Febre dos "outlets" atinge Portugal

06-12-2003
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Novo segmento comercial aposta em marcas de referência a preço de saldo

Febre dos "Outlets" Atinge Portugal

Segunda-feira, 01 de Dezembro de 2003

Depois de quase dois anos sem concorrência, o "outlet" Campera, do Carregado, vai em breve partilhar mercado com uma segunda unidade em Alcochete. A Norte, o "duelo" será entre o Grijó "outlet" e o anunciado Nassica, em Vila do Conde. A Associação Portuguesa dos Centros Comerciais diz que há espaço para mais

Luísa Pinto

Já são dois e em breve serão quatro. Portugal despertou tarde para o conceito dos "outlets", áreas comerciais que se baseiam na venda de marcas de referência com fortes descontos. Mas parece que os operadores deste sub-segmento de centros comerciais não estão dispostos a deixar os créditos em mãos alheias: depois na passada quarta-feira se ter inaugurado em Grijó, Vila Nova de Gaia, o segundo "outlet" do país, promovido pela ESAF (Espírito Santo Activos Financeiros), está prevista para a próxima Primavera a abertura em Alcochete do "maior empreendimento lúdico-comercial europeu", a cargo da Freeport Leisure, o maior consórcio na área de construção de "outlets" na Europa. E em Vila do Conde vai surgir também em 2004 o primeiro "outlet" do poderoso grupo espanhol Nassica, representado em Portugal pela Neinver Lusitana. Mas podem vir a haver ainda mais dois "outlets" no país, já que há duas propostas ainda em fase embrionária.

Em Famalicão, o executivo da câmara municipal já viabilizou a transformação de um loteamento industrial com 90 pavilhões numa zona de "outlet". O promotor é Joaquim Ferreira Martins, que alegou não conseguir comercializar os pavilhões industriais e propôs a sua transformação. A autarquia, que assume "uma política de protecção ao comércio tradicional", que insiste "que jamais aprovará a criação de grandes superfícies comerciais dentro do perímetro urbano da cidade" e que lembra que já chumbou duas pretensões nesse sentido, viabilizou esse pedido e entrou em conflito com a Associação Comercial e Industrial de Famalicão. A Neinver Lusitana está a fazer as primeiras tentativas de abrir uma unidade no sul: adquiriu um terreno de 70 mil metros quadrados em Sintra e já entrou em contacto com a câmara municipal.

O conceito de "outlet" é originário dos Estados Unidos da América e conta já com quase um século de existência. Entretanto, assistiu a naturais processos de mudança e de evolução, mas sempre fiel ao seu objectivo base: permitir escoar a produção excedentária. Dos velhos barracões anexos a fábricas rapidamente se progrediu para arejados e cuidados complexos, quase "vilas comerciais", com as quais se conseguia, também, uma requalificação urbana de espaços degradados da periferia. Não é difícil, pois, perceber que o rígido conceito original progrediu no sentido de dar resposta a outras necessidades dos consumidores, acoplando a vertente de lazer ao novo circuito de distribuição de produtos. Mas estas unidades comerciais têm sempre como trave mestra a oferta de produtos de marcas de referência a preços no mínimo 20 a 30 por cento mais baixos do que é habitual nas outras áreas comerciais.

O Grijó "outlet" nasceu com uma área de restauração e tem agendadas várias actividades recreativas e culturais adequadas à época natalícia e tem também preparados vários ateliers infantis. O Freeport Leisure terá um espaço de lazer, com 21 salas de cinema, dez pistas de bowling, um "health e fitness center" e um parque de estacionamento com capacidade para 3500 veículos. Esta atenção especial à vertente de lazer foi também seguida pelo Nassica, de Vila de Conde, que tem anunciada, para uma segunda fase de abertura, apontada para "até 2006", uma área de restauração com três dezenas de restaurantes, 20 salas de cinema, bowling e jogos interactivos.

Vantagem nas intenções de compra

Só nos EUA existem hoje cerca de 350 "outlets" e, face à atractividade dos preços e espaços, bem como à variedade e qualidade de produtos e marcas, este continua a ser um dos conceitos comerciais preferidos. Anualmente registam-se mais de 500 milhões de visitas aos "outlets" americanos, o que lhes permite registar vendas anuais superiores a 14 biliões de dólares. Na Europa, a França e a Inglaterra foram os países pioneiros, que acordaram para esta nova realidade em finais da década de 80. Em Espanha, existem actualmente seis "outlets", que recebem a visita anual de cerca de 25 milhões de pessoas, e na Itália, um dos países mais restritivos no que respeita à construção de novos espaços comerciais, existem cerca de dez projectos em construção, o que ilustra bem o interesse dos promotores e das marcas naquele que é para os italianos, tal como para os portugueses, um formato ainda inovador.

