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19-07-2001
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Diário Económico >>

13 de Julho

Autárquicas - Rui Rio: «A minha candidatura à câmara do Porto é de ruptura com o PSD»

Rui Rio, 43 anos, economista, deputado e ex-secretário geral do PSD com Marcelo Rebelo de Sousa, é o candidato da coligação PSD/PP à Câmara do Porto. por António Freitas de Sousa Rio diz que avançou porque uma parte da estrutura regional do seu partido clamava há muito tempo uma renovação. E assume que é uma candidatura de ruptura com a actual postura enviezada do PSD, que procura as estrelas televisivas em detrimento das ideias. Diário Económico - Concorre à Câmara do Porto por um partido que o «expulsou» da o cargo de secretário-geral e à revelia de uma Distrital que não o apoia. O que é que o faz correr? Rui Rio - O importante para os portuenses não são as questões internas de cada partido, aliás, as questões internas do PS relativamente à Câmara do Porto ainda são mais difíceis que no PSD. O que os cidadãos valorizam é o estado em que está a cidade, que é mau. Entendi que é importante para o Porto e até mesmo para o país que surja uma alternativa forte, mas acima de tudo uma alternativa muito diferente daquilo que foi a gestão socialista. O resultado final dessa gestão é a insegurança, o caos do trânsito e do urbanismo, uma política social grave, etc... Nas autárquicas, não vai estar em causa escolher entre PS e PSD - que é mais ou menos a mesma coisa - mas diferenças de fundo na maneira de ver a cidade. Por outro lado, há outra matéria que se prende com a eleição propriamente dita e não tanto com os resultados, que é tentar, através de uma maior participação - nomeadamente ao nível do programa - trazer para a política do Porto gente de qualidade. Mas os problemas com a Distrital são incontornáveis, já que não contará com apoios do aparelho do PSD. RR - Esses problemas existiram muito antes de se sonhar que o candidato era eu. Não é importante em termos de escolha dos portuenses, que não vão votar mais ou menos em mim por esses factos. A minha candidatura é manifestamente de ruptura com o sistema. E essa ruptura não só é para fora - em termos de política nacional e local - como também acaba por ser em termos internos. Quando internamente se escolhe um candidato de uma forma distinta do que é habitual, não posso estar à espera de unanimidade. O que é habitual no regime dito democrático é os diversos partidos reunirem as suas comissões políticas, verem quais são os melhores candidatos, apresentam-no ao eleitorado e tentam conquistá-lo. À medida a que a democracia se foi degradando, chegámos ao ponto actual: faz-se uma sondagem, vê-se quem é o mais popular e escolhe-se assim o candidato, como quem vende uma pasta de dentes ou fabrica um novo sabonete. Isso é errado: uma das nobrezas da democracia é a conquista do eleitorado para as minhas posições e não oferecer aquilo que a população quer. A democracia também tem uma componente pedagógica, que se perdeu a partir do momento em que os candidatos escolhidos são aqueles que têm mais notoriedade pública e aparecem