EXPRESSO: Artigo

14-12-2001
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Esquerda versus direita na Internet

Texto de Paulo Querido

Mal começamos a investigação, logo saltam à vista duas realidades sobre a relação entre a política na sua mais recente manifestação - as autárquicas deste ano - e a Internet, uma delas totalmente esperada mas a outra absolutamente surpreendente. A primeira é que todos os partidos e candidatos abraçaram definitivamente o novo meio de comunicação de massas: de acordo com o levantamento - forçosamente parcial, devido à falta de centralização de dados do próprio meio - realizado pelo Expresso, andarão pela centena e meia o número de sítios erigidos pelas candidaturas ao sufrágio do próximo dia 16. A segunda é que, regra geral, é detectável uma clivagem ideológica na forma como as candidaturas abordaram a Internet, provando que, afinal, continua a haver Esquerda e Direita: os «websites» à Direita tendem a acentuar a imagem recorrendo à sofisticação tecnológica contratada a empresas de «marketing», enquanto à Esquerda se privilegia o discurso e se tira maior partido das vantagens que caracterizam este meio (descentralização e economia de produção).

Convém, no entanto, lembrar que a regra é sobretudo verdade para os principais centros urbanos. Fora deles, a imaginação sobrepõe-se ao poder do dinheiro, havendo tanto à Esquerda como à Direita explorações hábeis (e também inábeis) dos vastos recursos que a Internet proporciona a baixo custo.

Enquanto, em 1997, nas últimas autárquicas, eram esparsas as candidaturas presentes na Web, desta vez é ao contrário: os dois principais mecanismos de busca portugueses, Sapo e Clix, fornecem listagens com mais de uma centena de hiperligações a páginas oficiais de candidaturas, havendo outras que não aparecem na pesquisa por não se terem recenseado naqueles portais.

Lisboa e as candidaturas de Santana Lopes e Paulo Portas, de um lado, e de João Soares e Miguel Portas, por outro, são, de qualquer modo, um bom exemplo da clivagem entre Esquerda e Direita na Internet.

As páginas de PSL têm muita força - a força do talento da Net.Events e da Caleida, empresas responsáveis pela concepção, realização e alojamento.

Respondendo ao endereço www.pedrosantanalopes.net, o sítio é considerado por analistas do «marketing» como um dos melhores, destacando eles nomeadamente os jogos ali insertos que supostamente fidelizam os internautas, fazendo-os voltar às páginas, e acabando por absorver as mensagens da candidatura. Restam dúvidas sobre a fidelização de uma comunidade pouco impressionável e que está habituada a jogos «on-line» muitíssimo mais interessantes. Mas regista-se o empenho da candidatura em edificar um «website» irrepreensível.

Porém, as páginas da recandidatura de quem governa a capital - João Soares e a coligação Amar Lisboa, em www.amarlisboa.net - não lhe ficam atrás, excepto talvez no «design» menos arrojado e na falta de um fórum público de discussão.

Mas tem uma vantagem: é mais completo do ponto de vista informativo e soube explorar o lado humano de João Soares num sítio paralelo (www.joaosoares.net) que faz um historial breve mas interessante do candidato; não faltam fotografias de João Soares desde a juventude, sendo assinalados os momentos mais significativos da sua vida. E... o humor é uma constante, o que reforça a bonomia do actual presidente da Câmara lisboeta.

Quanto aos irmãos Portas, a clivagem é ainda mais notória. O CDS/PP optou por centralizar na sua página oficial (www.partido-popular.pt) a informação disponível sobre as candidaturas através de uma página com hiperligações a cada uma delas, o que não resultou bem. Detectámos páginas de candidatos pelo PP que não estão ali hiperligadas e há faltas gritantes como a de um «site» exclusivo em Lisboa, que não encontrámos em lado algum; as notas biográficas sobre Paulo Portas são apresentadas em formato bilhete postal no centro, sobre as autárquicas 2001; a interactividade do sítio é nula - mas em compensação temos minutos intermináveis de efeitos gráficos à volta do logótipo do partido.

