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30-08-2002
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Tourada

Amnésia Barranquenha Miguel Moutinho

Presidente da Sociedade Ética de Defesa dos Animais (SEDA)

Amadora

A recuperação do tristemente célebre «caso Barrancos» pelo mais alto magistrado da Nação, despoletou e evidenciou um autêntico surto de esquecimento que atacou algumas personalidades e instituições políticas portuguesas e que as levou a assumir posições em relação a este caso que são, no mínimo, preocupantes. O primeiro esquecimento foi do próprio Presidente da República. Esqueceu-se de que já se devia ter pronunciado antes sobre esta questão, em algum dos três passados anos em que a lei foi violada flagrantemente em Barrancos, mesmo contra ordens judiciais. Esqueceu-se de que, a facilitar a vida a algum Governo, esperava-se que o fizesse ao Governo composto pelos seus camaradas de partido (pelo qual chegou à Presidência da República) e não ao Governo eleito pelo partido que derrotou os seus camaradas nas eleições. Esqueceu-se também de que o «caso Barrancos» só costuma surgir em fins de Julho, princípios de Agosto, e não em meados de Junho (e que foi estranho que tivesse surgido tão cedo, sobretudo em resultado da sua intervenção). Esqueceu-se de que é Presidente da República, lembrando-se apenas de que é aficcionado das touradas. Esqueceu-se de que é progressista (pelo menos, é conhecido por isso) e que o progressismo se opõe às touradas. Esqueceu-se de que, pelo cargo que ocupa, tem o dever de ser neutro nas posições que assume e não ser abertamente parcial, sobretudo numa questão em que se serve do seu poder para favorecer um gosto pessoal. Esqueceu-se, por último, de que deve cumprir os seus deveres constitucionais enquanto primeiro defensor do Estado de Direito democrático, ao invés de advogar uma medida legislativa que fira de morte a estabilidade jurídica e democrática do Estado português. O primeiro esquecimento foi do próprio Presidente da República. Esqueceu-se de que já se devia ter pronunciado antes sobre esta questão, em algum dos três passados anos em que a lei foi violada flagrantemente em Barrancos, mesmo contra ordens judiciais. Esqueceu-se de que, a facilitar a vida a algum Governo, esperava-se que o fizesse ao Governo composto pelos seus camaradas de partido (pelo qual chegou à Presidência da República) e não ao Governo eleito pelo partido que derrotou os seus camaradas nas eleições. Esqueceu-se também de que o «caso Barrancos» só costuma surgir em fins de Julho, princípios de Agosto, e não em meados de Junho (e que foi estranho que tivesse surgido tão cedo, sobretudo em resultado da sua intervenção). Esqueceu-se de que é Presidente da República, lembrando-se apenas de que é aficcionado das touradas. Esqueceu-se de que é progressista (pelo menos, é conhecido por isso) e que o progressismo se opõe às touradas. Esqueceu-se de que, pelo cargo que ocupa, tem o dever de ser neutro nas posições que assume e não ser abertamente parcial, sobretudo numa questão em que se serve do seu poder para favorecer um gosto pessoal. Esqueceu-se, por último, de que deve cumprir os seus deveres constitucionais enquanto primeiro defensor do Estado de Direito democrático, ao invés de advogar uma medida legislativa que fira de morte a estabilidade jurídica e democrática do Estado português. Mas nem só o Presidente da República foi apanhado por este surto de esquecimentos. O primeiro-ministro foi também uma vítima deste estranho vírus. Senão, veja-se: esqueceu-se de que, enquanto líder da oposição, criticou ferozmente os Governos anteriores por não serem capazes de afirmar a autoridade do Estado e por serem responsáveis pela desautorização das autoridades judiciais e policiais, graças à sua cumplicidade com o «caso Barrancos»; esqueceu-se de que é líder do partido que, enquanto esteve na oposição, rejeitou sempre as propostas legislativas que visavam consagrar a excepção para Barrancos (teria sido com o único objectivo de causar dificuldades aos Governos anteriores?); esqueceu-se de que uma das suas palavras de ordem na sua campanha eleitoral foi o reforço da autoridade do Estado e não a sua total destruição. Enfim, o primeiro-ministro é mais uma vítima a lamentar entre as que contraíram este vírus do esquecimento. Mas nem só o Presidente da República foi apanhado por este surto de esquecimentos. O primeiro-ministro foi também uma vítima deste estranho vírus. Senão, veja-se: esqueceu-se de que, enquanto líder da oposição, criticou ferozmente os Governos anteriores por não serem capazes de afirmar a autoridade do Estado e por serem responsáveis pela desautorização das autoridades judiciais e policiais, graças à sua cumplicidade com o «caso Barrancos»; esqueceu-se de que é líder do partido que, enquanto esteve na oposição, rejeitou sempre as propostas legislativas que visavam consagrar a excepção para Barrancos (teria sido com o único objectivo de causar dificuldades aos Governos anteriores?); esqueceu-se de que uma das suas palavras de ordem na sua campanha eleitoral foi o reforço da autoridade do Estado e não a sua total destruição. Enfim, o primeiro-ministro é mais uma vítima a lamentar entre as que contraíram este vírus do esquecimento. Mas o CDS/PP também foi afectado por este surto. Paulo Portas e Telmo Correia esqueceram-se de que o CDS/PP submeteu um projecto-lei à votação do Parlamento em Dezembro de 1999 (há pouco mais de dois anos) que era praticamente igual àquele que agora estão a apresentar e que foi liminarmente recusado, na altura, por todas as outras bancadas parlamentares. Esqueceram-se também de que o CDS/PP é um partido que se declara constantemente contra a