EXPRESSO: Artigo

31-07-2001
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Congresso PS

Os dispensáveis (EXPRESSO 28/04/2001) A SITUAÇÃO degradou-se a tal ponto que qualquer remodelação credível terá agora forçosamente que passar por Manuela Arcanjo, Pina Moura, Castro Caldas, José Sasportes e Augusto Santos Silva. Os resultados dos seus desempenhos nas pastas das Finanças, Saúde, Defesa, Cultura e Educação são de tal modo desastrosos que a recuperação se afigura já impossível. Não é só a oposição a pedir as suas cabeças; são os próprios socialistas a juntar a sua voz, ainda que em circuito fechado, aos protestos generalizados De «cardeal» a «coveiro» O caso mais pungente é o de PINA MOURA que, apesar de voluntarista e seguramente bem intencionado, tem visto as suas previsões serem sistematicamente desmentidas pelas mais prestigiadas instituições nacionais e internacionais, da OCDE ao Banco de Portugal e ao INE, passando pela Comissão Europeia, o Instituto Internacional para a Competitividade e Gestão e o FMI. Ainda esta semana Bruxelas reviu em baixa a taxa de inflação, fixando-a em 3,5%, ao mesmo tempo que baixava a previsão de crescimento para os 2,6%; a instituição sedeada na Suíça colocava Portugal em 34º lugar, na lista dos países competitivos, longe da Grécia e da Espanha e atrás da Polónia e da Hungria; e o FMI constata que o país está cada vez mais pobre, corrigindo para os 3,8% a previsão inflacionista. Principal obreiro dos Estados Gerais e da Nova Maioria, o ministro das Finanças, o festejado «Cardeal» que aconselhava Guterres em tempo de «estado de graça», quando ainda era só secretário de Estado, passou à triste alcunha de «coveiro», que lhe foi aposta esta semana por Manuel Carrilho, seu colega de Governo até há bem pouco tempo. A circunstância de o défice se aproximar de níveis não atingidos desde 1984, a bolsa estar no vermelho e os empresários apelarem já abertamente a um novo Governo, dá consistência à crítica. O facto de não ter currículo que o defenda dos «azares», faz dele o «número um» dos dispensáveis. Paralisia e muita arrogância A quantificação do «buraco» da Saúde em «pelo menos» 330 milhões de contos seria, já de si, argumento suficiente para dispensar os serviços da economista que fez a vida negra a Sousa Franco e que não hesita em adivinhar-se «entrevadinha», caso permanecesse oito anos no Governo. Mas MANUELA ARCANJO não deixa os créditos por mãos alheias e encarrega-se, ela própria, de facilitar a vida aos adversários políticos, compondo uma pose arrogante, associada a um discurso pouco esclarecedor. As listas de espera nos hospitais e centros de saúde - que prometeu resolver no momento em que assumiu como sua a «segunda paixão» de Guterres - foram a sua perdição. Acusada de mentir ao Parlamento, não reconhece o fracasso. A síndrome da falta de vocação O ministro da Defesa é um caso gritante de falta de vocação. A forma como CASTRO CALDAS saiu da crise do urânio, marcada pela troca de desmentidos entre o Governo e o Presidente da República, tornou a sua imagem irrecuperável. Não consegue entender-se em termos aceitáveis com a instituição militar. Acusado de ter uma «visão catastrofista» dos problemas, já por mais de uma vez exasperou o próprio Guterres em Conselho de Ministros, que só não o dispensou ainda para não melindrar Sampaio, a cuja «entourage» continua a pertencer. Aguarda-se, com expectativa, o dia em que apresenta uma solução. Herdeiro de uma paixão defunta Os indicadores terceiro-mundistas sobre a Educação em Portugal são o melhor balanço do Estado a que chegou a grande paixão de Guterres, que AUGUSTO SANTOS SILVA não consegue de todo ressuscitar. Cumprindo a regra de adiar decisões, já levou os estudantes do Porto à galhofa, com anúncios de «Primeiro-ministro: precisa-se» e a ideia de criar um Partido da Educação. O «actor» que provoca pateada JOSÉ SASPORTES é outra dor de cabeça para o primeiro-ministro, que já aconselhou dirigentes do PS a não o convidarem para debates políticos, «sob pena de os que estão a favor passarem a estar contra». A guerra em que se envolveu com actores e encenadores culminou esta semana com a apresentação pelo «Movimento dos 31» do «Livro Negro dos Subsídios ao Teatro», onde se denunciam irregularidades do ministério. E o Porto-2001, onde Cavaleiro Brandão acaba de se demitir, é o que se sabe. Os neutros METADE dos membros do Governo resiste com dificuldade à pressão que se abate sobre o Governo. Mas, apesar de tudo, resiste. A dificuldade de encontrar independentes dispostos a arriscar, a circunstância de Guterres ter de contentar as várias famílias políticas do PS e a premência de formar equipa habilitada a combater o PSD, em cenário de eleições antecipadas, faz deles peças importantes do xadrez socialista. Com níveis de gradação diferentes. GUILHERME D'OLIVEIRA MARTINS é o mais imprescindível dos «neutros». De extracção católica, como o chefe do Governo, é sobre ele que recai a difícil tarefa da coordenação política. É um social-democrata puro, leal ao chefe do Governo. Os que não gostam dele dizem que nunca se sabe bem o que está a pensar. NUNO SEVERIANO TEIXEIRA, o ministro da Administração