Processo de Bolonha tem sido alvo

09-11-2004
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Processo de Bolonha Tem Sido Alvo

Por SANDRA SILVA COSTA E BÁRBARA WONG

Quarta-feira, 03 de Novembro de 2004

de algumas leituras "míopes"

Cristina Robalo Cordeiro não tem dúvidas: "Ainda há quem tenha medo do Processo de Bolonha". Nomeada pelo Ministério da Ciência, Inovação e Ensino Superior (MCIES) coordenadora do Processo de Bolonha para a área das Ciências Humanas, a vice-reitora da Universidade de Coimbra considera que o texto que foi já ratificado por mais de 40 países e que tem em vista a criação, até 2010, de um espaço europeu de ensino superior, tem sido alvo de algumas leituras "míopes".

Esta tarde, arrancam na Faculdade de Letras do Porto as Conferências de Outono, este ano subordinadas ao tema "A construção da Europa do conhecimento". Até 3 de Dezembro, falar-se-á de avaliação, autonomia, formação de professores, reformas curriculares - sempre tendo na mira os preceitos de Bolonha. Cristina Robalo Cordeiro e José Ferreira Gomes, vice-reitor da universidade do Porto, serão os oradores da sessão inaugural.

Para pôr em prática as reformas necessárias à aplicação de Bolonha, o MCIES nomeou cerca de duas dezenas de grupos de trabalho, um para cada área de conhecimento, e propôs que estudassem e dessem um parecer sobre as estruturas de formação. Os grupos vão ainda definir os perfis e competências para cada ciclo e área de formação. As conclusões serão conhecidas até ao fim do mês.

Em declarações ao PÚBLICO, a vice-reitora de Coimbra levanta ligeiramente o véu sobre a intervenção que fará esta tarde no Porto. "O Processo de Bolonha é um momento fundamental e fundador na transformação das mentalidades no que toca ao ensino superior. Ainda há quem tenha medo de Bolonha, talvez porque não entende os seus pressupostos", adianta.

Para Cristina Cordeiro, sendo "um texto simples e esquemático", a declaração de Bolonha tem sido lida "por diferentes pessoas de uma forma muito míope". "Cada um vai ao texto e tira dele o que mais lhe interessa para o defender ou criticar", completa.

Apesar de considerar que em Portugal houve "alguma preguiça" em reflectir sobre a criação de um espaço europeu de ensino superior, Cristina Cordeiro assinala, porém, que "as pessoas já acordaram". "Neste momento, parece-me que há uma adesão total ao espírito de Bolonha", refere. E acrescenta que as instituições portuguesas estão "perfeitamente" motivadas para cumprir os preceitos talhados pela declaração assinada naquela cidade italiana a 19 de Junho de 1999.

Ferreira Gomes, coordenador de Bolonha para a área das Ciências, tem a mesma opinião. "O plano de alterações necessárias para que as instituições se adaptem ao espírito de Bolonha começa a ficar razoavelmente concretizado", comenta.

O ministério está a liderar o processo e quer começar a aplicá-lo, faseadamente, já a partir do próximo ano, para estar a funcionar em pleno em 2010.

A ministra Maria da Graça Carvalho já disse que a estrutura de graus baseada em dois ciclos poderá assumir perfis e orientações diferentes. Contudo, vê com bons olhos um primeiro ciclo com três anos e o segundo com dois.

CRUP e CCISP não estão

de acordo

O Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) e o Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP) põem em causa esta duração de ciclos pela mesma razão: o financiamento. É que, dizem, o MCIES ainda não definiu se vai suportar o custo do 2º ciclo. E tal é essencial para a subsistência das instituições.

No entanto, o CCISP vê com bons olhos esta estrutura curricular se for financiada como agora. Valter Lemos, presidente do Politécnico de Castelo Branco, lamenta a visão "corporativista" (ver texto ao lado) das ordens e associações profissionais que defendem formações com mais anos, por razões "que têm a ver com imagem social". "Portugal tem formações muito longas", critica, acrescentando que "Bolonha é o triunfo das formações anglo-saxónicas, mais curtas e que são reconhecidas internacionalmente".

É com "preocupação" que o CRUP ouve as declarações de Graça Carvalho sobre a estrutura "3+2". Para Adriano Pimpão, presidente do CRUP, o esquema ideal seria um primeiro ciclo com quatro anos e um segundo com um. "É uma questão de os alunos serem melhor preparados. Além de que esse modelo se aproxima mais do americano", justifica Pimpão.

Valter Lemos considera que "a solução não passa por copiar os EUA", mas por preparar o sistema de ensino para ser competitivo e "virado para o exterior". O dirigente teme que, mesmo depois de o novo sistema estar implantado, possa ficar "tudo na mesma". Só o país terá a perder com isso, conclui.