violência nos espectáculos e na própria televisão (daí a proposta do «v-chip») e que acaba de abordar este tema nas suas jornadas parlamentares. Como pode então declarar-se não só a favor da violência sobre os animais, mas também a favor do exercício desta violência em espectáculos públicos, não raramente exibidos pelas estações de televisão, e frequentemente assistidos por crianças, como é o caso das touradas (nomeadamente as de morte)? Mas o CDS/PP também foi afectado por este surto. Paulo Portas e Telmo Correia esqueceram-se de que o CDS/PP submeteu um projecto-lei à votação do Parlamento em Dezembro de 1999 (há pouco mais de dois anos) que era praticamente igual àquele que agora estão a apresentar e que foi liminarmente recusado, na altura, por todas as outras bancadas parlamentares. Esqueceram-se também de que o CDS/PP é um partido que se declara constantemente contra a violência nos espectáculos e na própria televisão (daí a proposta do «v-chip») e que acaba de abordar este tema nas suas jornadas parlamentares. Como pode então declarar-se não só a favor da violência sobre os animais, mas também a favor do exercício desta violência em espectáculos públicos, não raramente exibidos pelas estações de televisão, e frequentemente assistidos por crianças, como é o caso das touradas (nomeadamente as de morte)? Assistimos ainda ao esquecimento do ministro da Agricultura, que, ao defender, «como alentejano que é», a legalização das touradas de morte, esqueceu-se de que é ministro e não representante dos alentejanos, para além de se ter esquecido de que muitos alentejanos não são a favor das touradas e que podem sentir-se ofendidos com as suas declarações. O PCP também foi afectado pelo vírus do esquecimento, pois esqueceu-se de que as touradas são uma prática própria de uma classe que certamente consideram da burguesia, que é o suposto alvo deste partido, esqueceu-se de que as touradas colidem totalmente com os supostos princípios progressistas deste partido, e esqueceu-se de que a defesa das touradas de morte em Barrancos não teve bons resultados para o partido nesta mesma vila, pois nas últimas eleições autárquicas foi eleito um candidato do PS para presidente desta Câmara Municipal. Assistimos ainda ao esquecimento do ministro da Agricultura, que, ao defender, «como alentejano que é», a legalização das touradas de morte, esqueceu-se de que é ministro e não representante dos alentejanos, para além de se ter esquecido de que muitos alentejanos não são a favor das touradas e que podem sentir-se ofendidos com as suas declarações. O PCP também foi afectado pelo vírus do esquecimento, pois esqueceu-se de que as touradas são uma prática própria de uma classe que certamente consideram da burguesia, que é o suposto alvo deste partido, esqueceu-se de que as touradas colidem totalmente com os supostos princípios progressistas deste partido, e esqueceu-se de que a defesa das touradas de morte em Barrancos não teve bons resultados para o partido nesta mesma vila, pois nas últimas eleições autárquicas foi eleito um candidato do PS para presidente desta Câmara Municipal. O Presidente da República parece ter sido ainda atacado uma segunda vez por este vírus, quando apelidou, muito pedagogicamente, de «pequeno barulho» os protestos das associações de protecção dos animais, isto, ao mesmo tempo que apela à «agitação democrática», à «participação da sociedade civil nas decisões políticas do Estado» e à aproximação dos eleitores aos eleitos ou dos cidadãos aos seus representantes políticos. Esqueceu-se, portanto, que os 300 mil membros das associações de protecção dos animais do país são eleitores, cidadãos e pertencem a essa sociedade civil: parece que afinal o Presidente da República não anseia tanto pela sua participação. Esqueceu-se também de que Portugal não está regionalizado, quando, nesta sua segunda intervenção sobre o «caso Barrancos», apontou o exemplo de França (país regionalizado) e da sua excepção legal para as práticas tauromáquicas no Sul deste país como caminho para Portugal seguir. Pelos vistos, esqueceu-se também da sua formação jurídica. O Presidente da República parece ter sido ainda atacado uma segunda vez por este vírus, quando apelidou, muito pedagogicamente, de «pequeno barulho» os protestos das associações de protecção dos animais, isto, ao mesmo tempo que apela à «agitação democrática», à «participação da sociedade civil nas decisões políticas do Estado» e à aproximação dos eleitores aos eleitos ou dos cidadãos aos seus representantes políticos. Esqueceu-se, portanto, que os 300 mil membros das associações de protecção dos animais do país são eleitores, cidadãos e pertencem a essa sociedade civil: parece que afinal o Presidente da República não anseia tanto pela sua participação. Esqueceu-se também de que Portugal não está regionalizado, quando, nesta sua segunda intervenção sobre o «caso Barrancos», apontou o exemplo de França (país regionalizado) e da sua excepção legal para as práticas tauromáquicas no Sul deste país como caminho para Portugal seguir. Pelos vistos, esqueceu-se também da sua formação jurídica. Podemos concluir, em suma, que todas as personalidades e instituições referidas foram atacadas por um fortíssimo surto de esquecimento, uma autêntica «amnésia barranquenha». Até se esqueceram de algo ainda mais fundamental, que, por esta altura, já perderam completamente: a vergonha... Podemos concluir, em suma, que todas as personalidades e instituições referidas foram atacadas por um fortíssimo surto de esquecimento, uma autêntica «amnésia barranquenha». Até se esqueceram de algo ainda mais fundamental, que, por esta altura, já perderam completamente: a vergonha... 12:43 1 Julho 2002

