"Sim" de Guterres à lei de bases da família incendeia PS

06-07-2001
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"Sim" de Guterres à Lei de Bases da Família Incendeia PS

Por SÃO JOSÉ ALMEIDA

Sexta-feira, 6 de Abril de 2001

Votação na generalidade é dia 19

Os socialistas engoliram a gravata e Barros Moura apoiou o projecto do CDS sobre família. A indignação no PS está a crescer e há quem pense em votar contra

Era ontem evidente o mal-estar com que o grupo parlamentar do PS seguiu o debate na generalidade sobre a lei de bases da família proposta pelo CDS-PP e que os socialistas decidiram em cima da hora apoiar por ordem expressa do Governo e do primeiro-ministro, António Guterres (ver PÚBLICO de ontem).

Ainda que ninguém dê por enquanto a cara, há na bancada socialista diversos deputados que se sentem incomodados com esta mudança de posição imposta pela direcção máxima do partido e que, à boca pequena, nos corredores, admitem estar a equacionar se não optarão por votar contra. Para mais quando o projecto assume que "o Estado assegurará a protecção e o desenvolvimento da criança antes e depois do seu nascimento", o que é visto como uma condenação do aborto contraditória com as posições do PS. Refira-se, no entanto, que Barros Moura garantiu ao PÚBLICO que o PS exigirá que esta disposição caia na discussão na especialidade.

Com a votação agendada apenas para o dia 19 de Abril, por força da Páscoa, o assunto ficará a maturar, mas tudo indica que venha a rebentar em cima da votação, nomeadamente em reunião do grupo parlamentar. Para mais quando esta decisão foi tomada ao arrepio da bancada e depois de os deputados se terem empenhado na contestação de idênticas medidas, propostas anteriormente pelo CDS-PP ou pelo PSD.

Perante uma atitude acabrunhada dos deputados do PS, quem acabou por brilhar no debate foi Ana Manso, do PSD. Os sociais-democratas começaram por salientar, numa conferência de imprensa ao princípio da tarde, as contradições dos socialistas neste tema. O líder parlamentar do PSD, António Capucho, considerou mesmo que se tratava de "uma hipocrisia política", de uma "mudança de táctica" para "agradar a sectores de opinião nomeadamente da Igreja Católica". E Ana Manso tratou de fazer o relatório de inúmeras medidas sobre a família, incluindo a lei de bases, que tinham sido chumbadas pelo PS.

Já no plenário, Ana Manso desfez a posição do PS. Lembrou à exaustão que os socialistas, há seis meses, votaram contra idêntico diploma apresentado pelo PSD, para agora aprovarem o do CDS-PP. E ironizando com o facto de a decisão ter partido das cúpulas socialistas, Ana Manso disparou: "Ainda o doutor Barros Moura não tinha consultado o travesseiro do engenheiro Guterres." E criticava o facto de o PS aceitar "uma agenda política marcada por pressão dos 'lobbies'" e de ter uma actuação com base numa "lógica quase antifamília". A deputada insistiu: "É evidente que o grupo parlamentar do PS tem a legitimidade toda para dizer hoje uma coisa e amanhã outra." Para depois acusar Barros Moura: "Pensava uma coisa, hoje pensa a mesma coisa, mas consegue dizer aqui o contrário."

Barros Moura, vice-presidente da bancada socialista, lá fez o papel de engolir a gravata. E, depois de falar alguns minutos desenvolvendo um raciocínio elíptico e sem um fio condutor, assumiu que o PS estava a assumir a "posição correcta no plano táctico porque traduz uma posição estratégica de apoio à família".

De seguida, coube a Sónia Fertuzinhos explicar as boas intenções da política do Governo para a família. Sem êxito. Implacável, Ana Manso retorquiu: "No debate há seis meses disse o contrário, passaram 165 dias, é natural."

Perante a crítica feroz do PSD à alteração de posição pelo PS, os dois maiores partidos acabaram por protagonizar o debate. O CDS-PP ainda tentou capitalizar o súbito interesse do PS pelo seu projecto, mas apenas conseguiu dialogar com uma deputada da bancada socialista, a independente do Movimento Humanismo e Democracia Maria do Rosário Carneiro, que é apontada como a origem da mudança de posição do PS devido aos seus esforços junto de António Guterres. Face às perguntas de Rosário Carneiro, Basílio Horta reconheceu que o CDS aceita alterações ao texto que propôs.

