Arbitragem

17-04-2002
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21/5/99

A arbitragem e a escola Uma grande preocupação, dir-se-ia mesmo a principal, que tem vindo a ser sentida pelos verdadeiros responsáveis da arbitragem, e nomeadamente por aqueles que estão mais vocacionados para a função, é como se conseguirão nos tempos futuros candidatos à frequência dos cursos de árbitros. Penso que os Conselhos de Arbitragem estão sensíveis a este problema. Daí a preocupação com que o encaram, tendo em vista o recrutamento de novos elementos que possam garantir a continuidade e a necessária renovação dos quadros.

Já se sabe que se perspectivam e estão mesmo em marcha acelerada grandes mudanças de mentalidades para o árbitro do futuro. Desde logo o conceito de profissionalismo com disponibilidade quase exclusiva, que não há-de tardar para os árbitros das categorias superiores. Vai implicar forçosamente que se comece a dar, desde já, uma outra atenção ao sector específico da formação. Porque os árbitros ditos profissionais (se tiverem conseguido alcançar a 1ª categoria ou a internacionalização), deverão ser portadores de sólidos conhecimentos técnicos e possuidores de assinalável condição física, desideratos que só se conseguem se se tiverem iniciado na função muito cedo, começando logo aí a sua aprendizagem. Incentivem-se os cursos de "Árbitro-jovem" a nível de todo o país, porque nessas idades é mais fácil "trabalhar" os jovens, tendo em vista poderem-se alcançar os melhores objectivos.

Sabe-se que nem todos estes jovens conseguirão singrar. Mas talvez se, consciencializados dos verdadeiros princípios da convivência desportiva, se tornem praticantes desportivos de gabarito, respeitadores do adversário e do árbitro, ou até só, espectadores que apreciem e compreendam o desempenho de quem julga dentro de campo.

Como poderá então ser feito o recrutamento?

Comece-se pela escola. Poderemos e deveremos aproveitar para o específico sector da arbitragem todos os jovens que, gostando de futebol, não o possam praticar pelos mais variados motivos. Mas não pode ser "empurrado" para árbitro o aluno que tem menos jeito para o futebol. Conceito errado e que tem de ser combatido sempre. Estes jovens poderão constituir um terreno privilegiado de recrutamento e havendo quantidade, haverá forçosamente qualidade.

E como os vamos cativar?

A APAF-Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol iniciou já de algum tempo a esta parte um périplo por algumas escolas preparatórias e secundárias, dando a conhecer o que é a arbitragem do futebol. Será uma semente que se está a lançar, num trabalho que esta Associação de Classe entendeu levar a cabo. Esperemos que com bons resultados no futuro. Mas não deixa de ser sintomático e demonstrativo da actual aversão que alguns jovens sentem pela arbitragem do futebol que, das escolas já visitadas até agora e onde participaram numerosos grupos de jovens de diversas idades, a par de perguntas muito bem fundamentadas e estruturadas, tenham surgido outras tantas focando muito concretamente a palavra "corrupção" e tudo o que lhe está subjacente.

Depois será que as declarações, por acaso sempre actuais de alguns intervenientes directos no fenómeno da bola, ajudam a cativar jovens e até menos jovens para a frequência de cursos de arbitragem? E porque será que qualquer acontecimento ligado com a arbitragem do futebol atinge formas de mediatização excessiva, com honras de 1ª página nos jornais, ou mesmo de abertura nos noticiários das televisões e rádios?

