O Big Brother no país de Astérix

22-07-2001
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O Big Brother no País de Astérix

Por ANA NAVARRO PEDRO

Sexta-feira, 18 de Maio de 2001 Na pátria de Astérix e da Revolução francesa, o Big Brother tinha mesmo que ser diferente Loana, David, Laure, Azziz e os outros, todos se tornaram vedetas nacionais de um dia para outro, com a versão francesa de Big Brother. Difundida pelo pequeno canal M6, a emissão bate todos os recordes de audiência, chegando a concentrar dez milhões de telespectadores a contemplarem o vazio abissal das vidas dos habitantes da casa. Até aqui, tudo é idêntico aos outros países varridos pela emissão que paga direitos de autor a um holandês: bisbilhotice, lucros e concretização da profecia de Warhol, o pintor americano que prometia um quarto de hora de glória a cada ser humano no século XXI. Mas as similitudes terminam aqui. É que estamos em França. Ou seja, num país habitado por um povo que não é exactamente como os outros. Então, na pátria de Astérix e da Revolução francesa, o Big Brother está a dar polémica... mesmo à francesa. Para começar, o Big Brother chama-se aqui Loft Story. Mas é só para ter um nome diferente. Depois não passa totalmente em directo no M6: só há uma hora e picos no canal hertziano, com uma montagem dos melhores momentos do dia. Em directo mesmo, só na Internet e num canal por satélite, que por sinal bate todos os recordes de assinaturas desde o começo de Loft Story. O Conselho Superior do Audiovisual (CSA) puxou logo as orelhas ao M6, proclamando que o canal não tinha direito de se servir das emissões hertzianas como uma espécie de publicidade para fazer dinheiro com o satélite e a Internet. Pouco depois, foi a vez da cadeia de televisão mais poderosa de França e da Europa, a TF1, entrar em acção. E foi com um ataque de bazuca: é que Loft Story destronou a supremacia da TF1, e a publicidade desertou a TF1 em "prime-time" para se abandonar nos braços da M6. Dinheiro é coisa séria. Assim, num artigo incendiário publicado no jornal "Le Monde", Patrick Le Lay acusou o patrão da M6 dos mais torpes intuitos e exigiu a intervenção do Governo contra a estação de televisão, empresa privada como a TF1, e que está fazer perder dinheiro a esta última com a sua concorrência numa economia de mercado! Os arrazoados entre os dois patrões tiveram o efeito curioso de lançarem um debate de fundo, e de alto nível, sobre a televisão, e o seu papel "numa evolução lenta em toda a Europa", segundo as palavras da ministra da Comunicação, Catherine Tasca. Na imprensa, floresce uma profusão de ensaios, comentários e críticas, que vão além das simples peripécias de Loft Story, para se interrogar, quase tão seriamente como na obra do filósofo Paul Virillio, sobre os atavismos, a ética e a evolução da comunicação. E durante este tempo, Loft Story continua a suscitar paixões. Três centenas de manifestantes anti-Loft despejaram caixotes do lixo na entrada de M6, sábado passado. Pouco depois, outros tantos anarquistas lançavam um assalto contra o "Loft", para "libertarem os reféns". Durante a batalha campal contra os seguranças de M6, a produção difundiu música aos berros no "Loft", para impedir Loana, David, Laure Azziz e os outros de ouvirem os gritos dos manifestantes. Associações de defesa dos direitos humanos já apresentaram queixa na polícia por terem ouvido "comentários racistas" dentro do "Loft". Os próprios "reféns" começam a dar dores de cabeça à produção. Dois já abandonaram, porque não estão para aturar três meses daquilo. Os outros discutem os contratos com a M6, queixam-se de serem mal pagos, da comida e do preço da comida, das condições de trabalho e da falta de privacidade. Resultado: a inspecção do trabalho já foi fazer um a vistoria ao "Loft", o Ministério da Justiça estuda os contratos de Loana, David, etc., e o CSA ordenou duas horas de privacidade sem câmaras por dia. "Boa! Agora já podemos f... em paz!", exclamaram os "reféns" do "Loft". OUTROS TÍTULOS EM MEDIA António Capucho compara O Bar da TV a experiências nazis

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