EXPRESSO: País

14-11-2002
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6/4/2002

O Governo de Durão ou da direita unida DURÃO Barroso prometeu o Governo mais pequeno das duas últimas décadas e, para começar a «dieta», já cortou um ministério aos 18 que vigoravam até aqui. Na verdade, são três as áreas que perdem o estatuto de ministério neste Executivo: Planeamento, Reforma do Estado e Juventude e Desporto. As duas primeiras foram integradas nas Finanças, sob a tutela da igualmente ministra de Estado Manuela Ferreira Leite. A última foi dividida: a Juventude voltou a ser Secretaria de Estado (incluída no reformulado Ministério da Ciência, agora também do Ensino Superior), assim como o Desporto (agora sob as orientações do ministro-adjunto do primeiro-ministro). Em contrapartida, outros dois sectores ganham novamente autonomia: a Presidência e os Assuntos Parlamentares, que na última versão do Governo de Guterres eram responsabilidade do também ministro das Finanças, Oliveira Martins. Barroso quis devolver-lhes a dignidade perdida e entregou-as a Morais Sarmento e Marques Mendes. O saldo dá apenas menos um ministério por comparação com o anterior organigrama do Conselho de Ministros. Mas há outras diferenças entre os dois Executivos: com Guterres, só existia um ministro de Estado, cargo acumulado por Jaime Gama com os Negócios Estrangeiros. O novo primeiro-ministro, em deferência ao líder do partido com o qual fez uma coligação, duplicou a função: além da sua número dois, Manuela Ferreira Leite, também Paulo Portas poderá ser chamado a substituir o primeiro-ministro sempre que este se ausente. A reter o facto de os sociais-democratas não terem resistido a retirar a muito socialista palavra Solidariedade da designação oficial do Ministério do Trabalho, agora de novo também da Segurança Social. E também o Ministério do Equipamento voltou ao nome em vigor nos governos de Cavaco Silva: Obras Públicas e Transportes. Mas, para provar que nem só de reminiscências se faz o actual Governo, Durão Barroso inovou: o Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território passa a ser, antes de mais, das Cidades; ao passo que ao Ministério dos Negócios Estrangeiros é acrescentada a tutela das Comunidades Portuguesas - a solução encontrada para cumprir a promessa de campanha.

Textos de Ana Paula Azevedo, Cristina Figueiredo, Graça Rosendo, Luísa Meireles, Maria Teresa Oliveira e Sofia Rainho

XV Governo Constitucional 1. PRIMEIRO-MINISTRO: Durão Barroso

2. ESTADO E FINANÇAS: M. Ferreira Leite. S.E.: Norberto Rosa, Vasco Valdez, Miguel Frasquilho e Suzana Toscano

3. NEG. ESTRANGEIROS E COMUNIDADES: Martins da Cruz. S.E.: Costa Neves, José Cesário e Lourenço dos Santos

4. JUSTIÇA: Celeste Cardona. S.E.: Miguel Macedo e Mota Campos (CDS/PP)

5. ASSUNTOS PARLAMENTARES: Marques Mendes

6. ECONOMIA: Carlos Tavares. S.E.: Dulce Franco, Rosário Ventura (CDS/PP) e Pedro Almeida

7. CULTURA: Pedro Roseta. S.E.: José Amaral Lopes

8. EDUCAÇÃO: David Justino. S.E.: Mariana Cascais (CDS/PP) e Abílio Morgado

9. SEGURANÇA SOCIAL E DO TRABALHO: Bagão Félix. S.E.: Margarida Aguiar (CDS/PP) e Luís Pais Antunes

10. CIDADES, ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO E AMBIENTE: Isaltino Morais. S.E.: Miguel Relvas, M.Ferreira de Almeida e Eduardo Martins

11. OBRAS PÚBLICAS E TURISMO: Valente de Oliveira. S.E.: Vieira de Castro, Francisco Seabra (CDS/PP) e Jorge Costa

12. SAÚDE: Luís Filipe Pereira. S.E.: Carlos Martins e Adão Silva

13. CIÊNCIA E ENSINO SUPERIOR: Pedro Lynce. S.E.: Fernandes Thomaz

14. AGRICULTURA, DESENVOL. RURAL E PESCAS: A. Sevinate Pinto. S.E.: Frazão Gomes e Bianchi de Aguiar

15. ADJUNTO: José Luís Arnault. S.E.: Hermínio Loureiro

16. PRESIDÊNCIA: Morais Sarmento. S.E.: Domingos Jerónimo e Barreiras Duarte

17. ADMINISTRAÇÃO INTERNA: Figueiredo Lopes. S.E.: Luís Paes de Sousa e Nuno Magalhães (CDS/PP)

18. ESTADO E DEFESA NACIONAL: Paulo Portas. S.E.: Henrique de Freitas

ESTADO E FINANÇAS ESTADO E FINANÇAS Manuela Ferreira Leite - Licenciada em Economia, 61 anos

(Guilherme Oliveira Martins) (Guilherme Oliveira Martins) É a «superministra»: nº 2 do Governo, ministra de Estado e das Finanças, vai ainda ter a tutela das pastas da administração pública e dos fundos europeus. Com vários anos de experiência governativa (foi secretária de Estado do Orçamento e, depois, ministra da Educação nos governos de Cavaco Silva), esta economista conquistou uma imagem de competência na área das finanças públicas, de rigor e de determinação. O caos das contas do Estado foi «a» bandeira da campanha eleitoral do PSD e é esse o maior problema com que vai ter de lidar, com o objectivo europeu de atingir o défice 0 em 2004. A gestão dos funcionários públicos, particularmente dos seus salários, também não se adivinha simples. NEGÓCIOS ESTRANGEIROS E DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS Martins da Cruz - Licenciado em Direito, 55 anos

(Jaime Gama) (Jaime Gama) Assessor diplomático de Cavaco Silva de 1988 até 1995, Martins da Cruz é diplomata de carreira. No Governo preparou 150 visitas de Estado e um número igualmente impressionante de cimeiras. Amigo de Durão Barroso, com um feitio que alguns dizem difícil, deixa o posto de embaixador em Madrid (onde entrou em polémica com o seu antecessor), já tendo passado por Maputo, Cairo, ONU ou NATO. Vai disputar com Barroso dossiês dos Assuntos Europeus, nesta difícil fase do alargamento da UE. Quanto às comunidades (que pela primeira vez fazem parte da designação do Ministério), terá de lidar, por exemplo, com a complicada situação na África do Sul ou no Zimbabwe. JUSTIÇA Maria Celeste Cardona - Licenciada em Direito, 50 anos