mais na televisão. Tenho consciência que se o candidato fosse escolhido pelo grau de notoriedade não seria eu. Se fui escolhido, é porque represento uma forma diferente de estar e de querer o Porto e que as pessoas apreciam. Nessa perspectiva, quer a derrota quer a vitória serão sempre suas e não do PSD. RR - Não digo tanto. Derrota penso que não vai acontecer - pelo que tenho visto, penso que o PSD vai subir muito e estou sinceramente convencido de que Fernando Gomes vai perder, por tudo aquilo que fez ao Porto, por todas as suas traições. No resultado das eleições de Dezembro vão-se medir duas coisas: o desempenho do candidato e o que valem os partidos. A vitória será minha, mas também do PSD e do PP. Qual é o patamar a partir do qual considera que a coligação saiu vitoriosa? RR: O problema só se coloca entre correr bem e correr muito bem. Correr bem é a votação subir bastante e ter mais vereadores e correr muito bem é ganhar. A coligação tem quatro vereadores, o quer dizer que com seis pode ganhar. Cada voto que se conquista ao PS são dois, porque é menos um voto nos socialistas. Se não vencer, vai assumir a função de vereador? RR - Eu sou candidato a presidente da Câmara. Se o for, não farei aquilo que fez Fernando Gomes, ou seja, não me vou embora a meio. Se for eleito, lá ficarei os quatro anos. Se não for eleito, ficarei vereador - sem pelouro, porque tem de haver oposição. Gostaria é de saber se o candidato socialista coloca a hipótese de ficar como meu vereador. «Juntas metropolitanas não funcionam» As juntas metropolitanas de Lisboa e do Porto já não cumprem as funções para que foram criadas. Por isso, Rui Rio tem em preparação um projecto sobre o alargamento das juntas a mais regiões. Diário Económico - A Junta Metropolitana do Porto (JMP) não funciona... Rui Rio - Não. Qual é a sua posição sobre o assunto em termos de competências e atribuições? RR - É uma matéria que está em debate no interior da candidatura. Se há dez anos me propusessem o modelo em vigor eu diria que ele funcionaria. Mas verifica-se que o grosso dos presidentes de câmaras não foi capaz de ter uma visão metropolitana da sua região, ficando arreigado a uma visão municipal. Assim, é difícil as coisas funcionarem. Constato com tristeza que as pessoas - ao nível da JMP não funcionam. Nessa medida, alguma coisa tem que mudar. A posição radical da eleição directa das juntas parece-me, e não sou constitucionalista, impossível porque os portugueses disseram "não" à regionalização. Há soluções intermédias: nomeação de responsáveis máximos tendo por princípio que nenhum dos presidentes de câmaras o seja; eleições indirectas através das assembleias municipais, com ou sem assembleias de freguesia; há um modelo misto. Mas neste momento só lhe posso dizer que o modelo actual já não funciona. Mas em termos de competências? RR - Podia ter mais, mas se não estão a funcionar, não se lhe podem atribuir mais competências. Há que encontrar um modelo de funcionamento mais capaz que o actual. O que me parece é que o debate deve ser lançado, até porque a lógica organizacional é cada vez mais metropolitana. afsousa@economica.iol.pt

