PS-Açores vai ao congresso mais para ensinar do que para exigir

04-05-2001
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PS-Açores Vai ao Congresso Mais para Ensinar do Que para Exigir

Por NUNO MENDES

Sexta-feira, 4 de Maio de 2001 Carlos César bem pode ser o exemplo oposto dos erros socialistas. O seu partido, nos Açores, foi construído por si. Teve por cópia o modelo de António Guterres e é o único que pode mostrar sucesso. Este fim-de-semana, quando Carlos César, líder dos socialistas açorianos, entrar no Pavilhão Atlântico, terá direito a ser mais escutado que o habitual, se decidir falar, coisa que até ontem ainda estava a ponderar. A "guterrização" açoriana é um caso de sucesso e o ideólogo desta nova adjectivação, António Guterres, quando olhar para o presidente do Governo açoriano pouco mais poderá fazer que vergar-se à inveja e a muita cobiça: com uma estratégia igual, Carlos César conseguiu para o PS/Açores tudo o que os socialistas ambicionavam para a República e não foram capazes de obter nas legislativas de 1999. A coroa de glória é a maioria absoluta obtida no passado mês de Outubro, a primeira do PS a nível nacional e conseguida depois de quatro anos de minoria na Assembleia Regional, totalmente dependente do PSD e do PP. Os métodos utilizados por Carlos César para chegar ao poder são decalcados da estratégia de António Guterres: desde a palavra diálogo, repetida à exaustão, passando pelas "T-shirts" com o coração, não há nada que não tenha sido importado de Lisboa para Ponta Delgada. O hino de Vangelis, o discurso, a pose, as palavras, tudo em Carlos César fazia lembrar António Guterres. O próprio César parecia fazer questão de vincar as semelhanças. Mas, com o tempo, notaram-se as diferenças. As "paixões" nunca entraram no discurso, ficaram de parte para, explica um membro do PS/Açores, "não serem depois utilizadas como arma de arremesso em caso de fracasso". Mas há mais diferenças óbvias na metodologia seguida por Carlos César. Primeiro; quem manda no Executivo é mesmo o presidente do Governo, nada do que é decidido, pensado ou executado é aprovado sem o consentimento prévio do próprio César. Muitas vezes, é o próprio presidente a "aconselhar" os seus secretários sobre os rumos a tomar e não é nada raro ver Carlos César, no plenário do Parlamento, a comunicar aos secretários regionais qual a resposta que deve ser dada a deputados da oposição. Seis anos depois do PS alcançar o poder no país (e cinco depois de ter conquistado o Governo Regional, após vinte anos de maiorias absolutas sociais-democratas), Carlos César chega ao congresso como um exemplo: os "marretas" do partido foram todos afastados em dois congressos, não há um único antigo membro do Governo Regional que se atreva a falar em público contra as opções do Executivo açoriano; a bancada parlamentar só não é mais disciplinada porque seria impossível conseguir maior alinhamento; e, no caso açoriano, são várias as provas que, no PS/Açores, Roma não paga mesmo aos traidores ou a qualquer outro possível foco de instabilidade. Não há um crítico que não tenha sido afastado para lugares secundários, em silêncio, como convém. Durante os próximos três dias, será difícil ver Carlos César a negociar lugares com António Guterres nos cargos dirigentes do partido. "Teremos os lugares que sejam nossos por direito", disse ao PÚBLICO um dos participantes no congresso eleito pelo arquipélago. Mas há nomes a ter em conta no alinhamento que vier a ser feito pelo secretário-geral dos socialistas. Por exemplo, saber onde fica Vasco Cordeiro, líder da bancada do PS no Parlamento açoriano, responsável pela harmonia Assembleia/Governo Regional - depois de quatro ano desconchavados, em que os deputados socialistas foram sucessivamente humilhados pela oposição em praticamente todos os debates - e chamado por Carlos César para "colocar ordem na casa". Se há delfins - ambos, César e Cordeiro, odeiam profundamente a expressão -, o líder parlamentar do PS/Açores é o único que ocupa um lugar especial nas atenções do presidente açoriano. Basta ver o percurso seguido por Cordeiro desde o dia em que terminou o curso de Direito em Coimbra e chegou a Ponta Delgada, tinha então 25 anos. Pouco tempo depois, foi o escolhido por César para liderar a JS. Aos 27, chegou a vice-presidente do partido, é também o porta-voz, presidente da bancada parlamentar, e um dos responsáveis pela coordenação das autárquicas, isto para além de já representar assiduamente Carlos César nas reuniões do PS em Lisboa. As contas sobre o poder do PS/Açores devem ser feitas a partir dos lugares onde César e Cordeiro se sentarem a partir da próxima segunda-feira. Se bem que ambos não se preocupem muito com isso. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Alegre não vai ao conclave

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