(António Costa) (António Costa) A escolha de Maria Celeste Cardona para a pasta da Justiça apanhou de surpresa todo o sector. O seu nome chegou, aliás, a ser indicado para uma das Secretarias de Estado das Finanças. Especialista em Direito Fiscal, a deputada do CDS/PP deu nas vistas nos debates parlamentares dos Orçamentos do Estado e pela resistência que moveu à reforma fiscal de Pina Moura. Dinâmica, bem disposta e empenhada, Maria Celeste Cardona é membro da Comissão Política do CDS/PP e actualmente um dos elementos mais próximos de Paulo Portas. Casada com o eurodeputado popular Luís Queiró, também ela já foi eurodeputada e integrou a bancada do CDS/PP na Assembleia da República na última legislatura. Agora, terá de implementar a reforma do processo executivo, levada a cabo pelo seu antecessor, introduzir alterações no processo das defesas oficiosas (sem esquecer a avultada dívida do Estado aos advogados) e ainda a privatização dos notários. De resto, bastar-lhe-á não cumprir o programa do PSD no que diz respeito à atribuição de poder de orientação ao ministro da Justiça em relação ao Ministério Público em matéria de investigação criminal. ASSUNTOS PARLAMENTARES Luís Marques Mendes - Licenciado em Direito, 44 anos

(Guilherme Oliveira Martins) (Guilherme Oliveira Martins) Foi primeiro secretário de Estado e depois ministro da Presidência do Conselho de Ministros no Governo de Cavaco Silva. Liderou depois a bancada parlamentar do PSD na oposição, durante a presidência de Marcelo Rebelo de Sousa, onde se fez notar pelo raciocínio político, o espírito combativo e o dom de oratória. Depois de ter combatido e amplamente criticado Durão Barroso na liderança do PSD, tendo-se candidatado ao seu lugar há dois anos, é outra presença inesperada neste Governo. Sendo os Assuntos Parlamentares uma pasta essencialmente política, não tem programa ou prioridades a cumprir. Assegura que a sua conduta será orientada por uma «preocupação»: «Estabelecer uma boa cooperação com o Parlamento e assim contribuir para elevar a sua qualidade e a qualidade da democracia». ECONOMIA Carlos Tavares - Licenciado em Direito, 58 anos

(Braga da Cruz) (Braga da Cruz) Tem cerca de três anos de experiência governativa na pasta do Tesouro, que exerceu no início dos anos 90 e em que trabalhou com Manuela Ferreira Leite (que ocupava a SE do Orçamento). Dado como o autor da polémica proposta do «choque fiscal», foi dos nomes mais falados para as Finanças mas acabou na Economia. Transita de um alto cargo no Banco Santander de Negócios e vai ter que lidar com os atrasos e acumulação de críticas ao Plano Operacional de Economia, bem como com a eventual flexibilização das leis laborais e com a capacidade de atracção de investimento estrangeiro para Portugal. Além das telecomunicações e do fim do pacote das privatizações. CULTURA Pedro Roseta - Licenciado em Direito, 58 anos

(Augusto Santos Silva) (Augusto Santos Silva) É deputado desde a Assembleia Constituinte. A atribuição da pasta da Cultura a este fundador do PSD, que nunca integrou um Executivo, foi uma verdadeira surpresa, uma vez que nunca teve qualquer actividade no sector. Intelectual, conservador e católico, acabou por merecer o benefício da dúvida. Liderou o grupo parlamentar do PSD na primeira AD, em 1979, e, na década de 80, foi durante sete anos representante permanente de Portugal na OCDE. Assim que tomar posse, terá de enfrentar a contestação sobre a política de subsídios ao teatro que tem sido seguida, a polémica sobre a nova Lei do Cinema e do Audiovisual e pôr em prática a reestruturação do instituto do património, prometida no programa eleitoral do PSD. EDUCAÇÃO David Justino - Licenciado em Economia, 49 anos

(Júlio Pedrosa) (Júlio Pedrosa) No PSD tem uma larga tradição na pasta da Educação, tendo já sido porta-voz do partido para a área e, ultimamente, o responsável pela pasta no «gabinete -sombra» de Durão Barroso. Estreia-se em funções governativas e, ao contrário dos seus antecessores, fica apenas com as pastas do pré-escolar, ensino básico e secundário. Enquanto deputado, na última legislatura, lutou, por exemplo, pela avaliação do ensino superior. Por tanto ter trabalhado na área, tem «parte do trabalho» feito, como disse ao EXPRESSO. Tendo em conta as promessas do seu partido, deverá iniciar funções com uma decisão sobre a polémica reforma curricular do secundário. SEGURANÇA SOCIAL E DO TRABALHO Bagão Félix - Licenciado em Finanças, 53 anos

(Paulo Pedroso) (Paulo Pedroso) Com provas dadas na área da Segurança Social, Bagão Félix parece ser um nome consensual para esta pasta. Depois de ter dedicado grande parte da sua vida à administração de bancos e seguradoras, este economista regressa ao Ministério onde desempenhou funções de secretário de Estado há mais de 20 anos. De Ferro Rodrigues e Paulo Pedroso herda uma nova Lei de Bases da Segurança Social e a introdução de alterações no sistema de cálculo dos regimes de pensões, bem como o polémico Rendimento Mínimo Garantido, que o líder do CDS/PP elegeu como inimigo de estimação. Bagão terá pela frente a difícil tarefa de conciliar a ameaça de ruptura do sistema da segurança social com a promessa do aumento das pensões de reforma repetidamente apregoado por Paulo Portas. CIDADES, ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO E AMBIENTE Isaltino Morais - Licenciado em Direito, 52 anos

