Boeing envolvida em escândalo

19-12-2003
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Pentágono investiga contrato para cem aviões reabastecedores

Boeing Envolvida em Escândalo

Segunda-feira, 01 de Dezembro de 2003

Gigante aeronáutico norte-americano demite dois altos quadros acusados de práticas contrárias à ética em concurso ganho contra a Airbus

Inês Sequeira

A Boeing está em risco de perder um contrato milionário de 18 mil milhões de dólares com a Força Aérea norte-americana, devido ao acumular de suspeitas sobre comportamentos pouco éticos da parte da direcção do gigante aeronáutico durante a condução do negócio. O caso está a ser investigado há vários meses pelo Pentágono, o departamento de Defesa dos Estados Unidos, que irá decidir sobre a eventual reformulação ou cancelamento do contrato.

A polémica tornou-se mais acesa nos últimos dias, quando uma investigação interna da Boeing concluiu pela existência de comportamentos duvidosos na disputa deste negócio com a concorrente europeia Airbus. O construtor demitiu na semana passada o seu director financeiro (CFO), Mike Sears, acusado de ter recrutado para os quadros da Boeing uma funcionária da Força Aérea, numa altura em que aquela estava envolvida em decisões que afectaram a finalização do concurso. Darleen Druyun, a funcionária em causa contratada pelo grupo, foi entretanto também despedida.

O anúncio das duas demissões surgiu no início da semana passada, no mesmo dia em que o presidente dos Estados Unidos, George Bush, aprovou o orçamento da Defesa para o próximo ano, autorizando a Força Aérea a efectivar o negócio com a Boeing. Em causa está o "leasing" de 20 aviões e a aquisição de outros 80 ao construtor aeronáutico, até 2017. Objectivo? Converter esta centena de Boeings 767 (aeronaves de grande porte) em reabastecedores aéreos - aparelhos que transportam e fornecem combustível a outros aviões em pleno voo, dispensando a necessidade de aterragem - para substituir assim uma frota já envelhecida.

"Somos os responsáveis pelos dólares dos contribuintes. Temos a obrigação de ver se as coisas são feitas da maneira apropriada", afirmou o secretário da Defesa norte-americano, Donald Rumsfeld, numa conferência de imprensa depois de conhecidas as demissões. A revisão do negócio, que está nas mãos do Pentágono, deverá adiar a recuperação económica da empresa. Nos próximos dias, o departamento norte-americano vai confirmar se suspende o contrato até à conclusão das investigações.

O caso poderá ganhar também contornos judiciais: a legislação federal proíbe as companhias de oferecerem emprego a funcionários públicos quando estes são responsáveis pela condução de negócios entre o Estado e as empresas em questão. Estas violações podem resultar em prisão e na aplicação de multas.

Pior ainda: a EADS, accionista da Airbus, já decidiu avançar com uma acção judicial que põe em causa as decisões do concurso perdido para a Boeing. De acordo com o jornal londrino "The Times", o grupo europeu comunicou ao Pentágono que a participação da Airbus nesta corrida foi afectada por "danos colaterais". Em causa estará o alegado acesso da Boeing a detalhes da proposta feita pela sua concorrente.

Novas demissões no horizonte

A investigação deste caso está apenas no começo, mas já está a danificar a imagem do gigante norte-americano. Na semana passada, um editorial do "New York Times" comentava: "Este é um comportamento patético (e potencialmente criminoso) da parte de um beneficiário de dinheiro dos impostos e uma das mais admiradas companhias da nação."

Motivos suficientes, a juntar à degradação da situação económico-financeira da empresa, para que um colunista do "Washington Post" pedisse a "cabeça" do presidente da Boeing, Phil Condit. "Com as acções da Boeing em baixa, as margens de lucro alternando entre sofríveis e inexistentes e uma recuperação total prevista agora para apenas daqui a um ano, não será justo perguntar se é tempo de [Phil] Condit sair [da companhia]?"

A mesma opinião parece ser partilhada pela sociedade civil norte-americana. "Os problemas éticos na Boeing chegam à parte mais alta da gestão da empresa", considera o presidente do National Legal and Policy Center, um grupo civil com funções fiscalizadoras. "Depois de ter sido afectada por uma sanção de milhares de milhões de dólares no início deste ano, aplicada pelo departamento de Defesa por práticas de contratação contrárias à ética, a Boeing não pode alegar que os seus problemas éticos são resultado de alguns gestores intermédios."

Nos primeiros meses deste ano, o Pentágono retirou à Boeing contratos avaliados em mil milhões de dólares num negócio de lançamento de foguetões, depois de descobrir que alguns funcionários do construtor tinham em seu poder milhares de páginas de documentos secretos da concorrente Lockheed Martin.