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21 a 24 de 24 Escaravelho 09:38 3 Julho 2002 Excelente artigo. Os meus parabéns. osakax8 15:33 2 Julho 2002 Marialvismo e machismo

A "tradição" de Barrancos não tem defesa. Porque é que esses gajos não se dedicam a coisas mais interessantes do que andarem a emborrachar-se 3 dias e a matar o touro. mluso 04:24 2 Julho 2002 Não é só os defensores de animais é Portugal inteiro que tem vómitos para a prática de touros de morte para" se lavar a honra " ou "matar ciumes"

Sobre o anglo da psicoanalise o aficionado esclarecido na morte de touros na arena ou o toureiro,podem ver na morte do touro, a morte do seu rival sexual

ou eventual rival sexual.

Será que esta loucura se aplica a muitos do defensores da morte dos touros em Barrancos,onde se encluem presidentes,ministros, deputados,jornalistas,intelectuais,

particulares,etc.

O que é preciso em Barrancos e em

Lisboa é pasciencia de corno ou divorcios,e não fazer pagar cornudezes aos inocentes pobres

touros. soriot 16:13 1 Julho 2002 SEDA/ RMP (Reserva Moral Portuguesa)

Podemos ainda concluir, em suma, que para além de todas as personalidades e instituições referidas e que foram atacadas á esquerda e direita por um fortíssimo surto de esquecimento, uma autêntica «amnésia barranquenha» somente a SEDA mantem a vergonha, a reserva moral e a capacidade para nos lembrar a todos nós Portugueses do que está bem ou mal.

No meu entender ainda bem que as instituições se lembraram de algo ainda tão fundamental como a vergonha, dos valores como seja respeitar para ser respeitado.