(José Sócrates) (José Sócrates) Ministro do «Governo-sombra» do PSD para a área das obras públicas, foi sempre referido no lote de «ministeriáveis». Começou por colocar reticências e chegou mesmo a recusar o convite para ministro – mas acabou por ceder «aos argumentos muito fortes do primeiro-ministro», segundo afirmou ao EXPRESSO, sendo o único presidente de câmara recém-eleito que integra o Executivo. Aos 52 anos, é um dos «dinossauros» das autarquias: preside ao município de Oeiras há 17 anos. Começou a sua vida profissional como magistrado do Ministério Público, em 1976, tendo pouco depois optado pela vida política. Liderou a distrital do PSD de Lisboa, foi vice-presidente da Associação Nacional de Municípios e era agora um dos vice-presidentes da comissão política de Durão Barroso. Acabar com a co-incineração e pôr em prática uma nova política de reciclagem de resíduos perigosos, rever o quadro legal de gestão da água, que tanta polémica tem causado entre os autarcas, bem como elaborar um Programa Nacional da Política do Ordenamento do Território, são algumas das promessas eleitorais do PSD que deverá executar. OBRAS PÚBLICAS E TURISMO Valente de Oliveira - Doutorado em Eng. Civil, 65 anos

(José Sócrates) (José Sócrates) Foi ministro do Planeamento e Administração do Território nos 10 anos de governo de Cavaco Silva e teve a tutela da Educação nos anos 70. Opôs-se à actual localização de uma das obras emblemáticas do cavaquismo: a Ponte Vasco da Gama. Na altura Cavaco optou pela solução de Ferreira do Amaral, o ministro da pasta que agora Valente vai gerir. Discorda da construção do aeroporto da Ota e vai ter que lidar com os dossiês do TGV, da terceira ponte sobre o Tejo, dos défices das empresas públicas de Transportes e o das acessibilidades ao Euro-2004. SAÚDE Luís Filipe Pereira - Licenciado em Economia, 58 anos

(Correia de Campos) (Correia de Campos) Vem de fora do sector, o que pode sempre funcionar como uma vantagem, porém, chega com uma pedra no sapato. Desde há seis anos que é quadro superior dos Mello, o grupo privado com maiores interesses no sector da Saúde em Portugal. Já foi secretário de Estado da Segurança Social e da Indústria nos governos de Cavaco Silva. Herda o que todos os seus antecessores herdaram: um défice sempre em crescendo. E este desconhecido com fama de excelente gestor tem o dever de dar sinais de mudança, porque o programa do PSD assim o determinava. CIÊNCIA E ENSINO SUPERIOR Pedro Lynce - Doutorado em Ciências Agronómicas, 59 anos

(Mariano Gago) (Mariano Gago) De regresso ao Governo seis anos depois de ter desempenhado as funções de secretário de Estado do Ensino Superior, tem pela frente o desafio de dar continuidade ao trabalho desenvolvido pelo único ministro de Guterres que se pode orgulhar de ter mantido a mesma pasta do primeiro ao último dia, Mariano Gago. À frente de um Ministério inédito que junta a Ciência e o Ensino Superior, terá de fazer face ao eterno problema do financiamento do Ensino Superior e da falta de qualidade académica de algumas universidades. AGRICULTURA, DESENVOLVIMENTO RURAL E PESCAS Armando Sevinate Pinto - Engenheiro agrónomo, 56 anos

(Capoulas Santos) (Capoulas Santos) Técnico com créditos firmados na área da Agricultura, esteve no Centro de Estudos de Economia Agrária da Fundação Gulbenkian e foi director na Comissão Europeia, entre 1987 e 1993. O conhecimento profundo que revela dos dossiês da política agrícola é reconhecido por todos os quadrantes. Sevinate Pinto defende o proteccionismo na Política Agrícola Comum e a reestruturação do Ministério da Agricultura e rejeita o mecanismo de modulação das ajudas. Sem filiação partidária, considera-se um «militante da agricultura». ADJUNTO José Luís Arnaut - Licenciado em Direito, 39 anos

(António José Seguro) (António José Seguro) A «sombra» de Durão Barroso, foi promovido a sócio principal do escritório Pena, Machete & Associados e preparava-se para diminuir a sua actividade política. Mas acaba por trocar com o ministro da Defesa socialista, ascendendo ao Governo enquanto o antecessor de Portas regressa ao escritório. Foi um dos grandes responsáveis pelas vitórias do PSD nas autárquicas e nas legislativas. Assume agora a coordenação política do Governo, ao estilo de Jorge Coelho, e terá a seu cargo a gestão da pasta do Euro-2004. PRESIDÊNCIA Nuno Morais Sarmento - Licenciado em Direito, 41 anos

(Guilherme Oliveira Martins) (Guilherme Oliveira Martins) O indigitado ministro da Presidência surpreendeu tudo e todos, esta semana, ao revelar o seu passado de toxicodependência e a forma como Durão Barroso o apoiou no processo de recuperação. Vice-presidente do PSD e amigo pessoal de Durão Barroso de há longa data, é um dos seus conselheiros de maior confiança. O homem certo para uma pasta de profundo cunho político como a da Presidência do Conselho de Ministros. Terá ainda a tutela da Comunicação Social e o problema da RTP para resolver. ADMINISTRAÇÃO INTERNA Figueiredo Lopes - Licenciado em Direito, 65 anos

(SeverianoTeixeira) (SeverianoTeixeira) Secretário de Estado nos III, IV, VI, VIII, X e XII Governos (neste último foi, durante sete meses, titular do Ministério da Defesa), vai, pela primeira vez, ter responsabilidades na área da Administração Interna, depois de ter passado pela Administração Pública, Orçamento, Reforma Administrativa e, fundamentalmente, Defesa. É amigo do ex-titular da pasta, Severiano Teixeira. À sua espera tem a questão da insegurança, a complicada situação na GNR e a promessa de Durão de atribuir um subsídio de risco aos polícias. ESTADO E DEFESA NACIONAL Paulo Portas - Licenciado em Direito, 39 anos

(Rui Pena) (Rui Pena) O líder do CDS/PP chega ao Governo como um «combatente» que resistiu a várias batalhas perdidas e não tem tempo a perder. Terça-feira será o seu baptismo público e o tema é-lhe,com certeza, caro: é o convidado de honra da cerimónia comemorativa da Liga dos Antigos Combatentes na Batalha. Honras e fanfarras à parte, os militares estão na expectativa quanto ao que vai fazer o novo ministro, passada a surpresa (e estranheza) inicial. Reservam opiniões para depois: quando o virem passar o «teste dos dinheiros» – a sua primeira batalha, dizem, porque «se não negociou antes um orçamento para a Defesa, vai ser um desastre anunciado». Até ao fim do ano vão ser precisos entre 100 e 200 milhões de euros para despesas correntes. Só então lhe será dado o crédito da confiança, o bem mais escasso da relação entre civis e militares. Portas pode até não perceber de Defesa – e o sector sabe-o – mas os militares estão dispostos a abdicar desse requisito e confiar na sua inteligência se, em troca, o também novo ministro de Estado (um ponto a seu favor) lhes der maior dignidade e peso político. A polémica dos submarinos e a Lei de Programação Militar aprovada com os votos do CDS/PP, e que teve a oposição do PSD, são alguns dos desafios.

