Reencontro feliz

13-12-2000
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ÍRIS

Rua Adriano Pinto Basto, Tel. 252 31 1586

VILA NOVA DE FAMALICÃO

(Fecha aos jantares de domingo e de segunda)

A visita à casa-museu permite-nos um contacto com a maior parte do universo camiliano. E o turbilhão de sensações, angústias e regozijos que provoca exige retempero. Com a sua bênção, pois, como ele próprio escreveu, «as comoções do espírito não prejudicam os direitos inalienáveis do estômago». Regressemos a Famalicão e procuremos o Restaurante Íris.

Está incrustado num sítio que se julgaria nunca poder ser visitado pela graça gastronómica, entre uma garagem, uma estação de serviço e um ponto de abastecimento. Fundado em 24 de Setembro de 1938 por António Dias Costa, já então um veterano dos automóveis, foi concebido precisamente para complementar o apoio aos automobilistas. De então para cá, afirmou-se como um dos pilares da restauração nortenha. Também sujeito a crises. Na última vez que lá passei (EXPRESSO de 1/03/97), a refeição foi decepcionante. Mais tarde, a gestão foi assumida por Heitor Teixeira de Melo (criador do saudoso A Porta Nobre, no Porto), coadjuvado por seu tio Joaquim Melo. Daí a revisita.

Novidade é a introdução de pratos do dia: segunda-feira, «pescada dourada» (1400$00) e «frango c/ ervilhas» (1500$00); terça, «truta grelhada» (1800$00) e «lombinhos c/ presunto» (1850$00); quarta, «bacalhau à Gomes de Sá» (1650$00) e «carne à jardineira» (1650$00); quinta, «bolinhos de bacalhau c/ feijão frade» (1200$00) e «espetada mista» (1550$00); sexta, «salmão grelhado» (1700$00) e «panados de vitela» (1850$00).

A carta fixa mantém muitos pratos do antigamente. ENTRADAS: «melão c/ presunto» (980$00), «espargos ao natural», «salmão fumado» (1300$00), «sardinhas de escabeche» (900$00/ 500$00) e «desandada de camarão» (1000$00). SOPAS: «papas de sarrabulho» (980$00), «puré de legumes» (400$00) e «sopa de legumes» (400$00). PEIXES: «rolo de bacalhau c/ camarão» (2600$00/2000$00), «pescada grelhada» (2800$00), «filetes de pescada» (2800$00/ 2000$00), «bacalhau grelhado» (2400$00/ 1850$00), «arroz de polvo c/ filetes» (2600$00) e «filetes de polvo c/ batata frita» (2200$00/ 1550$00). CARNES: «rojões» (2600$00/2000$00), «lombinhos de vitela c/ cogumelos» (2400$00), «arroz de cabidela» (2500$00), «bife na frigideira» (2500$00) e «alheiras com grelos» (1950$00/1500$0).

Na mesa, bem aparelhada, manteiga desempacotada (numa engenhosa manteigueira), azeitonas pretas (neutras), pão (trigal, pequeno e aquecido) e broa e bolinhos de bacalhau e croquetes de aperitivo (jeitosos).

«Desandada de camarão» é uma miscigenação de grelos, fininhos e tenros, com camarões e ovos mexidos, de resultado muito agradável. Os «panados de vitela», pedidos como introdutório, revelaram simpatia, conquanto de talho um tanto delgado e com a capa do polme a deslaçar-se rapidamente. Muito boas e de abundantes carnes desfiadas as «papas de sarrabulho».

Do puré de batata enrolado e pincelado com ovo para o douradinho, recheado com bacalhau desfiadíssimo e camarões em espécie, o «rolo de bacalhau com camarão» conseguiu uma conjugação de sabores harmónica e triunfal. O «arroz de polvo com filetes» atingiu a perfeição: o primeiro pela textura, envolvimento, profusão do octópode e equilíbrio dos temperos; os filetes do mesmo bem talhados e de fritura rigorosa. Embora nem sequer anunciados como «à minhota», os «rojões» foram-no realmente: com seus pertences de sangue enfarelado, fígado, beloura, tripa enfarinhada, batatinhas alouradas e um suplemento de grelinhos levemente salteados e de beleza idêntica aos anteriormente citados, estiveram completos e abaciais. Um leve toque de vinagre a mais não chegou para tirar brilho ao «arroz de cabidela».

Do quinteto de doces, o «pudim do abade de Priscos» continua de realização insuperável, mas as «fatias da China», ou «de Tomar», ficam aquém do desejado, pois aqui não seguem o ditame de as abeberar na calda (a ferver em ponto baixo), uma a uma, logo após a cozedura.

Os vinhos somam 39 tintos, 29 brancos, 11 verdes brancos e 2 verdes tintos: a casa exige mais.

Gostei de ter voltado. Serviço feminino e gentil, ambiente confortável e cativante de sempre, boa cozinha de novo a ser praticada... O Íris reencontrou-se consigo próprio.

