Leques e discursos para afastar o calor

04-08-2004
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Leques e Discursos para Afastar o Calor

Quarta-feira, 28 de Julho de 2004 Obrigados a interromper as férias, os deputados passaram o dia a abanar-se com leques improvisados. A estreia de Santana no Parlamento foi acompanhada pela avaria no ar condicionado. O tradicional beija-mão ficou para outro dia. Conceição Monteiro assistiu a tudo. Por Helena Pereira O santanismo no poder estreou-se num dia de muito calor. Como ninguém esperava que, em pleno Verão, houvesse mudanças de primeiro-ministro, a Assembleia da República contava, por estes dias, ter as portas fechadas e trabalhos de reparação no sistema de ar condicionado a decorrer. O imprevisto fez com que nem uma coisa nem outra acontecessem. À habitualmente longa discussão do programa de Governo, somou-se ontem um calor infernal em São Bento, que obrigou mais de metade da câmara a abanar-se com tudo aquilo a que deitasse mão. A nova ministra da Cultura, Maria João Bustorff, não esqueceu o leque. Vicente Jorge Silva também levou leque. Outros deputados usavam boletins informativos do Parlamento, páginas de discursos, folhas dobradas, tanto fazia. Talvez por causa do calor, a afluência de deputados, membros do Governo e assistência, começou a diminuir ao longo do dia. O novo Governo foi pontual e entrou no hemiciclo às 10 horas, assim que a campainha acabou de tocar. A galeria destinada aos secretários de Estado estava cheia, a abarrotar. As bancadas dos grupos parlamentares compostas como em dia de votações. O dia parecia começar com a euforia própria de um novo Governo. O presidente da Assembleia da República, Mota Amaral, aproveitou para dizer umas palavras de circunstância e cumprimentar os novos membros do Executivo. Assim que dá a palavra ao primeiro-ministro, as bancadas do PSD e CDS levantam-se imediatamente para aplaudir Santana Lopes, enquanto este se dirige para o palanque. "São palmas preventivas", comenta-se na bancada socialista. O entusiasmo da maioria não parava. Ao fim de um minuto de discurso, aplaudiam quando ouviam Santana dizer que iria ter "uma atitude de franca colaboração" com o Parlamento, aplaudiam quando ouviam Santana dizer que tinha muito orgulho de chefiar aquele Governo. A dada altura, o primeiro-ministro faz uma pausa depois de dizer que o seu Governo tem tanta legitimidade que o anterior e faz-se silêncio. "Então, não batem palmas?", pergunta um deputado do PS. Gera-se um burburinho, causado por "bocas" dos deputados dos vários grupos parlamentares. Santana pede calma e tenta ironizar: "Vejo que estão com ansiedade para ter o diálogo democrático. Não esperam pela demora." Na bancada do Governo, os ministros aguentavam o debate calados e ordeiramente sentados. Só alguns, já treinados no Parlamento, ousavam sair do hemiciclo por momentos. Foi o caso de Bagão Félix, Luís Filipe Pereira, Morais Sarmento. O ministro da Economia, Álvaro Barreto saiu ao fim da manhã com um batalhão de fotógrafos atrás, antes de todos os outros. Os restantes esperavam ordens para bater em retirada, o que só aconteceu na pausa para almoço. Enquanto os ex-governantes se juntavam no bar, os Passos Perdidos estavam pouco animados. O secretário de Estado do Trabalho, Pais Antunes, que com a mudança na orgânica do Governo, passou do Ministério da Segurança Social para o da Economia, abraçava efusivamente o seu antigo ministro. Da parte da tarde, a galeria dos secretários de Estado ficou quase vazia e os corredores também. Quase só se viam seguranças e pareciam muitos, dada a escassez de políticos. Os deputados, que interromperam as férias para a discussão do programa de Governo ontem e hoje, só pensavam em voltar para a praia e o tradicional beija-mão nos Passos Perdidos não teve lugar. Com o calor a aumentar devido à falta de ar condicionado, alguns despiram o casaco e voltaram ao debate em mangas de camisa para ouvir Álvaro Barreto, Bagão Félix, Aguiar Branco e Paulo Portas. Conceição Monteiro nas galerias Quem se manteve estoicamente quase todo o dia, a observar o debate nas galerias do hemiciclo, foi Conceição Monteiro, ex-secretária pessoal de Francisco Sá Carneiro, ex-deputada do PSD e amiga pessoal do actual primeiro-ministro. "É um momento que ansiava há muitos anos, o de ver o Pedro neste lugar", explicou ao PÚBLICO, acrescentando que, desde que saiu do Parlamento, em 1995, esta é a segunda vez que ali volta. A primeira foi, em 2000, para "uma cerimónia muito bonita de homenagem ao dr. Francisco Sá Carneiro e ao eng. Amaro da Costa". Ontem, disse que acredita que Santana Lopes vai "desenvolver o país pois tem inúmeras ideias, e boas, que fervilham naquela cabeça". Quando Santana tomou posse, Conceição Monteiro foi ao Palácio da Ajuda. Desejou boa sorte e prometeu rezar pelo primeiro-ministro. "Ele precisa de todas as ajudas", disse. "Ter sorte também dá muito trabalho", diria Pedro Santana Lopes, ao improvisar sobre o seu discurso inicial. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Primeiro-ministro passa ao lado