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Autárquicas - Rui Rio: «A minha candidatura à câmara do Porto é de ruptura com o PSD»

Rui Rio, 43 anos, economista, deputado e ex-secretário geral do PSD com Marcelo Rebelo de Sousa, é o candidato da coligação PSD/PP à Câmara do Porto. por António Freitas de Sousa Rio diz que avançou porque uma parte da estrutura regional do seu partido clamava há muito tempo uma renovação. E assume que é uma candidatura de ruptura com a actual postura enviezada do PSD, que procura as estrelas televisivas em detrimento das ideias. Diário Económico - Concorre à Câmara do Porto por um partido que o «expulsou» da o cargo de secretário-geral e à revelia de uma Distrital que não o apoia. O que é que o faz correr? Rui Rio - O importante para os portuenses não são as questões internas de cada partido, aliás, as questões internas do PS relativamente à Câmara do Porto ainda são mais difíceis que no PSD. O que os cidadãos valorizam é o estado em que está a cidade, que é mau. Entendi que é importante para o Porto e até mesmo para o país que surja uma alternativa forte, mas acima de tudo uma alternativa muito diferente daquilo que foi a gestão socialista. O resultado final dessa gestão é a insegurança, o caos do trânsito e do urbanismo, uma política social grave, etc... Nas autárquicas, não vai estar em causa escolher entre PS e PSD - que é mais ou menos a mesma coisa - mas diferenças de fundo na maneira de ver a cidade. Por outro lado, há outra matéria que se prende com a eleição propriamente dita e não tanto com os resultados, que é tentar, através de uma maior participação - nomeadamente ao nível do programa - trazer para a política do Porto gente de qualidade. Mas os problemas com a Distrital são incontornáveis, já que não contará com apoios do aparelho do PSD. RR - Esses problemas existiram muito antes de se sonhar que o candidato era eu. Não é importante em termos de escolha dos portuenses, que não vão votar mais ou menos em mim por esses factos. A minha candidatura é manifestamente de ruptura com o sistema. E essa ruptura não só é para fora - em termos de política nacional e local - como também acaba por ser em termos internos. Quando internamente se escolhe um candidato de uma forma distinta do que é habitual, não posso estar à espera de unanimidade. O que é habitual no regime dito democrático é os diversos partidos reunirem as suas comissões políticas, verem quais são os melhores candidatos, apresentam-no ao eleitorado e tentam conquistá-lo. À medida a que a democracia se foi degradando, chegámos ao ponto actual: faz-se uma sondagem, vê-se quem é o mais popular e escolhe-se assim o candidato, como quem vende uma pasta de dentes ou fabrica um novo sabonete. Isso é errado: uma das nobrezas da democracia é a conquista do eleitorado para as minhas posições e não oferecer aquilo que a população quer. A democracia também tem uma componente pedagógica, que se perdeu a partir do momento em que os candidatos escolhidos são aqueles que têm mais notoriedade pública e aparecem mais na televisão. Tenho consciência que se o candidato fosse escolhido pelo grau de notoriedade não seria eu. Se fui escolhido, é porque represento uma forma diferente de estar e de querer o Porto e que as pessoas apreciam. Nessa perspectiva, quer a derrota quer a vitória serão sempre suas e não do PSD. RR - Não digo tanto. Derrota penso que não vai acontecer - pelo que tenho visto, penso que o PSD vai subir muito e estou sinceramente convencido de que Fernando Gomes vai perder, por tudo aquilo que fez ao Porto, por todas as suas traições. No resultado das eleições de Dezembro vão-se medir duas coisas: o desempenho do candidato e o que valem os partidos. A vitória será minha, mas também do PSD e do PP. Qual é o patamar a partir do qual considera que a coligação saiu vitoriosa? RR: O problema só se coloca entre correr bem e correr muito bem. Correr bem é a votação subir bastante e ter mais vereadores e correr muito bem é ganhar. A coligação tem quatro vereadores, o quer dizer que com seis pode ganhar. Cada voto que se conquista ao PS são dois, porque é menos um voto nos socialistas. Se não vencer, vai assumir a função de vereador? RR - Eu sou candidato a presidente da Câmara. Se o for, não farei aquilo que fez Fernando Gomes, ou seja, não me vou embora a meio. Se for eleito, lá ficarei os quatro anos. Se não for eleito, ficarei vereador - sem pelouro, porque tem de haver oposição. Gostaria é de saber se o candidato socialista coloca a hipótese de ficar como meu vereador. «Juntas metropolitanas não funcionam» As juntas metropolitanas de Lisboa e do Porto já não cumprem as funções para que foram criadas. Por isso, Rui Rio tem em preparação um projecto sobre o alargamento das juntas a mais regiões. Diário Económico - A Junta Metropolitana do Porto (JMP) não funciona... Rui Rio - Não. Qual é a sua posição sobre o assunto em termos de competências e atribuições? RR - É uma matéria que está em debate no interior da candidatura. Se há dez anos me propusessem o modelo em vigor eu diria que ele funcionaria. Mas verifica-se que o grosso dos presidentes de câmaras não foi capaz de ter uma visão metropolitana da sua região, ficando arreigado a uma visão municipal. Assim, é difícil as coisas funcionarem. Constato com tristeza que as pessoas - ao nível da JMP não funcionam. Nessa medida, alguma coisa tem que mudar. A posição radical da eleição directa das juntas parece-me, e não sou constitucionalista, impossível porque os portugueses disseram "não" à regionalização. Há soluções intermédias: nomeação de responsáveis máximos tendo por princípio que nenhum dos presidentes de câmaras o seja; eleições indirectas através das assembleias municipais, com ou sem assembleias de freguesia; há um modelo misto. Mas neste momento só lhe posso dizer que o modelo actual já não funciona. Mas em termos de competências? RR - Podia ter mais, mas se não estão a funcionar, não se lhe podem atribuir mais competências. Há que encontrar um modelo de funcionamento mais capaz que o actual. O que me parece é que o debate deve ser lançado, até porque a lógica organizacional é cada vez mais metropolitana. afsousa@economica.iol.pt

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