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COMENTÁRIOS

4 comentários 1 a 4

7 de Abril de 2002 às 10:37

Diogo Sotto Mai ( op3706@mail.telepac.pt )

Este governo não vai governar "à Guterres", isto é, sem aumentar os impostos. Seria excessivamente difícil e a qualidade dos seus membros não é suficiente para isso.

A promessa de extinguir muitos institutos vai proporcionar bons dividendos propagandistas, mas será de resultados nulos em termos financeiros, ou seja, de cortes de despesas públicas. A solução mais natural para Durão/Portas é aumentar o IVA e isso vai quebrar o Estado de confiança mínima dado por um resultado eleitoral mesmo à pele.

Mas, o principal objectivo dos cidadãos, hoje em dias, é lutar pela defesa do direito às reformas. É imprescindível que os actuais reformados e aqueles que se vão reformar nos próximos anos se unam para defender aquilo que é seu e que deram à sociedade durante 35 a 40 anos de trabalho,

Não pode um homem como Bagão Félix vir defender no Poder os seus antigos patrões. Ele já disse a jornalistas que as pessoas que o conhecem sabem que nunca fará isso. Se o não fizer, serei eu o primeiro a aplaudi-lo. Mas, pense bem, Dr. Bagão Félix, não é o voto do Ricardo Salgado que lhe vai proporcionar a vitória nas próximas eleições. É sim o dos cidadãos em geral, enfim, das classes médias que descontam para a Segurança Social e essas não podem ver reduzidas as receitas da SS para resolver um eventual problema de daqui a 40 anos ou mais. Dr. Bagão, não vamos acreditar na sua HONESTIDADE, se o Sr. colocar em risco as próximas eleições a troco de algo que se vai passar daqui a 40 anos, data em que provavelmente o Senhor não estará cá como não estarão os actuais reformados e aqueles que se vão reformar nos próximos anos.

É que os jornais já começaram a bombardear a Opinião pública com a tese da falta de sustentabilidade do sistema em 2030 ou 2040. Há soluções para isso, e estão na Lei. Só não vê quem está ao serviço de outros interesses que não os do Povo Português, ou concretamente, dos trabalhadores que descontam para a utentes da mesma.

Dr. Bagão Félix, Dr. Durão e Dr. Portas. Vocês vão governar aquilo que não é vosso, aquilo que é nosso. Não pensem que adquiriram qualquer direito de propriedade sobre os bens dos cidadãos, ou seja, os bens do Estado.

Os meus descontos de mais de 30 anos de trabalho, não são sua Propriedade, Dr. Bagão, como não os de todos os outros portugueses. Cuidado pois com o que faz. Isto não pode vir a ser uma quinta dos Mello e do BES.

7 de Abril de 2002 às 09:58

Zé Luiz ( Desculpe lá , amigo Açoriano, )

...mas essa frase - "este governo é mau demais para ser verdade" - ainda há pouquíssimas semanas a li aqui, repetida "ad nauseam" e glosada pelos mais diversos comentaristas, sobre o governo de Guterres.

Depois das eleições pensei que durante os próximos meses não ia ter ocasião de a ler de novo, o que era uma pausa benvinda - mas afinal, passadas umas semanas, cá está ela de novo!

Convença-se disto, meu amigo: normalmente nenhum governo é muito melhor nem muito pior do que os outros. Nem o de Durão em relação ao de Guterres ou ao de Cavaco, nem o de Portugal em relação ao de qualquer outro país europeu.

Uma excepção a esta regra foi o governo de Margaret Thatcher no Reino Unido, que por pouco não destruiu completamente a sociedade e a civilização britânicas (conceitos em que ela de resto não acredita) em proveito exclusivo da economia abstracta.

Outra coisa de que se fala muito nestes comentários é o "descalabro" e o "caos" em que estará Portugal. Não está. A última vez que estivemos em descalabro económico foi durante o Gonçalvismo; depois disto estivemos lá perto durante os governos da AD, e foi preciso Ernâni Lopes para resolver a situação.

Quanto à situação de "caos", a última vez que se pôde falar em tal sem ser em sentido figurado foi durante a guerra civil entre liberais e miguelistas.

Voltando à actualidade: o insuspeito e rigoroso Vítor Constâncio declarou recentemente que estamos perante uma crise financeira mas não perante uma crise económica. Se a isto juntarmos o facto de nunca como durante os governos de Guterres se ter registado um período de desenvolvimento socio-economico-cultural como aquele que agora nos arriscamos a ver terminar, acho que temos razões de sobra para mandar calar as Cassandras e os Velhos do Restelo.

Os partidos do Governo e os media andam há anos a tentar convencer-nos de que estamos numa situação muito pior do que aquela em que estamos porque só assim poderão justificar as medidas de extrema violência que se preparam contra as classes médias e a favor dos mais ricos e poderosos.

6 de Abril de 2002 às 15:46

Açoriano

Este Governo é mau demais para ser verdade! Quando serão as novas eleições?

6 de Abril de 2002 às 14:26

CaragoNaoPorra ( caragonaoporra@hotmail.com )

A composição deste governo revela uma vez mais as tendências corporativas que existem na sociedade Portuguesa. Tem 10 ministros licenciados em Direito, 4 em economia e 3 em enga.

O nosso País tem sido governado desde a revolução, quer por licenciados em Direito, quer por licenciados em economia. Os resultados são bem visíveis. A Assembleia da República eferma do mesmo mal. Ou seja, é uma coutada de licenciados em Direito. Reflectindo o espírito corporativo.

É urgente pôr um fim às corporações em Portugal. Uma sociedade só pode estar convenientemente representada num Parlamento quando a composição desse Parlamento reflecte a própria população, nomeadamente em termos de formação académica.

Por corporativismo, em Portugal os lugares políticos são quase todos monopólio de licenciados em Direito e em economia. Isto é muito máu e deve mudar.

