Teixeira Duarte hesita na desblindagem da Cimpor

22-01-2001
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Lafarge vota contra e BCP espera para ver

Teixeira Duarte Hesita na Desblindagem da Cimpor

Por PEDRO LIMA E ROSA SOARES

Segunda-feira, 22 de Janeiro de 2001

Não é ainda claro se a proposta de desblindagem dos estatutos da Cimpor, apresentada pela Secil, tem pernas para se impor. A sua eventual recusa pode lançar a Cimpor num período de indefinição de que só a francesa Lafarge poderá, eventualmente, tirar partido.

A Teixeira Duarte ainda não decidiu se vai votar contra a desblindagem dos estatutos da Cimpor, que a Secil vai propor em assembleia geral de accionistas convocada para o efeito. Apesar do silêncio da empresa sobre esta matéria, o PÚBLICO apurou que a construtora está bastante hesitante em face dos últimos desenvolvimentos na luta pelo controlo da cimenteira, sobretudo depois de o Estado ter recomendado aos actuais accionistas da Cimpor que votem a favor da desblindagem, por considerar que assim se torna mais fácil encontrar uma solução para a empresa.

A assembleia da Cimpor está marcada para 20 de Fevereiro e a "contagem de espingardas" volta a estar na ordem do dia. A Secil e os suíços da Holderbank, que deverão ter cerca de 20 por cento do capital da Cimpor, votam a favor, mantendo assim a posição assumida na assembleia geral que, no Verão, chumbou a proposta de desblindagem de estatutos, devido aos votos contra do Estado, da Teixeira Duarte, do BCP e dos franceses da Lafarge.

A incógnita está no que farão a Teixeira Duarte e o BCP, que em conjunto deverão deter cerca de 25 por cento da Cimpor. A empresa e o banco têm agido em concertação com a Lafarge, cimenteira francesa que já anunciou ir votar contra o levantamento da limitação dos direitos de voto a dez por cento do capital, e a quem é atribuída uma posição de cerca de doze por cento do capital da Cimpor.

Para que a proposta da Secil seja aprovada na assembleia, têm de estar representados 33,33 por cento do capital e existir 66,67 por cento dos votos expressos a favor, o que não está, neste momento, garantido. O mais provável é que o Estado, a Secil e a Holderbank votem a favor, com a Teixeira Duarte, o BCP e a Lafarge a votarem contra, o que inviabilizaria, assim, a desblindagem. Mas é preciso também não esquecer a posição de alguns accionistas, como a Cementos Molins, que tem 2,64 por cento, havendo que contar ainda com o capital disperso pelo mercado. Do lado da Teixeira Duarte, ainda nada está decidido, enquanto o BCP diz que vai aguardar a tomada de posição de outros accionistas "relevantes" da Cimpor, para poder tomar uma decisão. A desblindagem parece estar, assim, nas mãos da Teixeira Duarte.

A indecisão desta construtora e do BCP poderá estar relacionada com a "reviravolta" dada pelo Governo, que inicialmente se opôs à desblindagem e agora já deu sinais de votar a favor do seu levantamento. Pode representar ainda uma tentativa de ganhar algum tempo, de forma a poder comprar mais acções em bolsa, reforçando uma posição conjunta (dos três accionistas) próxima da maioria.

Com o reforço das posições accionistas e o voto contra a desblindagem de estatutos, a Teixeira Duarte, em conjunto com o BCP e a Lafarge, poderá também querer travar uma oferta pública de aquisição (OPA) a lançar pela Holderbank, eventualmente em concertação com a Secil, depois da alienação da posição do Estado. O chumbo da desblindagem dos estatutos constitui um forte entrave ao controlo efectivo da empresa através de uma OPA.

