Sócrates, Barreiros, a Deco a Verdade e as Mentiras
Por JOSÉ ANTÓNIO CEREJO
Sábado, 24 de Fevereiro de 2001 As cartas de José Sócrates e Acácio Barreiros que o PÚBLICO divulgou na quarta-feira, em reacção a um trabalho jornalístico sobre a Deco e as suas relações com o Governo, não podem ficar sem resposta do autor desse trabalho, cuja dignidade e bom nome profissional aí são atingidos. Poder-se-ia remeter o leitor, simplesmente, para os textos que deram origem às indignadas missivas do ministro do Ambiente e do secretário de Estado da Defesa do Consumidor, já que está lá tudo: a sua argumentação e os dados que, objectivamente, a desmentem. Acontece que os leitores merecem que se recordem alguns factos e se desmonte o que não passa de uma grosseira manipulação de quem não têm a coragem política de assumir o tratamento especial que concedeu à Deco. Vamos ao essencial. O ministro escreve que é "leviano" afirmar que o subsídio foi dado em segredo e que o processo "foi assumido com convicção e transparência". Acrescenta que o subsídio foi objecto de protocolo "assinado em sessão pública com a presença de dois membros do Governo, da direcção da Deco, e de vários jornalistas." O secretário de Estado adianta que o subsídio "foi publicado em Diário da República" e que "a inauguração das novas instalações da Deco foi feita em cerimónia pública" onde esteve presente um jornalista do PÚBLICO. Segundo Acácio Barreiros, os jornalistas foram convocados através de um comunicado da Deco no qual se fala no subsídio [não quantificado]. Cabe dizer que a leviandade é de quem produz estas declarações e não de quem enviou treze faxes com perguntas detalhadas e fez dezenas de telefonemas para os gabinetes de Sócrates e Barreiros, para o Instituto do Consumidor (IC) e para a a Deco. Ao longo de três meses, nunca o ministro, o secretário de Estado, a Deco ou o o IC forneceram ao PÚBLICO qualquer elemento factual que desmentisse o secretismo da operação. Antes pelo contrário. A publicação em Diário da República a que se refere Acácio Barreiros omite toda e qualquer referência à finalidade do subsídio. E a Deco, apesar de repetidamente solicitada, até por carta registada com aviso de recepção, nunca facultou os seus comunicados de imprensa, circulares ou recortes de jornais onde, caso existissem, fosse divulgada a concessão do subsídio em causa. Sobre o assunto, a única resposta que deu foi o envio de uma nota emitida juntamente com o Instituto das Comunicações de Portugal em Março de 2000. No texto anuncia-se a assinatura de um protocolo de colaboração entre as duas entidades, na área das telecomunicações, bem como a inauguração da nova sede da Deco, mas não se faz qualquer em referência ao subsídio. O comunicado da Deco a que agora alude Barreiros nunca foi facultado ao PÚBLICO pela associação, nem a ele se referiu o chefe de gabinete do secretário de Estado - que também faz parte da direcção da Deco - na conversa que manteve com o jornalista. Esgrimindo em defesa da transparência das suas decisões, os membros do Governo - que bombardeiam as redacções dos jornais com a divulgação dos mais pequenos passos que dão - não invocam comunicados ou notas de imprensa que gabinetes tenham emitido sobre a concessão do tal subsídio. Mas, significativamente, vão buscar um parágrafo de um comunicado de uma associação privada que esta nunca forneceu ao PÚBLICO e que não foi noticiado em nenhum dos vários jornais da época que o PÚBLICO consultou. Será que o comunicado foi enviado apenas para o gabinete de Acácio Barreiros? Mas nesse caso porque é que o seu chefe de gabinete não o disse antes? E porque é que Sócrates não disse onde, quando e na presença de que jornalistas é que foi celebrado o "acto público que se destinava unicamente a assinalar a decisão de subsidiar a compra da sede da Deco"? Mais significativo, porém, é o facto de Sócrates e Barreiros se contradizerem sobre a natureza da sessão em que o subsídio teria sido tornado público. O primeiro diz que se tratou de uma "sessão pública" em que foi assinado o protocolo relativo ao subsídio. O segundo afirma que foi na "cerimónia pública" da "inauguração das novas instalações da Deco". Em que ficamos? Sucede que a assinatura do protocolo, tanto quanto sabe o PÚBLICO, não foi um acto público. Além disso, entre a assinatura do protocolo e a inauguração da nova sede decorreram cerca de quatro meses. E a cerimónia em que esteve presente um jornalista do PÚBLICO foi a da assinatura de um outro protocolo, entre o Instituto das Comunicações de Portugal e a Deco, à qual se seguiu a inauguração das novas instalações, e que foi objecto de uma nota de imprensa onde, como já se disse, não é feita qualquer referência à origem dos fundos envolvidos na compra da sede. "Absolutamente lamentável", para usar a expressão de Acácio Barreiros, é que apesar de acusar o PÚBLICO de ter editado "um amontoado de falsidades", nem Sócrates nem Barreiros sejam capazes de apontar e comprovar uma única informação falsa, ou sequer imprecisa, no trabalho publicado. "Absolutamente lamentável" é o facto de José Sócrates se ter furtado, ao longo de meses, a responder a perguntas do PÚBLICO e, até hoje, ainda não ter respondido, como a lei determina, a um pedido de acesso aos documentos relacionados com a concessão de um outro subsídio do Ministério do Ambiente à Deco. OUTROS TÍTULOS EM NACIONAL Guterres acusado de "amiguismo"
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Sócrates, Barreiros, a Deco a verdade e as mentiras
