29/3/2002
OPINIÃO
Apoio e sorte, sra. ministra Nicolau Santos
«A ministra contará certamente com as melhores cabeças do PSD para a aconselhar. Mas, mais que isso, do que a nova ministra necessita é do apoio constante e inequívoco do primeiro-ministro - e de muita sorte. Com isso, é difícil, mas possível. Sem isso, é fracasso assegurado.» HÁ três boas razões para a escolha de Manuela Ferreira Leite para ministra das Finanças dar certo. E há outras três boas razões para dar errado. Pode dar certo porque Manuela Ferreira Leite conhece o Ministério das Finanças, a máquina tributária e o processo de elaboração orçamental - e isso é essencial para quem tem de tomar decisões importantes a muito curto prazo. Pode dar certo porque Manuela Ferreira Leite sabe o que é preciso fazer para conter a despesa pública e quais os caminhos para lá chegar, dispondo de uma inegável autoridade junto do primeiro-ministro para o levar a apoiá-la nas decisões difíceis que será necessário tomar. E pode dar certo porque Manuela Ferreira Leite não tem manifestamente o perfil de quem procura a popularidade, antes privilegia os objectivos, não quer os aplausos, mas a satisfação do dever cumprido. Mas a escolha da nova ministra pode dar errada também por três boas razões. A primeira é que Manuela Ferreira Leite tem pouca sensibilidade política - e isso vai ser muitíssimo necessário para negociar com autarquias, regiões autónomas, funcionários públicos e outros interesses que serão atingidos pelas medidas de contenção. Sem alguma flexibilidade, a ministra corre o risco de sofrer um enorme desgaste e de não conseguir atingir os objectivos. A segunda razão é que Manuela Ferreira Leite não tem boas recordações da sua passagem pelo Ministério das Finanças, como secretária de Estado do Orçamento. Braga de Macedo era o ministro, a crise de 1992 atingiu Portugal, e o resultado foi a derrapagem orçamental, mas, mais importante, a desarticulação da máquina fiscal - que Eduardo Catroga, o ministro seguinte, teria o trabalho de recompor. Se os funcionários tributários ainda se lembrarem do que se passou, a ministra pode ter dificuldade em mobilizar a administração fiscal para a sua causa. A terceira razão tem a ver com o facto de Manuela Ferreira Leite ser vista como uma escolha bastante abaixo das expectativas, que não desperta entusiasmo e que desilude os que pensaram que Durão Barroso tinha um grande nome para o cargo - como Cadilhe, Ernâni ou Borges. E, ao não entusiasmar, também tem mais dificuldade em ser aceite, respeitada e impor as suas medidas. Em qualquer caso, a solução pode resultar, até porque a ministra contará certamente com as melhores cabeças do PSD para a aconselhar. Mas, mais que isso, do que a nova ministra necessita é do apoio constante e inequívoco do primeiro-ministro - e de muita sorte. Com isso, é difícil, mas possível. Sem isso, é fracasso assegurado. E-mail: nicolausantos@mail.expresso.pt
COMENTÁRIOS
6 comentários 1 a 6
2 de Abril de 2002 às 02:41
Nepervil ( rodas_nepervil@hotmail.com )
Se Manuela F. Leite levar o Vasco Valdez para os assuntos fiscais, adeus nossas encomendas. O homem é um atraso de vida. Reforma fiscal nem daqui por 10 anos. Aceitam-se apostas ...
30 de Março de 2002 às 20:02
Diogo Quental ( dquental@hotmail.com )
Caro Nicolau Santos,
E que tal aproveitar a maré de Nash e introduzir alguma Teoria dos Jogos na sua análise?
Já viu que se a Ministra tever azar todos teremos azar?
Desejemos-lhe todos, pois, muita sorte.
Cumprimentos,
DQ
30 de Março de 2002 às 02:23
Kostas Kalimera ( kkalimera@hotmail.com )
A ver vamos! Segundo ouvi ontem, na satisfeita tertúlia que mantém na "SIC Noticias" (a mim parece-me muito mais uma feira de vaidades)se daqui a 6 meses as ruas estiverem cheias de pessoas a protestarem contra a política financeira que está a ser seguida isso será um bom sinal de que MFL está a desempenhar bem o seu papael!
Foi o que entre risos disseram o senhor e o seu amigo Costa.
Naturalmente, seguros de que o vosso bem estar financeiro não está dependente das acções que a ministra possa desenvolver...
29 de Março de 2002 às 18:02
bigorna
E os seus economistas estimados Sr.Nicolau Santos ?
Não querem largar seus privilégios ,não é verdade?
Ainda bem ,pois Manuela Ferreira Leite não deve dever favores a ninguém ,nem mesmo aos Srs. jornalistas que como bem se sabe também fazem os seus favores a certos Srs Patrões e Gestores.
29 de Março de 2002 às 11:35
Zé Luiz
Sorte? Quem sabe... Napoleão dizia que era esta a primeira qualidade que exigia aos seus generais.
Apoio do Primeiro-Ministro? Mesmo nos tempos difíceis? Com os anti-corpos que a senhora tem na sociedade (e não só na Administração Fiscal, longe disso...)? Com o Paulo Portas sempre à espreita da sua oportunidade, de agenda privada na mão? Duvido muito...
Avizinham-se tempos florentinos...
29 de Março de 2002 às 01:25
Albatroz
Manuela Ferreira Leite está intelectualmente vários furos acima de Durão Barroso. É esse o problema...