Interna, foi indicado por António Vitorino para a espinhosa missão de substituir Fernando Gomes. Desempenhou com discrição o papel de «bombeiro voluntário», como lhe foi pedido em Entre-os-Rios, e geriu com tacto a melindrosa questão dos crimes à porta das discotecas, mostrando ao homem do Norte como deveria ter feito. Não é militante do PS. PAULO PEDROSO corresponde ao perfil dos jovens em quem Guterres pensa quando fala em substituir «marretas» por cabeças arejadas. Pôs de pé o Rendimento Mínimo e está de olho nos lares de idosos, apostado em herdar a popularidade de Ferro Rodrigues, a cuja família política pertence. Até contratou como assessor o homem que fez a imagem daquele. É o homem do aparelho sampaísta, à volta de quem gravitam as potenciais novas revelações, tão ao gosto do primeiro-ministro. Gamista por convicção e militância, e mais simpático do que Jaime Gama, JOSÉ LELLO é um daqueles políticos de quem se diz que «a sabe toda». Vai ultrapassar com facilidade os complicados problemas decorrentes da organização do Euro-2004, dando o dinheiro aos clubes, já que não terá capacidade para enfrentar «lobbies». Antigo maoísta, ex-ideólogo do CCR-ML e ex-presidente da Associação de Estudantes do Técnico, MARIANO GAGO é uma das figuras que Guterres mais admira. A começar pelo facto de ter tido melhores notas do que ele e ainda ter arranjado tempo para a conspiração política. A inteligência e os conhecimentos do titular da Ciência e da Tecnologia deixam o líder do PS embevecido. Gestor público prestigiado, MÁRIO CRISTINA DE SOUSA é um daqueles homens que, em fim de carreira, resolveu aceitar o desafio de colocar a menção de ministro no seu já vasto currículo. A situação económica não lhe corre de feição, mas pode sempre dizer que a culpa é da conjuntura internacional. ELISA FERREIRA é o rosto visível do que sobra dos Estados Gerais. Não é socialista. Figura prestigiada do Norte e muito competente tecnicamente, demonstrou falta de habilidade política ao deixar a Sócrates, em testamento forçado, a «coragem» de resolver o problema da co-incineração. Guterres compensou-a, confiando-lhe a pasta do Planeamento, onde cumpre a missão discreta. ALBERTO MARTINS é um sampaísta convicto e visita de casa do Presidente da República, a quem foi preciso arranjar um lugar ministerial. A sua «performance» não é famosa na Reforma do Estado, mas não tem ambições políticas para muito mais. Presidente da Federação socialista de Évora quando Guterres ganhou o PS, CAPOULAS SANTOS é um simpatizante do guterrismo, sem lugar à mesa da conspiração. A braços com a crise das vacas loucas, vai contentando os dirigentes da CAP, para não piorar as coisas. Guterres à beira da remodelação Os responsáveis das Finanças e da Saúde são figuras indispensáveis num cenário de remodelação que, nos bastidores políticos, surge como cada vez mais inevitável depois do Congresso do PS e, talvez mesmo, a única forma que Guterres terá para ganhar embalagem para eventuais eleições antecipadas. Uma situação que a larga maioria dos portugueses diz não pretender, revela o Painel EXPRESSO/Euroexpansão, apesar de Guterres sofrer uma forte queda de popularidade A POSSIBILIDADE de António Guterres proceder a uma remodelação profunda do Governo logo a seguir ao congresso do próximo fim-de-semana, que interrompa de vez o ciclo de desgaste a que os socialistas têm estado sujeitos, ganha contornos cada vez mais nítidos à medida que os dias passam. O ambiente de fim de ciclo é já indisfarçável, com a Igreja a declarar oficialmente o estado de crise e os bispos a falarem da necessidade de «decidir com coragem»; as instituições económicas e financeiras internacionais a criticarem duramente Portugal e a lamentarem que sucessivas recomendações caiam em saco roto; a bancada parlamentar mais dividida do que nunca, com 24 deputados a rebelarem-se contra as cedências à hierarquia católica; a intocabilidade do próprio Guterres a ser posta em causa, com Carlos Candal a «empurrar» Cravinho para lhe fazer frente, Alegre a criticar tanto unanimismo, Henrique Neto a lamentar obstruções à discussão, Maria de Belém a subscrever uma moção contra Manuela Arcanjo. Nos bastidores do partido e do Governo multiplicam-se movimentações, intrigas e conspirações que permitem perceber melhor quem é quem neste jogo de glória e desgraça, que evita a todo o custo oferecer de bandeja o poder a Durão Barroso. Dois dos principais candidatos à liderança - Ferro Rodrigues e António Costa - lançam publicamente mais achas para a fogueira, fortalecendo a ideia de que o Governo está por um fio. O novo ministro do Equipamento não hesita em reconhecer que «as eleições antecipadas são o melhor dos males», deixando claro que pior seria deixar arrastar a inacção e a crise de autoridade. E o ministro da Justiça critica abertamente a «falta de dinamismo» do Executivo e o incumprimento do programa com que foi eleito, lembrando que a corrida à liderança só aguarda o sinal de resignação de Guterres. A ideia da necessidade duma mudança regeneradora está também a ser fomentada por Jorge Coelho que, beneficiando da liberdade de movimentos que conquistou ao demitir-se do Governo, incendeia agora