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Amnésia Barranquenha Miguel Moutinho

Presidente da Sociedade Ética de Defesa dos Animais (SEDA)

Amadora

A recuperação do tristemente célebre «caso Barrancos» pelo mais alto magistrado da Nação, despoletou e evidenciou um autêntico surto de esquecimento que atacou algumas personalidades e instituições políticas portuguesas e que as levou a assumir posições em relação a este caso que são, no mínimo, preocupantes. O primeiro esquecimento foi do próprio Presidente da República. Esqueceu-se de que já se devia ter pronunciado antes sobre esta questão, em algum dos três passados anos em que a lei foi violada flagrantemente em Barrancos, mesmo contra ordens judiciais. Esqueceu-se de que, a facilitar a vida a algum Governo, esperava-se que o fizesse ao Governo composto pelos seus camaradas de partido (pelo qual chegou à Presidência da República) e não ao Governo eleito pelo partido que derrotou os seus camaradas nas eleições. Esqueceu-se também de que o «caso Barrancos» só costuma surgir em fins de Julho, princípios de Agosto, e não em meados de Junho (e que foi estranho que tivesse surgido tão cedo, sobretudo em resultado da sua intervenção). Esqueceu-se de que é Presidente da República, lembrando-se apenas de que é aficcionado das touradas. Esqueceu-se de que é progressista (pelo menos, é conhecido por isso) e que o progressismo se opõe às touradas. Esqueceu-se de que, pelo cargo que ocupa, tem o dever de ser neutro nas posições que assume e não ser abertamente parcial, sobretudo numa questão em que se serve do seu poder para favorecer um gosto pessoal. Esqueceu-se, por último, de que deve cumprir os seus deveres constitucionais enquanto primeiro defensor do Estado de Direito democrático, ao invés de advogar uma medida legislativa que fira de morte a estabilidade jurídica e democrática do Estado português. O primeiro esquecimento foi do próprio Presidente da República. Esqueceu-se de que já se devia ter pronunciado antes sobre esta questão, em algum dos três passados anos em que a lei foi violada flagrantemente em Barrancos, mesmo contra ordens judiciais. Esqueceu-se de que, a facilitar a vida a algum Governo, esperava-se que o fizesse ao Governo composto pelos seus camaradas de partido (pelo qual chegou à Presidência da República) e não ao Governo eleito pelo partido que derrotou os seus camaradas nas eleições. Esqueceu-se também de que o «caso Barrancos» só costuma surgir em fins de Julho, princípios de Agosto, e não em meados de Junho (e que foi estranho que tivesse surgido tão cedo, sobretudo em resultado da sua intervenção). Esqueceu-se de que é Presidente da República, lembrando-se apenas de que é aficcionado das touradas. Esqueceu-se de que é progressista (pelo menos, é conhecido por isso) e que o progressismo se opõe às touradas. Esqueceu-se de que, pelo cargo que ocupa, tem o dever de ser neutro nas posições que assume e não ser abertamente parcial, sobretudo numa questão em que se serve do seu poder para favorecer um gosto pessoal. Esqueceu-se, por último, de que deve cumprir os seus deveres constitucionais enquanto primeiro defensor do Estado de Direito democrático, ao invés de advogar uma medida legislativa que fira de morte a estabilidade jurídica e democrática do Estado português. Mas nem só o Presidente da República foi apanhado por este surto de esquecimentos. O primeiro-ministro foi também uma vítima deste estranho vírus. Senão, veja-se: esqueceu-se de que, enquanto líder da oposição, criticou ferozmente os Governos anteriores por não serem capazes de afirmar a autoridade do Estado e por serem responsáveis pela desautorização das autoridades judiciais e policiais, graças à sua cumplicidade com o «caso Barrancos»; esqueceu-se de que é líder do partido que, enquanto esteve na oposição, rejeitou sempre as propostas legislativas que visavam consagrar a excepção para Barrancos (teria sido com o único objectivo de causar dificuldades aos Governos anteriores?); esqueceu-se de que uma das suas palavras de ordem na sua campanha eleitoral foi o reforço da autoridade do Estado e não a sua total destruição. Enfim, o primeiro-ministro é mais uma vítima a lamentar entre as que contraíram este vírus do esquecimento. Mas nem só o Presidente da República foi apanhado por este surto de esquecimentos. O primeiro-ministro foi também uma vítima deste estranho vírus. Senão, veja-se: esqueceu-se de que, enquanto líder da oposição, criticou ferozmente os Governos anteriores por não serem capazes de afirmar a autoridade do Estado e por serem responsáveis pela desautorização das autoridades judiciais e policiais, graças à sua cumplicidade com o «caso Barrancos»; esqueceu-se de que é líder do partido que, enquanto esteve na oposição, rejeitou sempre as propostas legislativas que visavam consagrar a excepção para Barrancos (teria sido com o único objectivo de causar dificuldades aos Governos anteriores?); esqueceu-se de que uma das suas palavras de ordem na sua campanha eleitoral foi o reforço da autoridade do Estado e não a sua total destruição. Enfim, o primeiro-ministro é mais uma vítima a lamentar entre as que contraíram este vírus do esquecimento. Mas o CDS/PP também foi afectado por este surto. Paulo Portas e Telmo Correia esqueceram-se de que o CDS/PP submeteu um projecto-lei à votação do Parlamento em Dezembro de 1999 (há pouco mais de dois anos) que era praticamente igual àquele que agora estão a apresentar e que foi liminarmente recusado, na altura, por todas as outras bancadas parlamentares. Esqueceram-se também de que o CDS/PP é um partido que se declara constantemente contra a violência nos espectáculos e na própria