Carlos César perde primeiro debate frente a Vítor Cruz

28-10-2004
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Carlos César Perde Primeiro Debate Frente a Vítor Cruz

Domingo, 03 de Outubro de 2004 Começa hoje, nos Açores, a campanha para as eleições legislativas regionais. Na noite de sexta-feira, foi na defensiva que o presidente do Governo Regional enfrentou o líder da coligação PSD-CDS, Vítor Cruz, num frente-a-frente na RTP-Açores. Carlos César parte com vantagem aparente, mas os próximos quinze dias podem ser decisivos e o debate não contribuiu para a sua causa. Por Ana Sá Lopes No estúdio da RTP-Açores, o social-democrata Vítor Cruz atira para cima da mesa do debate um CD, que contém uma gravação de uma mensagem de Carlos César, presidente do Governo Regional, deixada no telemóvel de um funcionário da administração regional, Miguel Brilhante, a quem o presidente do Governo telefonou pedindo para não participar na Convenção para uma Nova Autonomia, promovida pelo PSD. Vítor Cruz, que anuncia que o funcionário da Secretaria Regional da Habitação (um sociólogo, responsável por um estudo sobre os expatriados) "está disponível para contar o resto da história", afirma que a sociedade açoriana é uma "sociedade de medo e de pressão" e apresenta o telefonema como uma "pressão política exercida sobre um funcionário público para que ele não fosse à Convenção da Nova Autonomia". Carlos César acusa o "gesto de ilusionista" de Vítor Cruz e justifica que a gravação "é apenas uma conversa de um cidadão que é presidente do PS a uma pessoa que ele conhece" (Brilhante era membro do conselho consultivo do PS, formado por independentes): "Essa gravação não é uma ameaça. Eu nunca fiz ameaças a ninguém por razões partidárias. Eu sei bem o que custa a intolerância", garante. Foi um dos momentos mais tensos de um debate em que o presidente do Governo Regional se mostrou cansado, na defensiva e sem qualquer chama para, consistentemente, apresentar as "mais-valias" dos oito anos do seu mandato. O líder da oposição estava bem preparado e muito agressivo, inclusive dispôs-se a utilizar todas as armas, como a de fazer uso do facto de Carlos César não ter terminado o curso de Direito. "O senhor não acabou o curso de Direito, se tivesse acabado não dizia isso", afirmou, a dada altura. O debate iniciou-se com a polémica das queixas a Bruxelas sobre a eventual má utilização dos fundos comunitários, em que o PS acusa o PSD de ser o autor das denúncias. Cruz negou ser o PSD o autor das queixas, insistiu que avança com um processo por difamação e acusou uma "tramóia montada", enquanto César acusou os autores das queixas de "tentarem prejudicar o Governo Regional". Vítor Cruz afirmava que, num governo presidido por si, "podem fazer as queixas que quiserem", que não irá "deixar de resolver os problemas". A batalha dos números revelou-se mais equilibrada - com César a fazer comparações com os tempos de Mota Amaral, com a Madeira e o todo nacional -, mas na parte das "obras a mais", Victor Cruz avançou com um caso da lagoa artificial do Faial onde os custos tinham sido 737 por cento a mais do que os estipulados no decreto de construção. César não sabia e atrapalhou-se: "Adjudiquei obras e obras na rua nos tempos da reconstrução. Se ela tem esse preço é porque custou isso." Instado sobre para onde foi o dinheiro, respondeu: "Eu sou uma pessoa séria, para mim não veio." Ontem, Carlos César explicou ao PÚBLICO que tinha sido a Universidade dos Açores a mandar reorientar o projecto, para prevenir uma inundação na freguesia dos Flamengos. A questão é que, no momento do debate, não soube responder e, evidentemente, foi Vítor Cruz a somar pontos. Um debate televisivo terá influência no voto açoriano? Socialistas optimistas acreditam que, pelo menos, o presidente do Governo não transmitiu uma atitude agressiva - ao contrário do líder da oposição - e os açorianos preferem o "sossego". Mas o frente-a-frente foi um balde de água fria na vantagem aparente, segundo as sondagens, com que Carlos César parte para estas eleições. Luta ilha a ilha O sistema eleitoral açoriano pode provocar as mais curiosas surpresas (ver textos nestas páginas), uma vez que a desproporcionalidade entre o número de votantes necessários para eleger um deputado varia radicalmente de ilha para ilha. A coligação Açores - formada pelo PSD e pelo CDS - alimenta algum espírito de vitória, com a ajuda do Governo da República: Santana Lopes e Paulo Portas vão participar activamente na campanha, com o objectivo de acabar com o último reduto do Partido Socialista com influência nacional, uma estratégia que tem estado a ser posta em prática já há muito tempo. Ontem, foi a vez de Marcelo Rebelo de Sousa estar ao lado de Vítor Cruz na abertura da campanha em Ponta Delgada, apoio que repetirá hoje na Terceira. Carlos César tem obras para mostrar, mas também o desgaste de oito anos de poder e, neste momento, é vítima do seu próprio "veneno": em 1996, fez a apologia de que seria benéfico para a Região Autónoma dos Açores ter um governo regional e um governo da República (estava Guterres no poder) da mesma cor política. Agora, é com dificuldade que consegue contrapor argumentos ao discurso que Victor Cruz lhe copiou. A luta será intensa e disputada e, nas ilhas mais pequenas, quase voto a voto - a aniquilação pura e simples do PCP, que tem dois deputados na Assembleia Legislativa Regional (eleitos pelas Flores e pelo Faial), está nos objectivos tanto do PS como da coligação, onde a maioria, para qualquer das partes, nesta altura do campeonato, terá que ser "pescada à linha". OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Carlos César perde primeiro debate frente a Vítor Cruz

