PSD unido e pragmático

05-08-2002
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XXIV CONGRESSO DO PSD

PSD Unido e Pragmático

Por HELENA PEREIRA E EUNICE LOURENÇO

Segunda-feira, 15 de Julho de 2002

O congresso anunciado para evitar os erros do cavaquismo teve a palavra ruptura na boca de vários dirigentes, mas acabou com um sabor ao passado. Os sociais-democratas celebraram o poder e falaram para o país. Pouco lhes interessou a discussão ideológica, a coligação com o CDS, a estratégia para as europeias ou as presidenciais. Retrato de um partido pragmático.

O PSD saiu ontem do seu XXIV congresso como para lá entrou: na mesma. Já o Governo, considera que saiu do Coliseu de Lisboa reforçado na sua acção e na sua estratégia. E terá sido precisamente para isso que serviu esta reunião dos sociais-democratas: mostrar que o partido está unido e solidário com o executivo.

Apesar dos apelos das bases na preparação do congresso, não houve nestes três dias um "mea culpa" pela falta de ligação com as bases, apesar do reconhecimento de alguns erros de défice de comunicação. E, apesar de Dias Loureiro, presidente do congresso, ter corrido o país a garantir que o partido iria corrigir os erros do cavaquismo, não houve sinais nesse sentido. O PSD, mais uma vez, provou que é um partido pragmático, que quando está no poder consegue unir-se e falar a uma só voz.

Os líderes das distritais de Lisboa e Porto, António Preto e Marco António, que, em ocasiões anteriores, têm chamado a atenção para os perigos de diluição do partido e de o Governo se fechar sobre si mesmo, no congresso não se atreveram a tocar no assunto. Limitaram-se, nos bastidores, a garantir lugares que lhes permitem dominar a estrutura do partido.

Durão Barroso optou por não falar para o partido. Tal como a grande maioria dos dirigentes. Apenas Pedro Santana Lopes alertou para a necessidade de "robustecer o partido" e evitar fazer o mesmo que há alguns anos atrás. Ou seja, contrariar a tendência para o PSD concentrar as forças no Governo, descurando o partido, como aconteceu no cavaquismo.

A nova direcção, saída deste congresso, contudo, não traz grandes sinais de conforto para o partido. Da comissão política saíram os secretários de Estado e entraram três pessoas sem antecedentes de cargos políticos, dois presidentes de câmara e um deputado santanista. Nas vice-presidências mantêm-se dois presidentes de câmara (Santana e Rui Rio), um ministro (Nuno Morais Sarmento) e um especialista em Finanças (Tavares Moreira). Entraram António Pinto Leite, que já disse que não quer ter pastas, e Paulo Pereira Coelho, líder da distrital de Coimbra, que acaba por ser o único que terá tempo para se dedicar ao partido.

Aprofundar a coligação "oportunamente"

O pragmatismo, neste congresso, foi ao ponto de nem sequer se ter discutido a coligação do Governo ou a estratégia para os próximos momentos eleitorais. Sobre a coligação, só Santana e Durão falaram e foi para elogiar. O primeiro estranhou que ninguém falasse do assunto; lembrou as divergências que tal ligação antes causava no PSD e concluiu que, afinal, agora "é um sossego". Pediu um louvor ao congresso, que quase não reagiu.

Já Durão Barroso, limitou-se a repetir o que está escrito na moção que o congresso aprovou: "Iremos, oportunamente, analisar as hipóteses de transformar esta coligação de governo numa coligação política, que garanta novas vitórias eleitorais, sempre no interesse de Portugal." Na moção, "oportunamente" quer dizer que a decisão sobre uma eventual coligação para as eleições europeias de 2004 será remetida para o conselho nacional do partido. O documento assume claramente que tudo dependerá de como evoluir a relação entre os dois partidos no Governo. Neste congresso, só Carlos Coelho subiu à tribuna para dizer que é contra tal coligação.

Na sessão de encerramento, o líder do CDS-PP, Paulo Portas, cujo nome já foi vaiado em vários congressos sociais-democratas, foi recebido com abraços e aplausos. O seu partido esteve com uma representação de peso, que, além de Portas, incluía Luís Nobre Guedes, António Pires de Lima, porta-voz, Mota Soares, secretário-geral, e Telmo Correia, líder parlamentar.

Frente anti-Marcelo

Deste congresso do PSD parece ter saído também uma forte frente anti-Marcelo. Embora sem nunca nomear o antigo líder, Manuela Ferreira Leite e José Luís Arnaut atacaram todos aqueles que, sendo do partido, usam essa mesma condição para criticar o Governo e o PSD. O anti-marcelismo foi mesmo mais notório do que o anti-socialismo. Marcelo incomoda tanto os barrosistas que em matéria de eleições presidenciais até já preferem Santana Lopes ao antigo líder do PSD.

Aos socialistas, foram feitas as habituais acusações de terem conduzido o país a um estado de crise nas finanças públicas e de não conseguirem fazer reformas. "O PS tem contradições internas ideológicas que não permitem fazer rupturas", disse Marques Mendes, que ainda há dois anos disputava a liderança a Durão Barroso, tal como Santana Lopes. Ontem juntaram-se todos no palco do Coliseu e agora - o interesse nacional tudo pode - todos falam a uma só voz.