Quando qualquer um de nós (árbitros, ex-árbitros ou outras pessoas ligadas ao sector) trouxer jovens para a arbitragem, vamos precisar de lhes explicar a verdade, a transparência, a responsabilidade. Ao mesmo tempo, todas as virtudes, alegrias e também tristezas que as funções e árbitro podem acarretar. Com os jovens é fundamental que se seja verdadeiro e que nada se lhes esconda. Esta mensagem é dirigida a indivíduos na idade da formação da sua própria personalidade. Sendo outros os tempos, os jovens são facilmente aliciados e desviados para outras actividades, com muito menor risco e que não obrigam na prática a tantos sacrifícios. A actividade dos árbitros jovens deve ser condicionada à direcção dos jogos dos escalões etários mais mais baixos (por exemplo, escolas e infantis) ou à direcção de desafios na escola que freq uentam (inter-turmas), disputados por outros jovens da sua idade. E claro, com um bom critério de rotatividade, de modo que muitos deles possam jogar e arbitrar, incutindo-se-lhes assim o gosto pelas questões da arbitragem. A vivência de uma nova experiência que não é fácil, pode constituir para eles um permanente desafio. Nestes jogos e actividades, os alunos podem testar a sua capacidade e apetência para as funções de árbitros. Ao mesmo tempo é fundamental que os responsáveis educativos transmitam ao jovem árbitro que a sua principal função é contribuir, enquanto juiz, para a evolução do jogo, intervindo o menos possível, só o devendo fazer quando surjam infracções técnicas e disciplinares às leis.

É importante reter que os escalões juvenis percebem por vezes melhor os próprios colegas do que outros árbitros mais velhos e de grande categoria. A arbitragem nos jovens é uma importante riqueza humana, desportiva e social. Ensinar um jovem a ser árbitro, é sempre de um enorme alcance educativo. Para isso precisam de receber uma formação global e específica neste campo. Se o verdadeiro espírito desportivo com que pretendemos educar os jovens começa na escola, na sua relação de permanente educação com os colegas e professores, temos de insistir para que consigamos envolver esses jovens nas acções relacionadas com a arbitragem.

Cabe aqui uma referência aos professores de educação física. Porque é na escola que o jovem tem um acesso mais facilitado à informação que os professores de educação física lhe possam facultar. Estes, dando seguimento ao seu papel de educadores, podem transmitir aos alunos candidatos-árbitros, não só as matérias teórico-práticas relacionadas com a arbitragem da modalidade escolhida pelos jovens, como e muito especialmente noções tão fundamentais como justiça, «fair-play», isenção, espírito desportivo e respeito pela figura daquele que é o garante da aplicação correcta das regras.

No grau acima desta pirâmide, os técnicos de arbitragem (monitores e instrutores devidamente habilitados), aquando dos cursos de candidatos, transmitem aos seus alunos que a arbitragem correctamente efectuada, valida o resultado de um jogo, que o árbitro em função disso aplica a lei, é a autoridade e administra a justiça. Por isso deve ser respeitado e é insubstituível.

Gostaria que retivessem que na escola a arbitragem é uma componente da prática desportiva. Somente diferente, mas complementar ao jogo. O objectivo é que tudo decorra com normalidade. A arbitragem pode ser uma experiência inesquecível e enriquecedora no desenvolvimento integral dos jovens. Mais, prepara-os para a sua vida em sociedade, onde existem regras básicas a cumprir e onde, muitos deles, vão ser chamados no futuro a dirigir pessoas.

É evidente que a ideia de desenvolver a arbitragem nas escolas, terá como ponto final a possível passagem para a actividade federada. Muitos jovens têm vindo assim a integrar as estruturas associativas, mas em muitos casos, pouco tempo depois abandonam. Apetece perguntar porquê.

Para mim, por 3 motivos essenciais:

a) estão habituados a valores éticos e morais que depois não encontram.

b) Os resultados são muito importantes no desporto federado, em que se cultiva demasiado, segundo afirmam, o "ganhar a qualquer custo".

c) Outros ainda, são incapazes de aguentar pouca transparência.

Urge pensar nestas causas, como também será importante conhecer outras razões que estejam a contribuir para o afastamento dos jovens do sector da arbitragem. Os próximos passos serão dados, por aqueles que gostam da arbitragem, no desenvolvimento das ideias apresentadas e doutras que, estou certo, haverá, no sentido de se alcançarem os melhores objectivos.

