Socialistas indignados com João Soares

23-06-2003
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Socialistas Indignados com João Soares

Por MARIA JOSÉ OLIVEIRA*

Segunda-feira, 26 de Maio de 2003

Menos de uma hora depois de Ferro Rodrigues sublinhar a sua total crença na Justiça, que recolheu uma ovação de todos os socialistas presentes na reunião da Comissão Nacional, um discurso com contornos destoantes fez-se ouvir no encontro realizado ontem de manhã, no Hotel Altis, em Lisboa.

Perante o visível apoio do PS às palavras do secretário-geral, que reafirmou estar "ao lado da justiça e da democracia", nada fazia prever que João Soares proferisse uma intervenção na qual pedia "contenção" nos elogios à Justiça. Distanciando-se do discurso do líder socialista, Soares surpreendeu tudo e todos ao desviar-se da consensual defesa do correcto funcionamento das instituições e ao aludir mesmo à sua experiência pessoal (o ex-autarca é testemunha no caso Moderna) para apontar debilidades às instâncias judiciais. De acordo com testemunhos recolhidos pelo PÚBLICO junto de alguns socialistas que não conseguiram disfarçar a sua indignação, João Soares terá prestado "um mau serviço" ao PS ao discorrer sobre a alegada fragilização da Justiça, contrariando assim um dos pontos fulcrais da oração de Ferro Rodrigues. Mais: Soares terá mesmo apontado os nomes do ministro de Estado e da Defesa Nacional, Paulo Portas, e de três magistrados como pessoas "interessadas na fragilização das instituições".

Apesar de se ter recusado a responder às questões dos jornalistas, no final da Comissão Nacional, - o ex-presidente da Câmara de Lisboa ignorou as perguntas, optando por repetir vezes sem conta que estava "solidário" com a posição assumida por Ferro Rodrigues -, o PÚBLICO soube que Soares terá ainda manifestado, dentro da reunião, o seu arrependimento por ter votado favoravelmente o levantamento da imunidade parlamentar de Paulo Pedroso. Declaração, aliás, que já havia frisado na passada quinta-feira, na reunião da Comissão Política do PS.

Numa intervenção que foi largamente refutada pelos militantes que lhe sucederam nos discursos, Soares defendeu a tese da "cabala" (palavra, aliás, que ontem não foi repescada por Ferro Rodrigues), referindo-se-lhe como algo que "está para além do aparelho judicial".

À saída do encontro, perto das 13h30, os socialistas transpareciam uma profunda irritação, provocada pelas palavras de Soares. E o líder do PS também não fez questão de esconder o mesmo sentimento, abandonando apressadamente o Altis e escusando-se a responder aos jornalistas. Fonte próxima de Ferro Rodrigues confirmou ao PÚBLICO que o secretário-geral considerou a intervenção de Soares como tendo sido de "muito mau gosto".

Face ao inesperado momento, os socialistas presentes na reunião da Comissão Nacional decidiram traduzir a sua indignação em várias intervenções. Apesar de alguns militantes justificarem o discurso de Soares com o seu carácter "voluntarioso", as refutações não se fizeram esperar. Fonte próxima de Ferro Rodrigues disse ao PÚBLICO que foi Vieira da Silva, do Secretariado Nacional, quem mais contestou João Soares, contra-argumentando com o reforço de tudo aquilo que o líder socialista havia dito. As respostas a Soares não ficaram por aqui, já que a demonstração de um inexorável apoio a Ferro Rodrigues foi entendida por alguns socialistas ouvidos pelo PÚBLICO como críticas veladas a Soares. A contestação prosseguiu ainda com Ana Gomes, que, num discurso que encerrou o encontro, avisou que "não se deve pôr em causa o Estado de direito e a democracia".

*com J.P.H e S.J.A

Socialistas Indignados com João Soares

Por MARIA JOSÉ OLIVEIRA*

Segunda-feira, 26 de Maio de 2003

Menos de uma hora depois de Ferro Rodrigues sublinhar a sua total crença na Justiça, que recolheu uma ovação de todos os socialistas presentes na reunião da Comissão Nacional, um discurso com contornos destoantes fez-se ouvir no encontro realizado ontem de manhã, no Hotel Altis, em Lisboa.

Perante o visível apoio do PS às palavras do secretário-geral, que reafirmou estar "ao lado da justiça e da democracia", nada fazia prever que João Soares proferisse uma intervenção na qual pedia "contenção" nos elogios à Justiça. Distanciando-se do discurso do líder socialista, Soares surpreendeu tudo e todos ao desviar-se da consensual defesa do correcto funcionamento das instituições e ao aludir mesmo à sua experiência pessoal (o ex-autarca é testemunha no caso Moderna) para apontar debilidades às instâncias judiciais. De acordo com testemunhos recolhidos pelo PÚBLICO junto de alguns socialistas que não conseguiram disfarçar a sua indignação, João Soares terá prestado "um mau serviço" ao PS ao discorrer sobre a alegada fragilização da Justiça, contrariando assim um dos pontos fulcrais da oração de Ferro Rodrigues. Mais: Soares terá mesmo apontado os nomes do ministro de Estado e da Defesa Nacional, Paulo Portas, e de três magistrados como pessoas "interessadas na fragilização das instituições".

Apesar de se ter recusado a responder às questões dos jornalistas, no final da Comissão Nacional, - o ex-presidente da Câmara de Lisboa ignorou as perguntas, optando por repetir vezes sem conta que estava "solidário" com a posição assumida por Ferro Rodrigues -, o PÚBLICO soube que Soares terá ainda manifestado, dentro da reunião, o seu arrependimento por ter votado favoravelmente o levantamento da imunidade parlamentar de Paulo Pedroso. Declaração, aliás, que já havia frisado na passada quinta-feira, na reunião da Comissão Política do PS.

Numa intervenção que foi largamente refutada pelos militantes que lhe sucederam nos discursos, Soares defendeu a tese da "cabala" (palavra, aliás, que ontem não foi repescada por Ferro Rodrigues), referindo-se-lhe como algo que "está para além do aparelho judicial".

À saída do encontro, perto das 13h30, os socialistas transpareciam uma profunda irritação, provocada pelas palavras de Soares. E o líder do PS também não fez questão de esconder o mesmo sentimento, abandonando apressadamente o Altis e escusando-se a responder aos jornalistas. Fonte próxima de Ferro Rodrigues confirmou ao PÚBLICO que o secretário-geral considerou a intervenção de Soares como tendo sido de "muito mau gosto".

Face ao inesperado momento, os socialistas presentes na reunião da Comissão Nacional decidiram traduzir a sua indignação em várias intervenções. Apesar de alguns militantes justificarem o discurso de Soares com o seu carácter "voluntarioso", as refutações não se fizeram esperar. Fonte próxima de Ferro Rodrigues disse ao PÚBLICO que foi Vieira da Silva, do Secretariado Nacional, quem mais contestou João Soares, contra-argumentando com o reforço de tudo aquilo que o líder socialista havia dito. As respostas a Soares não ficaram por aqui, já que a demonstração de um inexorável apoio a Ferro Rodrigues foi entendida por alguns socialistas ouvidos pelo PÚBLICO como críticas veladas a Soares. A contestação prosseguiu ainda com Ana Gomes, que, num discurso que encerrou o encontro, avisou que "não se deve pôr em causa o Estado de direito e a democracia".

*com J.P.H e S.J.A

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