JOSÉ QUITÉRIO

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ÍRIS

Rua Adriano Pinto Basto, Tel. 252 31 1586

VILA NOVA DE FAMALICÃO

(Fecha aos jantares de domingo e de segunda)

A visita à casa-museu permite-nos um contacto com a maior parte do universo camiliano. E o turbilhão de sensações, angústias e regozijos que provoca exige retempero. Com a sua bênção, pois, como ele próprio escreveu, «as comoções do espírito não prejudicam os direitos inalienáveis do estômago». Regressemos a Famalicão e procuremos o Restaurante Íris.

Está incrustado num sítio que se julgaria nunca poder ser visitado pela graça gastronómica, entre uma garagem, uma estação de serviço e um ponto de abastecimento. Fundado em 24 de Setembro de 1938 por António Dias Costa, já então um veterano dos automóveis, foi concebido precisamente para complementar o apoio aos automobilistas. De então para cá, afirmou-se como um dos pilares da restauração nortenha. Também sujeito a crises. Na última vez que lá passei (EXPRESSO de 1/03/97), a refeição foi decepcionante. Mais tarde, a gestão foi assumida por Heitor Teixeira de Melo (criador do saudoso A Porta Nobre, no Porto), coadjuvado por seu tio Joaquim Melo. Daí a revisita.

Novidade é a introdução de pratos do dia: segunda-feira, «pescada dourada» (1400$00) e «frango c/ ervilhas» (1500$00); terça, «truta grelhada» (1800$00) e «lombinhos c/ presunto» (1850$00); quarta, «bacalhau à Gomes de Sá» (1650$00) e «carne à jardineira» (1650$00); quinta, «bolinhos de bacalhau c/ feijão frade» (1200$00) e «espetada mista» (1550$00); sexta, «salmão grelhado» (1700$00) e «panados de vitela» (1850$00).

A carta fixa mantém muitos pratos do antigamente. ENTRADAS: «melão c/ presunto» (980$00), «espargos ao natural», «salmão fumado» (1300$00), «sardinhas de escabeche» (900$00/ 500$00) e «desandada de camarão» (1000$00). SOPAS: «papas de sarrabulho» (980$00), «puré de legumes» (400$00) e «sopa de legumes» (400$00). PEIXES: «rolo de bacalhau c/ camarão» (2600$00/2000$00), «pescada grelhada» (2800$00), «filetes de pescada» (2800$00/ 2000$00), «bacalhau grelhado» (2400$00/ 1850$00), «arroz de polvo c/ filetes» (2600$00) e «filetes de polvo c/ batata frita» (2200$00/ 1550$00). CARNES: «rojões» (2600$00/2000$00), «lombinhos de vitela c/ cogumelos» (2400$00), «arroz de cabidela» (2500$00), «bife na frigideira» (2500$00) e «alheiras com grelos» (1950$00/1500$0).

Na mesa, bem aparelhada, manteiga desempacotada (numa engenhosa manteigueira), azeitonas pretas (neutras), pão (trigal, pequeno e aquecido) e broa e bolinhos de bacalhau e croquetes de aperitivo (jeitosos).

«Desandada de camarão» é uma miscigenação de grelos, fininhos e tenros, com camarões e ovos mexidos, de resultado muito agradável. Os «panados de vitela», pedidos como introdutório, revelaram simpatia, conquanto de talho um tanto delgado e com a capa do polme a deslaçar-se rapidamente. Muito boas e de abundantes carnes desfiadas as «papas de sarrabulho».

Do puré de batata enrolado e pincelado com ovo para o douradinho, recheado com bacalhau desfiadíssimo e camarões em espécie, o «rolo de bacalhau com camarão» conseguiu uma conjugação de sabores harmónica e triunfal. O «arroz de polvo com filetes» atingiu a perfeição: o primeiro pela textura, envolvimento, profusão do octópode e equilíbrio dos temperos; os filetes do mesmo bem talhados e de fritura rigorosa. Embora nem sequer anunciados como «à minhota», os «rojões» foram-no realmente: com seus pertences de sangue enfarelado, fígado, beloura, tripa enfarinhada, batatinhas alouradas e um suplemento de grelinhos levemente salteados e de beleza idêntica aos anteriormente citados, estiveram completos e abaciais. Um leve toque de vinagre a mais não chegou para tirar brilho ao «arroz de cabidela».

Do quinteto de doces, o «pudim do abade de Priscos» continua de realização insuperável, mas as «fatias da China», ou «de Tomar», ficam aquém do desejado, pois aqui não seguem o ditame de as abeberar na calda (a ferver em ponto baixo), uma a uma, logo após a cozedura.

Os vinhos somam 39 tintos, 29 brancos, 11 verdes brancos e 2 verdes tintos: a casa exige mais.

Gostei de ter voltado. Serviço feminino e gentil, ambiente confortável e cativante de sempre, boa cozinha de novo a ser praticada... O Íris reencontrou-se consigo próprio.

JOSÉ QUITÉRIO

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