Vamos a isso que se faz tarde. É uma frase feita e usada amiúde. Todavia, ‘encaixa’ bem no termo deste artigo. VITOR REIS (Ex-árbitro da 1ª Categoria Nacional)

21/5/99

A arbitragem e a escola Uma grande preocupação, dir-se-ia mesmo a principal, que tem vindo a ser sentida pelos verdadeiros responsáveis da arbitragem, e nomeadamente por aqueles que estão mais vocacionados para a função, é como se conseguirão nos tempos futuros candidatos à frequência dos cursos de árbitros. Penso que os Conselhos de Arbitragem estão sensíveis a este problema. Daí a preocupação com que o encaram, tendo em vista o recrutamento de novos elementos que possam garantir a continuidade e a necessária renovação dos quadros.

Já se sabe que se perspectivam e estão mesmo em marcha acelerada grandes mudanças de mentalidades para o árbitro do futuro. Desde logo o conceito de profissionalismo com disponibilidade quase exclusiva, que não há-de tardar para os árbitros das categorias superiores. Vai implicar forçosamente que se comece a dar, desde já, uma outra atenção ao sector específico da formação. Porque os árbitros ditos profissionais (se tiverem conseguido alcançar a 1ª categoria ou a internacionalização), deverão ser portadores de sólidos conhecimentos técnicos e possuidores de assinalável condição física, desideratos que só se conseguem se se tiverem iniciado na função muito cedo, começando logo aí a sua aprendizagem. Incentivem-se os cursos de "Árbitro-jovem" a nível de todo o país, porque nessas idades é mais fácil "trabalhar" os jovens, tendo em vista poderem-se alcançar os melhores objectivos.

Sabe-se que nem todos estes jovens conseguirão singrar. Mas talvez se, consciencializados dos verdadeiros princípios da convivência desportiva, se tornem praticantes desportivos de gabarito, respeitadores do adversário e do árbitro, ou até só, espectadores que apreciem e compreendam o desempenho de quem julga dentro de campo.

Como poderá então ser feito o recrutamento?

Comece-se pela escola. Poderemos e deveremos aproveitar para o específico sector da arbitragem todos os jovens que, gostando de futebol, não o possam praticar pelos mais variados motivos. Mas não pode ser "empurrado" para árbitro o aluno que tem menos jeito para o futebol. Conceito errado e que tem de ser combatido sempre. Estes jovens poderão constituir um terreno privilegiado de recrutamento e havendo quantidade, haverá forçosamente qualidade.

E como os vamos cativar?

A APAF-Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol iniciou já de algum tempo a esta parte um périplo por algumas escolas preparatórias e secundárias, dando a conhecer o que é a arbitragem do futebol. Será uma semente que se está a lançar, num trabalho que esta Associação de Classe entendeu levar a cabo. Esperemos que com bons resultados no futuro. Mas não deixa de ser sintomático e demonstrativo da actual aversão que alguns jovens sentem pela arbitragem do futebol que, das escolas já visitadas até agora e onde participaram numerosos grupos de jovens de diversas idades, a par de perguntas muito bem fundamentadas e estruturadas, tenham surgido outras tantas focando muito concretamente a palavra "corrupção" e tudo o que lhe está subjacente.

Depois será que as declarações, por acaso sempre actuais de alguns intervenientes directos no fenómeno da bola, ajudam a cativar jovens e até menos jovens para a frequência de cursos de arbitragem? E porque será que qualquer acontecimento ligado com a arbitragem do futebol atinge formas de mediatização excessiva, com honras de 1ª página nos jornais, ou mesmo de abertura nos noticiários das televisões e rádios?

