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16-01-2001
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Que Fazer?

Por EDUARDO PRADO COELHO

Terça-feira, 16 de Janeiro de 2001 Há alguns meses tinha considerado que a participação do Bloco de Esquerda na campanha presidencial poderia vir a ser um erro político. Devo reconhecer que - sobretudo pelo excelente trabalho de Fernando Rosas, que se foi transformando ao longo da campanha, como ele próprio reconhece - me enganei. A aposta dos dirigentes do Bloco de Esquerda estava correcta e revelou-se positiva pelo menos em dois planos: reforçou a força eleitoral dos "bloquistas", mas sobretudo mostrou uma equilibradíssima distribuição regional, que é um dos aspectos mais surpreendentes destas eleições. Quanto ao PCP, a ironia do título do "PÚBLICO" diz tudo: "PCP satisfeito com o seu pior resultado de sempre". Neste caso, penso que Carlos Carvalhas tinha razão: era preferível uma desistência, mesmo com o preço de uma maior subida do Bloco, do que esta imagem de um candidato que se diz que foi óptimo, mas em relação ao qual a grande preocupação é mostrar que ele não representa a verdadeira força eleitoral do PCP. Porque o que assim se demonstrou é que, apesar do PCP, num momento de inesquecível exaltação, ter dito aos "bloquistas" que "daqui não levam nada", o Bloco passou para 3 por cento. Mas é significativa a frase de Louçã na noite eleitoral: "Todos os que votaram Jorge Sampaio, Abreu ou Garcia Pereira estão confrontados com a necessidade de encontrar caminhos de expressão política alternativa para o país. A lição mais importante para nós é que as convergências são indispensáveis à esquerda." A pergunta é, pois: que fazer? Qual tem sido até agora a "fórmula" do Bloco? A atitude descrispada. Há uma tradição de crispação na esquerda. A extrema-esquerda tem uma crispação da denúncia: denuncia tanto os "traidores" que acaba sempre por se denunciar a si mesma. O PCP tem uma tradição de crispação burocrático-ideológica. O PS tem uma tradição de crispação clubista. Ora o que é necessário é encontrar um espaço em que as diversas esquerdas possam dialogar e incentivem o diálogo no interior de si mesmas. O PCP precisa do diálogo entre ortodoxos e renovadores. O PS precisa de fazer o diálogo entre uma esquerda tecnocrática e uma nova esquerda. O Bloco deve continuar a aceitar a coexistência entre posições tradicionais, às vezes dogmáticas, e algumas das posições mais avançadas e inovadoras da esquerda contemporânea. Tudo isto sem que uns queiram riscar os outros do mapa e sem que seja necessário denunciar o que se possa apresentar como diferença. Quando a esquerda portuguesa generalizar a lição de descrispação do Bloco, ela poderá constituir a plataforma de apoio de que Sampaio precisa para que a direita não venha a ganhar as próximas eleições (e os resultados de domingo mostram que tal eventualidade é claramente possível). OUTROS TÍTULOS EM ÚLTIMA PÁGINA Juiz instrutor alvo de processo disciplinar

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