Os protagonistas do ano

31-12-2003
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REvista

Os Protagonistas do Ano

Por A.C. E R.S.

Segunda-feira, 29 de Dezembro de 2003

O ano arrancou com dois acontecimentos directamente relacionados com o mercado bolsista: a dia 06 de Janeiro foi criada a Opex, sociedade gestora do PEX, o primeiro mercado português não regulamentado, lançado a 19 de Setembro, e que se encontra a dar os primeiros passos. A 24 de Janeiro, Alves Monteiro, pediu demissão da presidência da Euronext Lisboa, interrompendo assim uma carreira de 14 anos ligados ao mercado de capitais. Foi Alves Monteiro quem, em conjunto com Ricardo Salgado, negociou a integração da praça portuguesa no grupo Euronext. Alves Monteiro alegou razões pessoais para o abandono do cargo, mas fontes do mercado admitem que na decisão do gestor portuense pesaram vários factores, entre eles a perspectiva do encerramento da delegação da bolsa no Porto e o despedimento de cerca de 40 trabalhadores, a maior parte deles colaboradores da instituição na Invicta. Alves Monteiro foi substituído na presidência da Euronext Lisboa por João Freixa, um dos responsáveis pelo Barclays em Portugal.

"Big Bang" na Euronext

A 07 de Novembro, depois do sucessivo adiamento de algumas datas apontadas para a migração dos sistema de negociação da bolsa portuguesa para a plataforma pan-europeia Euronext, dá-se, finalmente, o "big bang". Tratou-se, na prática, da integração operacional do sistema de negociação e compensação da praça portuguesa naquela plataforma, e as empresas portuguesas cotadas passaram assim a estar directamente listadas no ecrã dos 300 intermediários financeiros que fazem parte das outras três bolsas que compõe a Euronext: Paris, Amesterdão e Bruxelas. Quase dois meses depois da migração ainda não é visível no mercado português aquele que foi apontado como um dos maiores benefícios da integração de Lisboa na Euronext: o aumento do volume de negócios. Resta ainda saber como irão os intermediários financeiros portugueses responder áquele que parece ser o maior desafio desta fusão: responder à concorrência das suas congéneres da Euronext.

Novo "élan" na EDP

O Governo decidiu, em Janeiro, entregar a João Talone, ex- administrador do BCP e um dos quadros mais destacados do maior banco privado português, a definição do plano de reestruturação do sector energético português. Poucos meses depois, o gestor apresentou o seu plano de reestruturação para o sector, que no essencial aponta para uma concentração da fileira de gás natural - actualmente nas mãos da GalpEnergia - na EDP. Surpreendentemente, João Talone assume a liderança da EDP. A possibilidade de entrada no negócio do gás natural, a nomeação, em meados do ano, de Talone para a presidência da comissão executiva da "eléctrica", e a apresentação de um novo plano de reestruturação para a empresa, deram um novo brilho à cotação da EDP. Apenas o impasse na assembleia geral da GalpEnergia - sucessivamente adiada devido à dificuldade da obtenção de um acordo entre o Estado português e os italianos da ENI, detentores de uma minoria de bloqueio na petrolífera - tem travado a recuperação de valor das acções da empresa.

Jerónimo Martins renasce

O grupo de distribuição liderado por Soares dos Santos deu mais um passo no plano de reestruturação que tinha iniciado em 2002, na sequência do forte endividamente e entrada em prejuízos, e anunciou em Fevereiro a venda do "cash and carry" na Polónia. O processo de reestruturação começou a dar frutos, e em Setembro deste ano a Jerónimo Martins volta a dar lucros. Cumpre-se a "promessa" de Soares dos Santos de voltar aos lucros em 2003, cumprida à custa do aumento das vendas e do decréscimo com os encargos financeiros, e as acções disparam em bolsa.

Medidas adiadas no BCP

O maior banco privado português teve mais um ano difícil. Em Fevereiro, anunciou um novo aumento de capital, destinado a recomprar a Seguros & Pensões, com a promessa de rápida colocação no mercado de parte ou totalidade da "holding" seguradora. O título recuperou parte das perdas, mas continua muito pressionado pela dificuldade que Jardim Gonçalves tem tido em concluir este "dossier". Corajosa foi a reunificação das diferentes marcas comerciais numa única: Millennium BCP, cujo impacto efectivo está ainda por definir.

