As TIC na aula de matemática

01-09-2004
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O presente relato surge de uma entrevista feita aos professores de matemática Vicência Oliveira e Vítor Reis, da Escola Secundária da Bela Vista. Estes professores disponibilizaram-se a aplicar, com os seus alunos do 9º ano, duas fichas que se encontram publicadas na maleta pedagógica para a matemática (em www.ese.ips.pt/nonio/maleta/index.html), com o recurso ao programa Geometer's Sketchpad. Como surgiu a ideia? Em Junho de 2003 reunimos com alguns professores da Escola Secundária da Bela Vista, com o intuito de apresentar os materiais que tínhamos disponíveis on-line. O professor Vítor Reis referiu, na altura, que os seus alunos do 8º ano apresentavam algumas dificuldades e que por isso estaria interessado em aplicar, no ano lectivo seguinte (2003/2004), as fichas para o 9º ano sobre o tema circunferência, uma vez que iria ficar com as mesmas turmas. Assim, este professor apresentou esta proposta em reunião de grupo e a colega Vicência disponibilizou-se também a realizar esta actividade, uma vez que, segundo ela, os alunos solicitam frequentemente actividades diferentes para a matemática, como vídeos ou visitas de estudo. Apesar de as turmas serem diferentes os dois professores definiram estratégias em conjunto. Caracterização A turma da professora Vicência Oliveira tem 23 alunos e as turmas do professor Vítor Reis têm 21 e 12 alunos (o número de alunos presentes na sessão foi no entanto inferior, porque alguns alunos encontravam-se em visita de estudo), sendo que estas últimas apresentam resultados menos satisfatórios, uma vez que os alunos são na sua maioria, desmotivados em relação à matemática. Assim o trabalho desenvolveu-se com 30 alunos divididos em dois grupos de 15 alunos cada e foram utilizados 6 computadores do Centro de Recursos. Desenvolvimento A experiência foi desenvolvida no final do 2º período durante um bloco e meio (90 min + 45 min) e as fichas utilizadas foram a Ficha 1 - Relação entre ângulos ao centro, ângulos inscritos e seus arcos correspondentes e a Ficha 2 - Ângulos ao centro e ângulos inscritos - Propriedades. Na aula anterior à aplicação das fichas a professora Vicência só introduziu noções de vocabulário como por exemplo ângulo, tangente, etc. No entanto, o professor Vítor chegou a definir ângulo ao centro e ângulo inscrito e a trabalhar algumas aplicações. Uma vez que só existiam 6 computadores disponíveis no Centro de Recursos foi estabelecido um regime de rotatividade. Os professores distribuíram 2 alunos por computador, ficando 3 alunos a aguardar que um dos grupos terminasse a exploração da tarefa, logo que isso aconteceu estes 3 alunos tomaram o seu lugar para a concretização da actividade, enquanto o primeiro grupo, na posse dos dados que havia recolhido, escreveu a conclusão. Os professores optaram por distribuir as fichas sem qualquer explicação, tendo-lhes sido dito que todos os passos se encontravam bem especificados. As dúvidas que surgiram foram relacionadas com o programa e rapidamente foram ultrapassadas, tendo por isso os alunos apresentado mais facilidade na concretização da segunda tarefa. Balanço final dos professores Vicência Quando ocorreram estas aulas alguns alunos tinham ido em visita de estudo o que possibilitou à professora verificar que sem o auxílio do programa houve mais dificuldade em perceberem a matéria, então os que tinham utilizado o computador explicaram aos outros o que tinham aprendido tendo surgido discussões do tipo "Então não te lembras da cor da linha quando era ângulo inscrito?" ou " O que é importante é o vértice, já no computador tínhamos que marcar sempre ao meio." A professora considera que este tipo de actividades: · incentiva o investimento no desenvolvimento de capacidades, tal como o raciocínio e a capacidade crítica que se situam para além do cálculo; · motiva os alunos para a matéria possibilitando o envolvimento de todos; · desenvolve a autonomia na actividade matemática tornando-a mais acessível; · os alunos não questionam o porquê das coisas, porque visualizam; · promove uma investigação e exploração por parte dos alunos, para além do que era pedido nas fichas; · originou algumas alterações a nível da planificação anual da disciplina, que no entanto foram superadas nas aulas seguintes e haverá ainda um trabalho paralelo com o Estudo Acompanhado. Vítor Como balanço final o professor considera que: · como já tinha leccionado esta matéria antes, os alunos consolidaram conhecimentos e procuraram estabelecer comparação; · mesmo os alunos mais fracos conseguiram perceber as propriedades que já tinham dado, “sentiram” a matéria e conseguiram tirar conclusões; · no início houve algum atraso motivado pelos poucos conhecimentos que os alunos têm da utilização do computador. Apreciação dos alunos Após esta experiência foi solicitado aos alunos que respondessem a um questionário onde, entre outras, se podem ler as seguintes opiniões: · "Para além de acreditar no que nos dizem ficámos