Um "reparo" do embaixador ao "senhor José Manuel de Mello"

21-02-2004
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Um "Reparo" do Embaixador ao "Senhor José Manuel de Mello"

Por JOÃO PEDRO HENRIQUES

Terça-feira, 03 de Fevereiro de 2004

O "senhor José Manuel de Mello" chegou atrasado. Tivesse chegado a horas e teria ouvido o embaixador José Cutileiro censurar-lhe, publicamente, a referência ao "vírus islâmico" que, "numa tendência que se acentuará no futuro", já se encontra "inserido nas sociedades europeias". E ainda duvidar fortemente da possibilidade de os empresários portugueses terem mérito para desempenharem um papel relevante no progresso de Portugal. "Tiveram, mas já foi há muito tempo", afirmou o embaixador.

Cutileiro, agora retirado da diplomacia activa - o seu último posto foi o de secretário-geral da União da Europa Ocidental, durante cinco anos - fez estas considerações na apresentação, ontem, na Livraria Bertrand do Picoas Plaza, em Lisboa, de "A encruzilhada - Portugal, a Europa e os Estados Unidos", da autoria de duas figuras de topo na "nova direita" portuguesa: João Marques de Almeida e Vasco Rato, ambos professores universitários na Lusíada, ambos colunistas de "O Independente", ambos comentadores televisivos.

O empresário José Manuel de Mello - o mesmo que na penúltima edição do "Expresso" defendeu a junção de Portugal à Espanha - prefaciou a obra. "Não deve haver muitos livros prefaciados por ele", vangloriou-se a editora do livro, Zita Seabra, orgulhosa do privilégio. Foi nesse prefácio que José Manuel de Mello se referiu ao tal "vírus islâmico" que se vai "inserindo" nas sociedades europeias. José Cutileiro, elegante, achou que a afirmação merecia um "reparo". Melhor seria dizer "vírus da intolerância", sugeriu.

"Senhor" foi como José Manuel de Mello foi tratado pelos autores da obra nos agradecimentos introdutórios ("agradecemos o apoio entusiástico dado pelo senhor José Manuel de Mello", escreveram). Outras pessoas constam na mesma lista: "a" Inês Serra Lopes, "o" Vitor Cunha, "o" Paulo Pinto Mascarenhas, "o" Carlos Gaspar, "o" Miguel Monjardino". Vagamente parecida só mesmo a referência ao "general Garcia Leandro".

O velho empresário apareceu na cerimónia, mas já depois do momento "solene" de apresentação. O mesmo aconteceu, aliás, com o ministro da Defesa, Paulo Portas. Tanto Vasco Rato como João Marques de Almeida são assessores no Instituto de Defesa Nacional, que Portas tutela.

O livro, esse, é apresentado como sendo uma contribuição para "uma discussão tão indispensável como inadiável" sobre o futuro das relações EUA/Europa, à luz de acontecimentos como a guerra do Iraque. "Reforçar a aliança com os Estados Unidos ou procurar uma estratégia de equilíbrio da potência dominante. Eis a interrogação central imposta pelos tempos que correm", lê-se na contracapa do livro.

Um "Reparo" do Embaixador ao "Senhor José Manuel de Mello"

Por JOÃO PEDRO HENRIQUES

Terça-feira, 03 de Fevereiro de 2004

O "senhor José Manuel de Mello" chegou atrasado. Tivesse chegado a horas e teria ouvido o embaixador José Cutileiro censurar-lhe, publicamente, a referência ao "vírus islâmico" que, "numa tendência que se acentuará no futuro", já se encontra "inserido nas sociedades europeias". E ainda duvidar fortemente da possibilidade de os empresários portugueses terem mérito para desempenharem um papel relevante no progresso de Portugal. "Tiveram, mas já foi há muito tempo", afirmou o embaixador.

Cutileiro, agora retirado da diplomacia activa - o seu último posto foi o de secretário-geral da União da Europa Ocidental, durante cinco anos - fez estas considerações na apresentação, ontem, na Livraria Bertrand do Picoas Plaza, em Lisboa, de "A encruzilhada - Portugal, a Europa e os Estados Unidos", da autoria de duas figuras de topo na "nova direita" portuguesa: João Marques de Almeida e Vasco Rato, ambos professores universitários na Lusíada, ambos colunistas de "O Independente", ambos comentadores televisivos.

O empresário José Manuel de Mello - o mesmo que na penúltima edição do "Expresso" defendeu a junção de Portugal à Espanha - prefaciou a obra. "Não deve haver muitos livros prefaciados por ele", vangloriou-se a editora do livro, Zita Seabra, orgulhosa do privilégio. Foi nesse prefácio que José Manuel de Mello se referiu ao tal "vírus islâmico" que se vai "inserindo" nas sociedades europeias. José Cutileiro, elegante, achou que a afirmação merecia um "reparo". Melhor seria dizer "vírus da intolerância", sugeriu.

"Senhor" foi como José Manuel de Mello foi tratado pelos autores da obra nos agradecimentos introdutórios ("agradecemos o apoio entusiástico dado pelo senhor José Manuel de Mello", escreveram). Outras pessoas constam na mesma lista: "a" Inês Serra Lopes, "o" Vitor Cunha, "o" Paulo Pinto Mascarenhas, "o" Carlos Gaspar, "o" Miguel Monjardino". Vagamente parecida só mesmo a referência ao "general Garcia Leandro".

O velho empresário apareceu na cerimónia, mas já depois do momento "solene" de apresentação. O mesmo aconteceu, aliás, com o ministro da Defesa, Paulo Portas. Tanto Vasco Rato como João Marques de Almeida são assessores no Instituto de Defesa Nacional, que Portas tutela.

O livro, esse, é apresentado como sendo uma contribuição para "uma discussão tão indispensável como inadiável" sobre o futuro das relações EUA/Europa, à luz de acontecimentos como a guerra do Iraque. "Reforçar a aliança com os Estados Unidos ou procurar uma estratégia de equilíbrio da potência dominante. Eis a interrogação central imposta pelos tempos que correm", lê-se na contracapa do livro.

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