as bases. Investido como «secretário-geral sombra», o número dois oficioso adverte repetidamente que as coisas não podem continuar como estão. E, de caminho, vai dizendo que «os socialistas não têm medo de eleições», incutindo na estruturas locais a ideia de que o Governo foi eleito para resolver os problemas e não para dialogar sobre eles. De regresso aos discursos codificados, Jorge Sampaio deixou também um aviso sério a António Guterres, no discurso comemorativo do 25 de Abril, ao advertir que é preciso combater a incompetência e aplicar «mais rigor e exigência» à governação. Indiferente à vaga e embalado pelas sondagens - que, na maioria, lhe são claramente favoráveis, o líder socialista dá sinais de pouca ou nenhuma abertura à mudança. A sua polémica declaração de que a prova de que tudo vai bem é que um milhão de pessoas passou a Páscoa no Algarve deixa entrever a vontade de que tudo fique na mesma. Mas irá ver-se forçado a mudar de atitude e a promover alterações na composição do Executivo. Uma vez remodelado, com uma composição mais política do que técnica, o Governo deverá então começar a preparar-se para eleições antecipadas, na expectativa de um «chumbo», praticamente certo, do Orçamento de Estado para 2002. Na opinião dos dirigentes socialistas mais lúcidos, essa será a única forma de o partido evitar um afastamento do poder por tempo indeterminado. O último guterrista Catapultado para o estrelato pela SIC, onde tem uma visibilidade maior do que muitas das estrelas da estação, JOSÉ SÓCRATES é o prémio revelação socialista, a maior vedeta do Governo. Embora sejam mais os casos em que promete actuar do que aqueles em que age de facto, soube compor a imagem do governante que decide. O que faz a diferença num governo que deixou criar a suspeita de que não tem uma ideia para Portugal, capacidade para se antecipar às crises ou coragem para enfrentar pressões. O processo da co-incineração é a sua imagem de marca, a grande obra, a prova insofismável de que é um homem de acção. Poucos admitem um recuo a esse nível que, a verificar-se, lhe seria seguramente fatal. É o primeiro dos «intocáveis» do Governo, a figura cuja permanência está garantida no Executivo, antes de qualquer outra. Seguidor fidelíssimo de Guterres, desde os tempos da oposição a Sampaio, é o último guterrista no Governo, o «sobrevivente» do núcleo duro que incluiu António Vitorino, António José Seguro, Maria de Belém, Armando Vara, Luís Patrão. Sem ele, Guterres fica mais só e desamparado. E Sócrates alimenta a secreta esperança (que já foi mais discreta...) de poder um dia vir a substitui-lo. O campeão da popularidade Apesar de ter feito pouco mais na pasta do Equipamento do que demitir pessoas envolvidas na tragédia de Entre-os-Rios, FERRO RODRIGUES é ainda o mais popular dos ministros de Guterres. Associado à ideia do Rendimento Mínimo Garantido - que até a oposição já subscreve -, é o mais hábil entre os socialistas a gerir a sua própria imagem. Conseguiu até aqui evitar envolver-se em questões polémicas, mesmo quando assumiu a difícil pasta do Trabalho, remetendo sistematicamente para outros o incómodo de enfrentar os conflitos. Isso garante-lhe a imagem do governante eficiente e generoso. A não ser que algum acontecimento grave o colha de surpresa, tem lugar cativo no Governo - neste ou em qualquer outro de matriz socialista. Ninguém, nem mesmo a oposição, perceberia que Guterres quisesse afastá-lo. Sampaísta puro e duro - embora tente convencer a opinião pública de que o sampaísmo nunca existiu -, já propôs por mais de uma vez a candidatura de Guterres à Presidência da República, denunciando uma estratégia que passa pela sua candidatura à liderança. O diplomata ausente JAIME GAMA, o «peixe de águas profundas», é outro dos pilares essenciais da governação socialista, que permanecerá até lhe apetecer (e enquanto o PS vencer) no lugar de ministro dos Negócios Estrangeiros, que parece talhado à medida dos seus apetites mundanos e da sua vocação natural. A circunstância de estar frequentemente longe, por força da mobilidade esforçada a que a diplomacia convida, garantiu-lhe nos últimos seis anos um distanciamento providencial das querelas internas. É como se nada do que se passa internamente lhe dissesse respeito. Apesar de ter iniciado a vida activa como jornalista, a escola das Necessidades fez dele um diplomata exímio. Tão hábil que consegue passar intocável por crises tão mediáticas como a do rapto dos operários portugueses em Cabinda, ou a dos mais de 300 emigrantes abatidos na África do Sul (oito só na última semana). Mais do que temê-lo, Guterres respeita-o. O justiceiro adiado O estado a que a Justiça chegou em Portugal não parece afectar ainda grandemente a imagem de ANTÓNIO COSTA. Mas o mistério não é de hoje: saiu igualmente incólume do escândalo que rodeou a Expo-98, apesar de ser o ministro responsável pela fase final do evento. A circunstância de ter peso político próprio, à semelhança dos outros três, faz também dele um intocável. Guterres, que se viu obrigado a demitir Sá Fernandes por sua causa, não tem condições para o dispensar. Mas a sua popularidade está a dissipar-se aceleradamente.