CMVM luta pela transparência

Impulsionadas pelos escândalos financeiros, cujo "tiro de partida" foi dado pela norte-americana Enron, e pelos excessos cometidos durante a euforia bolsista do fim do século XX, as entidades de supervisão das bolsas apertaram as regras e criaram um conjunto de medidas que visam aumentar a transparência do mercado. Em finais de Fevereiro, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) anunciou a criação de um departamento de supervisão de informação financeira, processo que culminou com a apresentação do "pacote de transparência" em Junho. Os auditores, cuja alegada cumplicidade com algumas empresas acabou por permitir que fossem cometidas algumas fraudes financeiras, estão no centro da discussão e da criação de novas medidas. Em Portugal, até ao momento, o Central Banco de Investimento foi a única instituição onde se sentiu o "eco" da fraude financeira, envolvendo altos responsáveis políticos: Tavares Moreira, ex-Governador do Banco de Portugal e porta-voz do PSD para a área económica, e José Lemos, dirigente socialista.

A primeira condenação de "insider trading"

O primeiro julgamento por crime de mercado realizado em Portugal, doze anos depois da sua criminalização, culminou com a condenação de Miguel Sousa Cintra, filho do conhecido empresário José Sousa Cintra. O crime de abuso de informação privilegiada, conhecido como "insider trading", praticado por Sousa Cintra remontava a 1996 e envolvia um oferta pública de aquisição (OPA) lançada pela Jerónimo Martins sobre a Vidago, Melgaço e Pedras Salgadas. Sousa Cintra foi condenado a pena de prisão suspensa e ao pagamento de uma multa de 534,3 mil euros, um valor muito aquém dos 3,9 milhões de euros de "mais-valias" conseguida com a venda das acções. Para que o crime não compense, o Ministério Público pediu agora no segundo julgamento de "insider trading" - que envolve um ex-administrador da Mota & Companhia, Magalhães Pinto, e acções da Engil - a devolução total das "mais-valias".

Gescartão estreia-se

Apesar das dúvidas iniciais, a oferta pública de venda da Gescartão foi concluída com êxito, permitindo a sua privatização total. A empresa, maioritariamente detida pela Sonae e pelos espanhóis da Europac, protagonizou a única admissão à bolsa em 2003. Em Janeiro de 2004, a Gescartão entrará no PSI-20, a ambição de todas as pequenas e médias empresas cotadas.

Polémica na Portucel

O processo de privatização da Portucel continua sem fim à vista. O modelo de privatização através de um aumento de capital a realizar por entrada de activos industriais, a que se apresentaram apenas dois candidatos - Cofina/Lecta e M-Real - contou com a oposição do maior accionista privado, a Sonae, que inviabilizou o seu avanço. O Governo decidiu então optar pela a venda directa de um bloco indivisível de 30 por cento do capital, no âmbito de um concurso público a realizar em 2004. O caderno de encargos da operação ainda não foi publicado, existindo alguma expectativa sobre o interesse que esta operação pode suscitar junto de grandes "players" do sector.

PT centrada na gestão financeira

No ano em que cumpriu os cinco anos de investimento no Brasil e criou a Vivo - a parceria de rede móvel com a espanhola Telefónica para o mercado brasileiro -, a Portugal Telecom teve um desempenho mais modesto que o habitual em bolsa. Foi um exercício virado para a reestruturação financeira e a redução de custos, cujo anúncio de um programa de compra de acções próprias até 10 por cento do capital, com objectivo destruir para valorizar a cotação da da empresa, foi uma das medidas mais visíveis. Houve também a redução de 1.500 postos de trabalho na PT Comunicações. Em termos de compras o ano foi comedido: limitou-se à aquisição da brasileira Tele Centro Oeste.

A recuperação da Impresa

Foi uma das "estrelas" da bolsa em 2003: registou a maior valorização do ano e passou praticamente incólume ao aumento de capital, numa altura em que os investidores rejeitam injectar dinheiro nas empresas. A Impresa, liderada por Pinto Balsemão, concluiu este ano o processo de reestruturação, recuperou a liderança das audiências de televisão e encara com optimismo 2004. Um ano em que prevê regressar aos lucros, depois de quatro exercícios de prejuízos, e aposta na recuperação clara do mercado publicitário, para a qual a contribuição do Euro 2004 será preciosa.

