Publico.pt

30-11-2000
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Operacionais

Os homens mais ligados à actividade ofensiva contra a esquerda em 1975 foram Alpoim Calvão, um dos militares portugueses mais condecorados na guerra colonial, Ramiro Moreira, chefe de segurança do então PPD, em 1974, que acabaria preso no processo da rede bombista em 1976, e Manuel Macedo, industrial nortenho agora alvo de uma investigação da Polícia Judiciária por suspeitas de espionagem a favor da Indonésia. Alpoim Calvão tinha atrás de si uma boa parte da estrutura militar que o acompanhara na Guiné, com oficiais como Benjamim Abreu ou Dias de Lima, e que fizeram deste comandante da Marinha uma figura lendária no palco de guerra mais difícil para Portugal. Mas no terreno misturava-se tudo: o MDLP era apoiado por um vasto leque de ex-agentes e oficiais da PIDE e da Legião Portuguesa concentrados nas zonas fronteiriças. Chegaram a ser montados alguns campos de treino militar em Espanha, na região de Ávila e de Orense, e os instrutores recebiam entre dez e 15 contos para enquadrar militarmente os "recrutas", que vinham sobretudo da base popular de apoio que o movimento tinha no Norte. Jorge Braga era o operacional na área das informações e estava instalado em Alcalá de Henares, perto de Madrid.

Ligações ao Grupo dos Nove

O MDLP era um movimento que actuava na clandestinidade dentro do país e movimentava-se sobretudo em Espanha, mas sempre manteve contactos nas instituições que dominavam a vida política em 1975. O então primeiro-ministro do VI Governo Provisório, Pinheiro de Azevedo, e conselheiros da revolução como Canto e Castro, Pinho Freire ou Vítor Alves pemaneceram pontes para os spinolistas. Ramalho Eanes chegou a ser convidado para assumir o comando da organização do MDLP em Lisboa, pouco tempo depois do 11 de Março, mas recusou, por já se encontrar a conspirar por conta do plano do Grupo dos Nove. "Concordo 100 por cento com o aproveitamento do major Eanes e também julgo que poderá prestar melhores serviços cá fora", escreveu Spínola numa carta enviada a 12 de Maio, do Rio de Janeiro, a Alpoim Calvão, comentando a aproximação a Eanes. As relações com o CDS eram muito próximas, tal como com o PSD, por afinidades ideológicas, nessa altura já evidentes. Com o PS, a principal força política de oposição ao PCP que se movimentava no terreno com grande à vontade, os homens do MDLP falavam através dos contactos mantidos entre alguns militares spinolistas moderados, como Manuel Monge e António Ramos, já falecido, com Manuel Alegre e Jaime Gama. Depois do 25 de Novembro, já em Janeiro de 1976, Alpoim Calvão e o cónego Melo encontram-se com Vítor Alves, membro do Grupo dos Nove e do Conselho da Revolução, numa casa de Valentim Loureiro, em Mindelo, Vila do Conde, para combinarem uma solução para o fim dos ataques bombistas e o regresso dos spinolistas e Portugal. Esta reunião ainda hoje concita alguma polémica, pois outros protagonistas da época, como Vasco Lourenço, afirmam que Vítor Alves "nunca foi mandatado pelos Nove para realizar tal diligência". Vítor Alves diz ter recebido ordens directamente do primeiro-ministro, Pinheiro de Azevedo.

Grupo político

A estrutura política do MDLP tinha, por assim dizer, três pólos.

Um primeiro gravitava à volta das movimentações de António Spínola, que montou "quartel-general" no Rio de Janeiro e era apoiado pela direita brasileira, onde avultava o nome de Carlos Lacerda. À volta de Spínola manteve-se sempre como seu conselheiro Valle Figueiredo. Um segundo núcleo era constituído pelo grupo operacional que tinha um enorme peso nas decisões e que vivia sobretudo das movimentações de Alpoim Calvão. Por fim, os homens que formavam um grupo político encarregado de pensar o programa do movimento e definir passos estratégicos. Estavam sediados em Madrid e entre eles destacavam-se os nomes de José Miguel Júdice, António Bessa, professor catedrático, Avides Moreira, igualmente professor universitário. Também Veiga Simão, ex-ministro na ditadura do Estado Novo que foi ministro da Defesa no primeiro governo de António Guterres, manteve contactos com Spínola nessa fase.

Objectivos

MDLP assumia no seu programa que, "numa primeira fase", pretendia "enquadrar e apoiar o povo português na sua luta contra a implantação em Portugal de qualquer regime totalitário". Foi durante esta fase que a organização recorreu a todos os meios para encurralar o PCP numa investida que, no limite, poderia culminar na ilegalização deste partido. Só depois de travado o combate desta "primeira fase" o MDLP se propunha "implantar em Portugal um Estado democrático de direito". O programa para tal foi redigido pelo "grupo de Madrid". O texto, porém, só veio a ser assinado a 11 de Dezembro, cerca de duas semanas após o golpe militar do 25 de Novembro, por António Spínola. E, na verdade, era evidente nessa altura a enorme dificuldade deste sector situado à direita em aceitar o PCP como um partido democrático. E.D.