Orlando Raimundo

PS desvaloriza dúvidas de Roseta (EXPRESSO 28/04/2001) O DIRIGENTE socialista António Galamba considerou ontem que as declarações de Helena Roseta sobre uma distorção dos resultados do Congresso, após Jorge Coelho ter reconhecido a existência de mais de 40 mil militantes-fantasma, «não merecem grande relevância». «Essas declarações parecem vindas de alguém que convive mal com os resultados da democracia, sobretudo quando não vão ao encontro das suas expectativas pessoais», disse.

Belém apadrinha críticas a Arcanjo (EXPRESSO 28/04/2001) MARIA de Belém vai apoiar, no Congresso Nacional do PS, uma moção sectorial que lança severas críticas à forma como Manuela Arcanjo tem dirigido a política governamental na área da Saúde. A ex-ministra da Saúde leu com atenção e gostou do teor do documento que lhe foi entregue na passada segunda-feira pelo primeiro subscritor da moção, Jorge Catarino, numa discreta reunião no Porto. Catarino foi demitido da presidência da Administração Regional de Saúde do Norte por Manuela Arcanjo, depois de ter afirmado preferir contratar para os seus serviços um militante socialista em vez de um não militante. O encontro de Catarino com Belém foi promovido por Jorge Santos, um influente soarista do Porto, que já tinha aproveitado uma recente passagem de António Guterres pela Cidade Invicta para lhe denunciar o que considerou ser «a desastrosa prestação de Manuela Arcanjo no Governo». Agora, foi a vez de Jorge Santos tentar entusiasmar Belém a manifestar-se contra a titular da pasta da Saúde, pondo-a em contacto com o núcleo do PS/Porto que preparou a moção sectorial intitulada «Construir Um Futuro para a Saúde». Radiografia negativa O documento faz uma radiografia muito negativa do estado da Saúde em Portugal e critica algumas medidas neste sector tomadas pelo Governo na actual legislatura. Belém confessou ontem ao EXPRESSO que concorda com muitas denúncias desta moção. Uma das frases que merecem a sua concordância diz que «a centralização dos serviços é de tal ordem que a simples nomeação dum vogal da direcção de um centro de saúde precisa de despacho ministerial, para não falarmos das ARS e da DGS, agora também sob tutela directa da ministra». Maria de Belém comenta esta passagem dizendo que, na sua passagem pelo Ministério da Saúde, tentou sempre descentralizar os serviços. «É preciso aproximar os centros de decisão das pessoas», explica a antiga ministra, que já prometeu ajudar a melhorar as sugestões da moção. Maria de Belém também concorda com a crítica do documento de Jorge Catarino ao buraco orçamental, «que continua a ser a principal dor de cabeça da reforma da Saúde». E acrescenta que, contudo, «a área da Saúde não pode ser gerida a partir de uma perspectiva meramente financeira». A moção de Jorge Catarino é uma das 54 moções sectoriais ao congresso do PS. Numa tentativa de «dar dignidade» à sua discussão, a comissão organizadora do congresso decidiu repartir a sua discussão por grupos, no sábado à noite, para serem votadas no domingo de manhã.

Ricardo Jorge Pinto

Abstenções de surpresa (EXPRESSO 28/04/2001) A ABSTENÇÃO dos deputados socialistas que estavam contra a Lei da Liberdade Religiosa foi a surpresa da votação de quinta-feira no Parlamento. Se já era certo que a passagem da lei estava assegurada pelo entendimento entre socialistas, sociais-democratas e populares - que, no final da votação, levou a uma troca de elogios entre Vera Jardim, Pedro Roseta e Basílio Horta - , era igualmente esperado o voto contra de deputados como Jorge Lacão e António Reis, autores de uma proposta alternativa ao artigo mais polémico da nova lei (aquele que exclui a Igreja Católica desta regulamentação). Mas assim não sucedeu. A lei registou a abstenção de 24 deputados do PS e os votos contra do PCP, BE e PEV. Já a proposta de Reis e Lacão, foi rejeitada pela maioria da bancada do PS, bem como pelo PSD e pelo CDS/PP. A votação foi precedida de aceso debate e foram apresentadas inúmeras declarações de voto. Vera Jardim sublinhou ser esta nova lei «um marco fundamental». Mas muitos dos seus opositores, nomeadamente Lacão, consideraram que ela «suscita um sério problema de conformidade à Constituição».

