Crédito malparado subiu 24 por cento

09-03-2004
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Habitação preocupa sector bancário

Crédito Malparado Subiu 24 por Cento

Segunda-feira, 01 de Dezembro de 2003

Apesar de representar uma fatia mínima do total de crédito concedido para compra de casa, os números relativos a incumprimentos cresceram para mais de mil milhões de euros. Os bancos estão a apertar os critérios para novos empréstimos

Rosa Soares e Rita Siza

O valor de cobranças duvidosas relativas a empréstimos para a aquisição de habitação nos bancos portugueses já ultrapassava, em Setembro de 2003, os mil milhões de euros, um aumento de 24 por cento face ao mês homólogo do ano anterior. Segundo os dados do Banco de Portugal, em Setembro de 2002 o crédito malparado na habitação era de 857 milhões de euros, passando para 1060 milhões de euros em Setembro de 2003, registando uma taxa de crescimento que não se verificou nos anos anteriores.

Os números do Banco de Portugal demonstram, ainda, que o crédito de cobrança duvidosa aumentou, em 2003, a um ritmo superior ao da taxa do crédito concedido: enquanto o crédito cresceu, num ano, de 64,188 milhões de euros para 68,860 milhões, o que representa uma evolução de cerca de sete por cento, o crédito malparado percentualmente quase triplicou.

Esta nova realidade já levou os bancos a apertarem os critérios para a concessão de crédito à habitação. Como revela o "Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito", publicado em Outubro pelo Banco de Portugal, nos cinco maiores bancos nacionais (que representam cerca de 80 por cento do mercado) verifica-se uma tendência restritiva relativamente à atribuição de crédito para a compra de habitação. "Os bancos, no seu conjunto, apertaram ligeiramente os critérios de aprovação de empréstimos", nota o documento, acrescentando que no caso dos empréstimos à habitação "os bancos reportaram a prática de 'spreads' mais elevados" e aumentaram as exigências em termos do montante do empréstimo e do valor da garantia.

O banco central explica ainda que "o aperto dos critérios de concessão de crédito a particulares para aquisição de habitação está essencialmente relacionado com a manutenção de expectativas pessimistas em relação à evolução da actividade económica, bem como com questões relacionadas com o custo de financiamento e com restrições de balanço dos bancos e, em certa medida, com as perspectivas relativas a desenvolvimentos no mercado de habitação".

As avaliações dos pedidos de crédito à habitação estão agora a ser sujeitas a um crivo mais apertado. Os bancos pretendem defender-se da sobreavaliação dos imóveis e também do risco de endividamento excessivo das famílias - notando-se, ao mesmo tempo, uma acesa disputa pelos melhores clientes, como refere o economista Vítor Gomes,

Fontes contactadas pelo PÚBLICO admitem que perante o actual cenário económico, nomeadamente com o crescimento da taxa de desemprego, o número de incumprimentos no pagamento das prestações do crédito venha a aumentar. De acordo com Vítor Gomes, ligado à actividade bancária há vários anos, a degradação económica de muitas famílias poderá gerar novas situações de crédito malparado, apesar da casa ser, por norma, a última prestação que as pessoas deixam de pagar.

Nos últimos tempos, os bancos têm desenvolvido esforços no sentido de evitar a entrega dos casos de incumprimento aos departamentos de contencioso para resolução judicial por via da execução da hipoteca. A solução encontrada tem sido a "renegociação" das prestações em falta com os clientes, avançando apenas para os tribunais nos casos em que se comprove uma impossibilidade de acordo entre as partes.

Dada a situação do mercado imobiliário, os bancos têm sido quase "obrigados" a arrematar os imóveis hipotecados nos leilões judiciais, e depois colocá-los para nova venda - habitualmente pelo preço do leilão, que corresponde ao montante do crédito em dívida - nas respectivas carteiras imobiliárias. Uma breve visita aos sites dos bancos na internet dá uma ideia da adaptação que as instituições tiveram de fazer à nova circunstância de terem muitas casas para vender: esses espaços alojam verdadeiras "agências" imobiliárias, que tentam dar um impulso à colocação destes imóveis no mercado.