Estes espaços acompanharam, sobretudo, a explosão do pronto-a-vestir, com o lançamento consecutivo de quatro ou mais colecções anuais, o que conduziu os fabricantes a aumentarem ainda mais a sua oferta. A qualidade e actualidade dos produtos é agora uma constante e, embora o objectivo de escoamento de excedentes se mantenha, os consumidores encontram nos "outlets" as mais variadas marcas e categorias de produtos. As marcas de grande consumo passam a ter presença obrigatória na grande maioria dos "outlets" e muitos são mesmo aqueles que conjugam as marcas de topo de áreas tão distintas como a perfumaria, a moda, o desporto, a tecnologia, a decoração ou o design. Para além de escoarem os excedentes das suas colecções e, por exemplo, as encomendas canceladas, a presença nestes espaços prende-se hoje, também, com a obtenção de novas economias de escala.

Dos estudos efectuados para o planeamento do Grijó "outlet", os promotores dizem ter percebido que a diferença entre "outlets" e centros comerciais está essencialmente na intenção de compra. "Os centros comercias são muitas vezes visitados por famílias inteiras que vão lá para passear, tomar um café ou ver um filme, mais até do que para comprar. Nos 'outlets', até pela sua implantação, fora dos centros urbanos mas com localização e acessibilidades estratégicas, as pessoas vêm menos vezes mas, de cada vez que vêm, fazem sempre uma compra, porque procuram produtos bons a preços competitivos", disse ao PÚBLICO Ricardo Cruz, responsável pela empresa que está a gerir o "outlet" Grijó, a IOM-International Outlet Management. Tanto na Europa como nos EUA, o valor médio das compras em "outlets" é superior em 30 a 40 por cento ao montante gasto em centros comerciais, embora a frequência seja menor do que a dos shopings.

O Grijó "outlet" abriu com apenas 30 das quase 60 lojas que vai disponibilizar na primeira fase, e que chegarão a 80 numa segunda fase de expansão apontada para finais de 2004. O responsável da IOM admitiu algumas dificuldades na celebração de contratos, referindo quer há muitas cadeias interessadas mas que, por enquanto, "vão esperar para ver". Mas rejeita que as dificuldades de comercialização estejam de algum modo relacionadas com a anunciada abertura do Nassica, já em construção, e que vai disputar a mesma área de quase quatro milhões de habitantes da zona de influência do "outlet" Grijó, que vai de Viana do Castelo à Figueira da Foz. O empreendimento da ESAF vai pagar assim as despesas de habituação, a norte, deste novo conceito comercial, onde para além da forte presença de centros comerciais existe ainda, bem vincada, a concorrência de feiras semanais com tradição na venda de têxteis.

Novo segmento comercial aposta em marcas de referência a preço de saldo

Febre dos "Outlets" Atinge Portugal

Segunda-feira, 01 de Dezembro de 2003

Depois de quase dois anos sem concorrência, o "outlet" Campera, do Carregado, vai em breve partilhar mercado com uma segunda unidade em Alcochete. A Norte, o "duelo" será entre o Grijó "outlet" e o anunciado Nassica, em Vila do Conde. A Associação Portuguesa dos Centros Comerciais diz que há espaço para mais

Luísa Pinto

Já são dois e em breve serão quatro. Portugal despertou tarde para o conceito dos "outlets", áreas comerciais que se baseiam na venda de marcas de referência com fortes descontos. Mas parece que os operadores deste sub-segmento de centros comerciais não estão dispostos a deixar os créditos em mãos alheias: depois na passada quarta-feira se ter inaugurado em Grijó, Vila Nova de Gaia, o segundo "outlet" do país, promovido pela ESAF (Espírito Santo Activos Financeiros), está prevista para a próxima Primavera a abertura em Alcochete do "maior empreendimento lúdico-comercial europeu", a cargo da Freeport Leisure, o maior consórcio na área de construção de "outlets" na Europa. E em Vila do Conde vai surgir também em 2004 o primeiro "outlet" do poderoso grupo espanhol Nassica, representado em Portugal pela Neinver Lusitana. Mas podem vir a haver ainda mais dois "outlets" no país, já que há duas propostas ainda em fase embrionária.

Em Famalicão, o executivo da câmara municipal já viabilizou a transformação de um loteamento industrial com 90 pavilhões numa zona de "outlet". O promotor é Joaquim Ferreira Martins, que alegou não conseguir comercializar os pavilhões industriais e propôs a sua transformação. A autarquia, que assume "uma política de protecção ao comércio tradicional", que insiste "que jamais aprovará a criação de grandes superfícies comerciais dentro do perímetro urbano da cidade" e que lembra que já chumbou duas pretensões nesse sentido, viabilizou esse pedido e entrou em conflito com a Associação Comercial e Industrial de Famalicão. A Neinver Lusitana está a fazer as primeiras tentativas de abrir uma unidade no sul: adquiriu um terreno de 70 mil metros quadrados em Sintra e já entrou em contacto com a câmara municipal.