XXIV CONGRESSO DO PSD

PSD Unido e Pragmático

Por HELENA PEREIRA E EUNICE LOURENÇO

Segunda-feira, 15 de Julho de 2002

O congresso anunciado para evitar os erros do cavaquismo teve a palavra ruptura na boca de vários dirigentes, mas acabou com um sabor ao passado. Os sociais-democratas celebraram o poder e falaram para o país. Pouco lhes interessou a discussão ideológica, a coligação com o CDS, a estratégia para as europeias ou as presidenciais. Retrato de um partido pragmático.

O PSD saiu ontem do seu XXIV congresso como para lá entrou: na mesma. Já o Governo, considera que saiu do Coliseu de Lisboa reforçado na sua acção e na sua estratégia. E terá sido precisamente para isso que serviu esta reunião dos sociais-democratas: mostrar que o partido está unido e solidário com o executivo.

Apesar dos apelos das bases na preparação do congresso, não houve nestes três dias um "mea culpa" pela falta de ligação com as bases, apesar do reconhecimento de alguns erros de défice de comunicação. E, apesar de Dias Loureiro, presidente do congresso, ter corrido o país a garantir que o partido iria corrigir os erros do cavaquismo, não houve sinais nesse sentido. O PSD, mais uma vez, provou que é um partido pragmático, que quando está no poder consegue unir-se e falar a uma só voz.

Os líderes das distritais de Lisboa e Porto, António Preto e Marco António, que, em ocasiões anteriores, têm chamado a atenção para os perigos de diluição do partido e de o Governo se fechar sobre si mesmo, no congresso não se atreveram a tocar no assunto. Limitaram-se, nos bastidores, a garantir lugares que lhes permitem dominar a estrutura do partido.

Durão Barroso optou por não falar para o partido. Tal como a grande maioria dos dirigentes. Apenas Pedro Santana Lopes alertou para a necessidade de "robustecer o partido" e evitar fazer o mesmo que há alguns anos atrás. Ou seja, contrariar a tendência para o PSD concentrar as forças no Governo, descurando o partido, como aconteceu no cavaquismo.

A nova direcção, saída deste congresso, contudo, não traz grandes sinais de conforto para o partido. Da comissão política saíram os secretários de Estado e entraram três pessoas sem antecedentes de cargos políticos, dois presidentes de câmara e um deputado santanista. Nas vice-presidências mantêm-se dois presidentes de câmara (Santana e Rui Rio), um ministro (Nuno Morais Sarmento) e um especialista em Finanças (Tavares Moreira). Entraram António Pinto Leite, que já disse que não quer ter pastas, e Paulo Pereira Coelho, líder da distrital de Coimbra, que acaba por ser o único que terá tempo para se dedicar ao partido.

Aprofundar a coligação "oportunamente"

O pragmatismo, neste congresso, foi ao ponto de nem sequer se ter discutido a coligação do Governo ou a estratégia para os próximos momentos eleitorais. Sobre a coligação, só Santana e Durão falaram e foi para elogiar. O primeiro estranhou que ninguém falasse do assunto; lembrou as divergências que tal ligação antes causava no PSD e concluiu que, afinal, agora "é um sossego". Pediu um louvor ao congresso, que quase não reagiu.

Já Durão Barroso, limitou-se a repetir o que está escrito na moção que o congresso aprovou: "Iremos, oportunamente, analisar as hipóteses de transformar esta coligação de governo numa coligação política, que garanta novas vitórias eleitorais, sempre no interesse de Portugal." Na moção, "oportunamente" quer dizer que a decisão sobre uma eventual coligação para as eleições europeias de 2004 será remetida para o conselho nacional do partido. O documento assume claramente que tudo dependerá de como evoluir a relação entre os dois partidos no Governo. Neste congresso, só Carlos Coelho subiu à tribuna para dizer que é contra tal coligação.

Na sessão de encerramento, o líder do CDS-PP, Paulo Portas, cujo nome já foi vaiado em vários congressos sociais-democratas, foi recebido com abraços e aplausos. O seu partido esteve com uma representação de peso, que, além de Portas, incluía Luís Nobre Guedes, António Pires de Lima, porta-voz, Mota Soares, secretário-geral, e Telmo Correia, líder parlamentar.

Frente anti-Marcelo

Deste congresso do PSD parece ter saído também uma forte frente anti-Marcelo. Embora sem nunca nomear o antigo líder, Manuela Ferreira Leite e José Luís Arnaut atacaram todos aqueles que, sendo do partido, usam essa mesma condição para criticar o Governo e o PSD. O anti-marcelismo foi mesmo mais notório do que o anti-socialismo. Marcelo incomoda tanto os barrosistas que em matéria de eleições presidenciais até já preferem Santana Lopes ao antigo líder do PSD.

Aos socialistas, foram feitas as habituais acusações de terem conduzido o país a um estado de crise nas finanças públicas e de não conseguirem fazer reformas. "O PS tem contradições internas ideológicas que não permitem fazer rupturas", disse Marques Mendes, que ainda há dois anos disputava a liderança a Durão Barroso, tal como Santana Lopes. Ontem juntaram-se todos no palco do Coliseu e agora - o interesse nacional tudo pode - todos falam a uma só voz.

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