Doze anos de protestos estudantis

08-11-2003
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Doze Anos de Protestos Estudantis

Por POR BÁRBARA WONG

Quinta-feira, 06 de Novembro de 2003 Foi no final de 1991 que os estudantes começaram a sair à rua para gritar "Não pagamos". A primeira Lei das Propinas aumentou a comparticipação dos alunos de seis para 250 euros. Caem ministros, mudam os Governos e a luta mantém-se, tal como as palavras de ordem. 29/11/1991 "Bolsas sim, propinas não" Um milhar de estudantes à procura de Diamantino Durão, o ministro da Educação que decidiu mexer na comparticipação dos alunos nos custos do ensino superior. Depois de procurarem o ministro na 5 de Outubro, os estudantes invadiram a reitoria da Universidade de Lisboa, reclamando um ensino "tendencialmente gratuito", tal como está previsto na Constituição. 26/02/1992 "Não" ao aumento das propinas Milhares de estudantes do superior bloquearam cruzamentos da cidade e sentaram-se no Rossio, parando por completo o trânsito. Antes, concentraram-se frente ao Ministério da Educação, onde não foram recebidos por Diamantino Durão. "Propinas não, bolsas sim", voltaram a repetir. A 13 de Março, depois de uma reunião com Cavaco Silva, Durão é demitido. 24/03/1992 Sentados nos cruzamentos Milhares e milhares de jovens de todo o país -ædez mil, diziam alguns dirigentes estudantis - participaram numa manifestação contra a política governamental para o ensino superior e em particular contra o aumento das propinas. Os estudantes atravessaram Lisboa, ora correndo, ora sentando-se no meio dos cruzamentos. A lei acaba por ser promulgada em Julho. 18/11/1992 Mais de dez mil às portas de São Bento Contra as propinas, dez mil estudantes de todo o país concentraram-se frente ao Parlamento. Alguns forçaram as barreiras policiais, subiram as escadarias, partiram vidros e invadiram os jardins da Assembleia da República. A polícia não interviu. 04/05/1993 Cabeças partidas frente ao ministério Dois mil estudantes envolvem-se em confrontos com a polícia, frente ao Ministério da Educação. Resultado: cabeças partidas e cinco baixas nas forças policiais. Em Novembro, cerca de 1500 estudantes de Lisboa concentram-se frente à Assembleia da República para protestar contra a regulamentação da Lei das Propinas. Do outro lado da barricada estão 50 elementos do Corpo de Intervenção. Por volta das 17h, alguns alunos rompem o cordão policial. Uns são detidos, outros corridos à bastonada. Mário Soares, Presidente da República, insurge-se contra a violência policial. No final do mês, os estudantes fazem greve às aulas e a 3 de Dezembro o ministro Couto dos Santos acaba por se demitir. 07/12/1993 Manifestações continuam A "maior manifestação de sempre". Entre sete e dez mil estudantes do secundário e do superior queimam bandeiras do PSD, apupam Cavaco Silva e Manuela Ferreira Leite, que acaba de tomar posse. 24/03/1994 Comemorar o Dia do Estudante Os alunos do secundário e do ensino superior saíram à rua. Os primeiros contra a reforma e as provas globais e os segundos contra as propinas. Os protestos foram pouco concorridos. 07/12/1994 Um ano de Manuela Ferreira Leite Um milhar de estudantes frente ao Ministério da Educação. Os alunos simularam um tribunal que condenava Ferreira Leite a "arranjar uma política de educação ou a ir embora". Os alunos do privado demarcaram-se da concentração. 24/03/1995 Propinas "já deram" No dia do estudante, são poucos os que vêm para a rua. Depois de meses de contestação contra as propinas e contra as provas globais, os alunos do superior e do secundário descansam. Ainda assim há alguns, poucos, que se concentram frente ao Ministério da Educação. 27/11/1996 Marçal Grilo posto à prova Chegado ao poder, o PS baixa a propina para os seis euros iniciais. Esta é uma das primeiras medidas anunciadas por Marçal Grilo, que quer negociar o financiamento do ensino superior. Em Novembro, um coração partido com o slogan "A paixão é traição" encabeça um protesto de dois mil estudantes contra as alterações à lei de bases. 21/05/1997 Superior mobiliza secundário Com a pouca afluência a um protesto contra a situação do ensino superior, os universitários decidem convocar os do secundário. A manifestação já não é contra as propinas, mas contra a Lei de Financiamento que estabelece uma taxa única. A lei é aprovada em Setembro. 11/12/1997 Bastões voltam a atacar Pela primeira vez, no Governo Guterres, os bastões falam mais alto e caem sobre os 1500 estudantes que se manifestam contra a Lei do Financiamento. Tal como noutros tempos, os manifestantes procuram invadir a Assembleia da República, mas são impedidos pela polícia. 24/03/1998 Dez mil outra vez É a maior manifestação do governo socialista, dez mil estudantes nas ruas exigindo a revogação da Lei do Financiamento. Mas a verdade é que os estudantes vão pagando as propinas e, em Setembro, a grande maioria já havia pago. Em Dezembro apenas mil se manifestam. Nos dois anos seguintes, os estudantes marcam o seu dia (24 de Março) com manifestações dispersas. 02/04/2003 Governadora Civil proíbe protesto Em 2001 e 2002, os estudantes protestam por altura da aprovação do Orçamento de Estado contra os cortes na educação. Ainda assim, em 2001 marcham até ao Parlamento três mil alunos. Um ano depois, não são mais de 400: as principais academias do país não alinharam. Em Abril de 2003, a Governadora Civil de Lisboa, Teresa Caeiro, decide não autorizar um desfile de mil estudantes que se manifestam contra a política do Ministério da Ciência e do Ensino Superior. Em Outubro, por todas as academias do país surgem protestos contra a fixação do valor das propinas. A manifestação de ontem não foi o fim: os estudantes prometem continuar os protestos. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Dez mil estudantes contra lei do financiamento do superior