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29/3/2002
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Apoio e sorte, sra. ministra Nicolau Santos
«A ministra contará certamente com as melhores cabeças do PSD para a aconselhar. Mas, mais que isso, do que a nova ministra necessita é do apoio constante e inequívoco do primeiro-ministro - e de muita sorte. Com isso, é difícil, mas possível. Sem isso, é fracasso assegurado.» HÁ três boas razões para a escolha de Manuela Ferreira Leite para ministra das Finanças dar certo. E há outras três boas razões para dar errado. Pode dar certo porque Manuela Ferreira Leite conhece o Ministério das Finanças, a máquina tributária e o processo de elaboração orçamental - e isso é essencial para quem tem de tomar decisões importantes a muito curto prazo. Pode dar certo porque Manuela Ferreira Leite sabe o que é preciso fazer para conter a despesa pública e quais os caminhos para lá chegar, dispondo de uma inegável autoridade junto do primeiro-ministro para o levar a apoiá-la nas decisões difíceis que será necessário tomar. E pode dar certo porque Manuela Ferreira Leite não tem manifestamente o perfil de quem procura a popularidade, antes privilegia os objectivos, não quer os aplausos, mas a satisfação do dever cumprido. Mas a escolha da nova ministra pode dar errada também por três boas razões. A primeira é que Manuela Ferreira Leite tem pouca sensibilidade política - e isso vai ser muitíssimo necessário para negociar com autarquias, regiões autónomas, funcionários públicos e outros interesses que serão atingidos pelas medidas de contenção. Sem alguma flexibilidade, a ministra corre o risco de sofrer um enorme desgaste e de não conseguir atingir os objectivos. A segunda razão é que Manuela Ferreira Leite não tem boas recordações da sua passagem pelo Ministério das Finanças, como secretária de Estado do Orçamento. Braga de Macedo era o ministro, a crise de 1992 atingiu Portugal, e o resultado foi a derrapagem orçamental, mas, mais importante, a desarticulação da máquina fiscal - que Eduardo Catroga, o ministro seguinte, teria o trabalho de recompor. Se os funcionários tributários ainda se lembrarem do que se passou, a ministra pode ter dificuldade em mobilizar a administração fiscal para a sua causa. A terceira razão tem a ver com o facto de Manuela Ferreira Leite ser vista como uma escolha bastante abaixo das expectativas, que não desperta entusiasmo e que desilude os que pensaram que Durão Barroso tinha um grande nome para o cargo - como Cadilhe, Ernâni ou Borges. E, ao não entusiasmar, também tem mais dificuldade em ser aceite, respeitada e impor as suas medidas. Em qualquer caso, a solução pode resultar, até porque a ministra contará certamente com as melhores cabeças do PSD para a aconselhar. Mas, mais que isso, do que a nova ministra necessita é do apoio constante e inequívoco do primeiro-ministro - e de muita sorte. Com isso, é difícil, mas possível. Sem isso, é fracasso assegurado. E-mail: nicolausantos@mail.expresso.pt
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6 comentários 1 a 6
2 de Abril de 2002 às 02:41
Nepervil ( rodas_nepervil@hotmail.com )
Se Manuela F. Leite levar o Vasco Valdez para os assuntos fiscais, adeus nossas encomendas. O homem é um atraso de vida. Reforma fiscal nem daqui por 10 anos. Aceitam-se apostas ...
30 de Março de 2002 às 20:02
Diogo Quental ( dquental@hotmail.com )
Caro Nicolau Santos,
E que tal aproveitar a maré de Nash e introduzir alguma Teoria dos Jogos na sua análise?
Já viu que se a Ministra tever azar todos teremos azar?
Desejemos-lhe todos, pois, muita sorte.
Cumprimentos,
DQ
30 de Março de 2002 às 02:23
Kostas Kalimera ( kkalimera@hotmail.com )
A ver vamos! Segundo ouvi ontem, na satisfeita tertúlia que mantém na "SIC Noticias" (a mim parece-me muito mais uma feira de vaidades)se daqui a 6 meses as ruas estiverem cheias de pessoas a protestarem contra a política financeira que está a ser seguida isso será um bom sinal de que MFL está a desempenhar bem o seu papael!
Foi o que entre risos disseram o senhor e o seu amigo Costa.
Naturalmente, seguros de que o vosso bem estar financeiro não está dependente das acções que a ministra possa desenvolver...
29 de Março de 2002 às 18:02
bigorna
E os seus economistas estimados Sr.Nicolau Santos ?
Não querem largar seus privilégios ,não é verdade?
Ainda bem ,pois Manuela Ferreira Leite não deve dever favores a ninguém ,nem mesmo aos Srs. jornalistas que como bem se sabe também fazem os seus favores a certos Srs Patrões e Gestores.
29 de Março de 2002 às 11:35
Zé Luiz
Sorte? Quem sabe... Napoleão dizia que era esta a primeira qualidade que exigia aos seus generais.
Apoio do Primeiro-Ministro? Mesmo nos tempos difíceis? Com os anti-corpos que a senhora tem na sociedade (e não só na Administração Fiscal, longe disso...)? Com o Paulo Portas sempre à espreita da sua oportunidade, de agenda privada na mão? Duvido muito...
Avizinham-se tempos florentinos...
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Albatroz
Manuela Ferreira Leite está intelectualmente vários furos acima de Durão Barroso. É esse o problema...
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