Referendo sobre Constituição europeia

Santana apela a pactos

Governo reduz expectativas

Governo reduz expectativas de aligeirar IRS

Aguiar Branco promete mapa judicial

Leques e discursos para afastar o calor

"Ainda não sei para onde vou"

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Quarta-feira, 28 de Julho de 2004 Obrigados a interromper as férias, os deputados passaram o dia a abanar-se com leques improvisados. A estreia de Santana no Parlamento foi acompanhada pela avaria no ar condicionado. O tradicional beija-mão ficou para outro dia. Conceição Monteiro assistiu a tudo. Por Helena Pereira O santanismo no poder estreou-se num dia de muito calor. Como ninguém esperava que, em pleno Verão, houvesse mudanças de primeiro-ministro, a Assembleia da República contava, por estes dias, ter as portas fechadas e trabalhos de reparação no sistema de ar condicionado a decorrer. O imprevisto fez com que nem uma coisa nem outra acontecessem. À habitualmente longa discussão do programa de Governo, somou-se ontem um calor infernal em São Bento, que obrigou mais de metade da câmara a abanar-se com tudo aquilo a que deitasse mão. A nova ministra da Cultura, Maria João Bustorff, não esqueceu o leque. Vicente Jorge Silva também levou leque. Outros deputados usavam boletins informativos do Parlamento, páginas de discursos, folhas dobradas, tanto fazia. Talvez por causa do calor, a afluência de deputados, membros do Governo e assistência, começou a diminuir ao longo do dia. O novo Governo foi pontual e entrou no hemiciclo às 10 horas, assim que a campainha acabou de tocar. A galeria destinada aos secretários de Estado estava cheia, a abarrotar. As bancadas dos grupos parlamentares compostas como em dia de votações. O dia parecia começar com a euforia própria de um novo Governo. O presidente da Assembleia da República, Mota Amaral, aproveitou para dizer umas palavras de circunstância e cumprimentar os novos membros do Executivo. Assim que dá a palavra ao primeiro-ministro, as bancadas do PSD e CDS levantam-se imediatamente para aplaudir Santana Lopes, enquanto este se dirige para o palanque. "São palmas preventivas", comenta-se na bancada socialista. O entusiasmo da maioria não parava. Ao fim de um minuto de discurso, aplaudiam quando ouviam Santana dizer que iria ter "uma atitude de franca colaboração" com o Parlamento, aplaudiam quando ouviam Santana dizer que tinha muito orgulho de chefiar aquele Governo. A dada altura, o primeiro-ministro faz uma pausa depois de dizer que o seu Governo tem tanta legitimidade que o anterior e faz-se silêncio. "Então, não batem palmas?", pergunta um deputado do PS. Gera-se um burburinho, causado por "bocas" dos deputados dos vários grupos parlamentares. Santana pede calma e tenta ironizar: "Vejo que estão com ansiedade para ter o diálogo democrático. Não esperam pela demora." Na bancada do Governo, os ministros aguentavam o debate calados e ordeiramente sentados. Só alguns, já treinados no Parlamento, ousavam sair do hemiciclo por momentos. Foi o caso de Bagão Félix, Luís Filipe Pereira, Morais Sarmento. O ministro da Economia, Álvaro Barreto saiu ao fim da manhã com um batalhão de fotógrafos atrás, antes de todos os outros. Os restantes esperavam ordens para bater em retirada, o que só aconteceu na pausa para almoço. Enquanto os ex-governantes se juntavam no bar, os Passos Perdidos estavam pouco animados. O secretário de Estado do Trabalho, Pais Antunes, que com a mudança na orgânica do Governo, passou do Ministério da Segurança Social para o da Economia, abraçava efusivamente o seu antigo ministro. Da parte da tarde, a galeria dos secretários de Estado ficou quase vazia e os corredores também. Quase só se viam seguranças e pareciam muitos, dada a escassez de políticos. Os deputados, que interromperam as férias para a discussão do programa de Governo ontem e hoje, só pensavam em voltar para a praia e o tradicional beija-mão nos Passos Perdidos não teve lugar. Com o calor a aumentar devido à falta de ar condicionado, alguns despiram o casaco e voltaram ao debate em mangas de camisa para ouvir Álvaro Barreto, Bagão Félix, Aguiar Branco e Paulo Portas. Conceição Monteiro nas galerias Quem se manteve estoicamente quase todo o dia, a observar o debate nas galerias do hemiciclo, foi Conceição Monteiro, ex-secretária pessoal de Francisco Sá Carneiro, ex-deputada do PSD e amiga pessoal do actual primeiro-ministro. "É um momento que ansiava há muitos anos, o de ver o Pedro neste lugar", explicou ao PÚBLICO, acrescentando que, desde que saiu do Parlamento, em 1995, esta é a segunda vez que ali volta. A primeira foi, em 2000, para "uma cerimónia muito bonita de homenagem ao dr. Francisco Sá Carneiro e ao eng. Amaro da Costa". Ontem, disse que acredita que Santana Lopes vai "desenvolver o país pois tem inúmeras ideias, e boas, que fervilham naquela cabeça". Quando Santana tomou posse, Conceição Monteiro foi ao Palácio da Ajuda. Desejou boa sorte e prometeu rezar pelo primeiro-ministro. "Ele precisa de todas as ajudas", disse. "Ter sorte também dá muito trabalho", diria Pedro Santana Lopes, ao improvisar sobre o seu discurso inicial. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Primeiro-ministro passa ao lado

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