Cervan namora boicotadores

12-01-2001
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Rio de Moinhos: a freguesia mantém a intenção de boicote

Dos três últimos pretendentes a um lugar directo na AR, só mesmo Sílvio Cervan, do PP, se deu a esse trabalho, apesar de ter a eleição praticamente garantida. É um esforço inglório: as populações de Olo (Amarante), Jugueiros (Felgueiras) e Rio de Moinhos (Penafiel) mantêm a intenção de repetir amanhã o boicote.

Miguel Portas não perde tempo

Pela lógica matemática, quem poderia aproveitar um bom resultado nestas três freguesias para conseguir a sua eleição seria Miguel Portas, do Bloco de Esquerda. Portas ficou a 1600 votos de ser eleito pelo círculo do Porto, e naquelas freguesias há mais de 3500 potenciais eleitores. Mas, feitas as contas da realidade política, percebe-se que Miguel Portas não tem quaisquer hipóteses. Partindo do princípio que todos os eleitores boicotantes votariam amanhã, o Bloco precisaria de conseguir o resultado «recorde» de 45%.

Estas foram também as contas feitas na sede do Bloco no Porto e que levaram os seus dirigentes, e o próprio Miguel Portas, a não perder nem um único segundo em acções de campanha nas remotas freguesias do interior do distrito.

Sílvio Cervan vê o assunto de forma diferente. «Penso que os eleitores dessas freguesias merecem a nossa atenção e respeito», diz o ex-líder da Distrital do PP no Porto, para explicar a sua intenção de percorrer as freguesias em campanha. Apesar de se saber eleito de antemão, Cervan decidiu montar uma discreta iniciativa eleitoral: «Sem grande espalhafato, faremos campanha.» De entre as três freguesias, Rio de Moinhos é a que suscita maior empenho, por registar o maior número de eleitores inscritos, acima dos dois mil.

Cervan sabia também que não corria qualquer risco, pessoal ou político, na sua incursão de campanha. Os motivos dos boicotes nada têm a ver com a actividade política do deputado nem as populações das três freguesias revelaram alguma vez uma hostilidade perigosa contra os políticos.

Gente revoltada mas... pacífica

Em Olo, Amarante, a população repetiu o acto simbólico do boicote eleitoral por causa de um diferendo sobre baldios. O assunto não ficou resolvido esta semana e o boicote vai repetir-se amanhã, sem incidentes previsíveis.

Em Jugeiros, Felgueiras, a candidata do PS, Maria de Belém, seria um dos poucos candidatos a ter problemas, caso decidisse fazer campanha nesta freguesia boicotante. Na origem do protesto está a falta de um médico no Centro de Saúde, o que obriga a população a percorrer longos e tortuosos quilómetros até conseguir assistência médica.

Em Rio de Moinhos, Penafiel, o problema centra-se na velha promessa da construção de uma escola de ensino básico. O estabelecimento de ensino estava prometido desde 1993. O presidente da Câmara, Agostinho Gonçalves, deu a escola por garantida, após várias reuniões em que a Junta de Freguesia apresentou os seus melhores argumentos: evitar que as crianças de Rio de Moinhos tivessem de se deslocar para outras aldeias, com todos os problemas que isso representa, sobretudo no Inverno.

A promessa do autarca ficou na sala de reuniões e, em Dezembro passado, a Câmara de Penafiel e a Direcção Regional de Educação decidiram que a escola ficaria na freguesia vizinha de Cabeça Santa.

Três autarcas de mãos atadas

Os habitantes de Rio de Moinhos não se conformam e os protestos começaram em Maio, o que levou ao boicote nas eleições para o Parlamento Europeu. Agora, o boicote repetiu-se e a população promete que voltará de novo as costas às urnas, amanhã e até que a decisão de colocar a escola em Cabeça Santa seja anulada. «Não voltará a haver votos na nossa terra, até construírem a escola para os nossos filhos», afirmou ao EXPRESSO Vítor Andrade, um dos habitantes de Rio de Moinhos que contribuiu para o boicote às urnas e o fará de novo amanhã.

Vítor Andrade foi um dos elementos que esteve presente nas várias assembleias populares que se realizaram na freguesia nos últimos meses. O objectivo das reuniões foi encontrar as melhores armas de combate contra a indiferença dos políticos perante um assunto que se tornou o tema obrigatório das conversas nos cafés da vila.

Perante estes protestos, o candidato que não deverá querer voltar a Rio de Moinhos nesta altura é Agostinho Gonçalves, o presidente da Câmara de Penafiel que acaba de ser eleito deputado pela lista socialista. Os protestos mais sonoros foram levantados contra o autarca, a quem se imputa a principal responsabilidade no caso. «Parece que ele já se esqueceu das promessas que nos fez. Por isso, nós esquecemo-nos de votar nele», acrescenta Vítor Andrade.

Os presidentes de Junta das três freguesias prometem que tudo farão para que as urnas se encham de votos amanhã, cumprindo o seu dever institucional. Contudo, avisam que nada podem fazer contra a vontade das populações, quando estas se querem revoltar.