a sabê-lo mesmo"; · "O computador ajuda a entender e a memorizar as propriedades dos ângulos na circunferência"; · "É bom visionar as regras que estão no livro registadas no computador"; · "Acho que é uma maneira melhor e mais motivante de aprender esta matéria"; · "Conseguimos ver os resultados graficamente. As desvantagens são para quem não sabe trabalhar com os computadores"; · "Incentiva mais os alunos pois vêem o resultado ali e não têm que imaginar o resultado"; · "Aqueles alunos com mais dificuldades conseguiram perceber melhor a matemática". Conclusão Após a entrevista aos alunos e a análise dos questionários feitos aos alunos, há alguns pontos que gostaria de salientar não só porque poderão ajudar outros colegas a implementar este tipo de experiências, mas também porque há dados reveladores da forma como os alunos se “sentem” face às tecnologias. Nesta experiência os professores procuraram tirar partido das potencialidades do Geometer’s Sketcpad que segundo Eduardo Veloso, este tipo de software traz a vantagem da visualização da geometria no que concerne às suas propriedades, relações e formas, quando potenciado o seu carácter dinâmico. Os professores Vicência e Vítor decidiram trabalhar em conjunto o que muitas vezes facilita a abordagem de novas metodologias. Este facto ajudou-os a decidir qual a melhor forma de contornar obstáculos, como: o que fazer se os computadores não chegam? Ou, como recuperar o tempo que se “perde” quando se implementa este tipo de actividades? Os professores não partilharam só ideias, partilharam também o espaço sala de aula, uma vez que o professor Vítor deu apoio à colega durante a primeira tarefa tendo ele também ganho alguma percepção da forma como implementar estas tarefas com os seus alunos. As aprendizagens fizeram-se de forma autónoma, dado que a partir de certa altura os alunos já não queriam a ajuda dos professores, porque, diziam eles, já sabiam e queriam ser eles próprios a chegarem às conclusões. É de realçar que muitos alunos referiram, no questionário, as dificuldades que sentem na utilização do computador, deixando-nos a sensação de que muito ainda há para fazer, no que concerne à integração das TIC na Escola e mais especificamente no currículo. Mesmo com poucos computadores ou com a necessidade de fazer acertos de planificação, este tipo de experiências pode ser implementado, dando oportunidade a todos de experimentar a alegria da descoberta. Entrevista conduzida por Isabel Gorgulho em 20 de Abril de 2004 Relato redigido em Abril de 2004

O presente relato surge de uma entrevista feita aos professores de matemática Vicência Oliveira e Vítor Reis, da Escola Secundária da Bela Vista. Estes professores disponibilizaram-se a aplicar, com os seus alunos do 9º ano, duas fichas que se encontram publicadas na maleta pedagógica para a matemática (em www.ese.ips.pt/nonio/maleta/index.html), com o recurso ao programa Geometer's Sketchpad. Como surgiu a ideia? Em Junho de 2003 reunimos com alguns professores da Escola Secundária da Bela Vista, com o intuito de apresentar os materiais que tínhamos disponíveis on-line. O professor Vítor Reis referiu, na altura, que os seus alunos do 8º ano apresentavam algumas dificuldades e que por isso estaria interessado em aplicar, no ano lectivo seguinte (2003/2004), as fichas para o 9º ano sobre o tema circunferência, uma vez que iria ficar com as mesmas turmas. Assim, este professor apresentou esta proposta em reunião de grupo e a colega Vicência disponibilizou-se também a realizar esta actividade, uma vez que, segundo ela, os alunos solicitam frequentemente actividades diferentes para a matemática, como vídeos ou visitas de estudo. Apesar de as turmas serem diferentes os dois professores definiram estratégias em conjunto. Caracterização A turma da professora Vicência Oliveira tem 23 alunos e as turmas do professor Vítor Reis têm 21 e 12 alunos (o número de alunos presentes na sessão foi no entanto inferior, porque alguns alunos encontravam-se em visita de estudo), sendo que estas últimas apresentam resultados menos satisfatórios, uma vez que os alunos são na sua maioria, desmotivados em relação à matemática. Assim o trabalho desenvolveu-se com 30 alunos divididos em dois grupos de 15 alunos cada e foram utilizados 6 computadores do Centro de Recursos. Desenvolvimento A experiência foi desenvolvida no final do 2º período durante um bloco e meio (90 min + 45 min) e as fichas utilizadas foram a Ficha 1 - Relação entre ângulos ao centro, ângulos inscritos e seus arcos correspondentes e a Ficha 2 - Ângulos ao centro e ângulos inscritos - Propriedades. Na aula anterior à aplicação das fichas a professora Vicência só introduziu noções de vocabulário como por exemplo ângulo, tangente, etc. No entanto, o professor Vítor chegou a definir ângulo ao centro e ângulo inscrito e a trabalhar algumas aplicações. Uma vez que só existiam 6 computadores disponíveis no Centro de Recursos foi estabelecido um regime de rotatividade. Os professores distribuíram 2 alunos por computador, ficando 