Quando qualquer um de nós (árbitros, ex-árbitros ou outras pessoas ligadas ao sector) trouxer jovens para a arbitragem, vamos precisar de lhes explicar a verdade, a transparência, a responsabilidade. Ao mesmo tempo, todas as virtudes, alegrias e também tristezas que as funções e árbitro podem acarretar. Com os jovens é fundamental que se seja verdadeiro e que nada se lhes esconda. Esta mensagem é dirigida a indivíduos na idade da formação da sua própria personalidade. Sendo outros os tempos, os jovens são facilmente aliciados e desviados para outras actividades, com muito menor risco e que não obrigam na prática a tantos sacrifícios. A actividade dos árbitros jovens deve ser condicionada à direcção dos jogos dos escalões etários mais mais baixos (por exemplo, escolas e infantis) ou à direcção de desafios na escola que freq uentam (inter-turmas), disputados por outros jovens da sua idade. E claro, com um bom critério de rotatividade, de modo que muitos deles possam jogar e arbitrar, incutindo-se-lhes assim o gosto pelas questões da arbitragem. A vivência de uma nova experiência que não é fácil, pode constituir para eles um permanente desafio. Nestes jogos e actividades, os alunos podem testar a sua capacidade e apetência para as funções de árbitros. Ao mesmo tempo é fundamental que os responsáveis educativos transmitam ao jovem árbitro que a sua principal função é contribuir, enquanto juiz, para a evolução do jogo, intervindo o menos possível, só o devendo fazer quando surjam infracções técnicas e disciplinares às leis.

É importante reter que os escalões juvenis percebem por vezes melhor os próprios colegas do que outros árbitros mais velhos e de grande categoria. A arbitragem nos jovens é uma importante riqueza humana, desportiva e social. Ensinar um jovem a ser árbitro, é sempre de um enorme alcance educativo. Para isso precisam de receber uma formação global e específica neste campo. Se o verdadeiro espírito desportivo com que pretendemos educar os jovens começa na escola, na sua relação de permanente educação com os colegas e professores, temos de insistir para que consigamos envolver esses jovens nas acções relacionadas com a arbitragem.

Cabe aqui uma referência aos professores de educação física. Porque é na escola que o jovem tem um acesso mais facilitado à informação que os professores de educação física lhe possam facultar. Estes, dando seguimento ao seu papel de educadores, podem transmitir aos alunos candidatos-árbitros, não só as matérias teórico-práticas relacionadas com a arbitragem da modalidade escolhida pelos jovens, como e muito especialmente noções tão fundamentais como justiça, «fair-play», isenção, espírito desportivo e respeito pela figura daquele que é o garante da aplicação correcta das regras.

No grau acima desta pirâmide, os técnicos de arbitragem (monitores e instrutores devidamente habilitados), aquando dos cursos de candidatos, transmitem aos seus alunos que a arbitragem correctamente efectuada, valida o resultado de um jogo, que o árbitro em função disso aplica a lei, é a autoridade e administra a justiça. Por isso deve ser respeitado e é insubstituível.

Gostaria que retivessem que na escola a arbitragem é uma componente da prática desportiva. Somente diferente, mas complementar ao jogo. O objectivo é que tudo decorra com normalidade. A arbitragem pode ser uma experiência inesquecível e enriquecedora no desenvolvimento integral dos jovens. Mais, prepara-os para a sua vida em sociedade, onde existem regras básicas a cumprir e onde, muitos deles, vão ser chamados no futuro a dirigir pessoas.

É evidente que a ideia de desenvolver a arbitragem nas escolas, terá como ponto final a possível passagem para a actividade federada. Muitos jovens têm vindo assim a integrar as estruturas associativas, mas em muitos casos, pouco tempo depois abandonam. Apetece perguntar porquê.

Para mim, por 3 motivos essenciais:

a) estão habituados a valores éticos e morais que depois não encontram.

b) Os resultados são muito importantes no desporto federado, em que se cultiva demasiado, segundo afirmam, o "ganhar a qualquer custo".

c) Outros ainda, são incapazes de aguentar pouca transparência.

Urge pensar nestas causas, como também será importante conhecer outras razões que estejam a contribuir para o afastamento dos jovens do sector da arbitragem. Os próximos passos serão dados, por aqueles que gostam da arbitragem, no desenvolvimento das ideias apresentadas e doutras que, estou certo, haverá, no sentido de se alcançarem os melhores objectivos.

Vamos a isso que se faz tarde. É uma frase feita e usada amiúde. Todavia, ‘encaixa’ bem no termo deste artigo. VITOR REIS (Ex-árbitro da 1ª Categoria Nacional)

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