RICARDO JORGE PINTO

Rio de Moinhos: a freguesia mantém a intenção de boicote

Dos três últimos pretendentes a um lugar directo na AR, só mesmo Sílvio Cervan, do PP, se deu a esse trabalho, apesar de ter a eleição praticamente garantida. É um esforço inglório: as populações de Olo (Amarante), Jugueiros (Felgueiras) e Rio de Moinhos (Penafiel) mantêm a intenção de repetir amanhã o boicote.

Miguel Portas não perde tempo

Pela lógica matemática, quem poderia aproveitar um bom resultado nestas três freguesias para conseguir a sua eleição seria Miguel Portas, do Bloco de Esquerda. Portas ficou a 1600 votos de ser eleito pelo círculo do Porto, e naquelas freguesias há mais de 3500 potenciais eleitores. Mas, feitas as contas da realidade política, percebe-se que Miguel Portas não tem quaisquer hipóteses. Partindo do princípio que todos os eleitores boicotantes votariam amanhã, o Bloco precisaria de conseguir o resultado «recorde» de 45%.

Estas foram também as contas feitas na sede do Bloco no Porto e que levaram os seus dirigentes, e o próprio Miguel Portas, a não perder nem um único segundo em acções de campanha nas remotas freguesias do interior do distrito.

Sílvio Cervan vê o assunto de forma diferente. «Penso que os eleitores dessas freguesias merecem a nossa atenção e respeito», diz o ex-líder da Distrital do PP no Porto, para explicar a sua intenção de percorrer as freguesias em campanha. Apesar de se saber eleito de antemão, Cervan decidiu montar uma discreta iniciativa eleitoral: «Sem grande espalhafato, faremos campanha.» De entre as três freguesias, Rio de Moinhos é a que suscita maior empenho, por registar o maior número de eleitores inscritos, acima dos dois mil.

Cervan sabia também que não corria qualquer risco, pessoal ou político, na sua incursão de campanha. Os motivos dos boicotes nada têm a ver com a actividade política do deputado nem as populações das três freguesias revelaram alguma vez uma hostilidade perigosa contra os políticos.

Gente revoltada mas... pacífica

Em Olo, Amarante, a população repetiu o acto simbólico do boicote eleitoral por causa de um diferendo sobre baldios. O assunto não ficou resolvido esta semana e o boicote vai repetir-se amanhã, sem incidentes previsíveis.

Em Jugeiros, Felgueiras, a candidata do PS, Maria de Belém, seria um dos poucos candidatos a ter problemas, caso decidisse fazer campanha nesta freguesia boicotante. Na origem do protesto está a falta de um médico no Centro de Saúde, o que obriga a população a percorrer longos e tortuosos quilómetros até conseguir assistência médica.

Em Rio de Moinhos, Penafiel, o problema centra-se na velha promessa da construção de uma escola de ensino básico. O estabelecimento de ensino estava prometido desde 1993. O presidente da Câmara, Agostinho Gonçalves, deu a escola por garantida, após várias reuniões em que a Junta de Freguesia apresentou os seus melhores argumentos: evitar que as crianças de Rio de Moinhos tivessem de se deslocar para outras aldeias, com todos os problemas que isso representa, sobretudo no Inverno.

A promessa do autarca ficou na sala de reuniões e, em Dezembro passado, a Câmara de Penafiel e a Direcção Regional de Educação decidiram que a escola ficaria na freguesia vizinha de Cabeça Santa.

Três autarcas de mãos atadas

Os habitantes de Rio de Moinhos não se conformam e os protestos começaram em Maio, o que levou ao boicote nas eleições para o Parlamento Europeu. Agora, o boicote repetiu-se e a população promete que voltará de novo as costas às urnas, amanhã e até que a decisão de colocar a escola em Cabeça Santa seja anulada. «Não voltará a haver votos na nossa terra, até construírem a escola para os nossos filhos», afirmou ao EXPRESSO Vítor Andrade, um dos habitantes de Rio de Moinhos que contribuiu para o boicote às urnas e o fará de novo amanhã.

Vítor Andrade foi um dos elementos que esteve presente nas várias assembleias populares que se realizaram na freguesia nos últimos meses. O objectivo das reuniões foi encontrar as melhores armas de combate contra a indiferença dos políticos perante um assunto que se tornou o tema obrigatório das conversas nos cafés da vila.

Perante estes protestos, o candidato que não deverá querer voltar a Rio de Moinhos nesta altura é Agostinho Gonçalves, o presidente da Câmara de Penafiel que acaba de ser eleito deputado pela lista socialista. Os protestos mais sonoros foram levantados contra o autarca, a quem se imputa a principal responsabilidade no caso. «Parece que ele já se esqueceu das promessas que nos fez. Por isso, nós esquecemo-nos de votar nele», acrescenta Vítor Andrade.

Os presidentes de Junta das três freguesias prometem que tudo farão para que as urnas se encham de votos amanhã, cumprindo o seu dever institucional. Contudo, avisam que nada podem fazer contra a vontade das populações, quando estas se querem revoltar.

RICARDO JORGE PINTO

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