televisão (daí a proposta do «v-chip») e que acaba de abordar este tema nas suas jornadas parlamentares. Como pode então declarar-se não só a favor da violência sobre os animais, mas também a favor do exercício desta violência em espectáculos públicos, não raramente exibidos pelas estações de televisão, e frequentemente assistidos por crianças, como é o caso das touradas (nomeadamente as de morte)? Mas o CDS/PP também foi afectado por este surto. Paulo Portas e Telmo Correia esqueceram-se de que o CDS/PP submeteu um projecto-lei à votação do Parlamento em Dezembro de 1999 (há pouco mais de dois anos) que era praticamente igual àquele que agora estão a apresentar e que foi liminarmente recusado, na altura, por todas as outras bancadas parlamentares. Esqueceram-se também de que o CDS/PP é um partido que se declara constantemente contra a violência nos espectáculos e na própria televisão (daí a proposta do «v-chip») e que acaba de abordar este tema nas suas jornadas parlamentares. Como pode então declarar-se não só a favor da violência sobre os animais, mas também a favor do exercício desta violência em espectáculos públicos, não raramente exibidos pelas estações de televisão, e frequentemente assistidos por crianças, como é o caso das touradas (nomeadamente as de morte)? Assistimos ainda ao esquecimento do ministro da Agricultura, que, ao defender, «como alentejano que é», a legalização das touradas de morte, esqueceu-se de que é ministro e não representante dos alentejanos, para além de se ter esquecido de que muitos alentejanos não são a favor das touradas e que podem sentir-se ofendidos com as suas declarações. O PCP também foi afectado pelo vírus do esquecimento, pois esqueceu-se de que as touradas são uma prática própria de uma classe que certamente consideram da burguesia, que é o suposto alvo deste partido, esqueceu-se de que as touradas colidem totalmente com os supostos princípios progressistas deste partido, e esqueceu-se de que a defesa das touradas de morte em Barrancos não teve bons resultados para o partido nesta mesma vila, pois nas últimas eleições autárquicas foi eleito um candidato do PS para presidente desta Câmara Municipal. Assistimos ainda ao esquecimento do ministro da Agricultura, que, ao defender, «como alentejano que é», a legalização das touradas de morte, esqueceu-se de que é ministro e não representante dos alentejanos, para além de se ter esquecido de que muitos alentejanos não são a favor das touradas e que podem sentir-se ofendidos com as suas declarações. O PCP também foi afectado pelo vírus do esquecimento, pois esqueceu-se de que as touradas são uma prática própria de uma classe que certamente consideram da burguesia, que é o suposto alvo deste partido, esqueceu-se de que as touradas colidem totalmente com os supostos princípios progressistas deste partido, e esqueceu-se de que a defesa das touradas de morte em Barrancos não teve bons resultados para o partido nesta mesma vila, pois nas últimas eleições autárquicas foi eleito um candidato do PS para presidente desta Câmara Municipal. O Presidente da República parece ter sido ainda atacado uma segunda vez por este vírus, quando apelidou, muito pedagogicamente, de «pequeno barulho» os protestos das associações de protecção dos animais, isto, ao mesmo tempo que apela à «agitação democrática», à «participação da sociedade civil nas decisões políticas do Estado» e à aproximação dos eleitores aos eleitos ou dos cidadãos aos seus representantes políticos. Esqueceu-se, portanto, que os 300 mil membros das associações de protecção dos animais do país são eleitores, cidadãos e pertencem a essa sociedade civil: parece que afinal o Presidente da República não anseia tanto pela sua participação. Esqueceu-se também de que Portugal não está regionalizado, quando, nesta sua segunda intervenção sobre o «caso Barrancos», apontou o exemplo de França (país regionalizado) e da sua excepção legal para as práticas tauromáquicas no Sul deste país como caminho para Portugal seguir. Pelos vistos, esqueceu-se também da sua formação jurídica. O Presidente da República parece ter sido ainda atacado uma segunda vez por este vírus, quando apelidou, muito pedagogicamente, de «pequeno barulho» os protestos das associações de protecção dos animais, isto, ao mesmo tempo que apela à «agitação democrática», à «participação da sociedade civil nas decisões políticas do Estado» e à aproximação dos eleitores aos eleitos ou dos cidadãos aos seus representantes políticos. Esqueceu-se, portanto, que os 300 mil membros das associações de protecção dos animais do país são eleitores, cidadãos e pertencem a essa sociedade civil: parece que afinal o Presidente da República não anseia tanto pela sua participação. Esqueceu-se também de que Portugal não está regionalizado, quando, nesta sua segunda intervenção sobre o «caso Barrancos», apontou o exemplo de França (país regionalizado) e da sua excepção legal para as práticas tauromáquicas no Sul deste país como caminho para Portugal seguir. Pelos vistos, esqueceu-se também da sua formação jurídica. Podemos concluir, em suma, que todas as personalidades e instituições referidas foram atacadas por um fortíssimo surto de esquecimento, uma autêntica «amnésia barranquenha». Até se esqueceram de algo ainda mais fundamental, que, por esta altura, já perderam completamente: a vergonha... Podemos concluir, em suma, que todas as personalidades e instituições referidas foram atacadas por um fortíssimo surto de esquecimento, uma autêntica «amnésia barranquenha». Até se esqueceram de algo ainda mais fundamental, que, por esta altura, já perderam completamente: a vergonha... 12:43 1 Julho 2002