Licenciados em Direito: 10 Ministros

Licenciados em Economia/Finanças: 4 Ministros

Licenciados noutras áreas: 3 Ministros

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6/4/2002

O Governo de Durão ou da direita unida DURÃO Barroso prometeu o Governo mais pequeno das duas últimas décadas e, para começar a «dieta», já cortou um ministério aos 18 que vigoravam até aqui. Na verdade, são três as áreas que perdem o estatuto de ministério neste Executivo: Planeamento, Reforma do Estado e Juventude e Desporto. As duas primeiras foram integradas nas Finanças, sob a tutela da igualmente ministra de Estado Manuela Ferreira Leite. A última foi dividida: a Juventude voltou a ser Secretaria de Estado (incluída no reformulado Ministério da Ciência, agora também do Ensino Superior), assim como o Desporto (agora sob as orientações do ministro-adjunto do primeiro-ministro). Em contrapartida, outros dois sectores ganham novamente autonomia: a Presidência e os Assuntos Parlamentares, que na última versão do Governo de Guterres eram responsabilidade do também ministro das Finanças, Oliveira Martins. Barroso quis devolver-lhes a dignidade perdida e entregou-as a Morais Sarmento e Marques Mendes. O saldo dá apenas menos um ministério por comparação com o anterior organigrama do Conselho de Ministros. Mas há outras diferenças entre os dois Executivos: com Guterres, só existia um ministro de Estado, cargo acumulado por Jaime Gama com os Negócios Estrangeiros. O novo primeiro-ministro, em deferência ao líder do partido com o qual fez uma coligação, duplicou a função: além da sua número dois, Manuela Ferreira Leite, também Paulo Portas poderá ser chamado a substituir o primeiro-ministro sempre que este se ausente. A reter o facto de os sociais-democratas não terem resistido a retirar a muito socialista palavra Solidariedade da designação oficial do Ministério do Trabalho, agora de novo também da Segurança Social. E também o Ministério do Equipamento voltou ao nome em vigor nos governos de Cavaco Silva: Obras Públicas e Transportes. Mas, para provar que nem só de reminiscências se faz o actual Governo, Durão Barroso inovou: o Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território passa a ser, antes de mais, das Cidades; ao passo que ao Ministério dos Negócios Estrangeiros é acrescentada a tutela das Comunidades Portuguesas - a solução encontrada para cumprir a promessa de campanha.

Textos de Ana Paula Azevedo, Cristina Figueiredo, Graça Rosendo, Luísa Meireles, Maria Teresa Oliveira e Sofia Rainho

XV Governo Constitucional 1. PRIMEIRO-MINISTRO: Durão Barroso

2. ESTADO E FINANÇAS: M. Ferreira Leite. S.E.: Norberto Rosa, Vasco Valdez, Miguel Frasquilho e Suzana Toscano

3. NEG. ESTRANGEIROS E COMUNIDADES: Martins da Cruz. S.E.: Costa Neves, José Cesário e Lourenço dos Santos

4. JUSTIÇA: Celeste Cardona. S.E.: Miguel Macedo e Mota Campos (CDS/PP)

5. ASSUNTOS PARLAMENTARES: Marques Mendes

6. ECONOMIA: Carlos Tavares. S.E.: Dulce Franco, Rosário Ventura (CDS/PP) e Pedro Almeida

7. CULTURA: Pedro Roseta. S.E.: José Amaral Lopes

8. EDUCAÇÃO: David Justino. S.E.: Mariana Cascais (CDS/PP) e Abílio Morgado

9. SEGURANÇA SOCIAL E DO TRABALHO: Bagão Félix. S.E.: Margarida Aguiar (CDS/PP) e Luís Pais Antunes

10. CIDADES, ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO E AMBIENTE: Isaltino Morais. S.E.: Miguel Relvas, M.Ferreira de Almeida e Eduardo Martins

11. OBRAS PÚBLICAS E TURISMO: Valente de Oliveira. S.E.: Vieira de Castro, Francisco Seabra (CDS/PP) e Jorge Costa

12. SAÚDE: Luís Filipe Pereira. S.E.: Carlos Martins e Adão Silva

13. CIÊNCIA E ENSINO SUPERIOR: Pedro Lynce. S.E.: Fernandes Thomaz

14. AGRICULTURA, DESENVOL. RURAL E PESCAS: A. Sevinate Pinto. S.E.: Frazão Gomes e Bianchi de Aguiar

15. ADJUNTO: José Luís Arnault. S.E.: Hermínio Loureiro

16. PRESIDÊNCIA: Morais Sarmento. S.E.: Domingos Jerónimo e Barreiras Duarte

17. ADMINISTRAÇÃO INTERNA: Figueiredo Lopes. S.E.: Luís Paes de Sousa e Nuno Magalhães (CDS/PP)

18. ESTADO E DEFESA NACIONAL: Paulo Portas. S.E.: Henrique de Freitas

ESTADO E FINANÇAS ESTADO E FINANÇAS Manuela Ferreira Leite - Licenciada em Economia, 61 anos

(Guilherme Oliveira Martins) (Guilherme Oliveira Martins) É a «superministra»: nº 2 do Governo, ministra de Estado e das Finanças, vai ainda ter a tutela das pastas da administração pública e dos fundos europeus. Com vários anos de experiência governativa (foi secretária de Estado do Orçamento e, depois, ministra da Educação nos governos de Cavaco Silva), esta economista conquistou uma imagem de competência na área das finanças públicas, de rigor e de determinação. O caos das contas do Estado foi «a» bandeira da campanha eleitoral do PSD e é esse o maior problema com que vai ter de lidar, com o objectivo europeu de atingir o défice 0 em 2004. A gestão dos funcionários públicos, particularmente dos seus salários, também não se adivinha simples. NEGÓCIOS ESTRANGEIROS E DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS Martins da Cruz - Licenciado em Direito, 55 anos

(Jaime Gama) (Jaime Gama) Assessor diplomático de Cavaco Silva de 1988 até 1995, Martins da Cruz é diplomata de carreira. No Governo preparou 150 visitas de Estado e um número igualmente impressionante de cimeiras. Amigo de Durão Barroso, com um feitio que alguns dizem difícil, deixa o posto de embaixador em Madrid (onde entrou em polémica com o seu antecessor), já tendo passado por Maputo, Cairo, ONU ou NATO. Vai disputar com Barroso dossiês dos Assuntos Europeus, nesta difícil fase do alargamento da UE. Quanto às comunidades (que pela primeira vez fazem parte da designação do Ministério), terá de lidar, por exemplo, com a complicada situação na África do Sul ou no Zimbabwe. JUSTIÇA Maria Celeste Cardona - Licenciada em Direito, 50 anos