Já Miguel Portas tira bom partido da forte presença do Bloco de Esquerda na Internet. Em www.miguelportas.net, num conjunto de páginas simples mas de bom-gosto e eficácia, lemos as suas propostas políticas e uma biografia sintética, vendo também a lista de todos os candidatos. Presente ainda uma página de «links», onde Miguel Portas não se limita a endereçar outras páginas bloquistas, sendo muito mais abrangente e deixando sugestões para leituras como a do sítio Guernika (Centro de Informação alternativa e contra a guerra, em www.guernika.org) ou a do Fórum Cidadania (www.forumcidadania.org) e dezenas de outras.

Apesar de tudo, a tendência não passa disso mesmo, duma tendência, pelo que há a referir excepções como a de António Capucho, candidato de direita em Cascais, ou a de Fernando Gomes, candidato de esquerda no Porto. O sítio do primeiro (www.antoniocapucho.com) é de uma sobriedade clássica contrastante com a de Santana Lopes, apresentando-se num ambiente muito típico da Web. Mesmo sem efeitos especiais está lá tudo o que é relevante. Já o endereço www.fernandogomes.pt (e refira-se que é o único na rede .pt, o que alimentará a voz de críticos ao organismo que administra os endereços da rede portuguesa) tresanda a profissionalismo e a «marketing», embora menos espampanante que o de Santana Lopes. Também tem jogos (um Trivial tripeiro sem humor), interactividade com o leitor e programa de candidatura.

Uma nota final: embora aqui se tenham referido os exemplos de cidades grandes, há que vincar que a natureza distribuída da Internet dá-lhe a capacidade de servir as populações de centros urbanos pequenos e remotos como nenhum outro meio foi até hoje capaz. E páginas como a da candidata Ana Manso, na Guarda (www.anamanso.com), são um bom exemplo de utilização inteligente do meio para promover tanto uma lista como uma região do interior. Para acompanhar mais de perto a situação e saltar para mais de uma centena de páginas de candidatura tem o leitor as listas do Clix (http://directorio.clix.pt/directorio/POLITICA/ELEICOES/DIR/index.php3) e do Sapo (www.sapo.pt/culturais/politica/autarquicas_2001).

Paulo Querido

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Esquerda versus direita na Internet

Texto de Paulo Querido

Mal começamos a investigação, logo saltam à vista duas realidades sobre a relação entre a política na sua mais recente manifestação - as autárquicas deste ano - e a Internet, uma delas totalmente esperada mas a outra absolutamente surpreendente. A primeira é que todos os partidos e candidatos abraçaram definitivamente o novo meio de comunicação de massas: de acordo com o levantamento - forçosamente parcial, devido à falta de centralização de dados do próprio meio - realizado pelo Expresso, andarão pela centena e meia o número de sítios erigidos pelas candidaturas ao sufrágio do próximo dia 16. A segunda é que, regra geral, é detectável uma clivagem ideológica na forma como as candidaturas abordaram a Internet, provando que, afinal, continua a haver Esquerda e Direita: os «websites» à Direita tendem a acentuar a imagem recorrendo à sofisticação tecnológica contratada a empresas de «marketing», enquanto à Esquerda se privilegia o discurso e se tira maior partido das vantagens que caracterizam este meio (descentralização e economia de produção).

Convém, no entanto, lembrar que a regra é sobretudo verdade para os principais centros urbanos. Fora deles, a imaginação sobrepõe-se ao poder do dinheiro, havendo tanto à Esquerda como à Direita explorações hábeis (e também inábeis) dos vastos recursos que a Internet proporciona a baixo custo.

Enquanto, em 1997, nas últimas autárquicas, eram esparsas as candidaturas presentes na Web, desta vez é ao contrário: os dois principais mecanismos de busca portugueses, Sapo e Clix, fornecem listagens com mais de uma centena de hiperligações a páginas oficiais de candidaturas, havendo outras que não aparecem na pesquisa por não se terem recenseado naqueles portais.

Lisboa e as candidaturas de Santana Lopes e Paulo Portas, de um lado, e de João Soares e Miguel Portas, por outro, são, de qualquer modo, um bom exemplo da clivagem entre Esquerda e Direita na Internet.

