Rectificação

12-01-2001
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Rectificação

Sexta-feira, 12 de Janeiro de 2001

Analisada a divulgação de uma sondagem da Universidade Católica na edição de 7 de Janeiro, a Alta Autoridade para a Comunicação Social determinou seja inserta, no próximo número do jornal PÚBLICO, a seguinte rectificação:

Os dados da referida sondagem são afectados pela composição da amostra, que não é representativa do universo eleitoral, já que foram entrevistadas 61,2% de elementos do sexo feminino e só 38,8% do sexo masculino.

José Maria Gonçalves Pereira

Presidente da AACS

Esclarecimento do CESOP da Universidade Católica

Em inquéritos por questionário, a única forma de garantir que a amostra utilizada contém uma repartição por sexo dos inquiridos semelhante à da população portuguesa consiste em utilizar uma amostragem por quotas. Por outras palavras, se os dados do recenseamento indicam que, por exemplo, 52% da população portuguesa pertence ao sexo feminino, os entrevistadores são instruídos de forma a aplicarem 52% do total dos inquéritos a indivíduos do sexo feminino. Na sondagem telefónica publicada no Público no passado dia 8 de Janeiro, elaborada pelo Centro de Sondagens da Universidade Católica (CESOP) para a Antena 1, Público e RTP, a amostra usada foi aleatória e não impôs quotas por sexo. Como resultado, a repartição dos inquiridos no que respeita ao sexo acabou por se afastar da repartição da população portuguesa tal como descrita nos dados do recenseamento.

A discussão académica acerca das vantagens e desvantagens de diferentes procedimentos de amostragem está longe de se encontrar resolvida. Contudo, as desvantagens da utilização da amostragem por quotas são bem conhecidas, e resumem-se nos pontos seguintes:

1. Instruir os inquiridores para entrevistarem determinado tipo de pessoas conduz potencialmente a amostras enviesadas, resultantes de auto-selecção pelos entrevistadores;

2. O uso de determinados atributos da população para estabelecer quotas pode resultar em amostras enviesadas, dada a exclusão de outros atributos potencialmente relevantes (porque não a idade, a profissão, o rendimento, ou o grau de instrução?);

3. A utilização da amostragem por quotas é impeditiva da estimação rigorosa da margem de erro da amostra;

4. Dado que os recenseamentos gerais da população se realizam apenas uma vez por década, a percentagem pré-estabelecida para a construção das quotas pode estar desactualizada, especialmente quando já passaram dez anos sobre o último recenseamento;

5. Na generalidade das democracias ocidentais, o sexo não tem uma correlação clara com a intenção de voto. Logo, a afirmação de que a amostra obtida na última sondagem telefónica não é representativa da população portuguesa, sendo verdadeira, é também irrelevante do ponto de vista da precisão com que se estimou a intenção de voto nas eleições presidenciais. Na verdade, e em muitos casos, as quotas são utilizadas em estudos eleitorais apenas para dar aos observadores leigos a aparência de que a amostra é representativa da população.

Em resumo, todos os métodos de amostragem têm defeitos e virtudes, e nada impede que estudos de opinião sejam conduzidos utilizando a amostragem por quotas, desde que ponderados os respectivos riscos. Contudo, no entender do CESOP, esses riscos são demasiado graves. Aliás, na generalidade das democracias ocidentais, as sondagens eleitorais baseadas em amostragem por quotas foram abandonadas pelo menos desde os anos 40. No Reino Unido, o habitual fracasso nas previsões eleitorais, especialmente grave em 1992, foi atribuído ao uso de amostragem por quotas com base em critérios de sexo, idade e classe social. A opção do CESOP pela amostragem aleatória na última sondagem telefónica é uma opção consciente e cientificamente apoiada pela generalidade da bibliografia e do saber académico sobre esta matéria.

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Sexta-feira, 12 de Janeiro de 2001

Analisada a divulgação de uma sondagem da Universidade Católica na edição de 7 de Janeiro, a Alta Autoridade para a Comunicação Social determinou seja inserta, no próximo número do jornal PÚBLICO, a seguinte rectificação:

Os dados da referida sondagem são afectados pela composição da amostra, que não é representativa do universo eleitoral, já que foram entrevistadas 61,2% de elementos do sexo feminino e só 38,8% do sexo masculino.

José Maria Gonçalves Pereira

Presidente da AACS

Esclarecimento do CESOP da Universidade Católica

Em inquéritos por questionário, a única forma de garantir que a amostra utilizada contém uma repartição por sexo dos inquiridos semelhante à da população portuguesa consiste em utilizar uma amostragem por quotas. Por outras palavras, se os dados do recenseamento indicam que, por exemplo, 52% da população portuguesa pertence ao sexo feminino, os entrevistadores são instruídos de forma a aplicarem 52% do total dos inquéritos a indivíduos do sexo feminino. Na sondagem telefónica publicada no Público no passado dia 8 de Janeiro, elaborada pelo Centro de Sondagens da Universidade Católica (CESOP) para a Antena 1, Público e RTP, a amostra usada foi aleatória e não impôs quotas por sexo. Como resultado, a repartição dos inquiridos no que respeita ao sexo acabou por se afastar da repartição da população portuguesa tal como descrita nos dados do recenseamento.

A discussão académica acerca das vantagens e desvantagens de diferentes procedimentos de amostragem está longe de se encontrar resolvida. Contudo, as desvantagens da utilização da amostragem por quotas são bem conhecidas, e resumem-se nos pontos seguintes:

1. Instruir os inquiridores para entrevistarem determinado tipo de pessoas conduz potencialmente a amostras enviesadas, resultantes de auto-selecção pelos entrevistadores;

2. O uso de determinados atributos da população para estabelecer quotas pode resultar em amostras enviesadas, dada a exclusão de outros atributos potencialmente relevantes (porque não a idade, a profissão, o rendimento, ou o grau de instrução?);

3. A utilização da amostragem por quotas é impeditiva da estimação rigorosa da margem de erro da amostra;

4. Dado que os recenseamentos gerais da população se realizam apenas uma vez por década, a percentagem pré-estabelecida para a construção das quotas pode estar desactualizada, especialmente quando já passaram dez anos sobre o último recenseamento;

5. Na generalidade das democracias ocidentais, o sexo não tem uma correlação clara com a intenção de voto. Logo, a afirmação de que a amostra obtida na última sondagem telefónica não é representativa da população portuguesa, sendo verdadeira, é também irrelevante do ponto de vista da precisão com que se estimou a intenção de voto nas eleições presidenciais. Na verdade, e em muitos casos, as quotas são utilizadas em estudos eleitorais apenas para dar aos observadores leigos a aparência de que a amostra é representativa da população.

Em resumo, todos os métodos de amostragem têm defeitos e virtudes, e nada impede que estudos de opinião sejam conduzidos utilizando a amostragem por quotas, desde que ponderados os respectivos riscos. Contudo, no entender do CESOP, esses riscos são demasiado graves. Aliás, na generalidade das democracias ocidentais, as sondagens eleitorais baseadas em amostragem por quotas foram abandonadas pelo menos desde os anos 40. No Reino Unido, o habitual fracasso nas previsões eleitorais, especialmente grave em 1992, foi atribuído ao uso de amostragem por quotas com base em critérios de sexo, idade e classe social. A opção do CESOP pela amostragem aleatória na última sondagem telefónica é uma opção consciente e cientificamente apoiada pela generalidade da bibliografia e do saber académico sobre esta matéria.

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