(António Costa) (António Costa) A escolha de Maria Celeste Cardona para a pasta da Justiça apanhou de surpresa todo o sector. O seu nome chegou, aliás, a ser indicado para uma das Secretarias de Estado das Finanças. Especialista em Direito Fiscal, a deputada do CDS/PP deu nas vistas nos debates parlamentares dos Orçamentos do Estado e pela resistência que moveu à reforma fiscal de Pina Moura. Dinâmica, bem disposta e empenhada, Maria Celeste Cardona é membro da Comissão Política do CDS/PP e actualmente um dos elementos mais próximos de Paulo Portas. Casada com o eurodeputado popular Luís Queiró, também ela já foi eurodeputada e integrou a bancada do CDS/PP na Assembleia da República na última legislatura. Agora, terá de implementar a reforma do processo executivo, levada a cabo pelo seu antecessor, introduzir alterações no processo das defesas oficiosas (sem esquecer a avultada dívida do Estado aos advogados) e ainda a privatização dos notários. De resto, bastar-lhe-á não cumprir o programa do PSD no que diz respeito à atribuição de poder de orientação ao ministro da Justiça em relação ao Ministério Público em matéria de investigação criminal. ASSUNTOS PARLAMENTARES Luís Marques Mendes - Licenciado em Direito, 44 anos

(Guilherme Oliveira Martins) (Guilherme Oliveira Martins) Foi primeiro secretário de Estado e depois ministro da Presidência do Conselho de Ministros no Governo de Cavaco Silva. Liderou depois a bancada parlamentar do PSD na oposição, durante a presidência de Marcelo Rebelo de Sousa, onde se fez notar pelo raciocínio político, o espírito combativo e o dom de oratória. Depois de ter combatido e amplamente criticado Durão Barroso na liderança do PSD, tendo-se candidatado ao seu lugar há dois anos, é outra presença inesperada neste Governo. Sendo os Assuntos Parlamentares uma pasta essencialmente política, não tem programa ou prioridades a cumprir. Assegura que a sua conduta será orientada por uma «preocupação»: «Estabelecer uma boa cooperação com o Parlamento e assim contribuir para elevar a sua qualidade e a qualidade da democracia». ECONOMIA Carlos Tavares - Licenciado em Direito, 58 anos

(Braga da Cruz) (Braga da Cruz) Tem cerca de três anos de experiência governativa na pasta do Tesouro, que exerceu no início dos anos 90 e em que trabalhou com Manuela Ferreira Leite (que ocupava a SE do Orçamento). Dado como o autor da polémica proposta do «choque fiscal», foi dos nomes mais falados para as Finanças mas acabou na Economia. Transita de um alto cargo no Banco Santander de Negócios e vai ter que lidar com os atrasos e acumulação de críticas ao Plano Operacional de Economia, bem como com a eventual flexibilização das leis laborais e com a capacidade de atracção de investimento estrangeiro para Portugal. Além das telecomunicações e do fim do pacote das privatizações. CULTURA Pedro Roseta - Licenciado em Direito, 58 anos

(Augusto Santos Silva) (Augusto Santos Silva) É deputado desde a Assembleia Constituinte. A atribuição da pasta da Cultura a este fundador do PSD, que nunca integrou um Executivo, foi uma verdadeira surpresa, uma vez que nunca teve qualquer actividade no sector. Intelectual, conservador e católico, acabou por merecer o benefício da dúvida. Liderou o grupo parlamentar do PSD na primeira AD, em 1979, e, na década de 80, foi durante sete anos representante permanente de Portugal na OCDE. Assim que tomar posse, terá de enfrentar a contestação sobre a política de subsídios ao teatro que tem sido seguida, a polémica sobre a nova Lei do Cinema e do Audiovisual e pôr em prática a reestruturação do instituto do património, prometida no programa eleitoral do PSD. EDUCAÇÃO David Justino - Licenciado em Economia, 49 anos

(Júlio Pedrosa) (Júlio Pedrosa) No PSD tem uma larga tradição na pasta da Educação, tendo já sido porta-voz do partido para a área e, ultimamente, o responsável pela pasta no «gabinete -sombra» de Durão Barroso. Estreia-se em funções governativas e, ao contrário dos seus antecessores, fica apenas com as pastas do pré-escolar, ensino básico e secundário. Enquanto deputado, na última legislatura, lutou, por exemplo, pela avaliação do ensino superior. Por tanto ter trabalhado na área, tem «parte do trabalho» feito, como disse ao EXPRESSO. Tendo em conta as promessas do seu partido, deverá iniciar funções com uma decisão sobre a polémica reforma curricular do secundário. SEGURANÇA SOCIAL E DO TRABALHO Bagão Félix - Licenciado em Finanças, 53 anos

(Paulo Pedroso) (Paulo Pedroso) Com provas dadas na área da Segurança Social, Bagão Félix parece ser um nome consensual para esta pasta. Depois de ter dedicado grande parte da sua vida à administração de bancos e seguradoras, este economista regressa ao Ministério onde desempenhou funções de secretário de Estado há mais de 20 anos. De Ferro Rodrigues e Paulo Pedroso herda uma nova Lei de Bases da Segurança Social e a introdução de alterações no sistema de cálculo dos regimes de pensões, bem como o polémico Rendimento Mínimo Garantido, que o líder do CDS/PP elegeu como inimigo de estimação. Bagão terá pela frente a difícil tarefa de conciliar a ameaça de ruptura do sistema da segurança social com a promessa do aumento das pensões de reforma repetidamente apregoado por Paulo Portas. CIDADES, ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO E AMBIENTE Isaltino Morais - Licenciado em Direito, 52 anos