Secil questionou Governo

Por seu lado, a Secil, que esteve recentemente reunida com o ministro das Finanças, Joaquim Pina Moura, no âmbito das consultas feitas aos accionistas da Cimpor, quis saber junto do ministério qual a posição do Estado em relação às empresas que votarem contra a desblindagem dos estatutos da Cimpor. O ministro terá respondido que essa é uma questão a discutir no futuro, mas o PÚBLICO sabe que o Estado não pretende limitar a participação, das empresas que venham a tomar uma posição contra a desblindagem, no concurso público destinado a vender a sua posição na Cimpor, de cerca de dez por cento.

A não aprovação da proposta da Secil pode lançar a Cimpor para um arrastado processo de indefinição da estrutura do seu capital - cenário que, aparentemente, não beneficia qualquer dos actuais accionistas, por prejudicar o desenvolvimento futuro dos negócios da Cimpor. No entanto, há quem veja no protelar de uma situação deste tipo a margem de manobra de que os franceses da Lafarge necessitam para tentarem controlar, mais tarde, a Cimpor. A Lafarge lançou-se recentemente numa OPA sobre a britânica Blue Circle, cimenteira que já tinha tentado controlar através de uma OPA que depois não funcionou, e por esse motivo não tem dinheiro para se envolver em mais uma aquisição.

A empresa francesa já fez saber que não quer controlar a Cimpor, pretendendo apenas manter-se como accionista de referência. No entanto, se o processo se arrastar, não é líquido que não venha a tentar obter o controlo da cimenteira portuguesa. Mais do que isso, o seu voto contra demonstra que a Lafarge está empenhada em travar as pretensões da Holderbank.

Na reunião que manteve com os vários accionistas interessados na Cimpor, Pina Moura recomendou também um entendimento entre os accionistas estrangeiros e os accionistas nacionais da Cimpor. O PÚBLICO sabe que é quase certo que a Holderbank e a Secil retomem a aliança que as fez lançar, em Agosto, uma OPA conjunta sobre a Cimpor.

No meio deste intrincado processo está ainda o problema de a participação do BCP ser constituída na sua maioria por fundos de investimento: dos dez por cento que são atribuídos ao banco, apenas três por cento deverão ser uma posição directa na empresa.

Lafarge vota contra e BCP espera para ver

Teixeira Duarte Hesita na Desblindagem da Cimpor

Por PEDRO LIMA E ROSA SOARES

Segunda-feira, 22 de Janeiro de 2001

Não é ainda claro se a proposta de desblindagem dos estatutos da Cimpor, apresentada pela Secil, tem pernas para se impor. A sua eventual recusa pode lançar a Cimpor num período de indefinição de que só a francesa Lafarge poderá, eventualmente, tirar partido.

A Teixeira Duarte ainda não decidiu se vai votar contra a desblindagem dos estatutos da Cimpor, que a Secil vai propor em assembleia geral de accionistas convocada para o efeito. Apesar do silêncio da empresa sobre esta matéria, o PÚBLICO apurou que a construtora está bastante hesitante em face dos últimos desenvolvimentos na luta pelo controlo da cimenteira, sobretudo depois de o Estado ter recomendado aos actuais accionistas da Cimpor que votem a favor da desblindagem, por considerar que assim se torna mais fácil encontrar uma solução para a empresa.

A assembleia da Cimpor está marcada para 20 de Fevereiro e a "contagem de espingardas" volta a estar na ordem do dia. A Secil e os suíços da Holderbank, que deverão ter cerca de 20 por cento do capital da Cimpor, votam a favor, mantendo assim a posição assumida na assembleia geral que, no Verão, chumbou a proposta de desblindagem de estatutos, devido aos votos contra do Estado, da Teixeira Duarte, do BCP e dos franceses da Lafarge.

A incógnita está no que farão a Teixeira Duarte e o BCP, que em conjunto deverão deter cerca de 25 por cento da Cimpor. A empresa e o banco têm agido em concertação com a Lafarge, cimenteira francesa que já anunciou ir votar contra o levantamento da limitação dos direitos de voto a dez por cento do capital, e a quem é atribuída uma posição de cerca de doze por cento do capital da Cimpor.