Manifestações à porta da RTP

O D. Sebastião enfrenta o nevoeiro

Zoraida Soares

Decq Mota

Carlos César

Açorianos 'lá fora'

"Os Açores são uma região encurralada"

Actual sistema eleitoral beneficia segunda maior força

Círculo de compensação corrige distorções

Carlos César Perde Primeiro Debate Frente a Vítor Cruz

Domingo, 03 de Outubro de 2004 Começa hoje, nos Açores, a campanha para as eleições legislativas regionais. Na noite de sexta-feira, foi na defensiva que o presidente do Governo Regional enfrentou o líder da coligação PSD-CDS, Vítor Cruz, num frente-a-frente na RTP-Açores. Carlos César parte com vantagem aparente, mas os próximos quinze dias podem ser decisivos e o debate não contribuiu para a sua causa. Por Ana Sá Lopes No estúdio da RTP-Açores, o social-democrata Vítor Cruz atira para cima da mesa do debate um CD, que contém uma gravação de uma mensagem de Carlos César, presidente do Governo Regional, deixada no telemóvel de um funcionário da administração regional, Miguel Brilhante, a quem o presidente do Governo telefonou pedindo para não participar na Convenção para uma Nova Autonomia, promovida pelo PSD. Vítor Cruz, que anuncia que o funcionário da Secretaria Regional da Habitação (um sociólogo, responsável por um estudo sobre os expatriados) "está disponível para contar o resto da história", afirma que a sociedade açoriana é uma "sociedade de medo e de pressão" e apresenta o telefonema como uma "pressão política exercida sobre um funcionário público para que ele não fosse à Convenção da Nova Autonomia". Carlos César acusa o "gesto de ilusionista" de Vítor Cruz e justifica que a gravação "é apenas uma conversa de um cidadão que é presidente do PS a uma pessoa que ele conhece" (Brilhante era membro do conselho consultivo do PS, formado por independentes): "Essa gravação não é uma ameaça. Eu nunca fiz ameaças a ninguém por razões partidárias. Eu sei bem o que custa a intolerância", garante. Foi um dos momentos mais tensos de um debate em que o presidente do Governo Regional se mostrou cansado, na defensiva e sem qualquer chama para, consistentemente, apresentar as "mais-valias" dos oito anos do seu mandato. O líder da oposição estava bem preparado e muito agressivo, inclusive dispôs-se a utilizar todas as armas, como a de fazer uso do facto de Carlos César não ter terminado o curso de Direito. "O senhor não acabou o curso de Direito, se tivesse acabado não dizia isso", afirmou, a dada altura. O debate iniciou-se com a polémica das queixas a Bruxelas sobre a eventual má utilização dos fundos comunitários, em que o PS acusa o PSD de ser o autor das denúncias. Cruz negou ser o PSD o autor das queixas, insistiu que avança com um processo por difamação e acusou uma "tramóia montada", enquanto César acusou os autores das queixas de "tentarem prejudicar o Governo Regional". Vítor Cruz afirmava que, num governo presidido por si, "podem