(José Sócrates) (José Sócrates) Ministro do «Governo-sombra» do PSD para a área das obras públicas, foi sempre referido no lote de «ministeriáveis». Começou por colocar reticências e chegou mesmo a recusar o convite para ministro – mas acabou por ceder «aos argumentos muito fortes do primeiro-ministro», segundo afirmou ao EXPRESSO, sendo o único presidente de câmara recém-eleito que integra o Executivo. Aos 52 anos, é um dos «dinossauros» das autarquias: preside ao município de Oeiras há 17 anos. Começou a sua vida profissional como magistrado do Ministério Público, em 1976, tendo pouco depois optado pela vida política. Liderou a distrital do PSD de Lisboa, foi vice-presidente da Associação Nacional de Municípios e era agora um dos vice-presidentes da comissão política de Durão Barroso. Acabar com a co-incineração e pôr em prática uma nova política de reciclagem de resíduos perigosos, rever o quadro legal de gestão da água, que tanta polémica tem causado entre os autarcas, bem como elaborar um Programa Nacional da Política do Ordenamento do Território, são algumas das promessas eleitorais do PSD que deverá executar. OBRAS PÚBLICAS E TURISMO Valente de Oliveira - Doutorado em Eng. Civil, 65 anos

(José Sócrates) (José Sócrates) Foi ministro do Planeamento e Administração do Território nos 10 anos de governo de Cavaco Silva e teve a tutela da Educação nos anos 70. Opôs-se à actual localização de uma das obras emblemáticas do cavaquismo: a Ponte Vasco da Gama. Na altura Cavaco optou pela solução de Ferreira do Amaral, o ministro da pasta que agora Valente vai gerir. Discorda da construção do aeroporto da Ota e vai ter que lidar com os dossiês do TGV, da terceira ponte sobre o Tejo, dos défices das empresas públicas de Transportes e o das acessibilidades ao Euro-2004. SAÚDE Luís Filipe Pereira - Licenciado em Economia, 58 anos

(Correia de Campos) (Correia de Campos) Vem de fora do sector, o que pode sempre funcionar como uma vantagem, porém, chega com uma pedra no sapato. Desde há seis anos que é quadro superior dos Mello, o grupo privado com maiores interesses no sector da Saúde em Portugal. Já foi secretário de Estado da Segurança Social e da Indústria nos governos de Cavaco Silva. Herda o que todos os seus antecessores herdaram: um défice sempre em crescendo. E este desconhecido com fama de excelente gestor tem o dever de dar sinais de mudança, porque o programa do PSD assim o determinava. CIÊNCIA E ENSINO SUPERIOR Pedro Lynce - Doutorado em Ciências Agronómicas, 59 anos

(Mariano Gago) (Mariano Gago) De regresso ao Governo seis anos depois de ter desempenhado as funções de secretário de Estado do Ensino Superior, tem pela frente o desafio de dar continuidade ao trabalho desenvolvido pelo único ministro de Guterres que se pode orgulhar de ter mantido a mesma pasta do primeiro ao último dia, Mariano Gago. À frente de um Ministério inédito que junta a Ciência e o Ensino Superior, terá de fazer face ao eterno problema do financiamento do Ensino Superior e da falta de qualidade académica de algumas universidades. AGRICULTURA, DESENVOLVIMENTO RURAL E PESCAS Armando Sevinate Pinto - Engenheiro agrónomo, 56 anos

(Capoulas Santos) (Capoulas Santos) Técnico com créditos firmados na área da Agricultura, esteve no Centro de Estudos de Economia Agrária da Fundação Gulbenkian e foi director na Comissão Europeia, entre 1987 e 1993. O conhecimento profundo que revela dos dossiês da política agrícola é reconhecido por todos os quadrantes. Sevinate Pinto defende o proteccionismo na Política Agrícola Comum e a reestruturação do Ministério da Agricultura e rejeita o mecanismo de modulação das ajudas. Sem filiação partidária, considera-se um «militante da agricultura». ADJUNTO José Luís Arnaut - Licenciado em Direito, 39 anos

(António José Seguro) (António José Seguro) A «sombra» de Durão Barroso, foi promovido a sócio principal do escritório Pena, Machete & Associados e preparava-se para diminuir a sua actividade política. Mas acaba por trocar com o ministro da Defesa socialista, ascendendo ao Governo enquanto o antecessor de Portas regressa ao escritório. Foi um dos grandes responsáveis pelas vitórias do PSD nas autárquicas e nas legislativas. Assume agora a coordenação política do Governo, ao estilo de Jorge Coelho, e terá a seu cargo a gestão da pasta do Euro-2004. PRESIDÊNCIA Nuno Morais Sarmento - Licenciado em Direito, 41 anos

(Guilherme Oliveira Martins) (Guilherme Oliveira Martins) O indigitado ministro da Presidência surpreendeu tudo e todos, esta semana, ao revelar o seu passado de toxicodependência e a forma como Durão Barroso o apoiou no processo de recuperação. Vice-presidente do PSD e amigo pessoal de Durão Barroso de há longa data, é um dos seus conselheiros de maior confiança. O homem certo para uma pasta de profundo cunho político como a da Presidência do Conselho de Ministros. Terá ainda a tutela da Comunicação Social e o problema da RTP para resolver. ADMINISTRAÇÃO INTERNA Figueiredo Lopes - Licenciado em Direito, 65 anos

(SeverianoTeixeira) (SeverianoTeixeira) Secretário de Estado nos III, IV, VI, VIII, X e XII Governos (neste último foi, durante sete meses, titular do Ministério da Defesa), vai, pela primeira vez, ter responsabilidades na área da Administração Interna, depois de ter passado pela Administração Pública, Orçamento, Reforma Administrativa e, fundamentalmente, Defesa. É amigo do ex-titular da pasta, Severiano Teixeira. À sua espera tem a questão da insegurança, a complicada situação na GNR e a promessa de Durão de atribuir um subsídio de risco aos polícias. ESTADO E DEFESA NACIONAL Paulo Portas - Licenciado em Direito, 39 anos

(Rui Pena) (Rui Pena) O líder do CDS/PP chega ao Governo como um «combatente» que resistiu a várias batalhas perdidas e não tem tempo a perder. Terça-feira será o seu baptismo público e o tema é-lhe,com certeza, caro: é o convidado de honra da cerimónia comemorativa da Liga dos Antigos Combatentes na Batalha. Honras e fanfarras à parte, os militares estão na expectativa quanto ao que vai fazer o novo ministro, passada a surpresa (e estranheza) inicial. Reservam opiniões para depois: quando o virem passar o «teste dos dinheiros» – a sua primeira batalha, dizem, porque «se não negociou antes um orçamento para a Defesa, vai ser um desastre anunciado». Até ao fim do ano vão ser precisos entre 100 e 200 milhões de euros para despesas correntes. Só então lhe será dado o crédito da confiança, o bem mais escasso da relação entre civis e militares. Portas pode até não perceber de Defesa – e o sector sabe-o – mas os militares estão dispostos a abdicar desse requisito e confiar na sua inteligência se, em troca, o também novo ministro de Estado (um ponto a seu favor) lhes der maior dignidade e peso político. A polémica dos submarinos e a Lei de Programação Militar aprovada com os votos do CDS/PP, e que teve a oposição do PSD, são alguns dos desafios.