REvista

Os Protagonistas do Ano

Por A.C. E R.S.

Segunda-feira, 29 de Dezembro de 2003

O ano arrancou com dois acontecimentos directamente relacionados com o mercado bolsista: a dia 06 de Janeiro foi criada a Opex, sociedade gestora do PEX, o primeiro mercado português não regulamentado, lançado a 19 de Setembro, e que se encontra a dar os primeiros passos. A 24 de Janeiro, Alves Monteiro, pediu demissão da presidência da Euronext Lisboa, interrompendo assim uma carreira de 14 anos ligados ao mercado de capitais. Foi Alves Monteiro quem, em conjunto com Ricardo Salgado, negociou a integração da praça portuguesa no grupo Euronext. Alves Monteiro alegou razões pessoais para o abandono do cargo, mas fontes do mercado admitem que na decisão do gestor portuense pesaram vários factores, entre eles a perspectiva do encerramento da delegação da bolsa no Porto e o despedimento de cerca de 40 trabalhadores, a maior parte deles colaboradores da instituição na Invicta. Alves Monteiro foi substituído na presidência da Euronext Lisboa por João Freixa, um dos responsáveis pelo Barclays em Portugal.

"Big Bang" na Euronext

A 07 de Novembro, depois do sucessivo adiamento de algumas datas apontadas para a migração dos sistema de negociação da bolsa portuguesa para a plataforma pan-europeia Euronext, dá-se, finalmente, o "big bang". Tratou-se, na prática, da integração operacional do sistema de negociação e compensação da praça portuguesa naquela plataforma, e as empresas portuguesas cotadas passaram assim a estar directamente listadas no ecrã dos 300 intermediários financeiros que fazem parte das outras três bolsas que compõe a Euronext: Paris, Amesterdão e Bruxelas. Quase dois meses depois da migração ainda não é visível no mercado português aquele que foi apontado como um dos maiores benefícios da integração de Lisboa na Euronext: o aumento do volume de negócios. Resta ainda saber como irão os intermediários financeiros portugueses responder áquele que parece ser o maior desafio desta fusão: responder à concorrência das suas congéneres da Euronext.

Novo "élan" na EDP

O Governo decidiu, em Janeiro, entregar a João Talone, ex- administrador do BCP e um dos quadros mais destacados do maior banco privado português, a definição do plano de reestruturação do sector energético português. Poucos meses depois, o gestor apresentou o seu plano de reestruturação para o sector, que no essencial aponta para uma concentração da fileira de gás natural - actualmente nas mãos da GalpEnergia - na EDP. Surpreendentemente, João Talone assume a liderança da EDP. A possibilidade de entrada no negócio do gás natural, a nomeação, em meados do ano, de Talone para a presidência da comissão executiva da "eléctrica", e a apresentação de um novo plano de reestruturação para a empresa, deram um novo brilho à cotação da EDP. Apenas o impasse na assembleia geral da GalpEnergia - sucessivamente adiada devido à dificuldade da obtenção de um acordo entre o Estado português e os italianos da ENI, detentores de uma minoria de bloqueio na petrolífera - tem travado a recuperação de valor das acções da empresa.

Jerónimo Martins renasce

O grupo de distribuição liderado por Soares dos Santos deu mais um passo no plano de reestruturação que tinha iniciado em 2002, na sequência do forte endividamente e entrada em prejuízos, e anunciou em Fevereiro a venda do "cash and carry" na Polónia. O processo de reestruturação começou a dar frutos, e em Setembro deste ano a Jerónimo Martins volta a dar lucros. Cumpre-se a "promessa" de Soares dos Santos de voltar aos lucros em 2003, cumprida à custa do aumento das vendas e do decréscimo com os encargos financeiros, e as acções disparam em bolsa.

Medidas adiadas no BCP

O maior banco privado português teve mais um ano difícil. Em Fevereiro, anunciou um novo aumento de capital, destinado a recomprar a Seguros & Pensões, com a promessa de rápida colocação no mercado de parte ou totalidade da "holding" seguradora. O título recuperou parte das perdas, mas continua muito pressionado pela dificuldade que Jardim Gonçalves tem tido em concluir este "dossier". Corajosa foi a reunificação das diferentes marcas comerciais numa única: Millennium BCP, cujo impacto efectivo está ainda por definir.