fazer as queixas que quiserem", que não irá "deixar de resolver os problemas". A batalha dos números revelou-se mais equilibrada - com César a fazer comparações com os tempos de Mota Amaral, com a Madeira e o todo nacional -, mas na parte das "obras a mais", Victor Cruz avançou com um caso da lagoa artificial do Faial onde os custos tinham sido 737 por cento a mais do que os estipulados no decreto de construção. César não sabia e atrapalhou-se: "Adjudiquei obras e obras na rua nos tempos da reconstrução. Se ela tem esse preço é porque custou isso." Instado sobre para onde foi o dinheiro, respondeu: "Eu sou uma pessoa séria, para mim não veio." Ontem, Carlos César explicou ao PÚBLICO que tinha sido a Universidade dos Açores a mandar reorientar o projecto, para prevenir uma inundação na freguesia dos Flamengos. A questão é que, no momento do debate, não soube responder e, evidentemente, foi Vítor Cruz a somar pontos. Um debate televisivo terá influência no voto açoriano? Socialistas optimistas acreditam que, pelo menos, o presidente do Governo não transmitiu uma atitude agressiva - ao contrário do líder da oposição - e os açorianos preferem o "sossego". Mas o frente-a-frente foi um balde de água fria na vantagem aparente, segundo as sondagens, com que Carlos César parte para estas eleições. Luta ilha a ilha O sistema eleitoral açoriano pode provocar as mais curiosas surpresas (ver textos nestas páginas), uma vez que a desproporcionalidade entre o número de votantes necessários para eleger um deputado varia radicalmente de ilha para ilha. A coligação Açores - formada pelo PSD e pelo CDS - alimenta algum espírito de vitória, com a ajuda do Governo da República: Santana Lopes e Paulo Portas vão participar activamente na campanha, com o objectivo de acabar com o último reduto do Partido Socialista com influência nacional, uma estratégia que tem estado a ser posta em prática já há muito tempo. Ontem, foi a vez de Marcelo Rebelo de Sousa estar ao lado de Vítor Cruz na abertura da campanha em Ponta Delgada, apoio que repetirá hoje na Terceira. Carlos César tem obras para mostrar, mas também o desgaste de oito anos de poder e, neste momento, é vítima do seu próprio "veneno": em 1996, fez a apologia de que seria benéfico para a Região Autónoma dos Açores ter um governo regional e um governo da República (estava Guterres no poder) da mesma cor política. Agora, é com dificuldade que consegue contrapor argumentos ao discurso que Victor Cruz lhe copiou. A luta será intensa e disputada e, nas ilhas mais pequenas, quase voto a voto - a aniquilação pura e simples do PCP, que tem dois deputados na Assembleia Legislativa Regional (eleitos pelas Flores e pelo Faial), está nos objectivos tanto do PS como da coligação, onde a maioria, para qualquer das partes, nesta altura do campeonato, terá que ser "pescada à linha". 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