JSD tira protagonismo à JS

23-04-2001
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No momento em que a Juventude Socialista enfrenta a sua maior crise de sempre, a JSD assume como sua a bandeira de liberalização das drogas, que catapultou Sousa Pinto para a ribalta

No início da semana, a JSD e o Bloco de Esquerda assestaram baterias para levar a discussão da toxicodependência ao plenário do próximo dia 21 de Junho, o que constitui uma excelente oportunidade para que a estrutura jovem do PSD possa ver debatido um tema considerado prioritário pela maioria dos seus membros, mas não pelo partido.

Apesar de o grupo parlamentar do PSD já ter anunciado que votará contra este projecto, por considerar que «a liberalização da droga tem efeitos perversos que favorecem o consumo», a JSD tem conquistado apoios internos. A ministra-sombra da Saúde, Clara Carneiro, foi a primeira a afirmar-se de acordo com «a necessidade de investir na prevenção do consumo desde o 1º ano de escolaridade e com a criação de salas de fumo».

Sérgio com a JSD

A legitimar a iniciativa da JSD está também o movimento cívico que na quarta-feira apresentou ao Parlamento um apelo para agendamento urgente da discussão.Entre os subscritores do documento encontram-se Eunice Muñoz, Zé Pedro (dos Xutos&Pontapés), Diogo Infante, Miguel Sousa Tavares e também, Luís Filipe Meneses e... Sérgio Sousa Pinto.

O ex-líder da JS defende, aliás, que «todos os projectos deverão ser aprovados na generalidade para que se chegue a uma solução na especialidade» e garante que a subscrição deste documento prende-se apenas com uma questão de «coerência pessoal e política». Sousa Pinto recusa-se a fazer avaliações da postura da JS neste processo, visivelmente afastada de qualquer solução legislativa.

Apesar de Jamila Madeira e Ana Catarina Mendes não se entenderem quanto ao resultado da votação no congresso e à posterior decisão da Comissão de Organização do Congresso (COC) que legitimou Jamila como secretária-geral da JS, ambas estão de acordo que a estrutura «perdeu espaço de intervenção política» devido ao processo eleitoral iniciado em Novembro.

PS preocupado

Neste clima de instabilidade, Jamila Madeira que, até deliberação em contrário, se assume como secretária-geral da JS, afirma que irá «ouvir as estruturas eleitas antes de avançar com uma solução para o problema da droga». Mas, acrescenta, «ou fazemos adendas à proposta do Governo ou apresentamos um projecto próprio».

À JS não estará contudo reservado um futuro fácil, quer pela escassez de tempo até ao agendamento da questão, quer pela legitimidade que até lá Jamila possuirá, uma vez que Ana Catarina ameaça não desistir de impugnar a decisão da COC, que acusa de ter praticado um «autêntico golpe de secretaria».

O diferendo na JS está a preocupar o PS. E apesar de Jamila e Ana Catarina assumirem que o problema deverá ser resolvido internamente, ambas fizeram questão de expor as suas versões (totalmente contraditórias) a Jorge Coelho.

Entretanto, a revolta estalou entre os dirigentes regionais da JS, perante o silêncio da COC. Esta semana, a JS do Porto criticou a forma como o processo eleitoral foi conduzido, e as culpas são fundamentalmente apontadas a António Galamba - o líder da COC, que literalmente desapareceu de cena no último dia do congresso.

As críticas directas a António Galamba partiram, em primeiro lugar, do próprio secretário-geral cessante, Sérgio Sousa Pinto, que condenou (logo no domingo) a forma como a COC se demitiu de responsabilidades, acabando (ainda antes da proclamação da vitória de Jamila) por oficializar a cessação do seu mandato como secretário-geral da JS.

Galamba escusou-se a justificar a interrupção do congresso, remetendo a resolução do problema para o recém-eleito Conselho Nacional de Jurisdição, saído da lista de Jamila. E mais não quis comentar, argumentando que a COC se extinguiu na segunda-feira e que ele próprio cessou aí funções, quer como presidente do órgão, quer como militante da JS. Mas Ana Catarina discorda.

Barafunda total

«A única instância para o qual é possível recorrer é o Congresso, que foi cancelado» - afirma a candidata derrotada. E para sustentar a ilegalidade da decisão, argumenta com o incumprimento do Artigo 4º do Regimento do Congresso, segundo o qual só à mesa cabe a proclamação dos resultados, através da apresentação da acta votada pelos congressistas durante a sessão de encerramento. Ana Catarina sustenta que «as regras democráticas e de transparência foram violadas» e que só a realização de um congresso extraordinário com o mesmo universo de congressistas credenciados em Espinho poderá pôr cobro à situação. Resta-lhe reunir-se com os apoiantes para avaliar as possibilidades.

Jamila não acredita na viabilidade do processo posto em marcha pela sua adversária. Alegando conhecer os seus apoios, diz que «matematicamente» Ana Catarina não conseguirá reunir as condições necessárias à convocação de novo congresso, mas admite estar disponível para nova votação, «no caso de se reunirem os critérios estatutários para tal».

Perante o imbróglio, Ana Catarina só espera «bom senso» da parte da candidatura de Jamila, mas esta sente-se legitimada pela maioria para começar já a «trabalhar com todos os 45 mil militantes da JS».

Com o desfecho em aberto, mas com as «démarches» para a eleição do Secretariado Nacional já em curso, a JS só pode ter uma certeza: enquanto não for declarado o «cessar-fogo» interno, a estrutura não terá maneira de defender, de forma autónoma, um ponto comum às moções de Ana Catarina e Jamila: a revisão legislativa sobre a droga.