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COMENTÁRIOS

4 comentários 1 a 4

7 de Abril de 2002 às 10:37

Diogo Sotto Mai ( op3706@mail.telepac.pt )

Este governo não vai governar "à Guterres", isto é, sem aumentar os impostos. Seria excessivamente difícil e a qualidade dos seus membros não é suficiente para isso.

A promessa de extinguir muitos institutos vai proporcionar bons dividendos propagandistas, mas será de resultados nulos em termos financeiros, ou seja, de cortes de despesas públicas. A solução mais natural para Durão/Portas é aumentar o IVA e isso vai quebrar o Estado de confiança mínima dado por um resultado eleitoral mesmo à pele.

Mas, o principal objectivo dos cidadãos, hoje em dias, é lutar pela defesa do direito às reformas. É imprescindível que os actuais reformados e aqueles que se vão reformar nos próximos anos se unam para defender aquilo que é seu e que deram à sociedade durante 35 a 40 anos de trabalho,

Não pode um homem como Bagão Félix vir defender no Poder os seus antigos patrões. Ele já disse a jornalistas que as pessoas que o conhecem sabem que nunca fará isso. Se o não fizer, serei eu o primeiro a aplaudi-lo. Mas, pense bem, Dr. Bagão Félix, não é o voto do Ricardo Salgado que lhe vai proporcionar a vitória nas próximas eleições. É sim o dos cidadãos em geral, enfim, das classes médias que descontam para a Segurança Social e essas não podem ver reduzidas as receitas da SS para resolver um eventual problema de daqui a 40 anos ou mais. Dr. Bagão, não vamos acreditar na sua HONESTIDADE, se o Sr. colocar em risco as próximas eleições a troco de algo que se vai passar daqui a 40 anos, data em que provavelmente o Senhor não estará cá como não estarão os actuais reformados e aqueles que se vão reformar nos próximos anos.

É que os jornais já começaram a bombardear a Opinião pública com a tese da falta de sustentabilidade do sistema em 2030 ou 2040. Há soluções para isso, e estão na Lei. Só não vê quem está ao serviço de outros interesses que não os do Povo Português, ou concretamente, dos trabalhadores que descontam para a utentes da mesma.

Dr. Bagão Félix, Dr. Durão e Dr. Portas. Vocês vão governar aquilo que não é vosso, aquilo que é nosso. Não pensem que adquiriram qualquer direito de propriedade sobre os bens dos cidadãos, ou seja, os bens do Estado.

Os meus descontos de mais de 30 anos de trabalho, não são sua Propriedade, Dr. Bagão, como não os de todos os outros portugueses. Cuidado pois com o que faz. Isto não pode vir a ser uma quinta dos Mello e do BES.

7 de Abril de 2002 às 09:58

Zé Luiz ( Desculpe lá , amigo Açoriano, )

...mas essa frase - "este governo é mau demais para ser verdade" - ainda há pouquíssimas semanas a li aqui, repetida "ad nauseam" e glosada pelos mais diversos comentaristas, sobre o governo de Guterres.

Depois das eleições pensei que durante os próximos meses não ia ter ocasião de a ler de novo, o que era uma pausa benvinda - mas afinal, passadas umas semanas, cá está ela de novo!

Convença-se disto, meu amigo: normalmente nenhum governo é muito melhor nem muito pior do que os outros. Nem o de Durão em relação ao de Guterres ou ao de Cavaco, nem o de Portugal em relação ao de qualquer outro país europeu.

Uma excepção a esta regra foi o governo de Margaret Thatcher no Reino Unido, que por pouco não destruiu completamente a sociedade e a civilização britânicas (conceitos em que ela de resto não acredita) em proveito exclusivo da economia abstracta.

Outra coisa de que se fala muito nestes comentários é o "descalabro" e o "caos" em que estará Portugal. Não está. A última vez que estivemos em descalabro económico foi durante o Gonçalvismo; depois disto estivemos lá perto durante os governos da AD, e foi preciso Ernâni Lopes para resolver a situação.

Quanto à situação de "caos", a última vez que se pôde falar em tal sem ser em sentido figurado foi durante a guerra civil entre liberais e miguelistas.

Voltando à actualidade: o insuspeito e rigoroso Vítor Constâncio declarou recentemente que estamos perante uma crise financeira mas não perante uma crise económica. Se a isto juntarmos o facto de nunca como durante os governos de Guterres se ter registado um período de desenvolvimento socio-economico-cultural como aquele que agora nos arriscamos a ver terminar, acho que temos razões de sobra para mandar calar as Cassandras e os Velhos do Restelo.

Os partidos do Governo e os media andam há anos a tentar convencer-nos de que estamos numa situação muito pior do que aquela em que estamos porque só assim poderão justificar as medidas de extrema violência que se preparam contra as classes médias e a favor dos mais ricos e poderosos.

6 de Abril de 2002 às 15:46

Açoriano

Este Governo é mau demais para ser verdade! Quando serão as novas eleições?

6 de Abril de 2002 às 14:26

CaragoNaoPorra ( caragonaoporra@hotmail.com )

A composição deste governo revela uma vez mais as tendências corporativas que existem na sociedade Portuguesa. Tem 10 ministros licenciados em Direito, 4 em economia e 3 em enga.

O nosso País tem sido governado desde a revolução, quer por licenciados em Direito, quer por licenciados em economia. Os resultados são bem visíveis. A Assembleia da República eferma do mesmo mal. Ou seja, é uma coutada de licenciados em Direito. Reflectindo o espírito corporativo.

É urgente pôr um fim às corporações em Portugal. Uma sociedade só pode estar convenientemente representada num Parlamento quando a composição desse Parlamento reflecte a própria população, nomeadamente em termos de formação académica.

Por corporativismo, em Portugal os lugares políticos são quase todos monopólio de licenciados em Direito e em economia. Isto é muito máu e deve mudar.

Licenciados em Direito: 10 Ministros

Licenciados em Economia/Finanças: 4 Ministros

Licenciados noutras áreas: 3 Ministros

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