Perda de competitividade e "estatização" das empresas privatizadas preocupa empresários

07-07-2001
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Perda de Competitividade e "Estatização" das Empresas Privatizadas Preocupa Empresários

Por ÁLVARO VIEIRA

Sexta, 6 de Julho de 2001

Fórum sobre a indústria portuguesa

Álvaro Barreto e Belmiro de Azevedo muito críticos do papel do Estado na economia. Criticada a reforma fiscal

Os vários economistas e empresários de renome que participaram ontem no "Fórum sobre a indústria portuguesa", organizado pela sociedade gestora do parque industrial da Figueira da Foz , não auguraram tempos fáceis para o sector nem pouparam nas críticas ao Estado.

Álvaro Barreto, ex-ministro da Agricultura do PSD e administrador da Soporcel, afirmou que os países de Leste já concorrem na captação de investimentos e que é o próprio Banco de Portugal a afirmar que o país perdeu competitividade. "Nos últimos anos, aumentaram as despesas correntes e cortou-se no investimento", disse. Também se insurgiu contra a tributação das mais-valias, prevista na recente reforma fiscal: "Não vou discutir se é socialmente justa, mas entendo que é (...) um tiro no pé" (ver página 19). A ineficácia da Justiça, a burocracia, a falta de técnicos qualificados e a insuficiência das vias de comunicação são, para Barreto, outros problemas.

Criticou o facto de o Estado insistir em acumular os estatutos de regulador e de interventor no mercado, ao manter-se accionista de empresas privatizadas, como a Galp Energia e a EDP, que estarão a impedir a afirmação de um verdadeiro mercado energético.

Belmiro de Azevedo afirmou que a Sonae não toma decisões em função de subsídios do Estado. Acusou o Estado de pagar tarde aos agentes económicos e lamentou que o orçamento não esteja mais repartido, como em Espanha, onde autonomias e autarquias têm meios para disputar investimentos. Repudiou a "estatização das empresas privatizadas", patente, em seu entender, no exemplo da Portugal Telecom, que "foi ter com o Governo para definir a tarifa da Net": "Os ministros gostam de mandar nas empresas quando já não são donos", resumiu.

Para o patrão da Sonae, não são as médias-grandes empresas que praticam a evasão fiscal. São "os pequenos fabricantes que gozam de tolerância, porque os partidos precisam deles quando vão para eleições". "É preciso acabar com o discurso de atacar quem cumpre", com a "moda, primeiro com o PSD, agora com o PS", de atacar os grupos económicos, enfatizou.

Antes, Daniel Bessa, ex-ministro da Economia de António Guterres, sustentara que "não há política de incentivos que remedeie contra-indicações" ao investimento estrangeiro.

Possível coexistência da Soporcel e da Portucel

A privatização da Portucel e a já consumada aquisição da ex-rival Soporcel foi um dos temas principais deste fórum. Duarte Silva, ex-ministro da Agricultura de Cavaco Silva e candidato do PSD à presidência da autarquia figueirense, afirmou que a Soporcel mudou a Figueira e apelou aos responsáveis pelas celuloses que mantivessem a sede na cidade.

Álvaro Barreto respondeu que a Soporcel paga à autarquia 950 mil contos de derrama e que fará "tudo para que esse dinheiro não seja perdido". Mas, como esclareceu mais tarde aos jornalistas, nada será decidido até à privatização da Portucel, no final do ano, não sendo de excluir a possibilidade de as duas empresas permanecerem autónomas, do ponto de vista jurídico.

Jorge Armindo, administrador da Portucel incumbido pelo Governo de proceder à reorganização das celuloses, foi ainda mais lacónico: "O futuro aos accionistas pertence", disse.

Em nome da Sonae, que trocou a anterior participação na Soporcel por uma posição na Portucel, que quer reforçar, Belmiro de Azevedo esclareceu: "Votámos a favor do aumento de capital [da Portucel, faseado, e no valor de 66 milhões de contos], que foi muito contestado, mas com uma declaração de voto. A ideia de fazer desaparecer a Soporcel terá a nossa oposição nas administrações e assembleias. A empresa mais dinâmica é que deve puxar o carro".

Mais adiante, evocou o primeiro aumento de capital [de 133 milhões] para a Portucel, do qual o Governo entretanto desistiu, para demonstrar como o Estado funciona mal, quando quer ser regulador e interventor no mercado por via das participações que detém das empresas: "Depois de andar a mexer nas gavetas para poupar 160 milhões de contos", na despesa pública, "só no aumento de capital da Portucel ia gastar 80 milhões. Isto só pode acontecer por distracção dos ministros. E a comunicação social não pega nestes temas", protestou.

