Crescimento para todos é a preocupação

15-02-2001
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31ª conferência do Fórum Económico Mundial arranca esta semana em Davos

Crescimento para Todos É a Preocupação

Por ARTUR NEVES

Segunda-feira, 22 de Janeiro de 2001

Os decisores globais querem dar um sinal de preocupação com os fossos existentes na distribuição dos recursos. Operação de cosmética, acusam os seus opositores. Entretanto, vai-se preparando o governo do planeta.

No meio de uma enorme operação de segurança, começa esta semana mais uma conferência anual do Fórum Económico Mundial (FEM). Na estância turística helvética de Davos, os homens mais poderosos do planeta reunir-se-ão em sessões de "brainstorming" subordinadas ao tema "Manter o crescimento e superar as divisões: um sistema para o nosso futuro global".

Para os organizadores da conferência, a economia mundial nunca esteve tão forte. Afirmam que estamos agora a começar a tirar partido das oportunidades criadas pelas novas tecnologias da informação (TI) e pelo aumento da produtividade que elas originam. Chamam a atenção para a revolução biotecnológica e para o extenso leque de actividades que trará. E consideram que o actual clima político, "sem grandes crises internacionais ou ameaças de primeira grandeza", é mais propício para o desenvolvimento económico e social.

É este cenário optimista que, para os organizadores, coloca na boca de cena uma série de espinhosas divisões: entre os países desenvolvidos e os outros; entre os que têm acesso às TI e tiram partido da revolução da Internet e os info-excluídos; entre os que têm acesso ao saber e os que vivem na ignorância; entre aqueles para os quais os cuidados de saúde fazem parte do quotidiano e os que não têm acesso às mais básicas condições sanitárias. "Os desafios sociais, políticos e éticos criados pelo impacto cumulativo da globalização e das revoluções das TI e da biotecnologia testam de uma forma sem precedentes as nossas capacidades de liderança, a nossa orientação ética e moral tradicional e a nossa habilidade colectiva para idealizar abordagens conducentes a uma comunidade global mais inclusiva." Este discurso visa apaziguar uma opinião pública que recentemente se tornou céptica em relação às virtudes da globalização, de acordo com os críticos do FEM.

Como habitualmente, a conferência durará seis dias. Esperam-se cerca de três mil participantes, entre peritos de renome, académicos, líderes políticos e gestores de multinacionais. Mais de 300 encontros propiciarão o surgimento de um consenso de elites. Haverá certamente tempo para celebrar acordos entre empresas e conduzir negociações políticas de bastidores. Mas a principal novidade virá depois.

O governo do mundo

Poucos dias depois de terminada a conferência, os membros selectos do FEM começarão a comunicar entre si através da mais exclusiva rede intranet do mundo, a Welcom, que entra em funcionamento dentro de alguns dias. O acrónimo significa "World Electronic Community" (Comunidade Electrónica Mundial). De acordo com Hans-Joerg Schwab, membro do comité executivo do FEM, trata-se de uma "rede de comunicação electrónica privada, sujeita a controlos de segurança, reservada aos decisores globais", que tem como objectivo contribuir "de forma decisiva para uma melhor cooperação entre o mundo político e o mundo dos negócios na gestão das crises internacionais". E continua: "Imaginem uma súbita mudança de maioria política na Turquia. Poderemos reagir em tempo real organizando através do Welcom uma reunião virtual entre o primeiro-ministro, o seu novo gabinete e os principais investidores estrangeiros." Muitos deles já figurarão, provavelmente, na lista de membros do FEM. Na prática, este sistema - metade-internet, metade-videofone, mas bastante mais sofisticado - poderia tornar-se na infra-estrutura de um governo do mundo. Tranquilizante para alguns, perturbador para outros. Mas também o sonho de qualquer pirata informático, o desafio último para os "hackers".

Artur Neves

31ª conferência do Fórum Económico Mundial arranca esta semana em Davos

Crescimento para Todos É a Preocupação

Por ARTUR NEVES

Segunda-feira, 22 de Janeiro de 2001

Os decisores globais querem dar um sinal de preocupação com os fossos existentes na distribuição dos recursos. Operação de cosmética, acusam os seus opositores. Entretanto, vai-se preparando o governo do planeta.

No meio de uma enorme operação de segurança, começa esta semana mais uma conferência anual do Fórum Económico Mundial (FEM). Na estância turística helvética de Davos, os homens mais poderosos do planeta reunir-se-ão em sessões de "brainstorming" subordinadas ao tema "Manter o crescimento e superar as divisões: um sistema para o nosso futuro global".

Para os organizadores da conferência, a economia mundial nunca esteve tão forte. Afirmam que estamos agora a começar a tirar partido das oportunidades criadas pelas novas tecnologias da informação (TI) e pelo aumento da produtividade que elas originam. Chamam a atenção para a revolução biotecnológica e para o extenso leque de actividades que trará. E consideram que o actual clima político, "sem grandes crises internacionais ou ameaças de primeira grandeza", é mais propício para o desenvolvimento económico e social.

É este cenário optimista que, para os organizadores, coloca na boca de cena uma série de espinhosas divisões: entre os países desenvolvidos e os outros; entre os que têm acesso às TI e tiram partido da revolução da Internet e os info-excluídos; entre os que têm acesso ao saber e os que vivem na ignorância; entre aqueles para os quais os cuidados de saúde fazem parte do quotidiano e os que não têm acesso às mais básicas condições sanitárias. "Os desafios sociais, políticos e éticos criados pelo impacto cumulativo da globalização e das revoluções das TI e da biotecnologia testam de uma forma sem precedentes as nossas capacidades de liderança, a nossa orientação ética e moral tradicional e a nossa habilidade colectiva para idealizar abordagens conducentes a uma comunidade global mais inclusiva." Este discurso visa apaziguar uma opinião pública que recentemente se tornou céptica em relação às virtudes da globalização, de acordo com os críticos do FEM.

Como habitualmente, a conferência durará seis dias. Esperam-se cerca de três mil participantes, entre peritos de renome, académicos, líderes políticos e gestores de multinacionais. Mais de 300 encontros propiciarão o surgimento de um consenso de elites. Haverá certamente tempo para celebrar acordos entre empresas e conduzir negociações políticas de bastidores. Mas a principal novidade virá depois.

O governo do mundo

Poucos dias depois de terminada a conferência, os membros selectos do FEM começarão a comunicar entre si através da mais exclusiva rede intranet do mundo, a Welcom, que entra em funcionamento dentro de alguns dias. O acrónimo significa "World Electronic Community" (Comunidade Electrónica Mundial). De acordo com Hans-Joerg Schwab, membro do comité executivo do FEM, trata-se de uma "rede de comunicação electrónica privada, sujeita a controlos de segurança, reservada aos decisores globais", que tem como objectivo contribuir "de forma decisiva para uma melhor cooperação entre o mundo político e o mundo dos negócios na gestão das crises internacionais". E continua: "Imaginem uma súbita mudança de maioria política na Turquia. Poderemos reagir em tempo real organizando através do Welcom uma reunião virtual entre o primeiro-ministro, o seu novo gabinete e os principais investidores estrangeiros." Muitos deles já figurarão, provavelmente, na lista de membros do FEM. Na prática, este sistema - metade-internet, metade-videofone, mas bastante mais sofisticado - poderia tornar-se na infra-estrutura de um governo do mundo. Tranquilizante para alguns, perturbador para outros. Mas também o sonho de qualquer pirata informático, o desafio último para os "hackers".

Artur Neves

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