Graça Carvalho anuncia "orçamento solidário"

A marcha dos alunos bem comportados

Senado de Coimbra fixa propinas sem estudantes

Alunos do privado demarcaram-se do protesto

EDITORIAL

A manifestação egoista

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Quinta-feira, 06 de Novembro de 2003 Foi no final de 1991 que os estudantes começaram a sair à rua para gritar "Não pagamos". A primeira Lei das Propinas aumentou a comparticipação dos alunos de seis para 250 euros. Caem ministros, mudam os Governos e a luta mantém-se, tal como as palavras de ordem. 29/11/1991 "Bolsas sim, propinas não" Um milhar de estudantes à procura de Diamantino Durão, o ministro da Educação que decidiu mexer na comparticipação dos alunos nos custos do ensino superior. Depois de procurarem o ministro na 5 de Outubro, os estudantes invadiram a reitoria da Universidade de Lisboa, reclamando um ensino "tendencialmente gratuito", tal como está previsto na Constituição. 26/02/1992 "Não" ao aumento das propinas Milhares de estudantes do superior bloquearam cruzamentos da cidade e sentaram-se no Rossio, parando por completo o trânsito. Antes, concentraram-se frente ao Ministério da Educação, onde não foram recebidos por Diamantino Durão. "Propinas não, bolsas sim", voltaram a repetir. A 13 de Março, depois de uma reunião com Cavaco Silva, Durão é demitido. 24/03/1992 Sentados nos cruzamentos Milhares e milhares de jovens de todo o país -ædez mil, diziam alguns dirigentes estudantis - participaram numa manifestação contra a política governamental para o ensino superior e em particular contra o aumento das propinas. Os estudantes atravessaram Lisboa, ora correndo, ora sentando-se no meio dos cruzamentos. A lei acaba por ser promulgada em Julho. 18/11/1992 Mais de dez mil às portas de São Bento Contra as propinas, dez mil estudantes de todo o país concentraram-se frente ao Parlamento. Alguns forçaram as barreiras policiais, subiram as escadarias, partiram vidros e invadiram os jardins da Assembleia da República. A polícia não interviu. 04/05/1993 Cabeças partidas frente ao ministério Dois mil estudantes envolvem-se em confrontos com a polícia, frente ao Ministério da Educação. Resultado: cabeças partidas e cinco baixas nas forças policiais. Em Novembro, cerca de 1500 estudantes de Lisboa concentram-se frente à Assembleia da República para protestar contra a regulamentação da Lei das Propinas. Do outro lado da barricada estão 50 elementos do Corpo de Intervenção. Por volta das 17h, alguns alunos rompem o cordão policial. Uns são detidos, outros corridos à bastonada. Mário Soares, Presidente da República, insurge-se contra a violência policial. No final do mês, os estudantes fazem greve às aulas e a 3 de Dezembro o ministro Couto dos Santos acaba por se demitir. 07/12/1993 Manifestações continuam A "maior manifestação de sempre". Entre sete e dez mil estudantes do secundário e do superior queimam bandeiras do PSD, apupam Cavaco Silva e Manuela Ferreira Leite, que acaba de tomar posse. 