Operacionais

Os homens mais ligados à actividade ofensiva contra a esquerda em 1975 foram Alpoim Calvão, um dos militares portugueses mais condecorados na guerra colonial, Ramiro Moreira, chefe de segurança do então PPD, em 1974, que acabaria preso no processo da rede bombista em 1976, e Manuel Macedo, industrial nortenho agora alvo de uma investigação da Polícia Judiciária por suspeitas de espionagem a favor da Indonésia. Alpoim Calvão tinha atrás de si uma boa parte da estrutura militar que o acompanhara na Guiné, com oficiais como Benjamim Abreu ou Dias de Lima, e que fizeram deste comandante da Marinha uma figura lendária no palco de guerra mais difícil para Portugal. Mas no terreno misturava-se tudo: o MDLP era apoiado por um vasto leque de ex-agentes e oficiais da PIDE e da Legião Portuguesa concentrados nas zonas fronteiriças. Chegaram a ser montados alguns campos de treino militar em Espanha, na região de Ávila e de Orense, e os instrutores recebiam entre dez e 15 contos para enquadrar militarmente os "recrutas", que vinham sobretudo da base popular de apoio que o movimento tinha no Norte. Jorge Braga era o operacional na área das informações e estava instalado em Alcalá de Henares, perto de Madrid.

Ligações ao Grupo dos Nove

O MDLP era um movimento que actuava na clandestinidade dentro do país e movimentava-se sobretudo em Espanha, mas sempre manteve contactos nas instituições que dominavam a vida política em 1975. O então primeiro-ministro do VI Governo Provisório, Pinheiro de Azevedo, e conselheiros da revolução como Canto e Castro, Pinho Freire ou Vítor Alves pemaneceram pontes para os spinolistas. Ramalho Eanes chegou a ser convidado para assumir o comando da organização do MDLP em Lisboa, pouco tempo depois do 11 de Março, mas recusou, por já se encontrar a conspirar por conta do plano do Grupo dos Nove. "Concordo 100 por cento com o aproveitamento do major Eanes e também julgo que poderá prestar melhores serviços cá fora", escreveu Spínola numa carta enviada a 12 de Maio, do Rio de Janeiro, a Alpoim Calvão, comentando a aproximação a Eanes. As relações com o CDS eram muito próximas, tal como com o PSD, por afinidades ideológicas, nessa altura já evidentes. Com o PS, a principal força política de oposição ao PCP que se movimentava no terreno com grande à vontade, os homens do MDLP falavam através dos contactos mantidos entre alguns militares spinolistas moderados, como Manuel Monge e António Ramos, já falecido, com Manuel Alegre e Jaime Gama. Depois do 25 de Novembro, já em Janeiro de 1976, Alpoim Calvão e o cónego Melo encontram-se com Vítor Alves, membro do Grupo dos Nove e do Conselho da Revolução, numa casa de Valentim Loureiro, em Mindelo, Vila do Conde, para combinarem uma solução para o fim dos ataques bombistas e o regresso dos spinolistas e Portugal. Esta reunião ainda hoje concita alguma polémica, pois outros protagonistas da época, como Vasco Lourenço, afirmam que Vítor Alves "nunca foi mandatado pelos Nove para realizar tal diligência". Vítor Alves diz ter recebido ordens directamente do primeiro-ministro, Pinheiro de Azevedo.

Grupo político

A estrutura política do MDLP tinha, por assim dizer, três pólos.

Um primeiro gravitava à volta das movimentações de António Spínola, que montou "quartel-general" no Rio de Janeiro e era apoiado pela direita brasileira, onde avultava o nome de Carlos Lacerda. À volta de Spínola manteve-se sempre como seu conselheiro Valle Figueiredo. Um segundo núcleo era constituído pelo grupo operacional que tinha um enorme peso nas decisões e que vivia sobretudo das movimentações de Alpoim Calvão. Por fim, os homens que formavam um grupo político encarregado de pensar o programa do movimento e definir passos estratégicos. Estavam sediados em Madrid e entre eles destacavam-se os nomes de José Miguel Júdice, António Bessa, professor catedrático, Avides Moreira, igualmente professor universitário. Também Veiga Simão, ex-ministro na ditadura do Estado Novo que foi ministro da Defesa no primeiro governo de António Guterres, manteve contactos com Spínola nessa fase.

Objectivos

MDLP assumia no seu programa que, "numa primeira fase", pretendia "enquadrar e apoiar o povo português na sua luta contra a implantação em Portugal de qualquer regime totalitário". Foi durante esta fase que a organização recorreu a todos os meios para encurralar o PCP numa investida que, no limite, poderia culminar na ilegalização deste partido. Só depois de travado o combate desta "primeira fase" o MDLP se propunha "implantar em Portugal um Estado democrático de direito". O programa para tal foi redigido pelo "grupo de Madrid". O texto, porém, só veio a ser assinado a 11 de Dezembro, cerca de duas semanas após o golpe militar do 25 de Novembro, por António Spínola. E, na verdade, era evidente nessa altura a enorme dificuldade deste sector situado à direita em aceitar o PCP como um partido democrático. E.D.

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