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Sócrates, Barreiros, a Deco a Verdade e as Mentiras
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Sábado, 24 de Fevereiro de 2001 As cartas de José Sócrates e Acácio Barreiros que o PÚBLICO divulgou na quarta-feira, em reacção a um trabalho jornalístico sobre a Deco e as suas relações com o Governo, não podem ficar sem resposta do autor desse trabalho, cuja dignidade e bom nome profissional aí são atingidos. Poder-se-ia remeter o leitor, simplesmente, para os textos que deram origem às indignadas missivas do ministro do Ambiente e do secretário de Estado da Defesa do Consumidor, já que está lá tudo: a sua argumentação e os dados que, objectivamente, a desmentem. Acontece que os leitores merecem que se recordem alguns factos e se desmonte o que não passa de uma grosseira manipulação de quem não têm a coragem política de assumir o tratamento especial que concedeu à Deco. Vamos ao essencial. O ministro escreve que é "leviano" afirmar que o subsídio foi dado em segredo e que o processo "foi assumido com convicção e transparência". Acrescenta que o subsídio foi objecto de protocolo "assinado em sessão pública com a presença de dois membros do Governo, da direcção da Deco, e de vários jornalistas." O secretário de Estado adianta que o subsídio "foi publicado em Diário da República" e que "a inauguração das novas instalações da Deco foi feita em cerimónia pública" onde esteve presente um jornalista do PÚBLICO. Segundo Acácio Barreiros, os jornalistas foram convocados através de um comunicado da Deco no qual se fala no subsídio [não quantificado]. Cabe dizer que a leviandade é de quem produz estas declarações e não de quem enviou treze faxes com perguntas detalhadas e fez dezenas de telefonemas para os gabinetes de Sócrates e Barreiros, para o Instituto do Consumidor (IC) e para a a Deco. Ao longo de três meses, nunca o ministro, o secretário de Estado, a Deco ou o o IC forneceram ao PÚBLICO qualquer elemento factual que desmentisse o secretismo da operação. Antes pelo contrário. A publicação em Diário da República a que se refere Acácio Barreiros omite toda e qualquer referência à finalidade do subsídio. E a Deco, apesar de repetidamente solicitada, até por carta registada com aviso de recepção, nunca facultou os seus comunicados de imprensa, circulares ou recortes de jornais onde, caso existissem, fosse divulgada a concessão do subsídio em causa. Sobre o assunto, a única resposta que deu foi o envio de uma nota emitida juntamente com o Instituto das Comunicações de Portugal em Março de 2000. No texto anuncia-se a assinatura de um protocolo de colaboração entre as duas entidades, na área das telecomunicações, bem como a inauguração da nova sede da Deco, mas não se faz qualquer em referência ao subsídio. O comunicado da Deco a que agora alude Barreiros nunca foi facultado ao PÚBLICO pela associação, nem a ele se referiu o chefe de gabinete do secretário de Estado - que também faz parte da direcção da Deco - na conversa que manteve com o jornalista. Esgrimindo em defesa da transparência das suas decisões, os membros do Governo - que bombardeiam as redacções dos jornais com a divulgação dos mais pequenos passos que dão - não invocam comunicados ou notas de imprensa que gabinetes tenham emitido sobre a concessão do tal subsídio. Mas, significativamente, vão buscar um parágrafo de um comunicado de uma associação privada que esta nunca forneceu ao PÚBLICO e que não foi noticiado em nenhum dos vários jornais da época que o PÚBLICO consultou. Será que o comunicado foi enviado apenas para o gabinete de Acácio Barreiros? Mas nesse caso porque é que o seu chefe de gabinete não o disse antes? E porque é que Sócrates não disse onde, quando e na presença de que jornalistas é que foi celebrado o "acto público que se destinava unicamente a assinalar a decisão de subsidiar a compra da sede da Deco"? Mais significativo, porém, é o facto de Sócrates e Barreiros se contradizerem sobre a natureza da sessão em que o subsídio teria sido tornado público. O primeiro diz que se tratou de uma "sessão pública" em que foi assinado o protocolo relativo ao subsídio. O segundo afirma que foi na "cerimónia pública" da "inauguração das novas instalações da Deco". Em que ficamos? Sucede que a assinatura do protocolo, tanto quanto sabe o PÚBLICO, não foi um acto público. Além disso, entre a assinatura do protocolo e a inauguração da nova sede decorreram cerca de quatro meses. E a cerimónia em que esteve presente um jornalista do PÚBLICO foi a da assinatura de um outro protocolo, entre o Instituto das Comunicações de Portugal e a Deco, à qual se seguiu a inauguração das novas instalações, e que foi objecto de uma nota de imprensa onde, como já se disse, não é feita qualquer referência à origem dos fundos envolvidos na compra da sede. "Absolutamente lamentável", para usar a expressão de Acácio Barreiros, é que apesar de acusar o PÚBLICO de ter editado "um amontoado de falsidades", nem Sócrates nem Barreiros sejam capazes de apontar e comprovar uma única informação falsa, ou sequer imprecisa, no trabalho publicado. "Absolutamente lamentável" é o facto de José Sócrates se ter furtado, ao longo de meses, a responder a perguntas do PÚBLICO e, até hoje, ainda não ter respondido, como a lei determina, a um pedido de acesso aos documentos relacionados com a concessão de um outro subsídio do Ministério do Ambiente à Deco. OUTROS TÍTULOS EM NACIONAL Guterres acusado de "amiguismo"
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