Maria Teresa Oliveira

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Os dispensáveis (EXPRESSO 28/04/2001) A SITUAÇÃO degradou-se a tal ponto que qualquer remodelação credível terá agora forçosamente que passar por Manuela Arcanjo, Pina Moura, Castro Caldas, José Sasportes e Augusto Santos Silva. Os resultados dos seus desempenhos nas pastas das Finanças, Saúde, Defesa, Cultura e Educação são de tal modo desastrosos que a recuperação se afigura já impossível. Não é só a oposição a pedir as suas cabeças; são os próprios socialistas a juntar a sua voz, ainda que em circuito fechado, aos protestos generalizados De «cardeal» a «coveiro» O caso mais pungente é o de PINA MOURA que, apesar de voluntarista e seguramente bem intencionado, tem visto as suas previsões serem sistematicamente desmentidas pelas mais prestigiadas instituições nacionais e internacionais, da OCDE ao Banco de Portugal e ao INE, passando pela Comissão Europeia, o Instituto Internacional para a Competitividade e Gestão e o FMI. Ainda esta semana Bruxelas reviu em baixa a taxa de inflação, fixando-a em 3,5%, ao mesmo tempo que baixava a previsão de crescimento para os 2,6%; a instituição sedeada na Suíça colocava Portugal em 34º lugar, na lista dos países competitivos, longe da Grécia e da Espanha e atrás da Polónia e da Hungria; e o FMI constata que o país está cada vez mais pobre, corrigindo para os 3,8% a previsão inflacionista. Principal obreiro dos Estados Gerais e da Nova Maioria, o ministro das Finanças, o festejado «Cardeal» que aconselhava Guterres em tempo de «estado de graça», quando ainda era só secretário de Estado, passou à triste alcunha de «coveiro», que lhe foi aposta esta semana por Manuel Carrilho, seu colega de Governo até há bem pouco tempo. A circunstância de o défice se aproximar de níveis não atingidos desde 1984, a bolsa estar no vermelho e os empresários apelarem já abertamente a um novo Governo, dá consistência à crítica. O facto de não ter currículo que o defenda dos «azares», faz dele o «número um» dos dispensáveis. Paralisia e muita arrogância A quantificação do «buraco» da Saúde em «pelo menos» 330 milhões de contos seria, já de si, argumento suficiente para dispensar os serviços da economista que fez a vida negra a Sousa Franco e que não hesita em adivinhar-se «entrevadinha», caso permanecesse oito anos no Governo. Mas MANUELA ARCANJO não deixa os créditos por mãos alheias e encarrega-se, ela própria, de facilitar a vida aos adversários políticos, compondo uma pose arrogante, associada a um discurso pouco esclarecedor. As listas de espera nos hospitais e centros de saúde - que prometeu resolver no momento em que assumiu como sua a «segunda paixão» de Guterres - foram a sua perdição. Acusada de mentir ao Parlamento, não reconhece o fracasso. A síndrome da falta de vocação O ministro da Defesa é um caso gritante de falta de vocação. A forma como CASTRO CALDAS saiu da crise do urânio, marcada pela troca de desmentidos entre o Governo e o Presidente da República, tornou a sua imagem irrecuperável. Não consegue entender-se em termos aceitáveis com a instituição militar. Acusado de ter uma «visão catastrofista» dos problemas, já por mais de uma vez exasperou o próprio Guterres em Conselho de Ministros, que só não o dispensou ainda para não melindrar Sampaio, a cuja «entourage» continua a pertencer. Aguarda-se, com expectativa, o dia em que apresenta uma solução. Herdeiro de uma paixão defunta Os indicadores terceiro-mundistas sobre a Educação em Portugal são o melhor balanço do Estado a que chegou a grande paixão de Guterres, que AUGUSTO SANTOS SILVA não consegue de todo ressuscitar. Cumprindo a regra de adiar decisões, já levou os estudantes do Porto à galhofa, com anúncios de «Primeiro-ministro: precisa-se» e a ideia de criar um Partido da Educação. O «actor» que provoca pateada JOSÉ SASPORTES é outra dor de cabeça para o primeiro-ministro, que já aconselhou dirigentes do PS a não o convidarem para debates políticos, «sob pena de os que estão a favor passarem a estar contra». A guerra em que se envolveu com actores e encenadores culminou esta semana com a apresentação pelo «Movimento dos 31» do «Livro Negro dos Subsídios ao Teatro», onde se denunciam irregularidades do ministério. E o Porto-2001, onde Cavaleiro Brandão acaba de se demitir, é o que se sabe. Os neutros METADE dos membros do Governo resiste com dificuldade à pressão que se abate sobre o Governo. Mas, apesar de tudo, resiste. A dificuldade de encontrar independentes dispostos a arriscar, a circunstância de Guterres ter de contentar as várias famílias políticas do PS e a premência de formar equipa habilitada a combater o PSD, em cenário de eleições antecipadas, faz deles peças importantes do xadrez socialista. Com níveis de gradação diferentes. GUILHERME D'OLIVEIRA MARTINS é o mais imprescindível dos «neutros». De extracção católica, como o chefe do Governo, é sobre ele que recai a difícil tarefa da coordenação política. É um social-democrata puro, leal ao chefe do Governo. Os que não gostam dele dizem que nunca se sabe bem o que está a pensar. NUNO SEVERIANO TEIXEIRA, o ministro da Administração Interna, foi