Processo de Bolonha Tem Sido Alvo

Por SANDRA SILVA COSTA E BÁRBARA WONG

Quarta-feira, 03 de Novembro de 2004

de algumas leituras "míopes"

Cristina Robalo Cordeiro não tem dúvidas: "Ainda há quem tenha medo do Processo de Bolonha". Nomeada pelo Ministério da Ciência, Inovação e Ensino Superior (MCIES) coordenadora do Processo de Bolonha para a área das Ciências Humanas, a vice-reitora da Universidade de Coimbra considera que o texto que foi já ratificado por mais de 40 países e que tem em vista a criação, até 2010, de um espaço europeu de ensino superior, tem sido alvo de algumas leituras "míopes".

Esta tarde, arrancam na Faculdade de Letras do Porto as Conferências de Outono, este ano subordinadas ao tema "A construção da Europa do conhecimento". Até 3 de Dezembro, falar-se-á de avaliação, autonomia, formação de professores, reformas curriculares - sempre tendo na mira os preceitos de Bolonha. Cristina Robalo Cordeiro e José Ferreira Gomes, vice-reitor da universidade do Porto, serão os oradores da sessão inaugural.

Para pôr em prática as reformas necessárias à aplicação de Bolonha, o MCIES nomeou cerca de duas dezenas de grupos de trabalho, um para cada área de conhecimento, e propôs que estudassem e dessem um parecer sobre as estruturas de formação. Os grupos vão ainda definir os perfis e competências para cada ciclo e área de formação. As conclusões serão conhecidas até ao fim do mês.

Em declarações ao PÚBLICO, a vice-reitora de Coimbra levanta ligeiramente o véu sobre a intervenção que fará esta tarde no Porto. "O Processo de Bolonha é um momento fundamental e fundador na transformação das mentalidades no que toca ao ensino superior. Ainda há quem tenha medo de Bolonha, talvez porque não entende os seus pressupostos", adianta.

Para Cristina Cordeiro, sendo "um texto simples e esquemático", a declaração de Bolonha tem sido lida "por diferentes pessoas de uma forma muito míope". "Cada um vai ao texto e tira dele o que mais lhe interessa para o defender ou criticar", completa.

Apesar de considerar que em Portugal houve "alguma preguiça" em reflectir sobre a criação de um espaço europeu de ensino superior, Cristina Cordeiro assinala, porém, que "as pessoas já acordaram". "Neste momento, parece-me que há uma adesão total ao espírito de Bolonha", refere. E acrescenta que as instituições portuguesas estão "perfeitamente" motivadas para cumprir os preceitos talhados pela declaração assinada naquela cidade italiana a 19 de Junho de 1999.

Ferreira Gomes, coordenador de Bolonha para a área das Ciências, tem a mesma opinião. "O plano de alterações necessárias para que as instituições se adaptem ao espírito de Bolonha começa a ficar razoavelmente concretizado", comenta.

O ministério está a liderar o processo e quer começar a aplicá-lo, faseadamente, já a partir do próximo ano, para estar a funcionar em pleno em 2010.

A ministra Maria da Graça Carvalho já disse que a estrutura de graus baseada em dois ciclos poderá assumir perfis e orientações diferentes. Contudo, vê com bons olhos um primeiro ciclo com três anos e o segundo com dois.

CRUP e CCISP não estão

de acordo

O Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) e o Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP) põem em causa esta duração de ciclos pela mesma razão: o financiamento. É que, dizem, o MCIES ainda não definiu se vai suportar o custo do 2º ciclo. E tal é essencial para a subsistência das instituições.

No entanto, o CCISP vê com bons olhos esta estrutura curricular se for financiada como agora. Valter Lemos, presidente do Politécnico de Castelo Branco, lamenta a visão "corporativista" (ver texto ao lado) das ordens e associações profissionais que defendem formações com mais anos, por razões "que têm a ver com imagem social". "Portugal tem formações muito longas", critica, acrescentando que "Bolonha é o triunfo das formações anglo-saxónicas, mais curtas e que são reconhecidas internacionalmente".

É com "preocupação" que o CRUP ouve as declarações de Graça Carvalho sobre a estrutura "3+2". Para Adriano Pimpão, presidente do CRUP, o esquema ideal seria um primeiro ciclo com quatro anos e um segundo com um. "É uma questão de os alunos serem melhor preparados. Além de que esse modelo se aproxima mais do americano", justifica Pimpão.

Valter Lemos considera que "a solução não passa por copiar os EUA", mas por preparar o sistema de ensino para ser competitivo e "virado para o exterior". O dirigente teme que, mesmo depois de o novo sistema estar implantado, possa ficar "tudo na mesma". Só o país terá a perder com isso, conclui.

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