Octávio Teixeira resigna sozinho

18-07-2001
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Octávio Teixeira Resigna Sozinho

Por SÃO JOSÉ ALMEIDA E HELENA PEREIRA

Sábado, 14 de Julho de 2001 Octávio Teixeira deixa a liderança da bancada parlamentar do PCP e resigna do mandato de deputado. Por enquanto, mantém-se na Comissão Política, que escolheu o jovem Bernardino Soares para coordenar a bancada. A decisão era esperada há pelo menos seis meses, esta semana ficou decidida. A Comissão Política aceitou oficialmente na segunda-feira passada a saída de Octávio Teixeira do cargo de líder parlamentar do PCP. Uma resignação de cargo que será efectiva a partir de 14 de Setembro, momento em que formalmente termina a sessão legislativa. Então, o deputado renunciará ao seu mandato, para que foi eleito como cabeça de lista da CDU pelo círculo eleitoral de Setúbal. No momento em que decidiu aceitar a saída desejada, há meses, por Octávio Teixeira, a Comissão Política destacou Bernardino Soares como o dirigente indigitado para ocupar o lugar de líder parlamentar a partir de Setembro. Uma nomeação que será ainda formalmente chacelada pelos seus pares de bancada. Só que se não é previsível que algum dos deputados do PCP venha a protestar ou a demarcar-se desta escolha, o que é facto é que a notícia, dada ontem de madrugada pelo PÚBLICO.PT, veio antecipar a divulgação de uma decisão que deveria ser conhecida só em Setembro e que o pleno dos deputados só conhecera anteontem. Os sucessores preteridos De acordo com as informações recolhidas pelo PÚBLICO a escolha de Bernardino Soares surpreendeu alguns deputados. Isto porque há quem estivesse à espera que com a saída de Octávio Teixeira a escolha para a sua substituição recaísse sobre Agostinho Lopes ou sobre Lino de Carvalho. A sucessão dada como natural do ponto de vista político interno no PCP seria Agostinho Lopes, senhor de uma forte história partidária mesmo antes do 25 de Abril. Este deputado, embora não se dedique em tempo inteiro à actividade parlamentar e detenha outras responsabilidades internas por via de ser não só membro da Comissão Política mas também do Secretariado, é o responsável na direcção política por áreas importantes como os Assuntos Europeus e por algumas questões económicas. Só que o facto de ser tido como um partidário da abertura política do PCP - é por exemplo um dos autores do documento do "Novo Impulso" responsável mesmo pela parte que propunha a eleição de todos os responsáveis por organismos partidários - e o facto de no último congresso se ter, por exemplo, abstido na votação do novo Comité Central são motivos apontados coms razões mais que suficientes para o seu nome não ser aceite pelos sectores mais conservadores do PCP. Já Lino de Carvalho era tido como uma hipótese de líder parlamentar devido à sua ascensão interna dentro do grupo. O protagonismo que desempenhou nesta sessão legislativa é disso demonstrativo. É dele a iniciativa de levar à Assembleia a proposta de reestruturação fundiária das zonas irrigadas do Alqueva. Isto para não falar do seu envolvimento na concretização parlamentar do acordo com o PS para a reforma da Segurança Social, ou em casos como o da TAP, em que o PCP investiu muitíssimo. Já para não falar dos seus dotes tribunícios, aspecto que é essencial a um líder parlamentar para aguentar o quotidiano no hemiciclo de São Bento. Aqui também a aproximação de Lino de Carvalho a teses que sustentam a abertura política do PCP e a sua modernização programática e organizativa, bem como a sua autonomia e peso político pessoal, são apontados como motivos que levaram ao afastamento do seu nome. Isto porque é consensual, entre os dirigentes comunistas contactados pelo PÚBLICO que o facto de Lino de Carvalho não integrar a Comissão Política não é relevante. Há quem lembre que António Abreu foi candidato a Presidente primeiro e só depois subiu à Comissão Política. Ou seja, a eleição pelo Comité Central de Lino de Carvalho para aquele organismo executivo poderia ser feita rapidamente, com uma reunião convocada até expressamente para esse fim. Daí que a escolha de Bernardino Soares seja vista como "um mal menor para os interesses dos sectores mais conservadores" na expressão usada por um dirigente do PCP. Ou seja, a leitura que é feita é que o sector cunhalista da direcção do PCP não conseguia interferir na liderança de Octávio Teixeira, devido ao peso específico que este detinha como segunda figura do PCP. E se oclima entre Teixeira e Francisco Lopes, responsável pela bancada parlamentar no Secretariado, era cordial, ela não era de cooperação absoluta, nem de confiança política. Agora com a indigitação do jovem Bernardino Soares há quem preveja que a interferência de Francisco Lopes no grupo parlamentar possa aumentar. Há porém quem atenue esta visão pessimista, alertando para o facto de que Bernardino Soares não é propriamente uma pessoa que possa ser manipulável ou usada como "marioneta". Para além de que tem o apoio total de Carlos Carvalhas que foi um dos obreiros da sua promoção à Comissão Política no último Congresso. Uma saída anunciada Octávio Teixeira deixa assim o Parlamento ao fim de 22 anos de deputado e, aos 57 anos de idade que fará em 6 de Agosto, retoma o seu lugar no Banco de Portugal onde é Técnico Consultor do Departamento de Supervisão Bancária. E concretiza uma saída que era esperada desde pelo menos o Congresso de Dezembro passado. Até porque aí ficou claro que Teixeira não estava de acordo com o rumo que a orientação político ideológica que o PCP tomava, nem sequer com o perfil de direcção que estava a ser estabelecido. Durante a preparação do Congresso, Octávio Teixeira manteve-se ou distante ou discordante das decisões que iam sendo assumidas. Na preparação do Congresso opôs-se a que fosse vedado o espaço de debate no "Avante!" aos membros do Comité Central, classificando esta decisão de erro político na reunião que a sufragou. E quando o Congresso reuniu em sessão fechada para aprovar a lista do novo Comité Central, Octávio Teixeira absteve-se. E depois de o Pavilhão Atlântico ter ouvido Morais e castro a dramatizar o testamento político enviado em carta ao Congresso por Álvaro Cunhal, foi Octávio Teixeira quem deu a resposta, fazendo a apologia de um PCP institucional e aberto à sociedade e ao diálogo político com outros partidos. Manteve-se apesar disso na Comissão Política. Não só fruto da sua profunda relação com o secretário-geral, Carlos Carvalhas, mas também porque fez questão de que o seu afastamento da direcção do PCP não fosse conotado com qualquer estratégia de grupos ou de tendências internas. Mas logo ficou mais ou menos assente que estava a prazo. E o próprio Teixeira não o desmentiu quando no fim do Congresso, em entrevista ao PÚBLICO disse que continuava na Comissão Política, mas não quis estabelecer metas. Era dito à boca pequena que o prazo que Octávio Teixeira teria dado a si próprio era o de Dezembro, isto é, até que passassem as autárquicas. Ontem, o comunicado lido por Carvalhas, com o seu amigo Teixeira ao lado, afirmava que a saída deste de líder parlamentar no fim desta sessão legislativa estava combinada desde a campanha eleitoral, ou seja desde Setembro de 1999. Resta agora saber se a sua permanência na Comissão Política tem também um prazo selado entre ambos. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Octávio Teixeira resigna sozinho

