Um concelho esquecido pelos políticos

09-05-2001
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Um Concelho Esquecido Pelos Políticos

Por RUI BAPTISTA E INÊS NADAIS

Terça-feira, 6 de Março de 2001

O isolamento de Castelo de Paiva

Sem estradas e com poucas alternativas de emprego, os habitantes responsabilizam os partidos

Isolamento. Esta é a palavra mais usada pelos habitantes de Castelo de Paiva para definir a situação deste concelho situado no Norte do distrito de Aveiro. Encravado na serra e limitado pelo rio Douro, Castelo de Paiva tem sido esquecido por gerações inteiras de políticos, como é fácil de comprovar pela falta de investimentos públicos e pela deficiente rede viária. "Somos um concelho com um número de eleitores reduzido, e, por isso, os políticos têm tendência para se esquecerem de nós", reconhece o presidente da Assembleia Municipal.

António Rodrugues, presidente da Junta de Freguesia da Raiva, onde residia a maior parte das vítimas do acidente de domingo à noite, defende que o isolamento de Castelo de Paiva tem razões claramente políticas. "O isolamento foi provocado. Enquanto as minas [carboníferas] de Pejão funcionaram, não foram abertas estradas, para evitar a fuga de mão-de-obra, e não foram criadas novas indústrias, para que não houvesse alternativas de emprego", garante Rodrigues, ele próprio um ex-trabalhador do couto mineiro, encerrado em 1995.

366 curvas

Premeditado ou não, o certo é que o isolamento em que vivem os 16.500 habitantes das nove freguesias de Castelo de Paiva é evidente. Hoje existem outtras indústrias para além da exploração mineira, mas quem precisar de se deslocar para fora do concelho (de 112 quilómetros quadrados) enfrenta muitas dificuldades. A capital do distrito fica a cerca de 90 quilómetros, mas, para lá chegar, são precisas duas boas horas, por estradas sinuosas e esburacadas. Quem quiser chegar ao concelho através de Arouca, tem que enfrentar uma das estradas mais terríveis do país, com as suas tristemente famosas 366 curvas.

A ligação através da Estrada Nacional nº1 está num estado lamentável. Até Gião, a via está completamente esburacada, com pouco alcatrão à vista, e o acesso a Pedorido faz-se aos solavancos, num trajecto em que as curvas sinuosas rivalizam com os buracos. Já perto da vila de Castelo de Paiva, está pronto um troço da variante, fruto das contrapartidas devidas pelo encerramento do couto mineiro, à espera de ser inaugurada pelo sucessor de Jorge Coelho.

Até aqui, o isolamento era atenuado pela travessia de Entre-os-Rios, que permitia chegar em cerca de 45 minutos ao Porto. Com a ponte caída, os habitantes da zona temem que a sua vida fique ainda mais complicada. "Chegar ao Porto vai agora demorar mais de duas horas", diz José Santos Pereira, que todos os dias atravessava a ponte para ir trabalhar numa empresa de Penafiel.

Pereira foi um dos manifestantes que cortaram o trânsito na ponte no início do ano, reclamando a reparação das estradas. "A única coisa que conseguimos foi chatices", reconhece agora, lembrando que, para ontem mesmo, estava marcada para o tribunal da comarca a audição dos principais responsáveis pelo corte da via. Por ironia, a queixa foi apresentada pelo próprio governador civil de Aveiro, Antero Gaspar, que, durante anos, foi presidente da Câmara de Castelo de Paiva.

Um Concelho Esquecido Pelos Políticos

Por RUI BAPTISTA E INÊS NADAIS

Terça-feira, 6 de Março de 2001

O isolamento de Castelo de Paiva

Sem estradas e com poucas alternativas de emprego, os habitantes responsabilizam os partidos

Isolamento. Esta é a palavra mais usada pelos habitantes de Castelo de Paiva para definir a situação deste concelho situado no Norte do distrito de Aveiro. Encravado na serra e limitado pelo rio Douro, Castelo de Paiva tem sido esquecido por gerações inteiras de políticos, como é fácil de comprovar pela falta de investimentos públicos e pela deficiente rede viária. "Somos um concelho com um número de eleitores reduzido, e, por isso, os políticos têm tendência para se esquecerem de nós", reconhece o presidente da Assembleia Municipal.

António Rodrugues, presidente da Junta de Freguesia da Raiva, onde residia a maior parte das vítimas do acidente de domingo à noite, defende que o isolamento de Castelo de Paiva tem razões claramente políticas. "O isolamento foi provocado. Enquanto as minas [carboníferas] de Pejão funcionaram, não foram abertas estradas, para evitar a fuga de mão-de-obra, e não foram criadas novas indústrias, para que não houvesse alternativas de emprego", garante Rodrigues, ele próprio um ex-trabalhador do couto mineiro, encerrado em 1995.

366 curvas

Premeditado ou não, o certo é que o isolamento em que vivem os 16.500 habitantes das nove freguesias de Castelo de Paiva é evidente. Hoje existem outtras indústrias para além da exploração mineira, mas quem precisar de se deslocar para fora do concelho (de 112 quilómetros quadrados) enfrenta muitas dificuldades. A capital do distrito fica a cerca de 90 quilómetros, mas, para lá chegar, são precisas duas boas horas, por estradas sinuosas e esburacadas. Quem quiser chegar ao concelho através de Arouca, tem que enfrentar uma das estradas mais terríveis do país, com as suas tristemente famosas 366 curvas.

A ligação através da Estrada Nacional nº1 está num estado lamentável. Até Gião, a via está completamente esburacada, com pouco alcatrão à vista, e o acesso a Pedorido faz-se aos solavancos, num trajecto em que as curvas sinuosas rivalizam com os buracos. Já perto da vila de Castelo de Paiva, está pronto um troço da variante, fruto das contrapartidas devidas pelo encerramento do couto mineiro, à espera de ser inaugurada pelo sucessor de Jorge Coelho.

Até aqui, o isolamento era atenuado pela travessia de Entre-os-Rios, que permitia chegar em cerca de 45 minutos ao Porto. Com a ponte caída, os habitantes da zona temem que a sua vida fique ainda mais complicada. "Chegar ao Porto vai agora demorar mais de duas horas", diz José Santos Pereira, que todos os dias atravessava a ponte para ir trabalhar numa empresa de Penafiel.

Pereira foi um dos manifestantes que cortaram o trânsito na ponte no início do ano, reclamando a reparação das estradas. "A única coisa que conseguimos foi chatices", reconhece agora, lembrando que, para ontem mesmo, estava marcada para o tribunal da comarca a audição dos principais responsáveis pelo corte da via. Por ironia, a queixa foi apresentada pelo próprio governador civil de Aveiro, Antero Gaspar, que, durante anos, foi presidente da Câmara de Castelo de Paiva.

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