O conceito de "outlet" é originário dos Estados Unidos da América e conta já com quase um século de existência. Entretanto, assistiu a naturais processos de mudança e de evolução, mas sempre fiel ao seu objectivo base: permitir escoar a produção excedentária. Dos velhos barracões anexos a fábricas rapidamente se progrediu para arejados e cuidados complexos, quase "vilas comerciais", com as quais se conseguia, também, uma requalificação urbana de espaços degradados da periferia. Não é difícil, pois, perceber que o rígido conceito original progrediu no sentido de dar resposta a outras necessidades dos consumidores, acoplando a vertente de lazer ao novo circuito de distribuição de produtos. Mas estas unidades comerciais têm sempre como trave mestra a oferta de produtos de marcas de referência a preços no mínimo 20 a 30 por cento mais baixos do que é habitual nas outras áreas comerciais.

O Grijó "outlet" nasceu com uma área de restauração e tem agendadas várias actividades recreativas e culturais adequadas à época natalícia e tem também preparados vários ateliers infantis. O Freeport Leisure terá um espaço de lazer, com 21 salas de cinema, dez pistas de bowling, um "health e fitness center" e um parque de estacionamento com capacidade para 3500 veículos. Esta atenção especial à vertente de lazer foi também seguida pelo Nassica, de Vila de Conde, que tem anunciada, para uma segunda fase de abertura, apontada para "até 2006", uma área de restauração com três dezenas de restaurantes, 20 salas de cinema, bowling e jogos interactivos.

Vantagem nas intenções de compra

Só nos EUA existem hoje cerca de 350 "outlets" e, face à atractividade dos preços e espaços, bem como à variedade e qualidade de produtos e marcas, este continua a ser um dos conceitos comerciais preferidos. Anualmente registam-se mais de 500 milhões de visitas aos "outlets" americanos, o que lhes permite registar vendas anuais superiores a 14 biliões de dólares. Na Europa, a França e a Inglaterra foram os países pioneiros, que acordaram para esta nova realidade em finais da década de 80. Em Espanha, existem actualmente seis "outlets", que recebem a visita anual de cerca de 25 milhões de pessoas, e na Itália, um dos países mais restritivos no que respeita à construção de novos espaços comerciais, existem cerca de dez projectos em construção, o que ilustra bem o interesse dos promotores e das marcas naquele que é para os italianos, tal como para os portugueses, um formato ainda inovador.

Estes espaços acompanharam, sobretudo, a explosão do pronto-a-vestir, com o lançamento consecutivo de quatro ou mais colecções anuais, o que conduziu os fabricantes a aumentarem ainda mais a sua oferta. A qualidade e actualidade dos produtos é agora uma constante e, embora o objectivo de escoamento de excedentes se mantenha, os consumidores encontram nos "outlets" as mais variadas marcas e categorias de produtos. As marcas de grande consumo passam a ter presença obrigatória na grande maioria dos "outlets" e muitos são mesmo aqueles que conjugam as marcas de topo de áreas tão distintas como a perfumaria, a moda, o desporto, a tecnologia, a decoração ou o design. Para além de escoarem os excedentes das suas colecções e, por exemplo, as encomendas canceladas, a presença nestes espaços prende-se hoje, também, com a obtenção de novas economias de escala.

Dos estudos efectuados para o planeamento do Grijó "outlet", os promotores dizem ter percebido que a diferença entre "outlets" e centros comerciais está essencialmente na intenção de compra. "Os centros comercias são muitas vezes visitados por famílias inteiras que vão lá para passear, tomar um café ou ver um filme, mais até do que para comprar. Nos 'outlets', até pela sua implantação, fora dos centros urbanos mas com localização e acessibilidades estratégicas, as pessoas vêm menos vezes mas, de cada vez que vêm, fazem sempre uma compra, porque procuram produtos bons a preços competitivos", disse ao PÚBLICO Ricardo Cruz, responsável pela empresa que está a gerir o "outlet" Grijó, a IOM-International Outlet Management. Tanto na Europa como nos EUA, o valor médio das compras em "outlets" é superior em 30 a 40 por cento ao montante gasto em centros comerciais, embora a frequência seja menor do que a dos shopings.

O Grijó "outlet" abriu com apenas 30 das quase 60 lojas que vai disponibilizar na primeira fase, e que chegarão a 80 numa segunda fase de expansão apontada para finais de 2004. O responsável da IOM admitiu algumas dificuldades na celebração de contratos, referindo quer há muitas cadeias interessadas mas que, por enquanto, "vão esperar para ver". Mas rejeita que as dificuldades de comercialização estejam de algum modo relacionadas com a anunciada abertura do Nassica, já em construção, e que vai disputar a mesma área de quase quatro milhões de habitantes da zona de influência do "outlet" Grijó, que vai de Viana do Castelo à Figueira da Foz. O empreendimento da ESAF vai pagar assim as despesas de habituação, a norte, deste novo conceito comercial, onde para além da forte presença de centros comerciais existe ainda, bem vincada, a concorrência de feiras semanais com tradição na venda de têxteis.

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