Publico.pt

04-12-2000
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João Alferes Gonçalves, militante do PCP e chefe dos serviços de noticiário na altura do 25 de Abril, foi o detonador do conflito que conduziu à greve, quando obrigou o conselho de gerência a censurar expressamente a edição da reportagem sobre a chegada de Álvaro Cunhal ao aeroporto de Lisboa. Os conflitos vinham a agudizar-se desde o 25 de Abril, quando o padre Américo Brás, gerente da emissora, "deu ordens para que fossem para o ar apenas os telexes divulgados pela Direcção-Geral da Comunicação Social".

Já ocorrera também um braço-de-ferro com a chegada de Mário Soares a Santa Apolónia e o regresso de Álvaro Cunhal foi definido pelo próprio como o momento óptimo para "separar as águas" entre os trabalhadores e a gerência que insistia em "proteger-se" da revolução. Foi João Alferes Gonçalves que se deslocou ao aeroporto, fez a peça da chegada de Cunhal e anunciou, num noticiário, a sua transmissão no noticiário seguinte. Foi proibida e deu origem à primeira greve do pós-25 de Abril.

"O único comunista que havia na Renascença era eu", diz Alferes Gonçalves. Os trabalhadores que desencadearam a luta "dificilmente poderiam ser considerados de esquerda, na sua maioria", mas uniram-se primeiro em defesa da liberdade de expressão, depois em defesa dos jornalistas que a gerência queria submeter a testes psicotécnicos.

Com o alastrar do conflito, radicalizaram-se posições e até o próprio João Alferes Gonçalves abandona a comissão de trabalhadores. A Renascença, que se autoproclamava a partir de meados de 75 "uma emissora ao serviço das classes trabalhadoras" (e que, segundo alguns testemunhos, abria e fechava as emissões com a Internacional), não estava debaixo do controlo de qualquer partido político, como acontecia com a generalidade da imprensa no pós-25 de Abril.

"Não há a maior dúvida que era a única emissora livre no Verão de 75", diz Alferes Gonçalves. E vai mais longe: "Era o único meio de comunicação social livre. O processo da Rádio Renascença foi mais do que uma luta laboral. Foi um laboratório de questões como o controlo da informação, a propriedade dos meios de comunicação social e a independência dos jornalistas."

De resto, a questão da Renascença perturbava o PCP, consciente das consequências políticas a que a escalada da campanha anticomunista produzida pelas estruturas da Igreja poderia conduzir. O próprio Vasco Gonçalves propõe aos trabalhadores a sua integração nos quadros da Emissora Nacional para poder devolver a rádio à Igreja. Mas a proposta é recusada.

Na Renascença "livre", ao contrário do que se passava em outros órgãos de comunicação, não havia "cadeia de comando". E hoje João Alferes Gonçalves afirma que, se não fosse a bomba ter destruído o emissor da Renascença, o destino do 25 de Novembro poderia ser outro. "Se um determinado tipo de forças militares tivesse tido acesso a uma estação de rádio, poderia ter sido trágico. Se houvesse uma estação de rádio a funcionar que estivesse ligada aos 'páras', podia haver uma situação mais difícil de desmobilizar. A estação de rádio iria servir de elemento de ligação e de factor de mobilização entre as diversas unidades". E, afirma "o único elemento do PCP na Renascença", "haveria mais sangue, morreria mais gente". A não resposta da esquerda militar ao 25 de Novembro pode também ter passado pela salvífica bomba. A.S.L./A.M.

João Alferes Gonçalves, militante do PCP e chefe dos serviços de noticiário na altura do 25 de Abril, foi o detonador do conflito que conduziu à greve, quando obrigou o conselho de gerência a censurar expressamente a edição da reportagem sobre a chegada de Álvaro Cunhal ao aeroporto de Lisboa. Os conflitos vinham a agudizar-se desde o 25 de Abril, quando o padre Américo Brás, gerente da emissora, "deu ordens para que fossem para o ar apenas os telexes divulgados pela Direcção-Geral da Comunicação Social".

Já ocorrera também um braço-de-ferro com a chegada de Mário Soares a Santa Apolónia e o regresso de Álvaro Cunhal foi definido pelo próprio como o momento óptimo para "separar as águas" entre os trabalhadores e a gerência que insistia em "proteger-se" da revolução. Foi João Alferes Gonçalves que se deslocou ao aeroporto, fez a peça da chegada de Cunhal e anunciou, num noticiário, a sua transmissão no noticiário seguinte. Foi proibida e deu origem à primeira greve do pós-25 de Abril.

"O único comunista que havia na Renascença era eu", diz Alferes Gonçalves. Os trabalhadores que desencadearam a luta "dificilmente poderiam ser considerados de esquerda, na sua maioria", mas uniram-se primeiro em defesa da liberdade de expressão, depois em defesa dos jornalistas que a gerência queria submeter a testes psicotécnicos.

Com o alastrar do conflito, radicalizaram-se posições e até o próprio João Alferes Gonçalves abandona a comissão de trabalhadores. A Renascença, que se autoproclamava a partir de meados de 75 "uma emissora ao serviço das classes trabalhadoras" (e que, segundo alguns testemunhos, abria e fechava as emissões com a Internacional), não estava debaixo do controlo de qualquer partido político, como acontecia com a generalidade da imprensa no pós-25 de Abril.

"Não há a maior dúvida que era a única emissora livre no Verão de 75", diz Alferes Gonçalves. E vai mais longe: "Era o único meio de comunicação social livre. O processo da Rádio Renascença foi mais do que uma luta laboral. Foi um laboratório de questões como o controlo da informação, a propriedade dos meios de comunicação social e a independência dos jornalistas."

De resto, a questão da Renascença perturbava o PCP, consciente das consequências políticas a que a escalada da campanha anticomunista produzida pelas estruturas da Igreja poderia conduzir. O próprio Vasco Gonçalves propõe aos trabalhadores a sua integração nos quadros da Emissora Nacional para poder devolver a rádio à Igreja. Mas a proposta é recusada.

Na Renascença "livre", ao contrário do que se passava em outros órgãos de comunicação, não havia "cadeia de comando". E hoje João Alferes Gonçalves afirma que, se não fosse a bomba ter destruído o emissor da Renascença, o destino do 25 de Novembro poderia ser outro. "Se um determinado tipo de forças militares tivesse tido acesso a uma estação de rádio, poderia ter sido trágico. Se houvesse uma estação de rádio a funcionar que estivesse ligada aos 'páras', podia haver uma situação mais difícil de desmobilizar. A estação de rádio iria servir de elemento de ligação e de factor de mobilização entre as diversas unidades". E, afirma "o único elemento do PCP na Renascença", "haveria mais sangue, morreria mais gente". A não resposta da esquerda militar ao 25 de Novembro pode também ter passado pela salvífica bomba. A.S.L./A.M.

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