24/03/1994 Comemorar o Dia do Estudante Os alunos do secundário e do ensino superior saíram à rua. Os primeiros contra a reforma e as provas globais e os segundos contra as propinas. Os protestos foram pouco concorridos. 07/12/1994 Um ano de Manuela Ferreira Leite Um milhar de estudantes frente ao Ministério da Educação. Os alunos simularam um tribunal que condenava Ferreira Leite a "arranjar uma política de educação ou a ir embora". Os alunos do privado demarcaram-se da concentração. 24/03/1995 Propinas "já deram" No dia do estudante, são poucos os que vêm para a rua. Depois de meses de contestação contra as propinas e contra as provas globais, os alunos do superior e do secundário descansam. Ainda assim há alguns, poucos, que se concentram frente ao Ministério da Educação. 27/11/1996 Marçal Grilo posto à prova Chegado ao poder, o PS baixa a propina para os seis euros iniciais. Esta é uma das primeiras medidas anunciadas por Marçal Grilo, que quer negociar o financiamento do ensino superior. Em Novembro, um coração partido com o slogan "A paixão é traição" encabeça um protesto de dois mil estudantes contra as alterações à lei de bases. 21/05/1997 Superior mobiliza secundário Com a pouca afluência a um protesto contra a situação do ensino superior, os universitários decidem convocar os do secundário. A manifestação já não é contra as propinas, mas contra a Lei de Financiamento que estabelece uma taxa única. A lei é aprovada em Setembro. 11/12/1997 Bastões voltam a atacar Pela primeira vez, no Governo Guterres, os bastões falam mais alto e caem sobre os 1500 estudantes que se manifestam contra a Lei do Financiamento. Tal como noutros tempos, os manifestantes procuram invadir a Assembleia da República, mas são impedidos pela polícia. 24/03/1998 Dez mil outra vez É a maior manifestação do governo socialista, dez mil estudantes nas ruas exigindo a revogação da Lei do Financiamento. Mas a verdade é que os estudantes vão pagando as propinas e, em Setembro, a grande maioria já havia pago. Em Dezembro apenas mil se manifestam. Nos dois anos seguintes, os estudantes marcam o seu dia (24 de Março) com manifestações dispersas. 02/04/2003 Governadora Civil proíbe protesto Em 2001 e 2002, os estudantes protestam por altura da aprovação do Orçamento de Estado contra os cortes na educação. Ainda assim, em 2001 marcham até ao Parlamento três mil alunos. Um ano depois, não são mais de 400: as principais academias do país não alinharam. Em Abril de 2003, a Governadora Civil de Lisboa, Teresa Caeiro, decide não autorizar um desfile de mil estudantes que se manifestam contra a política do Ministério da Ciência e do Ensino Superior. Em Outubro, por todas as academias do país surgem protestos contra a fixação do valor das propinas. A manifestação de ontem não foi o fim: os estudantes prometem continuar os protestos. 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