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14-01-2003
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Casa Pia e São João de Brito O deputado do Bloco de Esquerda Francisco Louçã colocou no Parlamento uma questão interessante: «Caso se tivesse passado no Colégio São João de Brito, será que as televisões teriam passado o filme dessas crianças?». Louçã referia-se à denúncia anteriormente feita pelo deputado e jornalista Vicente Jorge Silva sobre o modo como as televisões e alguma comunicação social têm tratado o escândalo da pedofilia na Casa Pia. O parlamentar bloquista reverte, deste modo, para uma questão de classe (os alunos da Casa Pia são pobres, desfavorecidos, sem nomes sonantes) a forma despudorada como tem sido tratada a questão. Acaso o mesmo se tivesse passado num colégio de classes altas, de orientação jesuíta, apresentariam o caso do mesmo modo? O parlamentar bloquista reverte, deste modo, para uma questão de classe (os alunos da Casa Pia são pobres, desfavorecidos, sem nomes sonantes) a forma despudorada como tem sido tratada a questão. Acaso o mesmo se tivesse passado num colégio de classes altas, de orientação jesuíta, apresentariam o caso do mesmo modo? Estou convencido de que, provavelmente, o teriam tratado da mesma forma, senão ainda pior. O que motiva certos órgãos de comunicação social é o espectáculo e as audiências. E estes dois factores pérfidos para o jornalismo seriam, naturalmente, ainda maiores se envolvessem – também do lado das vítimas – caras e nomes conhecidos. Estou convencido de que, provavelmente, o teriam tratado da mesma forma, senão ainda pior. O que motiva certos órgãos de comunicação social é o espectáculo e as audiências. E estes dois factores pérfidos para o jornalismo seriam, naturalmente, ainda maiores se envolvessem – também do lado das vítimas – caras e nomes conhecidos. Reverter o assunto para um sucedâneo da luta de classes é não entender o que está em causa. É pensar por estereótipos, de modo pré-formatado. Louçã, que sempre foi uma das pessoas mais inteligentes da sua geração, sabe seguramente que o que falta não é uma espécie de justiça «voyeurista» perante a qual ricos e pobres seriam tratados da mesma maneira. O que, na realidade falta é bom senso. Ou, para ser ainda mais claro, o que falta é vergonha – o sentido de que há modos não éticos, ou mesmo ilegítimos, de ganhar audiências. Reverter o assunto para um sucedâneo da luta de classes é não entender o que está em causa. É pensar por estereótipos, de modo pré-formatado. Louçã, que sempre foi uma das pessoas mais inteligentes da sua geração, sabe seguramente que o que falta não é uma espécie de justiça «voyeurista» perante a qual ricos e pobres seriam tratados da mesma maneira. O que, na realidade falta é bom senso. Ou, para ser ainda mais claro, o que falta é vergonha – o sentido de que há modos não éticos, ou mesmo ilegítimos, de ganhar audiências. Em matéria de classe, tudo o que há é falta dela. Em matéria de classe, tudo o que há é falta dela. 11 Dezembro 2002

Casa Pia e São João de Brito O deputado do Bloco de Esquerda Francisco Louçã colocou no Parlamento uma questão interessante: «Caso se tivesse passado no Colégio São João de Brito, será que as televisões teriam passado o filme dessas crianças?». Louçã referia-se à denúncia anteriormente feita pelo deputado e jornalista Vicente Jorge Silva sobre o modo como as televisões e alguma comunicação social têm tratado o escândalo da pedofilia na Casa Pia. O parlamentar bloquista reverte, deste modo, para uma questão de classe (os alunos da Casa Pia são pobres, desfavorecidos, sem nomes sonantes) a forma despudorada como tem sido tratada a questão. Acaso o mesmo se tivesse passado num colégio de classes altas, de orientação jesuíta, apresentariam o caso do mesmo modo? O parlamentar bloquista reverte, deste modo, para uma questão de classe (os alunos da Casa Pia são pobres, desfavorecidos, sem nomes sonantes) a forma despudorada como tem sido tratada a questão. Acaso o mesmo se tivesse passado num colégio de classes altas, de orientação jesuíta, apresentariam o caso do mesmo modo? Estou convencido de que, provavelmente, o teriam tratado da mesma forma, senão ainda pior. O que motiva certos órgãos de comunicação social é o espectáculo e as audiências. E estes dois factores pérfidos para o jornalismo seriam, naturalmente, ainda maiores se envolvessem – também do lado das vítimas – caras e nomes conhecidos. Estou convencido de que, provavelmente, o teriam tratado da mesma forma, senão ainda pior. O que motiva certos órgãos de comunicação social é o espectáculo e as audiências. E estes dois factores pérfidos para o jornalismo seriam, naturalmente, ainda maiores se envolvessem – também do lado das vítimas – caras e nomes conhecidos. Reverter o assunto para um sucedâneo da luta de classes é não entender o que está em causa. É pensar por estereótipos, de modo pré-formatado. Louçã, que sempre foi uma das pessoas mais inteligentes da sua geração, sabe seguramente que o que falta não é uma espécie de justiça «voyeurista» perante a qual ricos e pobres seriam tratados da mesma maneira. O que, na realidade falta é bom senso. Ou, para ser ainda mais claro, o que falta é vergonha – o sentido de que há modos não éticos, ou mesmo ilegítimos, de ganhar audiências. Reverter o assunto para um sucedâneo da luta de classes é não entender o que está em causa. É pensar por estereótipos, de modo pré-formatado. Louçã, que sempre foi uma das pessoas mais inteligentes da sua geração, sabe seguramente que o que falta não é uma espécie de justiça «voyeurista» perante a qual ricos e pobres seriam tratados da mesma maneira. O que, na realidade falta é bom senso. Ou, para ser ainda mais claro, o que falta é vergonha – o sentido de que há modos não éticos, ou mesmo ilegítimos, de ganhar audiências. Em matéria de classe, tudo o que há é falta dela. Em matéria de classe, tudo o que há é falta dela. 11 Dezembro 2002

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