Perda de Competitividade e "Estatização" das Empresas Privatizadas Preocupa Empresários

Por ÁLVARO VIEIRA

Sexta, 6 de Julho de 2001

Fórum sobre a indústria portuguesa

Álvaro Barreto e Belmiro de Azevedo muito críticos do papel do Estado na economia. Criticada a reforma fiscal

Os vários economistas e empresários de renome que participaram ontem no "Fórum sobre a indústria portuguesa", organizado pela sociedade gestora do parque industrial da Figueira da Foz , não auguraram tempos fáceis para o sector nem pouparam nas críticas ao Estado.

Álvaro Barreto, ex-ministro da Agricultura do PSD e administrador da Soporcel, afirmou que os países de Leste já concorrem na captação de investimentos e que é o próprio Banco de Portugal a afirmar que o país perdeu competitividade. "Nos últimos anos, aumentaram as despesas correntes e cortou-se no investimento", disse. Também se insurgiu contra a tributação das mais-valias, prevista na recente reforma fiscal: "Não vou discutir se é socialmente justa, mas entendo que é (...) um tiro no pé" (ver página 19). A ineficácia da Justiça, a burocracia, a falta de técnicos qualificados e a insuficiência das vias de comunicação são, para Barreto, outros problemas.

Criticou o facto de o Estado insistir em acumular os estatutos de regulador e de interventor no mercado, ao manter-se accionista de empresas privatizadas, como a Galp Energia e a EDP, que estarão a impedir a afirmação de um verdadeiro mercado energético.

Belmiro de Azevedo afirmou que a Sonae não toma decisões em função de subsídios do Estado. Acusou o Estado de pagar tarde aos agentes económicos e lamentou que o orçamento não esteja mais repartido, como em Espanha, onde autonomias e autarquias têm meios para disputar investimentos. Repudiou a "estatização das empresas privatizadas", patente, em seu entender, no exemplo da Portugal Telecom, que "foi ter com o Governo para definir a tarifa da Net": "Os ministros gostam de mandar nas empresas quando já não são donos", resumiu.

Para o patrão da Sonae, não são as médias-grandes empresas que praticam a evasão fiscal. São "os pequenos fabricantes que gozam de tolerância, porque os partidos precisam deles quando vão para eleições". "É preciso acabar com o discurso de atacar quem cumpre", com a "moda, primeiro com o PSD, agora com o PS", de atacar os grupos económicos, enfatizou.

Antes, Daniel Bessa, ex-ministro da Economia de António Guterres, sustentara que "não há política de incentivos que remedeie contra-indicações" ao investimento estrangeiro.

Possível coexistência da Soporcel e da Portucel

A privatização da Portucel e a já consumada aquisição da ex-rival Soporcel foi um dos temas principais deste fórum. Duarte Silva, ex-ministro da Agricultura de Cavaco Silva e candidato do PSD à presidência da autarquia figueirense, afirmou que a Soporcel mudou a Figueira e apelou aos responsáveis pelas celuloses que mantivessem a sede na cidade.

Álvaro Barreto respondeu que a Soporcel paga à autarquia 950 mil contos de derrama e que fará "tudo para que esse dinheiro não seja perdido". Mas, como esclareceu mais tarde aos jornalistas, nada será decidido até à privatização da Portucel, no final do ano, não sendo de excluir a possibilidade de as duas empresas permanecerem autónomas, do ponto de vista jurídico.

Jorge Armindo, administrador da Portucel incumbido pelo Governo de proceder à reorganização das celuloses, foi ainda mais lacónico: "O futuro aos accionistas pertence", disse.

Em nome da Sonae, que trocou a anterior participação na Soporcel por uma posição na Portucel, que quer reforçar, Belmiro de Azevedo esclareceu: "Votámos a favor do aumento de capital [da Portucel, faseado, e no valor de 66 milhões de contos], que foi muito contestado, mas com uma declaração de voto. A ideia de fazer desaparecer a Soporcel terá a nossa oposição nas administrações e assembleias. A empresa mais dinâmica é que deve puxar o carro".

Mais adiante, evocou o primeiro aumento de capital [de 133 milhões] para a Portucel, do qual o Governo entretanto desistiu, para demonstrar como o Estado funciona mal, quando quer ser regulador e interventor no mercado por via das participações que detém das empresas: "Depois de andar a mexer nas gavetas para poupar 160 milhões de contos", na despesa pública, "só no aumento de capital da Portucel ia gastar 80 milhões. Isto só pode acontecer por distracção dos ministros. E a comunicação social não pega nestes temas", protestou.

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