Contra o "espírito de Davos"

22-01-2001
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Conferências alternativas criticam esta globalização

Contra o "Espírito de Davos"

Por A.N.

Segunda-feira, 22 de Janeiro de 2001

Classificado como templo do mercantilismo cínico, o Fórum Económico Mundial (FEM) é uma instituição que há muito deixou de ser incontestada por várias organizações não-governamentais (ONG) antiglobalização. Este ano, conferências alternativas e manifestações prometem disputar-lhe o protagonismo mediático. Tirando partido de mudanças na opinião pública ocidental.

Algo mudou nas atitudes perante a globalização desde a reunião da Organização Mundial do Comércio de Dezembro de 1999 em Seattle. Antes de Seattle tinha-se como garantido que o processo era dotado de uma lógica inexorável e que o modelo da economia de mercado à escala mundial beneficiaria de igual forma ricos e pobres.

Depois de Seattle, o estado de espírito é outro. A globalização deixou de ser vista como uma força da natureza para passar a ser encarada como algo que pode e deve ser moldado pela acção humana. Pelos governos e pelas suas agências internacionais, por exemplo.

Até os mais aguerridos defensores da globalização concedem que os que começaram os protestos em Seattle têm razão em dois pontos. Primeiro, a pobreza no terceiro mundo - e as ilhas de pobreza terceiro-mundista no Ocidente - é o mais importante tema moral, político e económico dos nossos dias. Segundo, o poderoso processo de globalização em curso é reversível. Levantar novas barreiras aos fluxos comerciais e de capitais é tão fácil como derrubar barreiras existentes. Aliás, alguns ministros do Comércio ameaçam fazê-lo quase diariamente.

Nem todos os holofotes incidirão sobre o encontro dos decisores globais. Inúmeros eventos rivalizarão com a reunião do FEM, com destaque para dois. O "Public eye on Davos" (olhar público sobre Davos) - iniciativa conjunta de várias ONG - organizará uma conferência em Davos, de 25 a 28 de Janeiro, acompanhará os trabalhos do FEM e disseminará informação para o público. Esta iniciativa é coordenada pela Declaração de Berna, uma ONG suíça que se bate desde 1969 por relações Norte-Sul social e ambientalmente mais sustentáveis. Em Porto Alegre, no Brasil, de 26 a 29 de Janeiro, decorrerá o Fórum Social Mundial. Um espaço internacional para a reflexão e a organização de todos os que se opõem às políticas neoliberais e estão a criar alternativas para "prioritizar o desenvolvimento humano e a superação da dominação dos mercados em cada país e nas relações internacionais". O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos será um dos intervenientes na conferência de Porto Alegre.

A.N.

Conferências alternativas criticam esta globalização

Contra o "Espírito de Davos"

Por A.N.

Segunda-feira, 22 de Janeiro de 2001

Classificado como templo do mercantilismo cínico, o Fórum Económico Mundial (FEM) é uma instituição que há muito deixou de ser incontestada por várias organizações não-governamentais (ONG) antiglobalização. Este ano, conferências alternativas e manifestações prometem disputar-lhe o protagonismo mediático. Tirando partido de mudanças na opinião pública ocidental.

Algo mudou nas atitudes perante a globalização desde a reunião da Organização Mundial do Comércio de Dezembro de 1999 em Seattle. Antes de Seattle tinha-se como garantido que o processo era dotado de uma lógica inexorável e que o modelo da economia de mercado à escala mundial beneficiaria de igual forma ricos e pobres.

Depois de Seattle, o estado de espírito é outro. A globalização deixou de ser vista como uma força da natureza para passar a ser encarada como algo que pode e deve ser moldado pela acção humana. Pelos governos e pelas suas agências internacionais, por exemplo.

Até os mais aguerridos defensores da globalização concedem que os que começaram os protestos em Seattle têm razão em dois pontos. Primeiro, a pobreza no terceiro mundo - e as ilhas de pobreza terceiro-mundista no Ocidente - é o mais importante tema moral, político e económico dos nossos dias. Segundo, o poderoso processo de globalização em curso é reversível. Levantar novas barreiras aos fluxos comerciais e de capitais é tão fácil como derrubar barreiras existentes. Aliás, alguns ministros do Comércio ameaçam fazê-lo quase diariamente.

Nem todos os holofotes incidirão sobre o encontro dos decisores globais. Inúmeros eventos rivalizarão com a reunião do FEM, com destaque para dois. O "Public eye on Davos" (olhar público sobre Davos) - iniciativa conjunta de várias ONG - organizará uma conferência em Davos, de 25 a 28 de Janeiro, acompanhará os trabalhos do FEM e disseminará informação para o público. Esta iniciativa é coordenada pela Declaração de Berna, uma ONG suíça que se bate desde 1969 por relações Norte-Sul social e ambientalmente mais sustentáveis. Em Porto Alegre, no Brasil, de 26 a 29 de Janeiro, decorrerá o Fórum Social Mundial. Um espaço internacional para a reflexão e a organização de todos os que se opõem às políticas neoliberais e estão a criar alternativas para "prioritizar o desenvolvimento humano e a superação da dominação dos mercados em cada país e nas relações internacionais". O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos será um dos intervenientes na conferência de Porto Alegre.

A.N.

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