EXPRESSO: Opinião

22-05-2002
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29/3/2002

OPINIÃO

Apoio e sorte, sra. ministra Nicolau Santos

«A ministra contará certamente com as melhores cabeças do PSD para a aconselhar. Mas, mais que isso, do que a nova ministra necessita é do apoio constante e inequívoco do primeiro-ministro - e de muita sorte. Com isso, é difícil, mas possível. Sem isso, é fracasso assegurado.» HÁ três boas razões para a escolha de Manuela Ferreira Leite para ministra das Finanças dar certo. E há outras três boas razões para dar errado. Pode dar certo porque Manuela Ferreira Leite conhece o Ministério das Finanças, a máquina tributária e o processo de elaboração orçamental - e isso é essencial para quem tem de tomar decisões importantes a muito curto prazo. Pode dar certo porque Manuela Ferreira Leite sabe o que é preciso fazer para conter a despesa pública e quais os caminhos para lá chegar, dispondo de uma inegável autoridade junto do primeiro-ministro para o levar a apoiá-la nas decisões difíceis que será necessário tomar. E pode dar certo porque Manuela Ferreira Leite não tem manifestamente o perfil de quem procura a popularidade, antes privilegia os objectivos, não quer os aplausos, mas a satisfação do dever cumprido. Mas a escolha da nova ministra pode dar errada também por três boas razões. A primeira é que Manuela Ferreira Leite tem pouca sensibilidade política - e isso vai ser muitíssimo necessário para negociar com autarquias, regiões autónomas, funcionários públicos e outros interesses que serão atingidos pelas medidas de contenção. Sem alguma flexibilidade, a ministra corre o risco de sofrer um enorme desgaste e de não conseguir atingir os objectivos. A segunda razão é que Manuela Ferreira Leite não tem boas recordações da sua passagem pelo Ministério das Finanças, como secretária de Estado do Orçamento. Braga de Macedo era o ministro, a crise de 1992 atingiu Portugal, e o resultado foi a derrapagem orçamental, mas, mais importante, a desarticulação da máquina fiscal - que Eduardo Catroga, o ministro seguinte, teria o trabalho de recompor. Se os funcionários tributários ainda se lembrarem do que se passou, a ministra pode ter dificuldade em mobilizar a administração fiscal para a sua causa. A terceira razão tem a ver com o facto de Manuela Ferreira Leite ser vista como uma escolha bastante abaixo das expectativas, que não desperta entusiasmo e que desilude os que pensaram que Durão Barroso tinha um grande nome para o cargo - como Cadilhe, Ernâni ou Borges. E, ao não entusiasmar, também tem mais dificuldade em ser aceite, respeitada e impor as suas medidas. Em qualquer caso, a solução pode resultar, até porque a ministra contará certamente com as melhores cabeças do PSD para a aconselhar. Mas, mais que isso, do que a nova ministra necessita é do apoio constante e inequívoco do primeiro-ministro - e de muita sorte. Com isso, é difícil, mas possível. Sem isso, é fracasso assegurado. E-mail: nicolausantos@mail.expresso.pt

COMENTÁRIOS

6 comentários 1 a 6

2 de Abril de 2002 às 02:41

Nepervil ( rodas_nepervil@hotmail.com )

Se Manuela F. Leite levar o Vasco Valdez para os assuntos fiscais, adeus nossas encomendas. O homem é um atraso de vida. Reforma fiscal nem daqui por 10 anos. Aceitam-se apostas ...

30 de Março de 2002 às 20:02

Diogo Quental ( dquental@hotmail.com )

Caro Nicolau Santos,

E que tal aproveitar a maré de Nash e introduzir alguma Teoria dos Jogos na sua análise?

Já viu que se a Ministra tever azar todos teremos azar?

Desejemos-lhe todos, pois, muita sorte.

Cumprimentos,

DQ

30 de Março de 2002 às 02:23

Kostas Kalimera ( kkalimera@hotmail.com )

A ver vamos! Segundo ouvi ontem, na satisfeita tertúlia que mantém na "SIC Noticias" (a mim parece-me muito mais uma feira de vaidades)se daqui a 6 meses as ruas estiverem cheias de pessoas a protestarem contra a política financeira que está a ser seguida isso será um bom sinal de que MFL está a desempenhar bem o seu papael!

Foi o que entre risos disseram o senhor e o seu amigo Costa.

Naturalmente, seguros de que o vosso bem estar financeiro não está dependente das acções que a ministra possa desenvolver...

29 de Março de 2002 às 18:02

bigorna

E os seus economistas estimados Sr.Nicolau Santos ?

Não querem largar seus privilégios ,não é verdade?

Ainda bem ,pois Manuela Ferreira Leite não deve dever favores a ninguém ,nem mesmo aos Srs. jornalistas que como bem se sabe também fazem os seus favores a certos Srs Patrões e Gestores.

29 de Março de 2002 às 11:35

Zé Luiz

Sorte? Quem sabe... Napoleão dizia que era esta a primeira qualidade que exigia aos seus generais.

Apoio do Primeiro-Ministro? Mesmo nos tempos difíceis? Com os anti-corpos que a senhora tem na sociedade (e não só na Administração Fiscal, longe disso...)? Com o Paulo Portas sempre à espreita da sua oportunidade, de agenda privada na mão? Duvido muito...

Avizinham-se tempos florentinos...

