Uma escolha que exige passos seguros

09-03-2004
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Fundos de investimento

Uma Escolha Que Exige Passos Seguros

Segunda-feira, 01 de Dezembro de 2003

Investir ou desinvestir. Gerir uma carteira própria ou entregar o trabalho a profissionais. A avaliação do desempenho de um fundo de investimento depende também dos seus objectivos e da equipa de gestores. O melhor é avaliar com cuidado as inúmeras opções que se apresentam no mercado

Gonçalo Morna

A decisão de investir num determinado fundo de investimento não é fácil. Precisamos, em primeiro lugar, de identificar a classe de activos em que pretendemos investir. Tomada essa decisão, precisamos de saber se faz mais sentido realizar esse investimento de uma forma directa ou se será melhor delegar a gestão desse investimento a profissionais da matéria. Por exemplo, se a classe de activos identificada para investir for a de acções europeias e se chegarmos à conclusão de que não temos nem tempo nem conhecimentos suficientes para comprar directamente acções de empresas de diversos países da Europa, então faz todo o sentido que esse investimento seja realizado através de fundos geridos por profissionais. Tomada a decisão de investir através de fundos, a escolha do fundo deve ter em conta vários factores: desempenho histórico versus "benchmarks", comparação dos desempenhos históricos dos vários fundos do mesmo tipo existentes no mercado, identificar se a equipa de gestão que obteve esses desempenhos continua a gerir o fundo.

Se a decisão de investir num fundo não é fácil, a decisão de desinvestir num determinado fundo ainda é mais difícil. Quando a venda é motivada por uma necessidade urgente de realizar liquidez para fazer face a uma inesperada dificuldade financeira, nesse caso a análise é fácil. Mas, existem muitas outras razões que nos devem fazer ponderar a necessidade de vender, total ou parcialmente, a posição num determinado fundo de investimento:

- Voltar à alocação de activos inicial

Imaginemos que estabelecemos a nós próprios um limite máximo de investimento de 20 por cento do valor da nossa carteira de investimentos para um determinado fundo de acções nacionais. Se, passados dois ou três anos, se realizar uma valorização desse fundo de modo a que ele passe a representar 25 por cento do valor total da nossa carteira, então faz sentido realizar um desinvestimento parcial do fundo, que nos permita voltar aos 20 por cento iniciais. Não nos podemos esquecer que os limites máximos que nós devemos estabelecer para o investimento nas diversas classes de activos são motivados pelo risco, ou seja, se a valorização do fundo aumentar substancialmente a nossa posição numa determinada classe de activos estamos também a aumentar o risco global da nossa carteira;

- Alteração dos objectos financeiros do investidor

Várias situações, como o envelhecimento, o casamento, recebimento de heranças, etc, podem mudar os níveis de risco que estamos dispostos a suportar. O casamento e os filhos, por exemplo, podem ser razões mais do que suficientes para diminuirmos o risco, tornando necessário o desinvestimento em fundos de risco mais elevado.

- Mudança nos objectivos fundamentais do fundo

Muitas vezes verificam-se, com o decorrer dos anos, mudanças de estratégia na gestão dos fundos de investimento. Se tivermos investido, por exemplo, 10 por cento do total da nossa carteira num fundo que tinha inicialmente por objectivo o investimento em grandes empresas, é importante verificarmos com alguma regularidade se o fundo em questão mantém os objectivos iniciais. Se, por alguma razão, a gestão desse fundo começar a canalizar os investimentos para acções de pequenas empresas e se na nossa carteira já existisse uma posição, através doutro fundo, em pequenas empresas, iríamos ter uma situação em que a percentagem da nossa carteira alocada a acções desse tipo iria ser superior à inicialmente estabelecida. Outra situação que acontece com alguma frequência é a de fundos que inicialmente têm por objectivo investir em acções de empresas de risco mais reduzido, conhecidas por "blue chips", começarem a investir em acções de empresas de risco superior, por exemplo em acções tecnológicas, aumentando consideravelmente os níveis de risco da carteira.

- Fraco desempenho do fundo

Quando tomamos a decisão de investir num determinado fundo, o desempenho passado e as expectativas de desempenho futuro têm sempre bastante importância. Se um período de um ano com desempenhos abaixo das expectativas é curto para julgar o comportamento dum fundo de acções, dois, três ou quatro anos em que um fundo seja sistematicamente batido pelo seu "benchmark" e por outros fundos do mesmo tipo já são sinais que devem preocupar o investidor e fazê-lo ponderar a hipótese de o substituir por outro que tenha os mesmos objectivos.

Quando o investimento num fundo é determinado pelo seu desempenho histórico, então estamos a apostar numa determinada equipa de gestão. Se essa equipa muda, as razões iniciais do investimento podem deixar de fazer sentido. Nos mercados mais desenvolvidos, como por exemplo o norte-americano, os investidores, para além de darem muita importância aos gestores do fundo, têm com muita facilidade à sua disposição informações sobre as pessoas que o estão a gerir. Nestes países, o mercado de trabalho dos gestores de fundos funciona de uma forma bastante eficiente e com uma visibilidade bastante superior à que se verifica em Portugal. Infelizmente, no nosso país, quando investimos num fundo não sabemos, na maior parte das vezes, quem é a equipa responsável pela sua gestão. A falta de pessoas a dar a cara pelo comportamento dos fundos e o facto de, na maior parte das vezes, apenas sabermos que os fundos são geridos por determinadas instituições financeiras torna muito difícil que os investimentos e desinvestimentos nos nossos fundos sejam motivados por mudanças de equipas de gestão, que ainda por cima são bastante frequentes no nosso mercado.