CMVM luta pela transparência

Impulsionadas pelos escândalos financeiros, cujo "tiro de partida" foi dado pela norte-americana Enron, e pelos excessos cometidos durante a euforia bolsista do fim do século XX, as entidades de supervisão das bolsas apertaram as regras e criaram um conjunto de medidas que visam aumentar a transparência do mercado. Em finais de Fevereiro, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) anunciou a criação de um departamento de supervisão de informação financeira, processo que culminou com a apresentação do "pacote de transparência" em Junho. Os auditores, cuja alegada cumplicidade com algumas empresas acabou por permitir que fossem cometidas algumas fraudes financeiras, estão no centro da discussão e da criação de novas medidas. Em Portugal, até ao momento, o Central Banco de Investimento foi a única instituição onde se sentiu o "eco" da fraude financeira, envolvendo altos responsáveis políticos: Tavares Moreira, ex-Governador do Banco de Portugal e porta-voz do PSD para a área económica, e José Lemos, dirigente socialista.

A primeira condenação de "insider trading"

O primeiro julgamento por crime de mercado realizado em Portugal, doze anos depois da sua criminalização, culminou com a condenação de Miguel Sousa Cintra, filho do conhecido empresário José Sousa Cintra. O crime de abuso de informação privilegiada, conhecido como "insider trading", praticado por Sousa Cintra remontava a 1996 e envolvia um oferta pública de aquisição (OPA) lançada pela Jerónimo Martins sobre a Vidago, Melgaço e Pedras Salgadas. Sousa Cintra foi condenado a pena de prisão suspensa e ao pagamento de uma multa de 534,3 mil euros, um valor muito aquém dos 3,9 milhões de euros de "mais-valias" conseguida com a venda das acções. Para que o crime não compense, o Ministério Público pediu agora no segundo julgamento de "insider trading" - que envolve um ex-administrador da Mota & Companhia, Magalhães Pinto, e acções da Engil - a devolução total das "mais-valias".

Gescartão estreia-se

Apesar das dúvidas iniciais, a oferta pública de venda da Gescartão foi concluída com êxito, permitindo a sua privatização total. A empresa, maioritariamente detida pela Sonae e pelos espanhóis da Europac, protagonizou a única admissão à bolsa em 2003. Em Janeiro de 2004, a Gescartão entrará no PSI-20, a ambição de todas as pequenas e médias empresas cotadas.

Polémica na Portucel

O processo de privatização da Portucel continua sem fim à vista. O modelo de privatização através de um aumento de capital a realizar por entrada de activos industriais, a que se apresentaram apenas dois candidatos - Cofina/Lecta e M-Real - contou com a oposição do maior accionista privado, a Sonae, que inviabilizou o seu avanço. O Governo decidiu então optar pela a venda directa de um bloco indivisível de 30 por cento do capital, no âmbito de um concurso público a realizar em 2004. O caderno de encargos da operação ainda não foi publicado, existindo alguma expectativa sobre o interesse que esta operação pode suscitar junto de grandes "players" do sector.

PT centrada na gestão financeira

No ano em que cumpriu os cinco anos de investimento no Brasil e criou a Vivo - a parceria de rede móvel com a espanhola Telefónica para o mercado brasileiro -, a Portugal Telecom teve um desempenho mais modesto que o habitual em bolsa. Foi um exercício virado para a reestruturação financeira e a redução de custos, cujo anúncio de um programa de compra de acções próprias até 10 por cento do capital, com objectivo destruir para valorizar a cotação da da empresa, foi uma das medidas mais visíveis. Houve também a redução de 1.500 postos de trabalho na PT Comunicações. Em termos de compras o ano foi comedido: limitou-se à aquisição da brasileira Tele Centro Oeste.

A recuperação da Impresa

Foi uma das "estrelas" da bolsa em 2003: registou a maior valorização do ano e passou praticamente incólume ao aumento de capital, numa altura em que os investidores rejeitam injectar dinheiro nas empresas. A Impresa, liderada por Pinto Balsemão, concluiu este ano o processo de reestruturação, recuperou a liderança das audiências de televisão e encara com optimismo 2004. Um ano em que prevê regressar aos lucros, depois de quatro exercícios de prejuízos, e aposta na recuperação clara do mercado publicitário, para a qual a contribuição do Euro 2004 será preciosa.

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