Habitação preocupa sector bancário

Crédito Malparado Subiu 24 por Cento

Segunda-feira, 01 de Dezembro de 2003

Apesar de representar uma fatia mínima do total de crédito concedido para compra de casa, os números relativos a incumprimentos cresceram para mais de mil milhões de euros. Os bancos estão a apertar os critérios para novos empréstimos

Rosa Soares e Rita Siza

O valor de cobranças duvidosas relativas a empréstimos para a aquisição de habitação nos bancos portugueses já ultrapassava, em Setembro de 2003, os mil milhões de euros, um aumento de 24 por cento face ao mês homólogo do ano anterior. Segundo os dados do Banco de Portugal, em Setembro de 2002 o crédito malparado na habitação era de 857 milhões de euros, passando para 1060 milhões de euros em Setembro de 2003, registando uma taxa de crescimento que não se verificou nos anos anteriores.

Os números do Banco de Portugal demonstram, ainda, que o crédito de cobrança duvidosa aumentou, em 2003, a um ritmo superior ao da taxa do crédito concedido: enquanto o crédito cresceu, num ano, de 64,188 milhões de euros para 68,860 milhões, o que representa uma evolução de cerca de sete por cento, o crédito malparado percentualmente quase triplicou.

Esta nova realidade já levou os bancos a apertarem os critérios para a concessão de crédito à habitação. Como revela o "Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito", publicado em Outubro pelo Banco de Portugal, nos cinco maiores bancos nacionais (que representam cerca de 80 por cento do mercado) verifica-se uma tendência restritiva relativamente à atribuição de crédito para a compra de habitação. "Os bancos, no seu conjunto, apertaram ligeiramente os critérios de aprovação de empréstimos", nota o documento, acrescentando que no caso dos empréstimos à habitação "os bancos reportaram a prática de 'spreads' mais elevados" e aumentaram as exigências em termos do montante do empréstimo e do valor da garantia.

O banco central explica ainda que "o aperto dos critérios de concessão de crédito a particulares para aquisição de habitação está essencialmente relacionado com a manutenção de expectativas pessimistas em relação à evolução da actividade económica, bem como com questões relacionadas com o custo de financiamento e com restrições de balanço dos bancos e, em certa medida, com as perspectivas relativas a desenvolvimentos no mercado de habitação".

As avaliações dos pedidos de crédito à habitação estão agora a ser sujeitas a um crivo mais apertado. Os bancos pretendem defender-se da sobreavaliação dos imóveis e também do risco de endividamento excessivo das famílias - notando-se, ao mesmo tempo, uma acesa disputa pelos melhores clientes, como refere o economista Vítor Gomes,

Fontes contactadas pelo PÚBLICO admitem que perante o actual cenário económico, nomeadamente com o crescimento da taxa de desemprego, o número de incumprimentos no pagamento das prestações do crédito venha a aumentar. De acordo com Vítor Gomes, ligado à actividade bancária há vários anos, a degradação económica de muitas famílias poderá gerar novas situações de crédito malparado, apesar da casa ser, por norma, a última prestação que as pessoas deixam de pagar.

Nos últimos tempos, os bancos têm desenvolvido esforços no sentido de evitar a entrega dos casos de incumprimento aos departamentos de contencioso para resolução judicial por via da execução da hipoteca. A solução encontrada tem sido a "renegociação" das prestações em falta com os clientes, avançando apenas para os tribunais nos casos em que se comprove uma impossibilidade de acordo entre as partes.

Dada a situação do mercado imobiliário, os bancos têm sido quase "obrigados" a arrematar os imóveis hipotecados nos leilões judiciais, e depois colocá-los para nova venda - habitualmente pelo preço do leilão, que corresponde ao montante do crédito em dívida - nas respectivas carteiras imobiliárias. Uma breve visita aos sites dos bancos na internet dá uma ideia da adaptação que as instituições tiveram de fazer à nova circunstância de terem muitas casas para vender: esses espaços alojam verdadeiras "agências" imobiliárias, que tentam dar um impulso à colocação destes imóveis no mercado.

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