Deputado argumenta com desgaste de 22 anos no Parlamento

Depoimentos

PERFIL

Octávio Teixeira: O ministro das Finanças do PCP

Bernardino Soares: uma promessa à espera de legitimidade?

Octávio Teixeira Resigna Sozinho

Por SÃO JOSÉ ALMEIDA E HELENA PEREIRA

Sábado, 14 de Julho de 2001 Octávio Teixeira deixa a liderança da bancada parlamentar do PCP e resigna do mandato de deputado. Por enquanto, mantém-se na Comissão Política, que escolheu o jovem Bernardino Soares para coordenar a bancada. A decisão era esperada há pelo menos seis meses, esta semana ficou decidida. A Comissão Política aceitou oficialmente na segunda-feira passada a saída de Octávio Teixeira do cargo de líder parlamentar do PCP. Uma resignação de cargo que será efectiva a partir de 14 de Setembro, momento em que formalmente termina a sessão legislativa. Então, o deputado renunciará ao seu mandato, para que foi eleito como cabeça de lista da CDU pelo círculo eleitoral de Setúbal. No momento em que decidiu aceitar a saída desejada, há meses, por Octávio Teixeira, a Comissão Política destacou Bernardino Soares como o dirigente indigitado para ocupar o lugar de líder parlamentar a partir de Setembro. Uma nomeação que será ainda formalmente chacelada pelos seus pares de bancada. Só que se não é previsível que algum dos deputados do PCP venha a protestar ou a demarcar-se desta escolha, o que é facto é que a notícia, dada ontem de madrugada pelo PÚBLICO.PT, veio antecipar a divulgação de uma decisão que deveria ser conhecida só em Setembro e que o pleno dos deputados só conhecera anteontem. Os sucessores preteridos De acordo com as informações recolhidas pelo PÚBLICO a escolha de Bernardino Soares surpreendeu alguns deputados. Isto porque há quem estivesse à espera que com a saída de Octávio Teixeira a escolha para a sua substituição recaísse sobre Agostinho Lopes ou sobre Lino de Carvalho. A sucessão dada como natural do ponto de vista político interno no PCP seria Agostinho Lopes, senhor de uma forte história partidária mesmo antes do 25 de Abril. Este deputado, embora não se dedique em tempo inteiro à actividade parlamentar e detenha outras responsabilidades internas por via de ser não só membro da Comissão Política mas também do Secretariado, é o responsável na direcção política por áreas importantes como os Assuntos Europeus e por algumas questões económicas. Só que o facto de ser tido como um partidário da abertura política do PCP - é por exemplo um dos autores do documento do "Novo Impulso" responsável mesmo pela parte que propunha a eleição de todos os responsáveis por organismos partidários - e o facto de no último congresso se ter, por exemplo, abstido na votação do novo Comité Central são motivos apontados coms razões mais que suficientes para o seu nome não ser aceite pelos sectores mais conservadores do PCP. Já Lino de Carvalho era tido como uma hipótese de líder parlamentar devido à sua ascensão interna dentro do grupo. O protagonismo que desempenhou nesta sessão legislativa é disso demonstrativo. É dele a iniciativa de levar à Assembleia a proposta de reestruturação fundiária das zonas irrigadas do Alqueva. Isto para não falar do seu envolvimento na concretização parlamentar do acordo com o PS para a reforma da Segurança Social, ou em casos como o da TAP, em que o PCP investiu muitíssimo. Já para não falar dos seus dotes tribunícios, aspecto que é essencial a um líder parlamentar para aguentar o quotidiano no hemiciclo de São Bento. Aqui também a aproximação de Lino de Carvalho a teses que sustentam a abertura política do PCP e a sua modernização programática e organizativa, bem como a sua autonomia e peso político pessoal, são apontados como motivos que levaram ao afastamento do seu nome. Isto porque é consensual, entre os dirigentes comunistas contactados pelo PÚBLICO que o facto de Lino de Carvalho não integrar a