Fundos de investimento

Uma Escolha Que Exige Passos Seguros

Segunda-feira, 01 de Dezembro de 2003

Investir ou desinvestir. Gerir uma carteira própria ou entregar o trabalho a profissionais. A avaliação do desempenho de um fundo de investimento depende também dos seus objectivos e da equipa de gestores. O melhor é avaliar com cuidado as inúmeras opções que se apresentam no mercado

Gonçalo Morna

A decisão de investir num determinado fundo de investimento não é fácil. Precisamos, em primeiro lugar, de identificar a classe de activos em que pretendemos investir. Tomada essa decisão, precisamos de saber se faz mais sentido realizar esse investimento de uma forma directa ou se será melhor delegar a gestão desse investimento a profissionais da matéria. Por exemplo, se a classe de activos identificada para investir for a de acções europeias e se chegarmos à conclusão de que não temos nem tempo nem conhecimentos suficientes para comprar directamente acções de empresas de diversos países da Europa, então faz todo o sentido que esse investimento seja realizado através de fundos geridos por profissionais. Tomada a decisão de investir através de fundos, a escolha do fundo deve ter em conta vários factores: desempenho histórico versus "benchmarks", comparação dos desempenhos históricos dos vários fundos do mesmo tipo existentes no mercado, identificar se a equipa de gestão que obteve esses desempenhos continua a gerir o fundo.

Se a decisão de investir num fundo não é fácil, a decisão de desinvestir num determinado fundo ainda é mais difícil. Quando a venda é motivada por uma necessidade urgente de realizar liquidez para fazer face a uma inesperada dificuldade financeira, nesse caso a análise é fácil. Mas, existem muitas outras razões que nos devem fazer ponderar a necessidade de vender, total ou parcialmente, a posição num determinado fundo de investimento:

- Voltar à alocação de activos inicial

Imaginemos que estabelecemos a nós próprios um limite máximo de investimento de 20 por cento do valor da nossa carteira de investimentos para um determinado fundo de acções nacionais. Se, passados dois ou três anos, se realizar uma valorização desse fundo de modo a que ele passe a representar 25 por cento do valor total da nossa carteira, então faz sentido realizar um desinvestimento parcial do fundo, que nos permita voltar aos 20 por cento iniciais. Não nos podemos esquecer que os limites máximos que nós devemos estabelecer para o investimento nas diversas classes de activos são motivados pelo risco, ou seja, se a valorização do fundo aumentar substancialmente a nossa posição numa determinada classe de activos estamos também a aumentar o risco global da nossa carteira;

- Alteração dos objectos financeiros do investidor

Várias situações, como o envelhecimento, o casamento, recebimento de heranças, etc, podem mudar os níveis de risco que estamos dispostos a suportar. O casamento e os filhos, por exemplo, podem ser razões mais do que suficientes para diminuirmos o risco, tornando necessário o desinvestimento em fundos de risco mais elevado.

- Mudança nos objectivos fundamentais do fundo

Muitas vezes verificam-se, com o decorrer dos anos, mudanças de estratégia na gestão dos fundos de investimento. Se tivermos investido, por exemplo, 10 por cento do total da nossa carteira num fundo que tinha inicialmente por objectivo o investimento em grandes empresas, é importante verificarmos com alguma regularidade se o fundo em questão mantém os objectivos iniciais. Se, por alguma razão, a gestão desse fundo começar a canalizar os investimentos para acções de pequenas empresas e se na nossa carteira já existisse uma posição, através doutro fundo, em pequenas empresas, iríamos ter uma situação em que a percentagem da nossa carteira alocada a acções desse tipo iria ser superior à inicialmente estabelecida. Outra situação que acontece com alguma frequência é a de fundos que inicialmente têm por objectivo investir em acções de empresas de risco mais reduzido, conhecidas por "blue chips", começarem a investir em acções de empresas de risco superior, por exemplo em acções tecnológicas, aumentando consideravelmente os níveis de risco da carteira.

- Fraco desempenho do fundo

Quando tomamos a decisão de investir num determinado fundo, o desempenho passado e as expectativas de desempenho futuro têm sempre bastante importância. Se um período de um ano com desempenhos abaixo das expectativas é curto para julgar o comportamento dum fundo de acções, dois, três ou quatro anos em que um fundo seja sistematicamente batido pelo seu "benchmark" e por outros fundos do mesmo tipo já são sinais que devem preocupar o investidor e fazê-lo ponderar a hipótese de o substituir por outro que tenha os mesmos objectivos.

Quando o investimento num fundo é determinado pelo seu desempenho histórico, então estamos a apostar numa determinada equipa de gestão. Se essa equipa muda, as razões iniciais do investimento podem deixar de fazer sentido. Nos mercados mais desenvolvidos, como por exemplo o norte-americano, os investidores, para além de darem muita importância aos gestores do fundo, têm com muita facilidade à sua disposição informações sobre as pessoas que o estão a gerir. Nestes países, o mercado de trabalho dos gestores de fundos funciona de uma forma bastante eficiente e com uma visibilidade bastante superior à que se verifica em Portugal. Infelizmente, no nosso país, quando investimos num fundo não sabemos, na maior parte das vezes, quem é a equipa responsável pela sua gestão. A falta de pessoas a dar a cara pelo comportamento dos fundos e o facto de, na maior parte das vezes, apenas sabermos que os fundos são geridos por determinadas instituições financeiras torna muito difícil que os investimentos e desinvestimentos nos nossos fundos sejam motivados por mudanças de equipas de gestão, que ainda por cima são bastante frequentes no nosso mercado.

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