indicado por António Vitorino para a espinhosa missão de substituir Fernando Gomes. Desempenhou com discrição o papel de «bombeiro voluntário», como lhe foi pedido em Entre-os-Rios, e geriu com tacto a melindrosa questão dos crimes à porta das discotecas, mostrando ao homem do Norte como deveria ter feito. Não é militante do PS. PAULO PEDROSO corresponde ao perfil dos jovens em quem Guterres pensa quando fala em substituir «marretas» por cabeças arejadas. Pôs de pé o Rendimento Mínimo e está de olho nos lares de idosos, apostado em herdar a popularidade de Ferro Rodrigues, a cuja família política pertence. Até contratou como assessor o homem que fez a imagem daquele. É o homem do aparelho sampaísta, à volta de quem gravitam as potenciais novas revelações, tão ao gosto do primeiro-ministro. Gamista por convicção e militância, e mais simpático do que Jaime Gama, JOSÉ LELLO é um daqueles políticos de quem se diz que «a sabe toda». Vai ultrapassar com facilidade os complicados problemas decorrentes da organização do Euro-2004, dando o dinheiro aos clubes, já que não terá capacidade para enfrentar «lobbies». Antigo maoísta, ex-ideólogo do CCR-ML e ex-presidente da Associação de Estudantes do Técnico, MARIANO GAGO é uma das figuras que Guterres mais admira. A começar pelo facto de ter tido melhores notas do que ele e ainda ter arranjado tempo para a conspiração política. A inteligência e os conhecimentos do titular da Ciência e da Tecnologia deixam o líder do PS embevecido. Gestor público prestigiado, MÁRIO CRISTINA DE SOUSA é um daqueles homens que, em fim de carreira, resolveu aceitar o desafio de colocar a menção de ministro no seu já vasto currículo. A situação económica não lhe corre de feição, mas pode sempre dizer que a culpa é da conjuntura internacional. ELISA FERREIRA é o rosto visível do que sobra dos Estados Gerais. Não é socialista. Figura prestigiada do Norte e muito competente tecnicamente, demonstrou falta de habilidade política ao deixar a Sócrates, em testamento forçado, a «coragem» de resolver o problema da co-incineração. Guterres compensou-a, confiando-lhe a pasta do Planeamento, onde cumpre a missão discreta. ALBERTO MARTINS é um sampaísta convicto e visita de casa do Presidente da República, a quem foi preciso arranjar um lugar ministerial. A sua «performance» não é famosa na Reforma do Estado, mas não tem ambições políticas para muito mais. Presidente da Federação socialista de Évora quando Guterres ganhou o PS, CAPOULAS SANTOS é um simpatizante do guterrismo, sem lugar à mesa da conspiração. A braços com a crise das vacas loucas, vai contentando os dirigentes da CAP, para não piorar as coisas. Guterres à beira da remodelação Os responsáveis das Finanças e da Saúde são figuras indispensáveis num cenário de remodelação que, nos bastidores políticos, surge como cada vez mais inevitável depois do Congresso do PS e, talvez mesmo, a única forma que Guterres terá para ganhar embalagem para eventuais eleições antecipadas. Uma situação que a larga maioria dos portugueses diz não pretender, revela o Painel EXPRESSO/Euroexpansão, apesar de Guterres sofrer uma forte queda de popularidade A POSSIBILIDADE de António Guterres proceder a uma remodelação profunda do Governo logo a seguir ao congresso do próximo fim-de-semana, que interrompa de vez o ciclo de desgaste a que os socialistas têm estado sujeitos, ganha contornos cada vez mais nítidos à medida que os dias passam. O ambiente de fim de ciclo é já indisfarçável, com a Igreja a declarar oficialmente o estado de crise e os bispos a falarem da necessidade de «decidir com coragem»; as instituições económicas e financeiras internacionais a criticarem duramente Portugal e a lamentarem que sucessivas recomendações caiam em saco roto; a bancada parlamentar mais dividida do que nunca, com 24 deputados a rebelarem-se contra as cedências à hierarquia católica; a intocabilidade do próprio Guterres a ser posta em causa, com Carlos Candal a «empurrar» Cravinho para lhe fazer frente, Alegre a criticar tanto unanimismo, Henrique Neto a lamentar obstruções à discussão, Maria de Belém a subscrever uma moção contra Manuela Arcanjo. Nos bastidores do partido e do Governo multiplicam-se movimentações, intrigas e conspirações que permitem perceber melhor quem é quem neste jogo de glória e desgraça, que evita a todo o custo oferecer de bandeja o poder a Durão Barroso. Dois dos principais candidatos à liderança - Ferro Rodrigues e António Costa - lançam publicamente mais achas para a fogueira, fortalecendo a ideia de que o Governo está por um fio. O novo ministro do Equipamento não hesita em reconhecer que «as eleições antecipadas são o melhor dos males», deixando claro que pior seria deixar arrastar a inacção e a crise de autoridade. E o ministro da Justiça critica abertamente a «falta de dinamismo» do Executivo e o incumprimento do programa com que foi eleito, lembrando que a corrida à liderança só aguarda o sinal de resignação de Guterres. A ideia da necessidade duma mudança regeneradora está também a ser fomentada por Jorge Coelho que, beneficiando da liberdade de movimentos que conquistou ao demitir-se do Governo, incendeia agora as