Comissão Política não é relevante. Há quem lembre que António Abreu foi candidato a Presidente primeiro e só depois subiu à Comissão Política. Ou seja, a eleição pelo Comité Central de Lino de Carvalho para aquele organismo executivo poderia ser feita rapidamente, com uma reunião convocada até expressamente para esse fim. Daí que a escolha de Bernardino Soares seja vista como "um mal menor para os interesses dos sectores mais conservadores" na expressão usada por um dirigente do PCP. Ou seja, a leitura que é feita é que o sector cunhalista da direcção do PCP não conseguia interferir na liderança de Octávio Teixeira, devido ao peso específico que este detinha como segunda figura do PCP. E se oclima entre Teixeira e Francisco Lopes, responsável pela bancada parlamentar no Secretariado, era cordial, ela não era de cooperação absoluta, nem de confiança política. Agora com a indigitação do jovem Bernardino Soares há quem preveja que a interferência de Francisco Lopes no grupo parlamentar possa aumentar. Há porém quem atenue esta visão pessimista, alertando para o facto de que Bernardino Soares não é propriamente uma pessoa que possa ser manipulável ou usada como "marioneta". Para além de que tem o apoio total de Carlos Carvalhas que foi um dos obreiros da sua promoção à Comissão Política no último Congresso. Uma saída anunciada Octávio Teixeira deixa assim o Parlamento ao fim de 22 anos de deputado e, aos 57 anos de idade que fará em 6 de Agosto, retoma o seu lugar no Banco de Portugal onde é Técnico Consultor do Departamento de Supervisão Bancária. E concretiza uma saída que era esperada desde pelo menos o Congresso de Dezembro passado. Até porque aí ficou claro que Teixeira não estava de acordo com o rumo que a orientação político ideológica que o PCP tomava, nem sequer com o perfil de direcção que estava a ser estabelecido. Durante a preparação do Congresso, Octávio Teixeira manteve-se ou distante ou discordante das decisões que iam sendo assumidas. Na preparação do Congresso opôs-se a que fosse vedado o espaço de debate no "Avante!" aos membros do Comité Central, classificando esta decisão de erro político na reunião que a sufragou. E quando o Congresso reuniu em sessão fechada para aprovar a lista do novo Comité Central, Octávio Teixeira absteve-se. E depois de o Pavilhão Atlântico ter ouvido Morais e castro a dramatizar o testamento político enviado em carta ao Congresso por Álvaro Cunhal, foi Octávio Teixeira quem deu a resposta, fazendo a apologia de um PCP institucional e aberto à sociedade e ao diálogo político com outros partidos. Manteve-se apesar disso na Comissão Política. Não só fruto da sua profunda relação com o secretário-geral, Carlos Carvalhas, mas também porque fez questão de que o seu afastamento da direcção do PCP não fosse conotado com qualquer estratégia de grupos ou de tendências internas. Mas logo ficou mais ou menos assente que estava a prazo. E o próprio Teixeira não o desmentiu quando no fim do Congresso, em entrevista ao PÚBLICO disse que continuava na Comissão Política, mas não quis estabelecer metas. Era dito à boca pequena que o prazo que Octávio Teixeira teria dado a si próprio era o de Dezembro, isto é, até que passassem as autárquicas. Ontem, o comunicado lido por Carvalhas, com o seu amigo Teixeira ao lado, afirmava que a saída deste de líder parlamentar no fim desta sessão legislativa estava combinada desde a campanha eleitoral, ou seja desde Setembro de 1999. Resta agora saber se a sua permanência na Comissão Política tem também um prazo selado entre ambos. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Octávio Teixeira resigna sozinho

Deputado argumenta com desgaste de 22 anos no Parlamento

Depoimentos

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Octávio Teixeira: O ministro das Finanças do PCP

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