3 alunos a aguardar que um dos grupos terminasse a exploração da tarefa, logo que isso aconteceu estes 3 alunos tomaram o seu lugar para a concretização da actividade, enquanto o primeiro grupo, na posse dos dados que havia recolhido, escreveu a conclusão. Os professores optaram por distribuir as fichas sem qualquer explicação, tendo-lhes sido dito que todos os passos se encontravam bem especificados. As dúvidas que surgiram foram relacionadas com o programa e rapidamente foram ultrapassadas, tendo por isso os alunos apresentado mais facilidade na concretização da segunda tarefa. Balanço final dos professores Vicência Quando ocorreram estas aulas alguns alunos tinham ido em visita de estudo o que possibilitou à professora verificar que sem o auxílio do programa houve mais dificuldade em perceberem a matéria, então os que tinham utilizado o computador explicaram aos outros o que tinham aprendido tendo surgido discussões do tipo "Então não te lembras da cor da linha quando era ângulo inscrito?" ou " O que é importante é o vértice, já no computador tínhamos que marcar sempre ao meio." A professora considera que este tipo de actividades: · incentiva o investimento no desenvolvimento de capacidades, tal como o raciocínio e a capacidade crítica que se situam para além do cálculo; · motiva os alunos para a matéria possibilitando o envolvimento de todos; · desenvolve a autonomia na actividade matemática tornando-a mais acessível; · os alunos não questionam o porquê das coisas, porque visualizam; · promove uma investigação e exploração por parte dos alunos, para além do que era pedido nas fichas; · originou algumas alterações a nível da planificação anual da disciplina, que no entanto foram superadas nas aulas seguintes e haverá ainda um trabalho paralelo com o Estudo Acompanhado. Vítor Como balanço final o professor considera que: · como já tinha leccionado esta matéria antes, os alunos consolidaram conhecimentos e procuraram estabelecer comparação; · mesmo os alunos mais fracos conseguiram perceber as propriedades que já tinham dado, “sentiram” a matéria e conseguiram tirar conclusões; · no início houve algum atraso motivado pelos poucos conhecimentos que os alunos têm da utilização do computador. Apreciação dos alunos Após esta experiência foi solicitado aos alunos que respondessem a um questionário onde, entre outras, se podem ler as seguintes opiniões: · "Para além de acreditar no que nos dizem ficámos a sabê-lo mesmo"; · "O computador ajuda a entender e a memorizar as propriedades dos ângulos na circunferência"; · "É bom visionar as regras que estão no livro registadas no computador"; · "Acho que é uma maneira melhor e mais motivante de aprender esta matéria"; · "Conseguimos ver os resultados graficamente. As desvantagens são para quem não sabe trabalhar com os computadores"; · "Incentiva mais os alunos pois vêem o resultado ali e não têm que imaginar o resultado"; · "Aqueles alunos com mais dificuldades conseguiram perceber melhor a matemática". Conclusão Após a entrevista aos alunos e a análise dos questionários feitos aos alunos, há alguns pontos que gostaria de salientar não só porque poderão ajudar outros colegas a implementar este tipo de experiências, mas também porque há dados reveladores da forma como os alunos se “sentem” face às tecnologias. Nesta experiência os professores procuraram tirar partido das potencialidades do Geometer’s Sketcpad que segundo Eduardo Veloso, este tipo de software traz a vantagem da visualização da geometria no que concerne às suas propriedades, relações e formas, quando potenciado o seu carácter dinâmico. Os professores Vicência e Vítor decidiram trabalhar em conjunto o que muitas vezes facilita a abordagem de novas metodologias. Este facto ajudou-os a decidir qual a melhor forma de contornar obstáculos, como: o que fazer se os computadores não chegam? Ou, como recuperar o tempo que se “perde” quando se implementa este tipo de actividades? Os professores não partilharam só ideias, partilharam também o espaço sala de aula, uma vez que o professor Vítor deu apoio à colega durante a primeira tarefa tendo ele também ganho alguma percepção da forma como implementar estas tarefas com os seus alunos. As aprendizagens fizeram-se de forma autónoma, dado que a partir de certa altura os alunos já não queriam a ajuda dos professores, porque, diziam eles, já sabiam e queriam ser eles próprios a chegarem às conclusões. É de realçar que muitos alunos referiram, no questionário, as dificuldades que sentem na utilização do computador, deixando-nos a sensação de que muito ainda há para fazer, no que concerne à integração das TIC na Escola e mais especificamente no currículo. Mesmo com poucos computadores ou com a necessidade de fazer acertos de planificação, este tipo de experiências pode ser implementado, dando oportunidade a todos de experimentar a alegria da descoberta. Entrevista conduzida por Isabel Gorgulho em 20 de Abril de 2004 Relato redigido em Abril de 2004

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