Para que a proposta da Secil seja aprovada na assembleia, têm de estar representados 33,33 por cento do capital e existir 66,67 por cento dos votos expressos a favor, o que não está, neste momento, garantido. O mais provável é que o Estado, a Secil e a Holderbank votem a favor, com a Teixeira Duarte, o BCP e a Lafarge a votarem contra, o que inviabilizaria, assim, a desblindagem. Mas é preciso também não esquecer a posição de alguns accionistas, como a Cementos Molins, que tem 2,64 por cento, havendo que contar ainda com o capital disperso pelo mercado. Do lado da Teixeira Duarte, ainda nada está decidido, enquanto o BCP diz que vai aguardar a tomada de posição de outros accionistas "relevantes" da Cimpor, para poder tomar uma decisão. A desblindagem parece estar, assim, nas mãos da Teixeira Duarte.

A indecisão desta construtora e do BCP poderá estar relacionada com a "reviravolta" dada pelo Governo, que inicialmente se opôs à desblindagem e agora já deu sinais de votar a favor do seu levantamento. Pode representar ainda uma tentativa de ganhar algum tempo, de forma a poder comprar mais acções em bolsa, reforçando uma posição conjunta (dos três accionistas) próxima da maioria.

Com o reforço das posições accionistas e o voto contra a desblindagem de estatutos, a Teixeira Duarte, em conjunto com o BCP e a Lafarge, poderá também querer travar uma oferta pública de aquisição (OPA) a lançar pela Holderbank, eventualmente em concertação com a Secil, depois da alienação da posição do Estado. O chumbo da desblindagem dos estatutos constitui um forte entrave ao controlo efectivo da empresa através de uma OPA.

Secil questionou Governo

Por seu lado, a Secil, que esteve recentemente reunida com o ministro das Finanças, Joaquim Pina Moura, no âmbito das consultas feitas aos accionistas da Cimpor, quis saber junto do ministério qual a posição do Estado em relação às empresas que votarem contra a desblindagem dos estatutos da Cimpor. O ministro terá respondido que essa é uma questão a discutir no futuro, mas o PÚBLICO sabe que o Estado não pretende limitar a participação, das empresas que venham a tomar uma posição contra a desblindagem, no concurso público destinado a vender a sua posição na Cimpor, de cerca de dez por cento.

A não aprovação da proposta da Secil pode lançar a Cimpor para um arrastado processo de indefinição da estrutura do seu capital - cenário que, aparentemente, não beneficia qualquer dos actuais accionistas, por prejudicar o desenvolvimento futuro dos negócios da Cimpor. No entanto, há quem veja no protelar de uma situação deste tipo a margem de manobra de que os franceses da Lafarge necessitam para tentarem controlar, mais tarde, a Cimpor. A Lafarge lançou-se recentemente numa OPA sobre a britânica Blue Circle, cimenteira que já tinha tentado controlar através de uma OPA que depois não funcionou, e por esse motivo não tem dinheiro para se envolver em mais uma aquisição.

A empresa francesa já fez saber que não quer controlar a Cimpor, pretendendo apenas manter-se como accionista de referência. No entanto, se o processo se arrastar, não é líquido que não venha a tentar obter o controlo da cimenteira portuguesa. Mais do que isso, o seu voto contra demonstra que a Lafarge está empenhada em travar as pretensões da Holderbank.

Na reunião que manteve com os vários accionistas interessados na Cimpor, Pina Moura recomendou também um entendimento entre os accionistas estrangeiros e os accionistas nacionais da Cimpor. O PÚBLICO sabe que é quase certo que a Holderbank e a Secil retomem a aliança que as fez lançar, em Agosto, uma OPA conjunta sobre a Cimpor.

No meio deste intrincado processo está ainda o problema de a participação do BCP ser constituída na sua maioria por fundos de investimento: dos dez por cento que são atribuídos ao banco, apenas três por cento deverão ser uma posição directa na empresa.

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