Pentágono investiga contrato para cem aviões reabastecedores

Boeing Envolvida em Escândalo

Segunda-feira, 01 de Dezembro de 2003

Gigante aeronáutico norte-americano demite dois altos quadros acusados de práticas contrárias à ética em concurso ganho contra a Airbus

Inês Sequeira

A Boeing está em risco de perder um contrato milionário de 18 mil milhões de dólares com a Força Aérea norte-americana, devido ao acumular de suspeitas sobre comportamentos pouco éticos da parte da direcção do gigante aeronáutico durante a condução do negócio. O caso está a ser investigado há vários meses pelo Pentágono, o departamento de Defesa dos Estados Unidos, que irá decidir sobre a eventual reformulação ou cancelamento do contrato.

A polémica tornou-se mais acesa nos últimos dias, quando uma investigação interna da Boeing concluiu pela existência de comportamentos duvidosos na disputa deste negócio com a concorrente europeia Airbus. O construtor demitiu na semana passada o seu director financeiro (CFO), Mike Sears, acusado de ter recrutado para os quadros da Boeing uma funcionária da Força Aérea, numa altura em que aquela estava envolvida em decisões que afectaram a finalização do concurso. Darleen Druyun, a funcionária em causa contratada pelo grupo, foi entretanto também despedida.

O anúncio das duas demissões surgiu no início da semana passada, no mesmo dia em que o presidente dos Estados Unidos, George Bush, aprovou o orçamento da Defesa para o próximo ano, autorizando a Força Aérea a efectivar o negócio com a Boeing. Em causa está o "leasing" de 20 aviões e a aquisição de outros 80 ao construtor aeronáutico, até 2017. Objectivo? Converter esta centena de Boeings 767 (aeronaves de grande porte) em reabastecedores aéreos - aparelhos que transportam e fornecem combustível a outros aviões em pleno voo, dispensando a necessidade de aterragem - para substituir assim uma frota já envelhecida.

"Somos os responsáveis pelos dólares dos contribuintes. Temos a obrigação de ver se as coisas são feitas da maneira apropriada", afirmou o secretário da Defesa norte-americano, Donald Rumsfeld, numa conferência de imprensa depois de conhecidas as demissões. A revisão do negócio, que está nas mãos do Pentágono, deverá adiar a recuperação económica da empresa. Nos próximos dias, o departamento norte-americano vai confirmar se suspende o contrato até à conclusão das investigações.

O caso poderá ganhar também contornos judiciais: a legislação federal proíbe as companhias de oferecerem emprego a funcionários públicos quando estes são responsáveis pela condução de negócios entre o Estado e as empresas em questão. Estas violações podem resultar em prisão e na aplicação de multas.

Pior ainda: a EADS, accionista da Airbus, já decidiu avançar com uma acção judicial que põe em causa as decisões do concurso perdido para a Boeing. De acordo com o jornal londrino "The Times", o grupo europeu comunicou ao Pentágono que a participação da Airbus nesta corrida foi afectada por "danos colaterais". Em causa estará o alegado acesso da Boeing a detalhes da proposta feita pela sua concorrente.

Novas demissões no horizonte

A investigação deste caso está apenas no começo, mas já está a danificar a imagem do gigante norte-americano. Na semana passada, um editorial do "New York Times" comentava: "Este é um comportamento patético (e potencialmente criminoso) da parte de um beneficiário de dinheiro dos impostos e uma das mais admiradas companhias da nação."

Motivos suficientes, a juntar à degradação da situação económico-financeira da empresa, para que um colunista do "Washington Post" pedisse a "cabeça" do presidente da Boeing, Phil Condit. "Com as acções da Boeing em baixa, as margens de lucro alternando entre sofríveis e inexistentes e uma recuperação total prevista agora para apenas daqui a um ano, não será justo perguntar se é tempo de [Phil] Condit sair [da companhia]?"

A mesma opinião parece ser partilhada pela sociedade civil norte-americana. "Os problemas éticos na Boeing chegam à parte mais alta da gestão da empresa", considera o presidente do National Legal and Policy Center, um grupo civil com funções fiscalizadoras. "Depois de ter sido afectada por uma sanção de milhares de milhões de dólares no início deste ano, aplicada pelo departamento de Defesa por práticas de contratação contrárias à ética, a Boeing não pode alegar que os seus problemas éticos são resultado de alguns gestores intermédios."

Nos primeiros meses deste ano, o Pentágono retirou à Boeing contratos avaliados em mil milhões de dólares num negócio de lançamento de foguetões, depois de descobrir que alguns funcionários do construtor tinham em seu poder milhares de páginas de documentos secretos da concorrente Lockheed Martin.

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