto de as gravuras do Sabor apresentarem "um grande ar de família com as do Côa". A técnica utilizada é a mesma - picotagem profunda -, os auroques e os cavalos são os temas mais representados no Côa, o único sítio onde, até agora, tinha sido descoberto um auroque com duas cabeças igual ao existente no sítio de Sampaio.
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Descobertas no Sabor Gravuras Rupestres com Mais de 20 Mil Anos
Por PEDRO GARCIAS
Terça-feira, 26 de Junho de 2001
Achado considerado "fenomenal"
Os três novos sítios de arte rupestre descobertos levantam a hipótese de o Côa ter sido o centro de um império artístico no Paleolítico Superior
A delegação de Macedo de Cavaleiros do Instituto Português de Arqueologia (IPA) descobriu recentemente, no vale do Sabor, três novos sítios de gravuras rupestres que deverão ter mais de 20 mil anos. António Martinho Baptista, o presidente do Centro Nacional de Arte Rupestre (Cnart), não tem dúvidas: trata-se de um achado "fenomenal". "Depois do Côa, esta é, sem dúvida, a descoberta mais importante no domínio da arte rupestre em Portugal. São gravuras muito antigas e de grande qualidade", assegura aquele especialista em arte rupestre.
Os três sítios, separados entre si por vários quilómetros, localizam-se no concelho de Bragança, já em pleno Alto Sabor, numa zona não afectada pela albufeira da barragem que está projectada para o Baixo Sabor. O sítio localizado mais a norte, conhecido por Sampaio, é composto por duas rochas. Numa delas, é visível um grande auroque (boi selvagem), quase completo; a outra conserva os traços de um auroque com duas cabeças.
O sítio mais espectacular fica na freguesia de Grijó de Parada. Trata-se de uma única rocha com cinco cavalos, um dos quais de grandes dimensões. "Uma coisa notável!", exulta Martinho Baptista. O terceiro achado diz respeito a uma rocha já identificada pelo abade de Baçal, situada próximo da aldeia de Paradinha Nova, e que é conhecida por "fraga escrevida". Nas suas notas, o abade de Baçal não fazia qualquer referência à existência de gravuras rupestres, mas os arqueólogos do IPA descobriram naquela rocha um auroque semelhante aos gravados nas fragas do Côa.
Pelo seu estilo e temática, as gravuras descobertas no Sabor "pertencem ao mesmo período da fase antiga do Côa, ao chamado período Gravetense [mais de 20 mil anos]", diz Martinho Baptista. Aliás, as semelhanças são notórias. Esta particularidade reforça a importância do achado, já que poderá ajudar "a sistematizar a arte do Côa". Por outro lado, a descoberta, acrescenta o presidente do Cnart, vem "demonstrar que o território artístico do Paleolítico Superior no nosso país se amplia e vai muito mais além do que nós pensávamos".
No vale do Sabor já era conhecida uma rocha com uma gravura paleolítica (um auroque), situada na Ribeira da Sardinha, na área de influência da projectada barragem da EDP, pelo que se elevam a quatro os sítios identificados naquele vale. Mas os recentes achados indiciam haver mais rochas gravadas nas margens do Sabor.
As recentes descobertas - que deverão ser divulgadas hoje na página da Internet do IPA - vêm renovar o olhar existente sobre a arte do Côa e reforçar a importância do conjunto de gravuras já classificadas como Património Mundial. "Como os quatro sítios do Sabor são isolados e no Côa há uma maior concentração de gravuras, é possível que o vale do Côa tenha sido o sítio da agregação principal, o tal santuário, como lhe chamava Nélson Rebanda [o arqueólogo que descobriu as primeiras gravuras em Foz Côa]", teoriza António Martinho Baptista. Os núcleos do Sabor poderiam funcionar como "marcadores de território, ou marcadores étnicos".
Pela quantidade e pela qualidade estética das gravuras, Martinho Baptista coloca a hipótese de o Côa ter sido "uma verdadeira escola artística, o eixo fundamental de um império artístico, nomeadamente do período Gravetense". O arqueólogo realça o facto de as gravuras do Sabor apresentarem "um grande ar de família com as do Côa". A técnica utilizada é a mesma - picotagem profunda -, os auroques e os cavalos são os temas mais representados no Côa, o único sítio onde, até agora, tinha sido descoberto um auroque com duas cabeças igual ao existente no sítio de Sampaio.