As páginas de PSL têm muita força - a força do talento da Net.Events e da Caleida, empresas responsáveis pela concepção, realização e alojamento.

Respondendo ao endereço www.pedrosantanalopes.net, o sítio é considerado por analistas do «marketing» como um dos melhores, destacando eles nomeadamente os jogos ali insertos que supostamente fidelizam os internautas, fazendo-os voltar às páginas, e acabando por absorver as mensagens da candidatura. Restam dúvidas sobre a fidelização de uma comunidade pouco impressionável e que está habituada a jogos «on-line» muitíssimo mais interessantes. Mas regista-se o empenho da candidatura em edificar um «website» irrepreensível.

Porém, as páginas da recandidatura de quem governa a capital - João Soares e a coligação Amar Lisboa, em www.amarlisboa.net - não lhe ficam atrás, excepto talvez no «design» menos arrojado e na falta de um fórum público de discussão.

Mas tem uma vantagem: é mais completo do ponto de vista informativo e soube explorar o lado humano de João Soares num sítio paralelo (www.joaosoares.net) que faz um historial breve mas interessante do candidato; não faltam fotografias de João Soares desde a juventude, sendo assinalados os momentos mais significativos da sua vida. E... o humor é uma constante, o que reforça a bonomia do actual presidente da Câmara lisboeta.

Quanto aos irmãos Portas, a clivagem é ainda mais notória. O CDS/PP optou por centralizar na sua página oficial (www.partido-popular.pt) a informação disponível sobre as candidaturas através de uma página com hiperligações a cada uma delas, o que não resultou bem. Detectámos páginas de candidatos pelo PP que não estão ali hiperligadas e há faltas gritantes como a de um «site» exclusivo em Lisboa, que não encontrámos em lado algum; as notas biográficas sobre Paulo Portas são apresentadas em formato bilhete postal no centro, sobre as autárquicas 2001; a interactividade do sítio é nula - mas em compensação temos minutos intermináveis de efeitos gráficos à volta do logótipo do partido.

Já Miguel Portas tira bom partido da forte presença do Bloco de Esquerda na Internet. Em www.miguelportas.net, num conjunto de páginas simples mas de bom-gosto e eficácia, lemos as suas propostas políticas e uma biografia sintética, vendo também a lista de todos os candidatos. Presente ainda uma página de «links», onde Miguel Portas não se limita a endereçar outras páginas bloquistas, sendo muito mais abrangente e deixando sugestões para leituras como a do sítio Guernika (Centro de Informação alternativa e contra a guerra, em www.guernika.org) ou a do Fórum Cidadania (www.forumcidadania.org) e dezenas de outras.

Apesar de tudo, a tendência não passa disso mesmo, duma tendência, pelo que há a referir excepções como a de António Capucho, candidato de direita em Cascais, ou a de Fernando Gomes, candidato de esquerda no Porto. O sítio do primeiro (www.antoniocapucho.com) é de uma sobriedade clássica contrastante com a de Santana Lopes, apresentando-se num ambiente muito típico da Web. Mesmo sem efeitos especiais está lá tudo o que é relevante. Já o endereço www.fernandogomes.pt (e refira-se que é o único na rede .pt, o que alimentará a voz de críticos ao organismo que administra os endereços da rede portuguesa) tresanda a profissionalismo e a «marketing», embora menos espampanante que o de Santana Lopes. Também tem jogos (um Trivial tripeiro sem humor), interactividade com o leitor e programa de candidatura.

Uma nota final: embora aqui se tenham referido os exemplos de cidades grandes, há que vincar que a natureza distribuída da Internet dá-lhe a capacidade de servir as populações de centros urbanos pequenos e remotos como nenhum outro meio foi até hoje capaz. E páginas como a da candidata Ana Manso, na Guarda (www.anamanso.com), são um bom exemplo de utilização inteligente do meio para promover tanto uma lista como uma região do interior. Para acompanhar mais de perto a situação e saltar para mais de uma centena de páginas de candidatura tem o leitor as listas do Clix (http://directorio.clix.pt/directorio/POLITICA/ELEICOES/DIR/index.php3) e do Sapo (www.sapo.pt/culturais/politica/autarquicas_2001).

Paulo Querido

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