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21 a 24 de 24 Escaravelho 09:38 3 Julho 2002 Excelente artigo. Os meus parabéns. osakax8 15:33 2 Julho 2002 Marialvismo e machismo

A "tradição" de Barrancos não tem defesa. Porque é que esses gajos não se dedicam a coisas mais interessantes do que andarem a emborrachar-se 3 dias e a matar o touro. mluso 04:24 2 Julho 2002 Não é só os defensores de animais é Portugal inteiro que tem vómitos para a prática de touros de morte para" se lavar a honra " ou "matar ciumes"

Sobre o anglo da psicoanalise o aficionado esclarecido na morte de touros na arena ou o toureiro,podem ver na morte do touro, a morte do seu rival sexual

ou eventual rival sexual.

Será que esta loucura se aplica a muitos do defensores da morte dos touros em Barrancos,onde se encluem presidentes,ministros, deputados,jornalistas,intelectuais,

particulares,etc.

O que é preciso em Barrancos e em

Lisboa é pasciencia de corno ou divorcios,e não fazer pagar cornudezes aos inocentes pobres

touros. soriot 16:13 1 Julho 2002 SEDA/ RMP (Reserva Moral Portuguesa)

Podemos ainda concluir, em suma, que para além de todas as personalidades e instituições referidas e que foram atacadas á esquerda e direita por um fortíssimo surto de esquecimento, uma autêntica «amnésia barranquenha» somente a SEDA mantem a vergonha, a reserva moral e a capacidade para nos lembrar a todos nós Portugueses do que está bem ou mal.

No meu entender ainda bem que as instituições se lembraram de algo ainda tão fundamental como a vergonha, dos valores como seja respeitar para ser respeitado.

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