SANDRA FELGUEIRAS, com RICARDO JORGE PINTO

No momento em que a Juventude Socialista enfrenta a sua maior crise de sempre, a JSD assume como sua a bandeira de liberalização das drogas, que catapultou Sousa Pinto para a ribalta

No início da semana, a JSD e o Bloco de Esquerda assestaram baterias para levar a discussão da toxicodependência ao plenário do próximo dia 21 de Junho, o que constitui uma excelente oportunidade para que a estrutura jovem do PSD possa ver debatido um tema considerado prioritário pela maioria dos seus membros, mas não pelo partido.

Apesar de o grupo parlamentar do PSD já ter anunciado que votará contra este projecto, por considerar que «a liberalização da droga tem efeitos perversos que favorecem o consumo», a JSD tem conquistado apoios internos. A ministra-sombra da Saúde, Clara Carneiro, foi a primeira a afirmar-se de acordo com «a necessidade de investir na prevenção do consumo desde o 1º ano de escolaridade e com a criação de salas de fumo».

Sérgio com a JSD

A legitimar a iniciativa da JSD está também o movimento cívico que na quarta-feira apresentou ao Parlamento um apelo para agendamento urgente da discussão.Entre os subscritores do documento encontram-se Eunice Muñoz, Zé Pedro (dos Xutos&Pontapés), Diogo Infante, Miguel Sousa Tavares e também, Luís Filipe Meneses e... Sérgio Sousa Pinto.

O ex-líder da JS defende, aliás, que «todos os projectos deverão ser aprovados na generalidade para que se chegue a uma solução na especialidade» e garante que a subscrição deste documento prende-se apenas com uma questão de «coerência pessoal e política». Sousa Pinto recusa-se a fazer avaliações da postura da JS neste processo, visivelmente afastada de qualquer solução legislativa.

Apesar de Jamila Madeira e Ana Catarina Mendes não se entenderem quanto ao resultado da votação no congresso e à posterior decisão da Comissão de Organização do Congresso (COC) que legitimou Jamila como secretária-geral da JS, ambas estão de acordo que a estrutura «perdeu espaço de intervenção política» devido ao processo eleitoral iniciado em Novembro.

PS preocupado

Neste clima de instabilidade, Jamila Madeira que, até deliberação em contrário, se assume como secretária-geral da JS, afirma que irá «ouvir as estruturas eleitas antes de avançar com uma solução para o problema da droga». Mas, acrescenta, «ou fazemos adendas à proposta do Governo ou apresentamos um projecto próprio».

À JS não estará contudo reservado um futuro fácil, quer pela escassez de tempo até ao agendamento da questão, quer pela legitimidade que até lá Jamila possuirá, uma vez que Ana Catarina ameaça não desistir de impugnar a decisão da COC, que acusa de ter praticado um «autêntico golpe de secretaria».

O diferendo na JS está a preocupar o PS. E apesar de Jamila e Ana Catarina assumirem que o problema deverá ser resolvido internamente, ambas fizeram questão de expor as suas versões (totalmente contraditórias) a Jorge Coelho.

Entretanto, a revolta estalou entre os dirigentes regionais da JS, perante o silêncio da COC. Esta semana, a JS do Porto criticou a forma como o processo eleitoral foi conduzido, e as culpas são fundamentalmente apontadas a António Galamba - o líder da COC, que literalmente desapareceu de cena no último dia do congresso.

As críticas directas a António Galamba partiram, em primeiro lugar, do próprio secretário-geral cessante, Sérgio Sousa Pinto, que condenou (logo no domingo) a forma como a COC se demitiu de responsabilidades, acabando (ainda antes da proclamação da vitória de Jamila) por oficializar a cessação do seu mandato como secretário-geral da JS.

Galamba escusou-se a justificar a interrupção do congresso, remetendo a resolução do problema para o recém-eleito Conselho Nacional de Jurisdição, saído da lista de Jamila. E mais não quis comentar, argumentando que a COC se extinguiu na segunda-feira e que ele próprio cessou aí funções, quer como presidente do órgão, quer como militante da JS. Mas Ana Catarina discorda.

Barafunda total

«A única instância para o qual é possível recorrer é o Congresso, que foi cancelado» - afirma a candidata derrotada. E para sustentar a ilegalidade da decisão, argumenta com o incumprimento do Artigo 4º do Regimento do Congresso, segundo o qual só à mesa cabe a proclamação dos resultados, através da apresentação da acta votada pelos congressistas durante a sessão de encerramento. Ana Catarina sustenta que «as regras democráticas e de transparência foram violadas» e que só a realização de um congresso extraordinário com o mesmo universo de congressistas credenciados em Espinho poderá pôr cobro à situação. Resta-lhe reunir-se com os apoiantes para avaliar as possibilidades.

Jamila não acredita na viabilidade do processo posto em marcha pela sua adversária. Alegando conhecer os seus apoios, diz que «matematicamente» Ana Catarina não conseguirá reunir as condições necessárias à convocação de novo congresso, mas admite estar disponível para nova votação, «no caso de se reunirem os critérios estatutários para tal».

Perante o imbróglio, Ana Catarina só espera «bom senso» da parte da candidatura de Jamila, mas esta sente-se legitimada pela maioria para começar já a «trabalhar com todos os 45 mil militantes da JS».

Com o desfecho em aberto, mas com as «démarches» para a eleição do Secretariado Nacional já em curso, a JS só pode ter uma certeza: enquanto não for declarado o «cessar-fogo» interno, a estrutura não terá maneira de defender, de forma autónoma, um ponto comum às moções de Ana Catarina e Jamila: a revisão legislativa sobre a droga.

SANDRA FELGUEIRAS, com RICARDO JORGE PINTO

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