bases. Investido como «secretário-geral sombra», o número dois oficioso adverte repetidamente que as coisas não podem continuar como estão. E, de caminho, vai dizendo que «os socialistas não têm medo de eleições», incutindo na estruturas locais a ideia de que o Governo foi eleito para resolver os problemas e não para dialogar sobre eles. De regresso aos discursos codificados, Jorge Sampaio deixou também um aviso sério a António Guterres, no discurso comemorativo do 25 de Abril, ao advertir que é preciso combater a incompetência e aplicar «mais rigor e exigência» à governação. Indiferente à vaga e embalado pelas sondagens - que, na maioria, lhe são claramente favoráveis, o líder socialista dá sinais de pouca ou nenhuma abertura à mudança. A sua polémica declaração de que a prova de que tudo vai bem é que um milhão de pessoas passou a Páscoa no Algarve deixa entrever a vontade de que tudo fique na mesma. Mas irá ver-se forçado a mudar de atitude e a promover alterações na composição do Executivo. Uma vez remodelado, com uma composição mais política do que técnica, o Governo deverá então começar a preparar-se para eleições antecipadas, na expectativa de um «chumbo», praticamente certo, do Orçamento de Estado para 2002. Na opinião dos dirigentes socialistas mais lúcidos, essa será a única forma de o partido evitar um afastamento do poder por tempo indeterminado. O último guterrista Catapultado para o estrelato pela SIC, onde tem uma visibilidade maior do que muitas das estrelas da estação, JOSÉ SÓCRATES é o prémio revelação socialista, a maior vedeta do Governo. Embora sejam mais os casos em que promete actuar do que aqueles em que age de facto, soube compor a imagem do governante que decide. O que faz a diferença num governo que deixou criar a suspeita de que não tem uma ideia para Portugal, capacidade para se antecipar às crises ou coragem para enfrentar pressões. O processo da co-incineração é a sua imagem de marca, a grande obra, a prova insofismável de que é um homem de acção. Poucos admitem um recuo a esse nível que, a verificar-se, lhe seria seguramente fatal. É o primeiro dos «intocáveis» do Governo, a figura cuja permanência está garantida no Executivo, antes de qualquer outra. Seguidor fidelíssimo de Guterres, desde os tempos da oposição a Sampaio, é o último guterrista no Governo, o «sobrevivente» do núcleo duro que incluiu António Vitorino, António José Seguro, Maria de Belém, Armando Vara, Luís Patrão. Sem ele, Guterres fica mais só e desamparado. E Sócrates alimenta a secreta esperança (que já foi mais discreta...) de poder um dia vir a substitui-lo. O campeão da popularidade Apesar de ter feito pouco mais na pasta do Equipamento do que demitir pessoas envolvidas na tragédia de Entre-os-Rios, FERRO RODRIGUES é ainda o mais popular dos ministros de Guterres. Associado à ideia do Rendimento Mínimo Garantido - que até a oposição já subscreve -, é o mais hábil entre os socialistas a gerir a sua própria imagem. Conseguiu até aqui evitar envolver-se em questões polémicas, mesmo quando assumiu a difícil pasta do Trabalho, remetendo sistematicamente para outros o incómodo de enfrentar os conflitos. Isso garante-lhe a imagem do governante eficiente e generoso. A não ser que algum acontecimento grave o colha de surpresa, tem lugar cativo no Governo - neste ou em qualquer outro de matriz socialista. Ninguém, nem mesmo a oposição, perceberia que Guterres quisesse afastá-lo. Sampaísta puro e duro - embora tente convencer a opinião pública de que o sampaísmo nunca existiu -, já propôs por mais de uma vez a candidatura de Guterres à Presidência da República, denunciando uma estratégia que passa pela sua candidatura à liderança. O diplomata ausente JAIME GAMA, o «peixe de águas profundas», é outro dos pilares essenciais da governação socialista, que permanecerá até lhe apetecer (e enquanto o PS vencer) no lugar de ministro dos Negócios Estrangeiros, que parece talhado à medida dos seus apetites mundanos e da sua vocação natural. A circunstância de estar frequentemente longe, por força da mobilidade esforçada a que a diplomacia convida, garantiu-lhe nos últimos seis anos um distanciamento providencial das querelas internas. É como se nada do que se passa internamente lhe dissesse respeito. Apesar de ter iniciado a vida activa como jornalista, a escola das Necessidades fez dele um diplomata exímio. Tão hábil que consegue passar intocável por crises tão mediáticas como a do rapto dos operários portugueses em Cabinda, ou a dos mais de 300 emigrantes abatidos na África do Sul (oito só na última semana). Mais do que temê-lo, Guterres respeita-o. O justiceiro adiado O estado a que a Justiça chegou em Portugal não parece afectar ainda grandemente a imagem de ANTÓNIO COSTA. Mas o mistério não é de hoje: saiu igualmente incólume do escândalo que rodeou a Expo-98, apesar de ser o ministro responsável pela fase final do evento. A circunstância de ter peso político próprio, à semelhança dos outros três, faz também dele um intocável. Guterres, que se viu obrigado a demitir Sá Fernandes por sua causa, não tem condições para o dispensar. Mas a sua popularidade está a dissipar-se aceleradamente.

