Taxas de juro esperam pelo fim do ano

19-12-2003
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Taxas de Juro Esperam pelo Fim do Ano

Por JOÃO NEVES

Segunda-feira, 01 de Dezembro de 2003

Os importantes desequilíbrios da economia americana, nomeadamente ao nível do elevado défice orçamental e da balança de transacções correntes, o facto de dólar continuar a sua acentuada depreciação, bem como os constantes "avisos" da Reserva Federal Americana quanto à questão desinflacionista, têm-se revelado insuficentes para refrear os ânimos dos agentes económicos.

A tese dos que defendem que estaremos a entrar num novo ciclo de retoma do crescimento ganha cada vez mais adeptos à medida que os indicadores macroeconómicos dos EUA vêm confirmando essa realidade. Os índices accionistas refletem igualmente essa melhoria, estando muito próximos dos máximos desde o Verão de 2002. Torna-se difícil convencer (?) o mercado de que existem determinadas questões "pendentes" e que não é líquido que a retoma seja sustentável. Se é que o mercado não tem mesmo razão. Os sinais provenientes da indústria são fortes, o emprego tem registado melhoras significativas e o Produto Interno Bruto cresceu 8,2 por cento no terceiro trimestre de 2003, excedendo as expectativas mais optimistas.

As estruturas empresariais que efectuaram as necessárias reformas de base encontram-se agora melhor posicionadas para extrair benefícios de um enquadramento de mercado mais positivo. Sendo o valor de uma empresa equivalente ao valor descontado dos seus "cash-flows" futuros, será natural que as suas cotações subam. Ao mesmo tempo, os mercados de taxa de juro tenderam a entrar em perda. Tradicionalmente, e em primeiro lugar, porque quando assistimos a valorizações nos mercados accionistas a procura de activos "sem risco" tende a cair. A partir de determinado nível, as remunerações oferecidas no segmento accionista fazem deslocar o capital das chamadas aplicações "sem risco" (depósitos, obrigações, bilhetes do Tesouro) gerando um movimento de retracção da procura e consequente queda de preço. Em segundo lugar, devidos aos já mencionados desequilíbrios estruturais da economia americana. O elevado défice orçamental provoca uma maior necessidade de financiamento (que se fará, maioritariamente, através da emissão de obrigações do Tesouro), e o não menos elevado défice da balança da transacções correntes coloca sob enorme pressão a divisa e por conseguinte todos os activos em dólares.

Assim, e risco geopolítico à parte, podemos esperar até ao final do corrente ano por uma contínua pressão nos mercados de taxas de juro, com particular ênfase nas taxas de longo prazo. As taxas de juro directoras, tanto na Europa como nos EUA, manter-se-ão aos níveis actuais até se confirmar a sustentabilidade do crescimento. Provavelmente até meados de 2004, apesar de o mercado descontar subidas já em Março.

*Head of TradingBanco Espírito Santo

Taxas de Juro Esperam pelo Fim do Ano

Por JOÃO NEVES

Segunda-feira, 01 de Dezembro de 2003

Os importantes desequilíbrios da economia americana, nomeadamente ao nível do elevado défice orçamental e da balança de transacções correntes, o facto de dólar continuar a sua acentuada depreciação, bem como os constantes "avisos" da Reserva Federal Americana quanto à questão desinflacionista, têm-se revelado insuficentes para refrear os ânimos dos agentes económicos.

A tese dos que defendem que estaremos a entrar num novo ciclo de retoma do crescimento ganha cada vez mais adeptos à medida que os indicadores macroeconómicos dos EUA vêm confirmando essa realidade. Os índices accionistas refletem igualmente essa melhoria, estando muito próximos dos máximos desde o Verão de 2002. Torna-se difícil convencer (?) o mercado de que existem determinadas questões "pendentes" e que não é líquido que a retoma seja sustentável. Se é que o mercado não tem mesmo razão. Os sinais provenientes da indústria são fortes, o emprego tem registado melhoras significativas e o Produto Interno Bruto cresceu 8,2 por cento no terceiro trimestre de 2003, excedendo as expectativas mais optimistas.

As estruturas empresariais que efectuaram as necessárias reformas de base encontram-se agora melhor posicionadas para extrair benefícios de um enquadramento de mercado mais positivo. Sendo o valor de uma empresa equivalente ao valor descontado dos seus "cash-flows" futuros, será natural que as suas cotações subam. Ao mesmo tempo, os mercados de taxa de juro tenderam a entrar em perda. Tradicionalmente, e em primeiro lugar, porque quando assistimos a valorizações nos mercados accionistas a procura de activos "sem risco" tende a cair. A partir de determinado nível, as remunerações oferecidas no segmento accionista fazem deslocar o capital das chamadas aplicações "sem risco" (depósitos, obrigações, bilhetes do Tesouro) gerando um movimento de retracção da procura e consequente queda de preço. Em segundo lugar, devidos aos já mencionados desequilíbrios estruturais da economia americana. O elevado défice orçamental provoca uma maior necessidade de financiamento (que se fará, maioritariamente, através da emissão de obrigações do Tesouro), e o não menos elevado défice da balança da transacções correntes coloca sob enorme pressão a divisa e por conseguinte todos os activos em dólares.

Assim, e risco geopolítico à parte, podemos esperar até ao final do corrente ano por uma contínua pressão nos mercados de taxas de juro, com particular ênfase nas taxas de longo prazo. As taxas de juro directoras, tanto na Europa como nos EUA, manter-se-ão aos níveis actuais até se confirmar a sustentabilidade do crescimento. Provavelmente até meados de 2004, apesar de o mercado descontar subidas já em Março.

*Head of TradingBanco Espírito Santo

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