"Sim" de Guterres à Lei de Bases da Família Incendeia PS

Por SÃO JOSÉ ALMEIDA

Sexta-feira, 6 de Abril de 2001

Votação na generalidade é dia 19

Os socialistas engoliram a gravata e Barros Moura apoiou o projecto do CDS sobre família. A indignação no PS está a crescer e há quem pense em votar contra

Era ontem evidente o mal-estar com que o grupo parlamentar do PS seguiu o debate na generalidade sobre a lei de bases da família proposta pelo CDS-PP e que os socialistas decidiram em cima da hora apoiar por ordem expressa do Governo e do primeiro-ministro, António Guterres (ver PÚBLICO de ontem).

Ainda que ninguém dê por enquanto a cara, há na bancada socialista diversos deputados que se sentem incomodados com esta mudança de posição imposta pela direcção máxima do partido e que, à boca pequena, nos corredores, admitem estar a equacionar se não optarão por votar contra. Para mais quando o projecto assume que "o Estado assegurará a protecção e o desenvolvimento da criança antes e depois do seu nascimento", o que é visto como uma condenação do aborto contraditória com as posições do PS. Refira-se, no entanto, que Barros Moura garantiu ao PÚBLICO que o PS exigirá que esta disposição caia na discussão na especialidade.

Com a votação agendada apenas para o dia 19 de Abril, por força da Páscoa, o assunto ficará a maturar, mas tudo indica que venha a rebentar em cima da votação, nomeadamente em reunião do grupo parlamentar. Para mais quando esta decisão foi tomada ao arrepio da bancada e depois de os deputados se terem empenhado na contestação de idênticas medidas, propostas anteriormente pelo CDS-PP ou pelo PSD.

Perante uma atitude acabrunhada dos deputados do PS, quem acabou por brilhar no debate foi Ana Manso, do PSD. Os sociais-democratas começaram por salientar, numa conferência de imprensa ao princípio da tarde, as contradições dos socialistas neste tema. O líder parlamentar do PSD, António Capucho, considerou mesmo que se tratava de "uma hipocrisia política", de uma "mudança de táctica" para "agradar a sectores de opinião nomeadamente da Igreja Católica". E Ana Manso tratou de fazer o relatório de inúmeras medidas sobre a família, incluindo a lei de bases, que tinham sido chumbadas pelo PS.

Já no plenário, Ana Manso desfez a posição do PS. Lembrou à exaustão que os socialistas, há seis meses, votaram contra idêntico diploma apresentado pelo PSD, para agora aprovarem o do CDS-PP. E ironizando com o facto de a decisão ter partido das cúpulas socialistas, Ana Manso disparou: "Ainda o doutor Barros Moura não tinha consultado o travesseiro do engenheiro Guterres." E criticava o facto de o PS aceitar "uma agenda política marcada por pressão dos 'lobbies'" e de ter uma actuação com base numa "lógica quase antifamília". A deputada insistiu: "É evidente que o grupo parlamentar do PS tem a legitimidade toda para dizer hoje uma coisa e amanhã outra." Para depois acusar Barros Moura: "Pensava uma coisa, hoje pensa a mesma coisa, mas consegue dizer aqui o contrário."

Barros Moura, vice-presidente da bancada socialista, lá fez o papel de engolir a gravata. E, depois de falar alguns minutos desenvolvendo um raciocínio elíptico e sem um fio condutor, assumiu que o PS estava a assumir a "posição correcta no plano táctico porque traduz uma posição estratégica de apoio à família".

De seguida, coube a Sónia Fertuzinhos explicar as boas intenções da política do Governo para a família. Sem êxito. Implacável, Ana Manso retorquiu: "No debate há seis meses disse o contrário, passaram 165 dias, é natural."

Perante a crítica feroz do PSD à alteração de posição pelo PS, os dois maiores partidos acabaram por protagonizar o debate. O CDS-PP ainda tentou capitalizar o súbito interesse do PS pelo seu projecto, mas apenas conseguiu dialogar com uma deputada da bancada socialista, a independente do Movimento Humanismo e Democracia Maria do Rosário Carneiro, que é apontada como a origem da mudança de posição do PS devido aos seus esforços junto de António Guterres. Face às perguntas de Rosário Carneiro, Basílio Horta reconheceu que o CDS aceita alterações ao texto que propôs.

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