Orlando Raimundo

PS desvaloriza dúvidas de Roseta (EXPRESSO 28/04/2001) O DIRIGENTE socialista António Galamba considerou ontem que as declarações de Helena Roseta sobre uma distorção dos resultados do Congresso, após Jorge Coelho ter reconhecido a existência de mais de 40 mil militantes-fantasma, «não merecem grande relevância». «Essas declarações parecem vindas de alguém que convive mal com os resultados da democracia, sobretudo quando não vão ao encontro das suas expectativas pessoais», disse.

Belém apadrinha críticas a Arcanjo (EXPRESSO 28/04/2001) MARIA de Belém vai apoiar, no Congresso Nacional do PS, uma moção sectorial que lança severas críticas à forma como Manuela Arcanjo tem dirigido a política governamental na área da Saúde. A ex-ministra da Saúde leu com atenção e gostou do teor do documento que lhe foi entregue na passada segunda-feira pelo primeiro subscritor da moção, Jorge Catarino, numa discreta reunião no Porto. Catarino foi demitido da presidência da Administração Regional de Saúde do Norte por Manuela Arcanjo, depois de ter afirmado preferir contratar para os seus serviços um militante socialista em vez de um não militante. O encontro de Catarino com Belém foi promovido por Jorge Santos, um influente soarista do Porto, que já tinha aproveitado uma recente passagem de António Guterres pela Cidade Invicta para lhe denunciar o que considerou ser «a desastrosa prestação de Manuela Arcanjo no Governo». Agora, foi a vez de Jorge Santos tentar entusiasmar Belém a manifestar-se contra a titular da pasta da Saúde, pondo-a em contacto com o núcleo do PS/Porto que preparou a moção sectorial intitulada «Construir Um Futuro para a Saúde». Radiografia negativa O documento faz uma radiografia muito negativa do estado da Saúde em Portugal e critica algumas medidas neste sector tomadas pelo Governo na actual legislatura. Belém confessou ontem ao EXPRESSO que concorda com muitas denúncias desta moção. Uma das frases que merecem a sua concordância diz que «a centralização dos serviços é de tal ordem que a simples nomeação dum vogal da direcção de um centro de saúde precisa de despacho ministerial, para não falarmos das ARS e da DGS, agora também sob tutela directa da ministra». Maria de Belém comenta esta passagem dizendo que, na sua passagem pelo Ministério da Saúde, tentou sempre descentralizar os serviços. «É preciso aproximar os centros de decisão das pessoas», explica a antiga ministra, que já prometeu ajudar a melhorar as sugestões da moção. Maria de Belém também concorda com a crítica do documento de Jorge Catarino ao buraco orçamental, «que continua a ser a principal dor de cabeça da reforma da Saúde». E acrescenta que, contudo, «a área da Saúde não pode ser gerida a partir de uma perspectiva meramente financeira». A moção de Jorge Catarino é uma das 54 moções sectoriais ao congresso do PS. Numa tentativa de «dar dignidade» à sua discussão, a comissão organizadora do congresso decidiu repartir a sua discussão por grupos, no sábado à noite, para serem votadas no domingo de manhã.

Ricardo Jorge Pinto

Abstenções de surpresa (EXPRESSO 28/04/2001) A ABSTENÇÃO dos deputados socialistas que estavam contra a Lei da Liberdade Religiosa foi a surpresa da votação de quinta-feira no Parlamento. Se já era certo que a passagem da lei estava assegurada pelo entendimento entre socialistas, sociais-democratas e populares - que, no final da votação, levou a uma troca de elogios entre Vera Jardim, Pedro Roseta e Basílio Horta - , era igualmente esperado o voto contra de deputados como Jorge Lacão e António Reis, autores de uma proposta alternativa ao artigo mais polémico da nova lei (aquele que exclui a Igreja Católica desta regulamentação). Mas assim não sucedeu. A lei registou a abstenção de 24 deputados do PS e os votos contra do PCP, BE e PEV. Já a proposta de Reis e Lacão, foi rejeitada pela maioria da bancada do PS, bem como pelo PSD e pelo CDS/PP. A votação foi precedida de aceso debate e foram apresentadas inúmeras declarações de voto. Vera Jardim sublinhou ser esta nova lei «um marco fundamental». Mas muitos dos seus opositores, nomeadamente Lacão, consideraram que ela «suscita um sério problema de conformidade à Constituição».

Maria Teresa Oliveira

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