29 de Março de 2002 às 01:25

Albatroz

Manuela Ferreira Leite está intelectualmente vários furos acima de Durão Barroso. É esse o problema...

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Apoio e sorte, sra. ministra Nicolau Santos

«A ministra contará certamente com as melhores cabeças do PSD para a aconselhar. Mas, mais que isso, do que a nova ministra necessita é do apoio constante e inequívoco do primeiro-ministro - e de muita sorte. Com isso, é difícil, mas possível. Sem isso, é fracasso assegurado.» HÁ três boas razões para a escolha de Manuela Ferreira Leite para ministra das Finanças dar certo. E há outras três boas razões para dar errado. Pode dar certo porque Manuela Ferreira Leite conhece o Ministério das Finanças, a máquina tributária e o processo de elaboração orçamental - e isso é essencial para quem tem de tomar decisões importantes a muito curto prazo. Pode dar certo porque Manuela Ferreira Leite sabe o que é preciso fazer para conter a despesa pública e quais os caminhos para lá chegar, dispondo de uma inegável autoridade junto do primeiro-ministro para o levar a apoiá-la nas decisões difíceis que será necessário tomar. E pode dar certo porque Manuela Ferreira Leite não tem manifestamente o perfil de quem procura a popularidade, antes privilegia os objectivos, não quer os aplausos, mas a satisfação do dever cumprido. Mas a escolha da nova ministra pode dar errada também por três boas razões. A primeira é que Manuela Ferreira Leite tem pouca sensibilidade política - e isso vai ser muitíssimo necessário para negociar com autarquias, regiões autónomas, funcionários públicos e outros interesses que serão atingidos pelas medidas de contenção. Sem alguma flexibilidade, a ministra corre o risco de sofrer um enorme desgaste e de não conseguir atingir os objectivos. A segunda razão é que Manuela Ferreira Leite não tem boas recordações da sua passagem pelo Ministério das Finanças, como secretária de Estado do Orçamento. Braga de Macedo era o ministro, a crise de 1992 atingiu Portugal, e o resultado foi a derrapagem orçamental, mas, mais importante, a desarticulação da máquina fiscal - que Eduardo Catroga, o ministro seguinte, teria o trabalho de recompor. Se os funcionários tributários ainda se lembrarem do que se passou, a ministra pode ter dificuldade em mobilizar a administração fiscal para a sua causa. A terceira razão tem a ver com o facto de Manuela Ferreira Leite ser vista como uma escolha bastante abaixo das expectativas, que não desperta entusiasmo e que desilude os que pensaram que Durão Barroso tinha um grande nome para o cargo - como Cadilhe, Ernâni ou Borges. E, ao não entusiasmar, também tem mais dificuldade em ser aceite, respeitada e impor as suas medidas. Em qualquer caso, a solução pode resultar, até porque a ministra contará certamente com as melhores cabeças do PSD para a aconselhar. Mas, mais que isso, do que a nova ministra necessita é do apoio constante e inequívoco do primeiro-ministro - e de muita sorte. Com isso, é difícil, mas possível. Sem isso, é fracasso assegurado. E-mail: nicolausantos@mail.expresso.pt

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2 de Abril de 2002 às 02:41

Nepervil ( rodas_nepervil@hotmail.com )

Se Manuela F. Leite levar o Vasco Valdez para os assuntos fiscais, adeus nossas encomendas. O homem é um atraso de vida. Reforma fiscal nem daqui por 10 anos. Aceitam-se apostas ...

30 de Março de 2002 às 20:02

Diogo Quental ( dquental@hotmail.com )

Caro Nicolau Santos,

E que tal aproveitar a maré de Nash e introduzir alguma Teoria dos Jogos na sua análise?

Já viu que se a Ministra tever azar todos teremos azar?

Desejemos-lhe todos, pois, muita sorte.

Cumprimentos,

DQ

30 de Março de 2002 às 02:23

Kostas Kalimera ( kkalimera@hotmail.com )

A ver vamos! Segundo ouvi ontem, na satisfeita tertúlia que mantém na "SIC Noticias" (a mim parece-me muito mais uma feira de vaidades)se daqui a 6 meses as ruas estiverem cheias de pessoas a protestarem contra a política financeira que está a ser seguida isso será um bom sinal de que MFL está a desempenhar bem o seu papael!

Foi o que entre risos disseram o senhor e o seu amigo Costa.

Naturalmente, seguros de que o vosso bem estar financeiro não está dependente das acções que a ministra possa desenvolver...

29 de Março de 2002 às 18:02

bigorna

E os seus economistas estimados Sr.Nicolau Santos ?

Não querem largar seus privilégios ,não é verdade?

Ainda bem ,pois Manuela Ferreira Leite não deve dever favores a ninguém ,nem mesmo aos Srs. jornalistas que como bem se sabe também fazem os seus favores a certos Srs Patrões e Gestores.

29 de Março de 2002 às 11:35

Zé Luiz

Sorte? Quem sabe... Napoleão dizia que era esta a primeira qualidade que exigia aos seus generais.

Apoio do Primeiro-Ministro? Mesmo nos tempos difíceis? Com os anti-corpos que a senhora tem na sociedade (e não só na Administração Fiscal, longe disso...)? Com o Paulo Portas sempre à espreita da sua oportunidade, de agenda privada na mão? Duvido muito...

Avizinham-se tempos florentinos...

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Albatroz

Manuela Ferreira Leite está intelectualmente vários furos acima de Durão Barroso. É esse o problema...

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