Por uma "operação-verdade"

27-11-2000
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Carta de Edgar Correia

Por Uma "Operação-verdade"

Segunda-feira, 27 de Novembro de 2000 "É indispensável empreender quanto antes uma sincera operação-verdade no partido, que apure procedimentos, que debata com frontalidade o que se tem passado e as razões por que o partido chegou ao ponto a que chegou. E que proceda à reparação política e partidária de todos os camaradas injustamente tratados". Esta exigência é feita por Edgar Correia na longa carta de demissão que ontem fez chegar ao Comité Central do PCP. E pedindo uma espécie de inquérito interno afirma: "Para essa operação-verdade podereis contar com o meu testemunho contra os dirigentes que responsabilizo pela grave e insensata situação criada aos comunistas portugueses. Com a única e exclusiva condição de os militantes encarregados de procederem ao apuramento dos factos serem camaradas conhecidos pelo seu espírito de isenção e de rigor e de não terem tido qualquer envolvimento nos comportamentos negativos que abalam o partido. (...) Explicitamente excluo, pelo papel que tiveram alguns membros da Comissão Central de Controlo na actual situação, incluindo um caso de provado comportamento indigno, que este organismo possa ser chamado a ajuizar sobre tal matéria". Edgar Correia denuncia "os métodos anti-estatutários, o abuso e a ânsia de poder de alguns dirigentes e o carreirismo de outros, [que] precipitaram o partido numa profunda crise, cuja saída não está à vista". É por isso que se demite. As razões, diz, "não têm a ver com o conteúdo de diferenças de opinião", mas por "razões de consciência e de dignidade". Decidiu assim: "Assumir a crítica e a denúncia dessa actuação de grupo, por ser absolutamente contrária ao pacto estatutário que a todos nos obrigava. Sabeis qual foi a minha opção, porque verdadeiramente - por amor à verdade e como comunista - não podia ter outra. E aos que me dirigiram mal disfarçadas ameaças e que contra mim desencadearam uma campanha de calúnias e de mentiras de rara violência, disse frontalmente que não era - como repito agora que não sou - intimidável." Acusa ainda: "Dir-se-á que processos desta natureza, com o recurso a inventados ''inimigos internos'' e a cortinas ideológicas bloqueadoras da possibilidade de um normal debate interno das ideias e orientações, não foram pouco frequentes na atribulada vida de outros partidos comunistas e nos complexos jogos de poder que marcaram a sua degenerescência." E denuncia: "A emergência de um grupo fraccionário no seio da própria direcção central e o alastramento como um cancro das suas actividades, a violentíssima campanha de suspeições, mentiras e calúnias por ele lançada e conduzida contra outros dirigentes, quadros e organizações do partido e intensificada à aproximação do Congresso, a promoção e a despromoção de quadros por interesses de grupo e não por critérios de partido e subordinada a pressões e chantagens de todo o tipo, o surgimento de práticas aberrantes de natureza inquisitorial e até de espionagem interna, evidenciam que já vai muito adiantado um processo de desfiguração comunista -não em palavras, mas na prática - do PCP. E que nesse sentido e sob a bandeira da ''pureza'' ideológica, alguns estão aceleradamente e de facto a transformar o que era o nosso colectivo de debate e de luta num partido exactamente com as características e as ambições que criticamos nos outros." Já em relação à preparação do Congresso, afirma que prevaleceu "uma postura sectária e impositiva (...) E que se chegou ao inimaginável ponto de ser desaconselhada a utilização das palavras ''cidadãos'' e ''cidadania'' até ao Congresso, por causa das pressões irracionais e do fundamentalismo desses elementos". S.J.A./H.P. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Ruptura na direcção do PCP

"Uma decisão dolorosa"

Por uma "operação-verdade"

"Problemas e preocupações..."

Carlos Brito: Um moderado levado à ruptura

Edgar Correia: Um "estadista" nos bastidores

Carta de Edgar Correia

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Segunda-feira, 27 de Novembro de 2000 "É indispensável empreender quanto antes uma sincera operação-verdade no partido, que apure procedimentos, que debata com frontalidade o que se tem passado e as razões por que o partido chegou ao ponto a que chegou. E que proceda à reparação política e partidária de todos os camaradas injustamente tratados". Esta exigência é feita por Edgar Correia na longa carta de demissão que ontem fez chegar ao Comité Central do PCP. E pedindo uma espécie de inquérito interno afirma: "Para essa operação-verdade podereis contar com o meu testemunho contra os dirigentes que responsabilizo pela grave e insensata situação criada aos comunistas portugueses. Com a única e exclusiva condição de os militantes encarregados de procederem ao apuramento dos factos serem camaradas conhecidos pelo seu espírito de isenção e de rigor e de não terem tido qualquer envolvimento nos comportamentos negativos que abalam o partido. (...) Explicitamente excluo, pelo papel que tiveram alguns membros da Comissão Central de Controlo na actual situação, incluindo um caso de provado comportamento indigno, que este organismo possa ser chamado a ajuizar sobre tal matéria". Edgar Correia denuncia "os métodos anti-estatutários, o abuso e a ânsia de poder de alguns dirigentes e o carreirismo de outros, [que] precipitaram o partido numa profunda crise, cuja saída não está à vista". É por isso que se demite. As razões, diz, "não têm a ver com o conteúdo de diferenças de opinião", mas por "razões de consciência e de dignidade". Decidiu assim: "Assumir a crítica e a denúncia dessa actuação de grupo, por ser absolutamente contrária ao pacto estatutário que a todos nos obrigava. Sabeis qual foi a minha opção, porque verdadeiramente - por amor à verdade e como comunista - não podia ter outra. E aos que me dirigiram mal disfarçadas ameaças e que contra mim desencadearam uma campanha de calúnias e de mentiras de rara violência, disse frontalmente que não era - como repito agora que não sou - intimidável." Acusa ainda: "Dir-se-á que processos desta natureza, com o recurso a inventados ''inimigos internos'' e a cortinas ideológicas bloqueadoras da possibilidade de um normal debate interno das ideias e orientações, não foram pouco frequentes na atribulada vida de outros partidos comunistas e nos complexos jogos de poder que marcaram a sua degenerescência." E denuncia: "A emergência de um grupo fraccionário no seio da própria direcção central e o alastramento como um cancro das suas actividades, a violentíssima campanha de suspeições, mentiras e calúnias por ele lançada e conduzida contra outros dirigentes, quadros e organizações do partido e intensificada à aproximação do Congresso, a promoção e a despromoção de quadros por interesses de grupo e não por critérios de partido e subordinada a pressões e chantagens de todo o tipo, o surgimento de práticas aberrantes de natureza inquisitorial e até de espionagem interna, evidenciam que já vai muito adiantado um processo de desfiguração comunista -não em palavras, mas na prática - do PCP. E que nesse sentido e sob a bandeira da ''pureza'' ideológica, alguns estão aceleradamente e de facto a transformar o que era o nosso colectivo de debate e de luta num partido exactamente com as características e as ambições que criticamos nos outros." Já em relação à preparação do Congresso, afirma que prevaleceu "uma postura sectária e impositiva (...) E que se chegou ao inimaginável ponto de ser desaconselhada a utilização das palavras ''cidadãos'' e ''cidadania'' até ao Congresso, por causa das pressões irracionais e do fundamentalismo desses elementos". S.J.A./H.P. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Ruptura na direcção do PCP

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